Uma
Regina Duarte exageradamente cafona
e a uma Glória Menezes esbanjando
sofisticação eram os dois pilares da
trama de Rainha
da Sucata com personagens escritas especialmente para elas, na primeira
novela do autor Silvio de Abreu no
horário nobre e que completou esta
semana 25 anos de estreia.
Parece
que foi ontem, mas lá se foram 25 anos ,
duas reprises (uma no VPVN em 1994 e outra no Canal Viva em 2013), e
muita saudade desse novelão que marcou uma época.
Sílvio de Abreu já consagrado no
horário das sete, foi chamado literalmente para fazer rir no horário nobre, e
em menos de um mês apresentou a sinopse da trama que prontamente foi aprovada.
Porém Rainha da
Sucata só entrou nos trilhos depois
que autor adicionou á comédia os melodramas tão característicos do horário
nobre. Inicialmente o público rejeitou a trama que chegou a ser preterida por Pantanal,
exibida na Manchete na época, apesar
das novelas nunca terem concorrido no
horário. A trama de Benedito Ruy Barbosa
só começava depois do término de Rainha da Sucata. Ainda contra a trama contou a
infeliz coincidência da ter estreado em
pleno o Plano Collor que confiscou o dinheiro na poupança de todos os
brasileiros. Anunciada na quarta-feira
antes da novela estrear, e na segunda-feira a trama que falava exatamente da
troca de mãos do dinheiro, os personagens reclamavam do plano. O público
sabendo que a novela tinha certa frente
de capítulos, acusou veladamente a Globo
de já saber do plano. Na verdade as cenas foram refeitas no tempo hábil de
menos de uma semana.
Mas
depois de entrar nos trilhos Rainha da Sucata fez uma viagem perfeita com uma trama folhetinesca ao extremo que seduziu
o público e se transformou num novelão
inesquecível.
Rainha da Sucata apresentou tipos que jamais seriam esquecidos na
história da teledramaturgia nacional. A trinca Antônio Fagundes, Claudia Raia e Marisa Orth foi o destaque na
comédia. O Fagundes voltava a fazer comédia depois de Amizade Colorida (1981) e o gago
Caio Szemanski conquistou o Brasil,
assim como a “bailarina da Coxa grossa”, a Adriana aspirante a dançarina vivida
pela Cláudia Raia e a “purgante” da
Nicinha, impecavelmente vivida pela Marisa
Orth.
Bons
momentos também de atores que deixaram
saudades: Cleyde Yáconis que estreava na Globo fazendo a soberba e também milionária falida Isabele de
Bresson ; Raul Cortez como o
misterioso mordomo Jonas e Paulo Gracindo
na pele do Betinho que cravou na nossa memória o bordão : “Coisa de Laurinha”.
Não
tem como imaginar Rainha da Sucata sem a Maria do Carmo ou a Laurinha Figueroa,
interpretadas mesmo que exageradamente. Um duelo em cada cena entre Regina Duarte e Glória Menezes, numa
parceria que enriqueceu muito à trama.
Glória pela primeira vez fazia uma vilã em novelas, e a fez com tamanha perfeição que a
personagem é um das primeira lembradas quando falamos da carreira da atriz.
E
por falar em vilão vale ressaltar também o Renato Maia, defendido pelo Daniel Filho, outro personagem que marcou a trama com suas
maldades embaladas pelo trompete que ele tocava.
Mas
sem dúvidas o grande destaque da trama foi Aracy
Balabanian com sua inesquecível Dona Armênia. A personagem criou vários
bordões e entre eles o mais famoso : “Na
Chon!“. Dona Armênia começava a novela tímida como se não fosse muito
importante para a trama, mas logo foram se revelando segredos que fizeram com
que a personagem praticamente movimentasse toda a novela. A Relação dela com
suas três “filhinhas” era outro show a parte. O Sucesso da personagem foi tão
grande que o autor a ressuscitou em sua próxima novela (Deus nos Acuda/1992) com suas
filhinhas. Aracy Balabanian apesar de ter nascido em Campo Grande no Rio
Grande do Sul é filha de Armênios e a própria atriz ajudou em muito na pesquisa
de composição da personagem.
Rainha da Sucata marcou a estreia da Marisa Orth na Globo e a volta da Andréia Beltrão às novelas, depois do
sucesso como a Zelda de Armação Ilimitada (1985).
Várias
cenas de Rainha
da Sucata povoam minha memória, mas sem dúvidas o suicídio da
Laurinha Figueroa é a mais inesquecível. Pela primeira vez era mostrada tão explicitamente
na tv o suicídio de um personagem em novelas. A Cena é muito marcante e entrou
para o hall dos grandes momentos da teledramaturgia nacional fechando com chave
de ouro a participação da Glória Menezes
na trama.
A
abertura da novela ao som de “Me Chama
que Eu Vou” na voz do Magal marcou época e trouxe de volta às rádios e as pistas de dança
o ritmo da lambada.
“Sucateeeeeeeiira!”
Era
assim que Maria do Carmo, depois de ter ficado pobre, voltava a vender sucata e
anunciava a sua chegada para comprar ferro velho. A novela é um clássico e Silvio
de Abreu soube como ninguém mesclar
comédia e um bom folhetim, brincando com a alta sociedade falida e apresentando os novos ricos mostrando os
conflitos que o encontro dos dois renderia.
A trama não foi muito feliz em sua reprise noturna no Viva, mas sem dúvidas é uma ótima opção
de reprise para substituir O Rei do Gado (1996)
no Vale a Pena Ver de Novo, afinal a novela faz parte da boa história dos
50 anos da Globo.
Ficha
Técnica
Novela do
Autor Silvio de Abreu
Direção Geral
: Jorge Fernando
Elenco:
Regina
Duarte, Glória Meneses, Tony Ramos, Antônio Fagundes, Daniel Filho, Raul
Cortez, Renata Sorrah, Aracy Balabanian, Paulo Gracindo , Cláudia Raia, Cláudia
Ohana, Maurício Mattar, Patrícia Pillar, Marisa Orth, Cleyde Yáconis, Nicete
Bruno, Gianfrancesco Guarnieri, Lolita Rodrigues, Andrea Beltrão, Marcelo
Novaes, Gerson Brenner, Jandir Ferrari, Flávio Migliaccio, André Fillipi,
Monica Torres, Paulo Reis, Aldine Muller, Ivan Candido, Paulo Guarnieri, Maria
Helena Dias, Hilda Rabello entre outros.
Exibição : 02 de Abril à 26 de Outubro de 1990
Capítulos : 179
Fonte
:
Texto
: Evaldiano de Sousa
Pesquisa
: teledramaturgia.com, memóriaglobo.com
Há um equívoco no texto: Rainha da Sucata não foi a estreia de Andréia Beltrão em novelas. Sua estreia se deu em "Corpo a Corpo", em 1984, na globo.
ResponderExcluirTem Razão Otto Magno. Na verdade era A VOLTA em novelas da ANDREIA BELTRÃO depois do sucesso na ARMAÇÃO ILIMITADA.
ResponderExcluirPorém vale lembrar que antes de CORPO A CORPO (1984), Andreia havia participado da primeira versão de CIRANDA DE PEDRA (1981)e ELAS POR ELAS (1982).