Um dos
grandes mistérios de Velho Chico, a atual trama das nove da Globo, escrita pelo Benedito Ruy Barbosa, sem dúvidas é
saber em que ano ela se passa.
A
trama começou na década de 60 com Rodrigo Santoro e Carol Castro esbanjando
tropicalismo em cenas quentíssima.
Cerca de algumas semanas depois,
Maria Tereza (Julia Dalavia) ingressa no convento depois do pai descobrir seu
romance com Santo (Renato Góes). Durante a cena, aparece um letreiro informando
que estávamos em 1984.
Se
estávamos em 1984, para chegar em 2016, a trama teria dado um salto de 32 anos. O filho da Maria Tereza,
vivido pelo Gabriel Leone teria no
mínimo 31 anos, e ela mesmo vivida pela Camila
Pitanga teria que ter cerca de 47 ou 48 anos. Enxutíssima , não?!
Licença
poética e números a parte, tudo é até
aceitável. Mas o que me deixa mais em dúvidas e que parece que Grotas de São
Francisco tem seu tempo próprio. Horas eu ainda me vejo na década de 60 quando
vejo o Bento , personagem do Irandhir
Santos vestindo aqueles modelitos antigos com calças sociais cintura bem
alta e pernas largas. Tudo bem, que ele é homem humilde e simples, mas estudou na capital, se formou,
foi eleito vereador e nunca ouviu falar de paletó ou jeans?
Aliás,
o figurino de Velho Chico é
que mais causa discrepância com o tempo. A Maria Tereza (Camila Pitanga) sempre vestida de véus e seda; Dona Encarnação da Selma Egrei, ainda com os
mesmos vestidos desde o primeiro capítulo, lembrando as bruxas de Walt Disney ou a Iolanda da Christiane
Torloni com um figurino estilizado que em nada lembra uma
grande dama da alta sociedade baiana do século 21.
Porém
o mais grave de tudo e ver o Antônio Fagundes vivendo um coronel
bonachão e caricato, tipo que ele não viveu nem em Renascer, que já tem 23 anos. Certo
que Velho Chico tem
um ar poético. Tudo é mais dosado. A narrativa, a fotografia, o roteiro e as interpretações são empoeiradas
para dar uma ar de realidade maior, e neste campo saber em que ano estamos é
apenas um detalhe.
Não me
lembro de ter visto os personagens de Velho Chico se comunicando via telefone celular. Porém nessa
contra partida, no capítulo em que Camila
Pitanga assume a Maria Tereza na terceira fase, ela se comunica com o filho
através de uma videoconferência via internet, com um sinal melhor do que no centro do Rio de Janeiro . Detalhe ela
estava na fazenda às margens do São Francisco.
A
única figura que situa o telespectador no ano de 2016 é Miguel, personagem do Gabriel Leone. Bonito, moderno e estiloso , o que aliás destoa de todo o resto do elenco.
Como estudou na França, seria muito inacreditável que ele tivesse o estilo do
avô ou do pai de criação.
Senhora do Destino,
novela do autor Aguinaldo Silva, no
ar em 2004, também passou por esse problema de cronologia. A trama teve sua
primeira fase m 1968 e a fase atual passava em meados do início da década de
90, porém objetos de cenas, celulares, carros eram os mais atuais e alguns ainda nem tinha sido
inventados na década.
Claro
que essa falta de localização no tempo em nada fere o valor da trama de Velho Chico, mas é que em alguns momentos me sinto perdido. Quem sabe a chegada de Miguel à Grotas traga
também o “progresso” narrativo cronológico que a trama
precisa.
Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
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