Uma microcosmo em forma de
sátira do Brasil mostrando a força de um mito acima da verdade. Essa era a mensagem principal da
novela Roque
Santeiro, do autor Dias Gomes no ar pela Globo em 1985.
A Novela se transformou em
um dos maiores sucessos da teledramaturgia nacional e o Brasil foi tomado pelo
vocabulário, trejeitos e bordões que os personagens apresentaram. Roque Santeiro foi encomendada para ir ao ar em 1975
para comemorar os 15 anos da Rede Globo,
mas horas antes de estrear a censura vetou a novela alegando que que ela tinha
“Ofensa
à moral e aos bons costumes”. Cid
Moreira leu o editorial escrito por Armando Nogueira no Jornal Nacional minutos antes da
suposta estreia. A Globo teve que se
virar para preencher o horário. Lançou um compacto da novela Selva de Pedra de 1972 e em pouco mais de 90 dias Janete Clair apresentou no horário a
novela Pecado
Capital com quase todo o elenco de Roque Santeiro.
Coincidência ou não, Pecado Capital é um dos maiores sucessos da autora, mesmo tendo sido
feita às pressas.
Roque Santeiro foi baseada na
peça de Dias Gomes, O Berço do
Héroi, de 1963 que também foi proibida dois anos depois da sua
primeira montagem pela censura.
Em 1985, finalmente a
história do mito religioso que virou santo e a viúva que foi sem nunca ter sido
pode ser contada e apresentada tal qual Dias Gomes queria para o Brasil
inteiro. A Novela se transformou em
fenômeno nacional e mesmo hoje quase 30 anos depois de sua estreia é citada como sinônimo de sucesso no gênero.
A Novela marcou a estreia
de Dias Gomes no horário das oito e
o gênero apresentado. Antes de Roque Santeiro as
novelas ditas regionais eram apresentadas quase sempre no horário das 22 horas.
A trama foi a primeira sem locações urbanas, tudo era ambientada na fictícia
cidade de Asa Branca.
Uma briga particular pela
autoria da trama aconteceu nos bastidores da Globo. Dias Gomes,
cansado do ritmo pesado da Tv solicitou ajuda na autoria, e a emissora deu à Aguinaldo Silva esta incumbência. Dias
escreveu até o capítulo 51 e os 48 finais,
já Aguinaldo escreveu os 110 do
meio. Vendo pelas quantidades de capítulos a novela é mais do Aguinaldo do que
do Dias Gomes, não é? Ou seja, qual
deles transformou Roque Santeiro em
fenômeno? Fato é que depois de Roque Santeiro,
Aguinaldo Silva escreveu duas
novelas “urbanas” , mas só explodiu com
o sucesso da adaptação do romance de Jorge
Amado, Tieta em
1989, que seguiu o estilo de Roque Santeiro.
A História do falso santo mistificado pela alta sociedade asabranquense
que viu em Roque a chance de
transformar a cidade em um ponto turístico, bombando o comércio da exploração
desse mito, teve seu ápice em uma das cenas mais emblemáticas da novela. Padre
Albano (Cláudio Cavalcanti), que representava
a nova igreja com uma visão mais humana
e progressistas sobre a humanidade, bate
o sino da igreja no intuito de contar para toda cidade sobre o falso santo, e
que Roque (José Wilker) na verdade havia assaltado a cidade e estava vivo. Na
hora em que toda a cidade está reunida
na praça da matriz , Beato Salu (Nelson Dantas) , o pai de Roque que
estava em coma há alguns dias, simplesmente sai do coma e invade a praça. O
Povo logo atribui a cura do beato a Roque Santeiro, deixando Padre Albano sem chances
de destruir o mito, constatando a força que ele tem.
O elenco da trama sem
dúvidas foi um dos maiores acertos da produção. Regina Duarte brilhou absoluta na pele da fogosa e extravagante Viúva
Porcina. A personagem na versão de 1975 seria vivida por Betty Faria, a atriz não aceitou fazer em 1985, e assim a Regina
pode mostrar um novo lado do seu trabalho e se consagrou como grande estrela
numa interpretação visceral da viúva que foi sem nunca ter sido. O Figurino, maquiagem e extravagâncias da
personagem foram copiados nos quatro cantos do Brasil.
Mas outros atores também eternizaram seus
personagens com interpretações irretocáveis, como Lima Duarte e o inesquecível Senhorzinho Malta; José Wilker que viveu o protagonista
Roque; Ary Fontoura na pele do
Florindo Abelha; Eloisa Mafalda e sua Dona Pombinha; Lucinha Lins que deu vida a Mocinha; Cássia Kiss Magro e a reprimida Lulu, Armando Bógus e seu Zé das Medalhas; o Cego Jeremias vivido pelo Arnaud Rodrigues; Paulo
Gracindo na pele do Padre Hipólito, Fábio
Jr e o galanteador ator Roberto Matias;
Lídia Brondi e destemida
Tânia entre outros.
