Os
jovens com muita garra saem às ruas pedindo melhorias para o Brasil e até um
novo presidente! Calma o post de hoje não vai falar das manifestações ocorridas
há duas semanas em praticamente todo o Brasil , e nem sobre o impeachment do
então presidente Fernando Collor de
Mello, o post de hoje vai falar sobre Anos Rebeldes,
uma das minisséries mais marcantes da história da Globo e da obra do autor Gilberto
Braga.
Não poderia escolher um melhor momento para falar sobre essa minissérie no blog. Gilberto Braga se inspirou
nos livros 1968
– O Ano que não Terminou, da Zuenir
Ventura e Os
Carbonários do Alfredo Sirks para contar a história de João Alfredo
(Cássio Gabus Mendes) e Maria Lúcia (Malu Mader) e a trajetória de um grupo de colegas do tradicional Colégio Pedro II,
desde 1964,
quando se formam e se instala no Brasil o regime de ditadura, até 1985,
altura em que a política governamental terá já influenciado definitivamente os
seus destinos.
Maria Lúcia é uma jovem individualista,
traumatizada com a história do pai, Orlando Damasceno (Geraldo Del Rey), um
jornalista conhecido e membro do Partido Comunista, que sempre colocou seus
ideais acima da realização pessoal. Quando ela conhece João Alfredo, percebe
que ele tem o mesmo perfil do pai e tem medo de se entregar à paixão. João, por
sua vez, é um jovem de classe média extremamente preocupado com as questões
sociais do país. Ao se apaixonar por Maria Lúcia, ele fica dividido entre o
relacionamento afetivo e a militância política.
O melhor amigo de João, Edgar (Marcelo Serrado),
também se apaixona por Maria Lúcia e passa a disputar o amor da jovem com João
Alfredo. Com o perfil oposto ao do amigo, Edgar não se envolve com as questões
sociais do país, preferindo investir na profissão e na felicidade pessoal.
A
Minissérie acabou se tornando clássica além da bela história criada por Gilberto Braga e os nebulosos anos de chumbo, a impecável reconstituição de época e
um elenco sintonizadíssimo, mas também
pela irônica coincidência da sua exibição. A trama entrou no ar exatamente
quando o Brasil sofria com a grande decepção que havia virado o primeiro
presidente eleito por voto direto, e os jovens foram às ruas pedir o
impeachment do Presidente Collor, tal qual aconteceu na minissérie que pedia o
fim da ditadura militar. Os protestos surtiram efeito e o presidente foi deposto em 29 de setembro
de 1992, um mês depois do término da minissérie.
Mas curioso
ainda é que na sua segunda reprise no Canal Viva a exibição da minissérie coincidiu
com os protestos estudantis pelo Brasil inteiro pedindo o fim da corrupção que
ficou conhecida como a “Revolta do Vinagre”.
Adicionar legenda |
Cássio Gabus Mendes, Malu Mader, Marcelo Serrado e
Cláudia Abreu
foram impecáveis na pele de seus personagens. Sem dúvidas a minissérie foi um
marco para a carreira de cada um deles.
Duas cenas marcaram
a minissérie:
·
A Conversa franca entre João Alfredo e
Edgar, depois de se declararem apaixonados por Maria Lúcia. Os dois jogam os sentimentos
um na cara do outro , mas terminam selando a eterna amizade que sempre existiu
entre eles.
·
A Morte da Heloísa, baleada no último
capítulo quando tentava fugir do país. Alias, a Claudia Abreu interpretou a personagem que mais sofre transformação
na minissérie e a atriz soube fazer com
uma maestria nos brindando com essa cena final emblemática
e a marca registrada de Anos Rebeldes.
Alguns
personagens da minissérie foram inspirados em personagens da vida real, como Tetê Medina retratada no Avelar (Kadu Moliterno), apesar
dela nunca ter dito que usou o telex e mala diplomática para denunciar para
imprensa internacional o desmandos da ditadura. O Editor Queiroz, vivido pelo saudoso
Carlos Zara foi inspirado em Ênio Silveira da Civilização Brasileira, e o protagonista João Alfredo, apesar do
autor não confirmar, tem um livre inspiração no deputado Alfredo Sirkis.
Outro ponto
marcante de Anos
Rebeldes eram os semidocumentários
apresentados nas passagem de tempo que misturavam imagens reais dos anos de chumbo
com cenas em preto e branco da minissérie. Em uma delas foi possível ver João
Alfredo, Maria Lúcia, Edgar e outros personagens mesclados com os manifestantes
reais da época. Os semidocumentários foram feitos pelo cineasta Silvio Tendler que foi muito elogiado
pela imprensa na época.
Pedro Cardoso interpretou na minissérie o carismático
Galeno Quintanilha. O Autor Gilberto
Braga usou o personagem para narrar um fato ocorrido com ele na época em
que escrevia a novela Escrava Isaura (1976).
Depois de muitas profissões, Galeno ingressa pelo ramo de escrever novelas e
durante a minissérie ela sofria com a
censura ao tentar escrever uma trama com cunho abolicionista como tema. Galeno
teve que ir a uma reunião com uma censora em Brasília para liberação da novela, tal qual acontecera mesmo com Gilberto Braga.
A Minissérie
foi premiada pela Associação Paulista de
Críticos de Arte (APCA) e Claudia
Abreu o de melhor atriz no ano de
1992.
Parece clichê,
mas quase 23 anos depois a minissérie é mais do que atual, e sempre será uma
grande incentivadora da luta por um
Brasil melhor. Apesar de nunca ter sido engajado politicamente assistir Anos Rebeldes me fez rever
pensamentos e posições e acho impossível assistir a minissérie atemporal e não
ser tocado.
Alegria,
Alegria e viva a minissérie clássica e antológica Anos Rebeldes !
Ficha Técnica :
Minissérie do
autor Gilberto Braga
Direção Geral
do Denis Carvalho
Elenco:
Cássio Gabus Mendes, Malu Mader, Cláudia Abreu,
Marcelo Serrado, Pedro Cardoso, José Wilker, Betty Lago, Kadu Moliterno,
Geraldo Del Rey, Bete Mendes, Ivan Candido, Norma Blum, Gianfrancesco
Guarnieri, Déborah Evelyn, Rubens Caribé, Mila Moreira, Carlos Zara, Maria
Lúcia Dahl, André Pimental, Tuca Andrada, Marcelo Novaes, Malu Galli, Tales Pan
Chacon, Denise Del Vecchio, Georgia Gomide, Teresinha Sodré, Sonia Clara,
Roberto Pirillo, Fátima Freire, Francisco Milani, Castro Gonzaga, Stepan
Nercessian, Stela Freitas, Yaçana Martins, Bemvindo Siqueira, Nildo Parente
Enrique Diaz, Cininha de Paula, Susana Vieira entre outros.
Exibição: 14 de Julho a 14 de Agosto de 1992
Capítulos: 20
Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
Pesquisa : teledramaturgia.com ,
memóriaglobo.com , Wikipédia.com
é da globo?
ResponderExcluir