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Novelas Inesquecíveis : Fera Ferida (1993)



        As novelas regionalistas do Aguinaldo Silva sempre foram sucesso garantido, com toda a aura  dos grandes personagens das pequenas cidades ficticiais  do interior do Brasil , o realismo fantástico e os sotaques mais inacreditáveis. Todos esses ingredientes estiveram presentes em Roque Santeiro (1985) primeiro novela do autor nesse gênero em parceria com Dias Gomes, Tieta (1989), Pedra Sobre Pedra (1992), A Indomada (1997) e Porto dos Milagres (2001).
        Mas  o talento novelístico do Aguinaldo Silva unido aos personagens de Lima Barreto como aconteceu em Fera Ferida foi nitroglicerina pura. A Novela é minha preferida do autor , apesar de todos sempre citarem as que tiveram mais audiência , tenho por Fera Ferida um carinho mais do que especial.

Foto : culturamix.com.br 
        Como esquecer personagens “inesquecíveis”  do tipo de Ilka Tibiriça, Linda Inês, Major Bentes, Clara dos Anjos, Professor Praxedes , todos habitantes de Tubiacanga que acabaram invadindo o horário nobre global em 1993.
        O antigo prefeito da cidade de Tubiacanga, localizada no Cerrado Mato-grossense, Feliciano Mota da Costa (Tarcisio Meira) , acredita que há ouro na cidade. Para comprovar sua tese, exibe uma enorme pepita e convence a população a entregar-lhe suas economias para a construção de uma empresa de mineração. Os moradores descobrem que a pepita era falsa e se revoltam. Obrigados a fugir de canoa, Feliciano e a mulher são atingidos por um pistoleiro, morrem e são enterrados pelo filho, Feliciano Júnior.
Quinze anos mais tarde, Feliciano Júnior retorna à Tubiacanga para vingar a morte dos pais. Para tanto assume uma outra identidade, Raimundo Flamel (Edson Celulari) , um homem misterioso que aguça a curiosidade e a ambição dos moradores da cidade ao se declarar capaz de transformar ossos humanos em ouro. 

Foto : memóriaglobo.com
O prefeito Demóstenes (José Wilker) é um político corrupto que tem um caso velado com a fogosa Rubra Rosa (Susana Vieira), a autora de seus discursos inflamados e mulher de seu opositor, o vereador Numa Pompílio de Castro (Hugo Carvana). O relacionamento dos dois fica abalado com a chegada da atriz Perla Menescau (Cláudia Alencar), com quem Rubra passa a disputar o prefeito. Rubra Rosa ainda interfere no namoro do filho Áureo Poente (Cláudio Fontana) com a jovem Zigfrida (Déborah Evelyn) , filha da costureira da cidade, Margarida Weber (Arlete Salles), a tia de Feliciano, cujo marido foi morto junto com os pais deste, e portanto, uma das poucas pessoas que tomam conhecimento de seus planos.
O Major Bentes (Lima Duarte) é um homem ambicioso e prepotente que dita  regras e se diz dono da cidade. Os fantasmas do passado o assombram com a chegada de Salustiana Maria (Joana Fomm), uma mulher perigosa com quem o major tivera um envolvimento amoroso, e, com intuito de lhe extorquir dinheiro, vem exigir que ele assuma a paternidade de seu filho Cassi Jones (Marcos Winter). O filho legítimo do major, Guilherme (Rubéns Caribé), namora a doce e ao mesmo tempo temperamental Linda Inês (Giulia Gam), a filha do prefeito, que entra em constante atrito com Raimundo Flamel, sem imaginar que ele é na verdade Feliciano Júnior, seu namoradinho de infância.
Fera Ferida foi construída inspirada na obra de Lima Barreto, mais especificamente nos romances  Clara dos Anjos, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Triste Fim de Policarpo Quaresma, Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá e em personagens dos contos Nova Califórnia e O Homem que Sabia Javanês. A novela foi livremente inspirada nos personagens e contos do autor e também era uma metáfora das condições políticas do Brasil na época. 