Foi a partir do sucesso da
trilha de Roque
Santeiro Nacional que a Som Livre passou a lançar trilha sonora
volume 2 ao invés da internacional das novelas regionais. A Trilha internacional de Roque Santeiro já estava prontinha para ser lançada quando a emissora
resolveu cancela-la e lançou o Volume 2 com mais músicas nacionais que
novamente fizeram sucesso. Entre alguns dos sucessos da trilha da novela vale destacar “De Volta Pro Aconchego” da Elba Ramalho; “Dona” do Roupa Nova; “Sem Pecado e Sem Juízo” da Baby do Brasil; “Mistérios da Meia-Noite” do Zé
Ramalho; “Roque Santeiro” do Sá
e Guarabira; “Vitoriosa” do Ivan Lins entre outras sucessos.
A Novela recebeu o prêmio
de Melhor ator (Lima Duarte), Melhor Atriz (Regina Duarte) e Revelação do Ano (Cláudia
Raia) da APCA e do Troféu Imprensa.
Na trama vale destacar
também tramas paralelas que ajudaram a segurar a atenção dos telespectadores nos
209 capítulos, como a disputa interna dentro da igreja representada pelo Padre
Hipólito (Paulo Gracindo) e Padre Albano (Cláudio Cavalcanti); O amor que surge na metade da novela entre
Tânia, vivida pela Lídia Brondi, a
filha do Senhorzinho Malta e Padre
Albano; a Boate Sexus, da Matilde (Yoná
Magalhães) que trazia para Asa Branca show com lindas mulheres sensualizando, o
que escandalizava as beatas da cidade; e a figura do Lobisomem, que assustava a
mulherada da cidade nas noites de lua cheia. No final é revelado que o místico
personagem era o Professor Astramor, vivido pelo ator Ruy Resende, o principal suspeito desde o início da novela.
A Novela apresentou um
final ao estilo do filme Casa Blanca. Porcina tinha que decidir se
abandonaria Asa Branca viajando com Roque, ou se continuaria na cidade com
Senhorzinho Malta, sendo eternamente a Viúva de Roque. O Capítulo que deu 95 pontos de IBOPE em São Paulo, acabou
mostrando a Viúva ficando em Asa Branca, provando que o Mito havia vencido a
verdade e a cidade continuaria da mesma forma.
Roque Santeiro foi reprisada pela primeira vez em 1991, dentro da
faixa onde era apresentada a Sessão
Aventura com séries americanas. Esta reprise foi satisfatória, porém curiosamente
em 2000 quando foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo não obteve bons índices, assim como na reprise
do Canal Viva em 2011. A Novela foi a primeira a ser comercializada
em DVD em 2010 em comemoração aos
seus 25 anos de estreia.
Ano que vem a novela vai
comemorar 30 anos, mas parece que foi ontem que acompanhamos a deliciosa
história desses inesquecíveis habitantes de Asa Branca. Quem não repetiu incertamente o “Tô
Certo, ou Tô Errado?” do Senhorzinho Malta ou não berrou o “Minaaaaaaaaaaaaaa” repetindo o sonora grito que Porcina dava
sempre que precisava da empregada vivida
pela atriz Ilva Nino ?
A novela é clássica que sempre será lembrada e
reverenciada. Um ponto importantíssimo
na teledramaturgia nacional.
.... e no A, b, C do Santeiro . . .
Ficha
Técnica
Novela do autor Dias Gomes
Escrita por Dias Gomes e
Aguinaldo Silva
Direção Geral : Gonzaga Blota,
Marcos Paulo, Jayme Monjardim e Paulo Ubiratan
Elenco :
Regina Duarte, Lima
Duarte, José Wilker, Ary Fontoura, Eloisa Mafalda, Lídia Brondi, Lucinha Lins,
Fábio Jr, Yoná Magalhães, Armando Bógus, Cássia Kiss Magro, Paulo Gracindo,
Cláudio Cavalcanti, Ewerton de Castro, Elizangela, Patricia Pillar, Luiz
Armando Queiroz, João Carlos Barroso, Arnoud Rodrigues, Nelson Dantas, Maurício
do Valle, Cláudia Raia, Ísis de Oliveira, Othon Bastos, Oswaldo Loureiro, Ilva
Nino, Elizangela, Tony Tornado, Maurício Mattar, Alexandre Frota entre Outros.
Exibição : 24 de Junho de 1985 à
22 de Fevereiro de 1986
Capítulos : 209
Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
Pesquisa : memóriaglobo.com,
teledramaturgia.com e Wikipédia.com
Comentários
Postar um comentário