Se a Janete Clair foi apelidada de a “Maga dos Oito”, ele sem dúvidas merece ser o “mago das seis”. Estou falando do Walcyr Carrasco, que a essa altura está
só colhendo os louros do sucesso de Êta Mundo Bom, que marcou sua volta ao horário em
alto estilo e terminou nesta sexta-feira (27.08).
Nascido
em Bernardino do Campos, interior paulista, mudou-se para São Paulo aos 15 anos
onde vive até hoje. Formou-se em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes
da USP. Como jornalista escreveu para revistas
como a Veja e Isto É e nos
jornais O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e o Diário Popular.
Walcyr Carrasco também é escritor de livros tendo o primeiro,
Quando Meu
Irmãozinho Nasceu, escrito aos 28 anos. Depois viriam outros títulos
de sucesso infanto-juvenis como Vida de Droga e
o Anjo
Linguarudo, que inclusive foram adotados como leitura complementar
em vários escolas em todo o país. Entre suas obras voltadas para o público
adulto estão Em
Busca de um Sonho, Pequenos Delitos e
Anjo de
Quatro Patas. No teatro escreveu sucesso como Êxtase
e Baton,
a peça que revelou o talento da Ana Paula Arósio.
Na tv,
escreveu sua primeira novela, Cortina de Vidro,
no final da década de 80. A trama exibida pelo SBT não chegou a ser um grande sucesso mais chamou atenção pelo seu
elenco espetacular. A trama era uma produção independente da Mikson,
produtora do Guga de Oliveira, irmão
do Boni que na época era diretor artístico
da Globo.
Na
década de 90 , o autor é contratado pela Rede
Manchete e escreve as minisséries Rosa dos Rumos (1990),
O Guarani e Filhos do Sol,
ambas em 1991. Mas o grande sucesso da carreira do autor só veio em 1996 quando
escreveu sob o pseudônimo de Adamo Angel, a novela Xica da Silva. A novela baseada no romance Xica que manda,
da escritora Agripa Vasconcellos, se transformou no grande sucesso da Rede Manchete pós-Pantanal, consagrou Taís Araújo e Walcyr Carrasco que na época
não era mais contratado da
emissora, por isso o uso do disfarce na autoria da trama.
Depois
do sucesso da trama ficou impossível esconder a verdadeira identidade do autor. Walcyr que estava com contrato ainda
vigente no SBT foi “obrigado” pelo Silvio Santos a escrever uma trama para
emissora como castigo por ter escrito Xica da Silva para
a Rede Manchete. Assim em 1998, o
autor escreveu a trama de Fascinação para o
canal. A novela não chegou nem perto do sucesso que foi Xica da Silva, mas já podíamos ver
nela ingredientes dos próximos sucessos do Walcyr, a começar pela nostálgica
década de 30.
Em
2000, Walcyr pode finalmente colher os louros do sucesso de Xica da Silva (1996) e agora contratado pela Globo escreveu o primeiro grande sucesso das seis da década, a
novela O Cravo e a Rosa (2000). A trama revitalizou o
horário e credenciou Walcyr para hall dos grandes autores globais. Ainda no horário das seis Walcyr emplacou
sucessos como A Padroeira (2001), Chocolate com
Pimenta (2003) e Alma Gêmea (2005). Todas
quatro foram marcadas pelo
sucesso e por isso o apelido de “Mago da Seis”
é mais que merecido para o autor.
Em
2007, Walcyr resolveu alçar novos voos e saiu da sua zona de conforto, as
tramas de época do horário das seis, e nos apresentou a trama de Sete Pecados,
sua estreia no horário das sete. A
trama foi inspirada na obra prima de Dante Alighieri (1253 – 1321) , o poema
épico A
Divina Comédia que cita os sete
pecados capitais do pano de fundo da novela.
Claro que sair da zona de conforto é sempre um risco, e em Sete Pecados Walcyr comeu um dobrado para pôr a trama nos eixos. O
público não simpatizou com os
protagonistas, que estavam nitidamente em total falta de sintonia, isso sem
falar no excesso de tramas que nos
confundia. No auge dos tropeços da trama, Cláudia Raia, que também não emplacou como a vilã Agatha, pede para sair da trama. Enfim foi uma
primeira experiência em outro horário difícil, mas que serviu de alicerce para
a próxima.
Em
2009, Walcyr não se amedrontou e voltou ao horário das sete com Caras e Bocas, em outra dobradinha com Jorge Fernando. Mas Caras e Bocas tinha
uma trama bem mais leve que Sete Pecados, isso sem falar no macaco Chico, que
era um dos protagonistas e logo de cara seduziu o público. O Fato é que Caras e Bocas que também era uma trama contemporânea mostrou que o
Walcyr estava pronto também para um texto atual.
