Uma
autora a frente do seu tempo. Foi através de suas novelas que conheci
experiência científicas que só imaginava que existisse, como os bebês de
proveta e os clones; conheci culturas que certamente jamais teria tempo para
viajar e conhecer, com a cigana e mulçumana;
ou conhecer países como Marrocos, Índia e Turquia. Enfim suas novelas são muito além do que uma
história de amor entre dois protagonistas, são na verdade um novo universo que
ela faz questão de mostrar a cada novo trabalho.
É
claro que eu estou falando da incomparável Glória
Perez, autora de clássicos como Barriga de Aluguel (1992), O Clone (2001) e Caminho das Índias (2009).
Glória Perez nasceu em Rio Branco no
Acre, e iniciou sua carreira como novelista em 1983, quando Janete Clair a convidou para colaborar
na trama de Eu Prometo. Janete havia lido um episódio para o Malu Mulher (1979),
escrito por Glória que nunca tinha sido gravado. A Autora logo se
identificou com o texto de Glória e lhe
deu um dos cargos mais almejados na época, ser “auxiliar” da maga das oito. Eu Prometo acabou sendo a
última novela de Janete, que morrera antes do término da trama. Coube a Glória Perez então finalizar a novela,
e assim o fez, sendo muito elogiada pela Rede
Globo por sua competência e profissionalismo.
Como
prêmio pelo trabalho em Eu Prometo, Glória ganhou em parceria com Aguinaldo Silva a próxima trama das
oito: Partido
Alto. Infelizmente a parceria não vingou, a incompatibilidade entre
os autores ficou nítida logo nas
primeiras semanas da trama, e Aguinaldo deixou Partido Alto apenas
nas mãos da Glória.
Em
1987, Glória Perez foi contratada
pela Rede Manchete onde escreveu sua primeira novela solo, a polêmica e
obscura Carmem,
que tinha Lucélia Santos, a maior estrela global da época como protagonista
fora da emissora. Carmem não foi um
grande sucesso, mas provou que tinha fôlego para escrever uma trama sozinha com
entrechos que seguravam o telespectador do início ao fim.
A
Década de 90 marcou o retorno de Glória
Perez à Rede Globo. Seu primeiro
trabalho de retorno foi a minissérie Desejo (1990), onde
a autora contou a história do também escritor Euclydes da Cunha.
Logo
em seguida Glória levou ao ar a novela Barriga de Aluguel, que estava engavetada há quase
10 anos nos arquivos da autora. A trama contava a história de uma mãe que
alugava a barriga para outra que não podia gerar um filho. Na época a prática
ainda não era tão divulgada no país e a novela se transformou em sucesso
através do público que se dividia entre Ana (Cássia Kiss Magro) e Clara
(Cláudia Abreu) tentando explicar qual
delas era a verdadeira mãe de Carlinhos.
A novela transformou Glória em autora do primeiro time global , consagrando-a como uma autora que inovava em
suas tramas.
O
sucesso em Barriga
de Aluguel, fez com que Glória
Perez ganhasse sua primeira trama solo no horário nobre global, a novela De Corpo e Alma (1992), que tinha como trama principal o transplante
de coração e o Clube das Mulheres, boates com homens se despindo que começa
virar moda no país na época. Infelizmente a novela foi marcada por um tragédia.
Daniela Perez, filha da autora , foi
brutalmente assassinada por um colega de elenco em 28 de dezembro de 1992. A
Tragédia chocou o país, e Glória Perez
mesmo abatida pela grande perda, conduziu a trama até seu final, como uma
espécie de grande homenagem à filha.
Em
1995, a autora volta ao horário nobre falando da cultura cigana e da
comunicação através de redes sociais com os personagens Dara e Júlio Falcão,
vividos pela Teresa Sseiblitz e Edson Celulari na trama de Explode Coração. A novela divulgou a cultura
cigana nos quatro cantos do Brasil, e o figurino e adereços ciganos tomaram
conta dos look´s das mulheres enquanto a novela esteve no ar. A trama foi
marcada por outra novidade que a autora apresentou e que na época era
considerada ainda apenas ficção científica, a comunicação entre as pessoas através
das redes sociais, hoje prática comum.
Glória
fecha a década de 90 com a minissérie Hilda Furacão (1998), baseada no romance homônimo
de Roberto Drummond. A minissérie
foi um dos grandes sucesso do ano na teledramaturgia e marcou a estreia de Ana Paula Arósio na Rede Globo. No mesmo ano, a autora escreveu o remake de um dos maiores sucesso
da sua professora Janete Clair, a novela Pecado Capital, apresentada no horário das seis
com Carolina Ferraz, Eduardo Moscovis e
Francisco Cuoco nos papéis
principais.
A
Cultura mulçumana e a clonagem humana entrava no ar no horário nobre em 2001 com a trama de O Clone.
A Trama estreou em outubro de 2001, cerca de três semanas depois dos ataques ao
World Trade Center no Estados Unidos. O Fato causou um certo receio na Rede Globo, com medo de rejeição a
trama que iria falar sobre a cultura mulçumana. Felizmente foi ao contrário, O Clone se transformou em um dos maiores sucessos do horário
da década de 2000, consagrou seus protagonistas (Giovanna Antonelli, Murilo Benício e Débora Falabella) e sem dúvidas um marco na história da
teledramaturgia nacional. A certa altura
da trama, o drama dos dependente químicos também se transformou em uma das
histórias mais fortes da novela mostrada através da personagem Mel, vivida
magistralmente pela atriz Débora Falabella.