Foto : teledramaturgia.com 

A novela teve um elenco espetacular, com atores que viveram personagens  que marcariam suas carreiras. Joana Fomm na pele da pérfida Salustiana Maria mais uma vez brilhou vivendo uma vilã;  Lima Duarte e seu Major Bentes; Cláudio Marzo é o mórbido personagem que falava com os mortos; Juca de Oliveira e o inesquecível Professor Praxedes e suas fantasias sexuais com a esposa Querubina vivida pela Vera Holtz, que ditava regras de gramática para excitá-lo,  - ou seja um leque de personagens para todos os gostos.

Foto : memóriaglobo.com 
Cássia Kiss Magro e Paulo Gorgulho viveram grandes momentos em Fera Ferida . Na trama Ilka Tibiriça vivida pela Cássia era uma solteirona apaixonada pelo filme Candelabro Italiano de Delmer Daves, e inclusive o tema da personagem “Al Di Lá”  também era tema do filme. As tentativas de curar a impotência de Ataliba  Timbó vivido pelo Gorgulho, viraram uma espécie de “quadro” dentro da trama. As receitas criadas por Ilka e todo o clima  exótico nos renderam grandes momentos.  A atriz   novamente conseguiu imprimir todo o seu talento na interpretação da personagem hilária e sensível. Seus trejeitos e visual anos 60  davam o tom perfeito a personagem.

DemóstenesRubra Rosa

Rubra Rosa e Demóstemes Maçaranduba , eram amantes na trama, e os dois sempre que se encontravam em seu ninho de amor, faziam tudo ao redor pegar fogo tamanha a excitação dos personagem vividos  magistralmente por Susana Vieira e José Wilker, uma inspiração direta na personagem de Sônia Braga em Saramandaia (1976). Marcina literalmente ardia em chamas sempre  que se excitava.

Foto : terra.com.br 
Mas na contramão dos bons personagens, Edson Celulari e Giulia Gam , os protagonistas , não agradaram juntos no início da trama, apesar do sucesso da Linda Inês , uma personagem  que mesclava a força da menina criada apenas pelo pai, e toda a delicadeza e beleza de uma grande grande mulher. O casal já havia trabalhado junto em Que Rei Sou Eu (1989) e terminaram a trama juntos como rei e rainha de Avilan, e em 1998 voltaram  a se encontrar  com  química perfeita vivendo o Vadinho e a Flor  da minissérie  Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998).   
Fera Ferida teve a maior cidade cenográfica já construída para uma novela, e em homenagem a Lima Barreto as ruas da cidade foram batizadas com nomes de personagens criados por ele.
O Figurino do personagem de Edson Celulari ,  virou moda, e as camisas  sem gola usadas pelo personagem ganharam o Brasil, as  “Camisas Flamel” como ficaram conhecidas.


A Abertura é uma das mais elogiadas criadas por Hans Donner. Com a música “Fera Ferida” do Rei Roberto Carlos  interpretada  por Maria Bethânia ao fundo, o telespectador era guiado pelos olhos da fera que passeava pelas belas paisagens de grutas, cavernas e chapadas.
        Como em uma homenagem a Gilberto Braga , o cinema de Tubiacanga no último capítulo de Fera Ferida anunciava a próxima atração “Pátria Minha”  a nova novela das 8.
        Mais um clássico criado por Aguinaldo Silva, Fera Ferida apresentou um infinito filão de situações que a cada capítulo nos fazia ficar ainda mais grudados na telinha  querendo saber o desenrolar dos acontecimentos, uma das melhores dos anos 90.

Ficha Técnica :
Novela do Autor Aguinaldo Silva
Direção Geral : Denis Carvalho e Marcos Paulo
Exibição : 15 de Novembro de 1993 à 16 de Julho de 1994
Capítulos : 209



Fonte :
Texto : Evaldiano de Sousa
Pesquisa : teledramaturgia.com.br , memóriaglobo.com , Wikipédia.com

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