Ótima audiência x absurdos e desserviços marcam a chegada ao capítulo 100 de “O Outro Lado do Paraíso”
O Outro Lado do Paraíso já
se firmou na audiência e praticamente a
cada nova semana dá novo pico no IBOPE com
ganchos que só o Walcyr Carrasco sabe criar com maestria. Desde o retorno triunfal
da Clara (Bianca Bin) e a cada novo passo de suas vinganças, o público vibra como se fosse um gol e
consagra a trama.
Sempre bato na mesma tecla de que
audiência nunca foi e será sinônimo de qualidade, e infelizmente O Outro Lado do
Paraíso é um prova incontestável
disso. Essa audiência bombástica da trama
contrasta diretamente com alguns
entrechos absurdos, repetitivos e incoerentes, e o que ainda é mais
grave desserviços em abordagens que poderiam ser o diferencial da novela.
Durante essa semana em que a trama chega
ao capítulo 100 (quinta –feira, dia 15.02) vai continuar o desenrolar da
denúncia de pedofilia feita por Laura (Bella Piero) contra o padrasto Vinícius
(Flávio Tolezani). Neste entrecho um grande a parte para a Bella Piero, que atriz, que força cênica e que sensibilidade ao
viver esse dilema na trama de forma tão crível. Na contramão do belo trabalho
da Bella, a polêmica de um trauma tão grave ter sido tratado e descoberto por
uma advogada, que fez curso de coach e com hipnose conseguiu curar isso dentro
da personagem. Psicólogos se sentiram
totalmente ultrajados pela abordagem, citando como principal fator a
irresponsabilidade da novela em mostrar que um advogado teria a perícia para um
tratamento tão intenso. A Inserção da Adriana (Júlia Dalavia) como advogada e
coach é um “merchan”, uma ação paga pela Instituto
Brasileiro de Coaching para divulgar o trabalho dos profissionais.
Nada contra os “merchans” nas tramas,
isso sempre existiu e sempre vai
existir, mas cabe ao autor inseri-lo dentro da história de forma crível,
verosímil e coerente.
Porém a coerência e verossimilhança não
é mesmo o ponto forte da trama. Vários outros temas importantes foram tratadas
com humor escrachado ou até de uma forma tão irresponsável que chega a surtir o
efeito contrário do esperado. O Caso da Anã Estela (Juliana Caldas), que ao
invés abordar o nanismo com o intuito de inclusão e aceitação, mostrou uma
personagem vitimada e humilhada, única
e exclusivamente por sua condição; O Caso da violência doméstica , justificada
com um “problema espiritual” do Gael (Sérgio Guizé), que logo, logo será
revelado que sofreu violência quando criança.
Isso sem falar no núcleo de “humor” da
trama encabeçada pelo Dr. Samuel (Eriberto Leão), um dos personagens que mais
sofreu mutações conforme o roteiro pedia.
Sem dúvidas um dos maiores desserviços prestados por O Outro Lado do Paraíso, com a confusa relação do
Samuel com Cido (Rafael Zulu), a
ex-mulher Suzy (Ellen Rocche) grávida, a
mãe de bicha Adinéia (Ana Lúcia Torre) e agora até a ex-amante do atual
namorado, acho que até eu me enrolei
agora. Enfim, uma confusa relação que em nada acrescenta a trama.
O
Outro Lado do Paraíso me parece um retrocesso nas abordagens de temas importantes para quebrar o preconceito sobre
eles, pondo em risco coisas conquistadas
com A Força do
Querer, da Glória Perez e
o drama da Ivana (Carol Duarte), e o
próprio autor que no final de Amor à Vida, deixou uma das mais belas e fortes
mensagens contra o preconceito ao homossexualismo com o Félix do Mateus Solano.
Conseguir audiência é um dos principais
objetivos dos autores de hoje, o que chega ser explicável pelo fato de que por
melhor que a trama seja, essa falta de audiência prejudica em muito seu andamento.
Mas dosar uma novela com temas importantes apenas em entrechos que
chamam público, com o único intuito de
entreter sem informar com responsabilidade é no mínimo um lamentável e
desnecessário desserviço.
Fonte:
Texto:
Evaldiano de Sousa
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