Em
2005, na trama de América, Glória
Perez apresentou ao país a drama das pessoas que sonham em conquistar a América entrando ilegalmente nos Estados Unidos, através da
protagonista Sol, da Déborah Secco.
Mesclado a esse drama a novela mostrava o mundo e o submundo dos rodeios no Brasil à fora através do peão Tião, vivido
pelo Murilo Benício.
Em Amazônia de Galvez
à Chico Mendes, Glória Perez
contou entre realidade e ficção a história de formação do seu estado de
nascimento, O Acre, o último a ser anexado ao território brasileiro.
Em
2009, Glória Perez trouxe para o
Brasil o Emmy Internacional de Melhor Novela
com a trama de Caminho
das Índias, outro sucesso arrebatador da autora. A novela retratou e
mostrou para o Brasil a cultura indiana através da personagem Maya, vivida pela
Juliana Paes. A Novela discutiu outros
temas polêmicos também dentro da trama
como a esquisofrênia através do personagem Tarso, vivido pelo Bruno Gagliasso e a psicopatia com a Yvone, personagem da Letícia Sabatella.
Em
2013, depois de supervisionar a minissérie O Canto da Sereia, dos autores George Moura e Patrícia Andrade, a autora voltou às
novelas nos levando em mais uma viagem inesquecível. Salve Jorge, mais um “voo” da
autora, nos levou para a Turquia contando a história de Morena (Nanda Costa),
uma jovem capturada pelo tráfico internacional de mulheres. Como salvador da
jovem, a autora se inspirou na história do Santo Guerreiro São Jorge, através do seu devoto Theo, personagem do Rodrigo Lombardi, o outro protagonista
da trama. A novela foi uma ousadia da autora, começando pela escolha da
protagonista. Nanda Costa não tinha
aos olhos de muitos, o pedigree necessário para viver uma protagonista do
horário nobre, ainda mais que essa personagem seria uma prostituta, embora
fosse obrigada. Foi difícil, mais depois
de muitas mudanças de cabelos sempre mostradas pelos internautas mais atentos, Nanda Costa se firmou como a
protagonista e terminou a novela adorada pelo público. Salve
Jorge é considerada a mais controvérsia novela da autora, e a mais
criticada pelo público e pela imprensa que não engoliam situações inusitadas
criadas pela autora. A novela foi a
primeira da Glória Perez que eu acompanhei através das Redes Sociais,
foi nessa época que entrei no #Twitter
e comecei assistir e tuitar sobre a trama ao mesmo tempo. Talvez essa nova “mídia” também tenha sido um dos
causadores desse sucesso/rejeição aos
voos da autora.
Em
2014, a autora inovou novamente entrando no ramo dos seriados e apresentou a trama de Dupla Identidade. O seriado contava a história de perseguição a
um serial killer. A Autora se inspirou em seriados americanos para criar a
narrativa do seriado, e a Globo tinha a intenção de cativar o público fã dessas series estrangeiras com a
versão brasileira. Bruno Gagliasso que pediu diretamente a autora para viver o protagonista
se consagrou vivendo o serial killer.
Até
então Dupla
Identidade é o último trabalho da
autora na tv, mas Glória Perez já
está na fila de novelas do horário nobre e volta em 2017 com a trama de A Flor da Pele,
trama que vai substituir a trama de Maria
Adelaide Amaral, que vai substituir Velho Chico, do Benedito Ruy Barbosa.
A nova
trama da autora vai falar sobre o mundo dos transexuais e já entrou em pré-produção.
Será mais um voo ariscado da autora e que certamente vai chocar e ao mesmo
tempo conscientizar o grande público sobre a total semelhança entre os seres
humanos.
É
impossível assistir uma trama escrita por Glória
Perez e não ser tocado por seus assuntos polêmicos e sociais, a autora
inclusive é um das que mais tem preocupação com esses temas sociais ao
escrever um novo trabalho. Foi assim em Explode Coração com o drama das crianças
desaparecidas; o transplante de órgãos em De Corpo e Alma (1992);
a clonagem humana e as drogas em O Clone (2001); deficiência visual em América (2005);
esquizofrenia em Caminho das Índias (2009) e
tráfico de mulheres em Salve Jorge(2013) entre outras.
Glória
é uma autora que busca algo além da simples audiência. Para ela esses números
do IBOPE são primeiramente pessoas
que estão ali em frente à tv em busca de entretenimento, mas que esse
entretenimento pode ser mostrado com consciência e responsabilidade.
Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
Pesquisa : teledramaturgia.com.br,
memóriaglobo.com, wikipedia.com.br
A personagem da Déborah Falabella em "O Clone" se chamava Mel e não Léo como está aí no texto.
ResponderExcluirVerdade ANÔNIMO, OBg. Já corrigi.
ExcluirA Débora Falabella foi Léo em #AgoraéqueSãoElas .