Parece algo inacreditável, mas vocês sabiam que em 1987 a Globo apresentava em seu horário nobre
uma trama que tinha como história principal um incesto entre mãe filho e um
personagem bissexual. A protagonista era ainda filha de um comunista que tinha problemas com o governo em um
Brasil pós-ditadura militar entre outros detalhes que fizeram de Mandala,
do autor Dias Gomes , uma trama que
a Globo jamais ousou reprisar.
Era muita ousadia para uma novela
apenas, mas Mandala teve seus pontos
positivos. Como resistir a bela Vera Fischer, impecável como a deusa
Jocasta; o saudoso Carlos Augusto Strazzer como o paranormal Argemiro e Nuno Leal Maia em estado de graças na
pele do Tony Carrado.
Dias
Gomes adaptou a clássica história de
Édipo e Jocasta para o século 20, mas
ficou em Mandala apenas até o capítulo
35, deixando a trama sob a responsabilidade de Marcílio Moraes e Lauro César Muniz. A Primeira fase da trama, com 16 capítulos, empolgou o
público, e foi nesse momento que brilhou em cena Giulia Gamm, na pele da Jocasta
jovem, em sua estreia em novelas.
A novela claro, teve
muitos problemas com a censura, que quase a impediu de ir ao ar, mas depois liberou
com os devidos cortes. Porém voltou a intervir novamente quando foi anunciado o
primeiro beijo entre Jocasta (Vera Fischer) e Édipo (Felipe Camargo). Consideravam a cena agressiva aos telespectadores.
Porém, como os personagens desconheciam sua condição de mãe e filho, a cena foi
finalmente liberada. A novela tinha de início forte conotação
política, que também teve que ser atenuada por interferência da censura.
Mesmo
com uma forte trama mística, que acabou suplantando
os temas políticos e a história de Édipo e Jocasta, a trilha da trama foi mais
uma daquelas clássicas da década de 80, com várias faixas de grandes
intérpretes que viraram hits, marcando o estilo comercial que a Som Livre seguia na época.
Impossível
falar da trilha nacional de Mandala e não lembrar imediatamente da faixa
que foi o carro-chefe do disco, “O Amor e o Poder” na voz da
cantora Rosana. Tocada incessantemente na novela cada vez que Vera Fischer esbanjava beleza em cena e praticamente
24 horas por dia nas rádios do Brasil, a música se transformou em ícone
das trilhas de todos os tempos e,
que atirem a primeira pedra quem
nunca performou ao estilo da Rosana
nos anos 80 e cantarolou a música!
Porém
como nem só de “O Amor e o Poder” se
fez a trilha de Mandala. Vale muito a pena rever as
outras faixas também marcadas pelo sucesso.
“A Paz”, um dos hinos do repertório da Zizi Possi, entrou na trilha como tema da personagem
Letícia, vivida pela exuberante LúciaVeríssimo. Guilherme Arantes também
integrou a trilha com uma das músicas marca registrada do seu repertório - “Um Dia,
Um Adeus”, tema da personagem Vera, vivida pela atriz Imara Reis. Djavan ,
outro ícone da MPB reverenciado nos anos 80, entrou na trilha com “Dou-não-Dou” , tema do complexo
personagem Laio (Taumaturgo Ferreira/Perry Salles).
Cesar Camargo Mariano abria e fechava o lp da trilha com duas músicas instrumentais:
“Mitos”, o místico tema de
abertura e “Uma Mulher” em parceria como Léo
Galdelman, o tema de amor de Édipo e
Jocasta.
Felipe Camargo fez do Édipo o grande
trampolim da sua carreira. Ganhou alguns
protagonistas nas tramas seguintes e ainda o coração de Vera Fischer na vida real. Para o seu tema na trama foi selecionada
“Viagem ao Fundo do Ego” da Egotrip, banda formada na década de 80
e que ganhou grande projeção depois que a música estourou na trilha de Mandala.
A Banda se desfez cerca de um ano depois da formação, devido a morte do baterista de apenas 19 anos, Pedro Gil, filho do cantor Gilberto Gil.
Outra
banda esquecida lá nos anos 80, Areia
Quente foi integrante da trilha da
trama com a música “Perdão”, tema de
Débora , personagem da atriz Maria Ferreira.
O
Inesquecível banqueiro do jogo do bicho, Tony Carrado, vivido pelo Nuno Leal Maia, precisava de uma tema a
altura das suas, digamos “exagerices” e
“cafonagens”. Assim ganhou o clássico do
Wando, “Eu Já
Tirei a Tua Roupa” sob medida.
Mesmo
sendo uma trama cosmopolita e sofisticada, não faltaram temas populares ou
regionalistas na trilha nacional de Mandala. Como Alceu Valença com “Bobo da Corte” tema do Vovô Pepe, personagem do Paulo Gracindo; Tânia Alves com “Eu Quero um Absurdo” embalou a
personagem Eurídice, da Aída Leiner e
Zeca Pagodinho com o clássico “Tempo
de Don Don” embalou o personagem Apolinário, do Milton Gonçalves.
Gerson,
o monge budista que abandona a doutrina
no decorrer de Mandala,
vivido pelo Osmar Prado, ganhou como tema a impecável “Meu Mestre Coração” em uma das melhores
interpretações do Milton Nascimento.
Fechavam
o LP da trilha as músicas: “Personagem”
tema da Mercedes e Américo, vividos pela Ângela
Leal e Osvaldo Loureiro, na voz da Fafá de Belém; “Preconceito” numa
simples, porém impecável interpretação da cantora e atriz Via Negromonte, tema da personagem Marlucy, da Anna Gallo e “Eu Já Sei”
da banda Garotos de Rua, tema do
Toninho, personagem do Jandir Ferrari.
Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
Pesquisa: www.wikipédia.com.br www.memoriaglobo.com.br
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