Tempo de Amar termina com uma das novelas mais gostosas de assistir dos
últimos tempos. Nem o ritmo lento e a
sofrência de seus protagonistas, que inicialmente chateou o público
acostumados a agilidade de Novo Mundo, conseguiu afastá-los, e a cada novo capítulo, a trama nos conquistava primando por um produto de qualidade
justiçado por uma boa audiência. Um biscoito Fino deliciado com muito prazer.
A trama do Alcides Nogueira se diferenciou de outras tramas também
consideradas impecáveis apresentadas no horário (Lado a Lado/2012 e Joia Rara/2013), mas
que amargaram uma baixa audiência por toda sua exibição, o que deixou o estigma
de que o grande público não comprava esse tipo de trama. Tempo de Amar provou que o público gosta sim de uma novela com bom
texto, roteiro e direção, uma obra de
arte teledramaturgia.
O grande
trunfo de Tempo de Amar, sem dúvidas, foi seu texto impecável com a bela história de amor como pano de fundo.
Quando falo do texto da trama refiro-me a todos os detalhes que isso
engloba, que vão desde a criação propriamente dita, quanto o texto falado pelos
personagens com precisão e segurança, um
português “bem falado” dando credibilidade e charme à história.
O
Capítulo final fez jus a todo o conjunto da obra. Mesmo com todo amor por
Inácio (Bruno Cabrerizo) no início da trama, a construção do amor sereno entre Vicente (Bruno Ferrari) e Maria Vitória (Vitória
Strada), foi um dos pontos altos da trama e sua concretização era sim o final
mais coerente para Tempo de Amar.
A
Qualidade do texto perdurou até os segundo finais desse capítulo onde fomos
brindados com um poema declamado por Tony Ramos em um final piramidal para
uma novela do nível que foi a trama do Alcides
Nogueira.
Aliado
ao texto impecável, um elenco escolhido a dedo,
fez de Tempo de Amar esse sucesso. Vitória
Strada e Bruno Cabrerizo, ela
estreante em novelas e ele com experiência apenas fora do Brasil, tiveram suas
escalações criticadas no início. Não seria um risco escalar dos rostos
praticamente desconhecidos para estrelar uma trama? Ledo engano! Logo nos
primeiros capítulos ficou nítido a escolha certa – Strada deu um ar solar e
leve à Maria Vitória, que embora tenha passado por tristeza praticamente a
novela inteira, nunca se apegou ao estigma da “mocinha chorosa”. Bruno Cabrerizo me preocupou
inicialmente, faltava vida ao Inácio do início da trama, principalmente na fase
em que ficou cego e sob o domínio da vilã Lucinda (Andreia Horta). O Ator mostrava uma
interpretação apática que não condizia com o perfil do personagem. Porém
o tempo mostrou que o Inácio precisava daquela fase apática e fraca, para que
ao “libertasse” da Lucinda (Andreia
Horta), o personagem se apresentasse com um
perfil mais agradável, e o Bruno termina Tempo de
Amar também como um grande acerto de escalação e um
dos destaques.
Bruno Ferrari, que vive seu segundo protagonista depois do retorno à
Globo, conseguiu fazer do Vicente um
grande personagem em Tempo de Amar.
Mesmo sendo a terceira ponta do triângulo amoroso entre Vicente e Inácio, o
casal principal, conquistou a Maria Vitória (Vitória Strada) e junto com ela o
público, que se dividiu entre os casais
Maria Vitória/Inácio e Maria
Vitória/Vicente.
No
elenco destaque ainda para Andreia Horta
e Jayme Matarazzo, impecáveis como
os vilões Lucinda e Fernão; Marisa Orth e Nelson Freitas, que na pele da Celeste Hermínia e
Bernardo, saíram do lugar comum e mostraram que são muito além que atores/humoristas; Tony Ramos e Regina Duarte, que não precisariam provar mais nada,
porém fizeram do Jose Augusto e Madame Lucerne pontos importantes para seus currículos.
Sobre
a Regina, vale destacar a humildade da
atriz em aceitar uma personagem nitidamente tão “menor” que seu talento e história na teledramaturgia. Mas nem por isso a
entrega visceral da Regina foi menor do que em uma Porcina de Roque Santeiro (1985),
Maria do Carmo de Rainha da Sucata (1990) ou a Clô do remake de O Astro (2011). Parabéns Regina!
Déborah Evelyn (Alzira), LetíciaSabatella (Delfina), Cássio Gabus Mendes (Reinaldo), Olívia Torres
(Teresa), Françoise Forton (Emília),
Nívea Maria (Henriqueta), Sabrina Petraglia (Olimpia), Marcelo Mello Jr (Edgar), Ricardo Viana (Tomaso), Maicon Rodrigues (Pepito), Maria Eduarda Carvalho (Gilberte) e Barbara
França (Celina) também foram destaques em Tempo de Amar.
A
trama abordou temas atuais como a força
e empoderamento da mulher, racismo,
corrupção na política e até a febre amarela, mesmo em uma trama de época, mostrando
que com um bom roteiro e direção tudo é possível
e válido.
Tempo de Amar foi um melodrama sim, mas ficou muito longe dos mexicanos,
como temíamos no início. A Qualidade e leveza ao escrever, que marcou a perícia do autor, distanciou a trama
dos velhos clichês e perda seu poder de encanto ao grande público.
Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
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