Com Morde e Assopra (2011), Walcyr quis mostrar tendo os dinossauros e
robôs como pano de fundo , uma história de amor do homem pelo sua origem e por sua criação. Um dos
protagonistas Ícaro, vivido pelo Mateus
Solano, criava um robô a imagem e semelhança da sua grande amada. A Ideia
do Robô, vivido pela bela Flávia Alessandra, logo foi rejeitada pelo grande público, obrigando o autor
trazer a personagem humana antes mesmo do esperado. O outro lado da história
que tinha os dinossauros com pano de fundo também não agradou , e o autor teve que transformar Morde e Assopra em um grande dramalhão praticamente protagonizado por
Cássia Kiss Magro que vivia a
simplória vendedora de cocadas Dulce, e
passava pelo drama de ser renegada pelo filho Guilherme (Kleber Toledo) , por
quem se sacrificou e se anulou tanto. Como a própria imprensa divulgou na época
“Cássia
Kiss carregou nas costas Morde e Assopra”.
Em
2012, Walcyr troca de horário novamente e nos encanta no horário das 23 horas
com o remake de Gabriela,
novela baseada na obra de Jorge Amado e escrita pela primeira vez em 1975 pelo Walther George Durst. Nesta versão, além da sensualidade natural que a trama
pedia, Walcyr imprimiu seu estilo ao
remake com personagens caricatos em situações engraçadas com direito a muito
riso e tortas na cara.
Com Amor à Vida,
Walcyr Carrasco tinha nas mãos a sua
prova dos noves. Estava o autor consagrado nos outros horários e o
nobre era o caminho natural. A Trama que apresentou o primeiro vilão gay
(assumido) da teledramaturgia nacional e o primeiro beijo gay também,
apresentou um primeiro capítulo como poucas vezes vistos. Ágil e que não deixou
o telespectador tirar os olhos um minuto sequer da tela e que fechou com o
Félix, do Mateus Solano abandonando
a Paulinha no caminhão do lixo e lhe
chamando de “Ratinha”. Uma pena que
logo na segunda semana da novela a trama esfriou e o que vimos foi um leque de
situações já apresentadas pelo Walcyr contadas com requintes de um horário nobre.
A trama teve uma audiência linear , mas em contra partida foi bombardeada de críticas
pela falta de sintonia do principal casal romântico vividos pelo Malvino Salvador e Paolla Oliveira e a
história repetitiva da comediante que estreava como atriz Tatá Werneck na pele da periguete Valdirene. Enfim a trama de Amor à Vida foi uma grande colcha de retalhos de situações
que desenrolaram nos 221 capítulos da
trama, que mesmo com todos os problemas foi esticada, e finalizou com uma das
mais emblemáticas cenas da teledramaturgia brasileira. A Redenção do Félix e o
cuidado com o pai César (Antônio Fagundes) que lhe renegou toda a trama.
Em
2015, Walcyr volta ao horário das onze apresentando pela primeira vez uma trama
inédita. Toda as outras apresentadas até então tinham sido remakes de sucessos
já apresentados na Globo. Verdades Secretas é a novela do horário de maior repercussão até
então. O Autor deixou de lado seu estilo
e apresentou uma trama sensual e misteriosa
tendo o mundo e o submundo da
moda e das passarelas como pano de fundo. A trama marcou a volta de Marieta Severo às novelas , depois de
13 anos vivendo a Nenê de A Grande Família e deu projeção nacional logo em
seu primeiro trabalho a Camila Queiroz,
que deu vida a protagonista Angel. A
trama envolvente e a ousadia em tocar em certos temas fizeram de Verdades Secretas a melhor novela do Walcyr fora do estilo
“Walcyriano”.
Mas
como o bom filho a casa retorna . . . Walcyr
Carrasco resolve voltar ao horário que lhe consagrou com a trama de Êta Mundo Bom. Sempre cito em todos os post que faço sobre a
trama das seis, que o autor não
apresentou nela nada que já não tenhamos visto em todas as suas outras novelas,
principalmente os sucessos apresentados no mesmo horário. Mas Êta Mundo Bom revitalizou
o público do autor que estava órfão desse tipo de trama simples há onze anos,
quando Walcyr apresentou Alma Gêmea (2005) e
alçou voos novos em outros horários. Com direito a muitos planos infalíveis da
vilã Sandra (Flávia Alessandra), o Cegonho da Mafalda (Camila Queiroz) e as
peraltices da Maria (Bianca Bin) a novela
terminou como um das melhores do horário dos últimos anos.
O Fato
é que Walcyr Carrasco termina Êta Mundo Bom coroado por um bom trabalho e vários recordes de
audiência com a trama que teve direito a muitos banhos de lama, de rio, tortas
na cara, coices de burros, casamentos desfeitos, enfim todos os ingredientes
deliciosos do talento desse grande novelista.
Fonte :
Texto : Evaldiano de Sousa
Pesquisa : www.teledramaturgia.com.br e www.memóriaglobo.com e www.wikipédia.com.br
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