O ano de 2017 foi bom para
teledramaturgia da Globo, que depois
de 5 anos, conseguiu com A Força do Querer, da Glória Perez, mobilizar o público com uma trama de bom texto e
grande apelo popular. Isso não acontecia desde Avenida Brasil (2012).
Os outros horários também fizeram
bonito. Rock
Story manteve os bons índices das
tramas do horário das sete e Novo Mundo , no horário das seis, trouxe de volta o público do início do ano,
que Êta Mundo
Bom, do Walcyr Carrasco, havia conseguido, mas que Sol Nascente, do Negrão tinha
afastado.
Já
na RecordTv as novelas bíblicas continuaram sendo a
grande aposta da emissora, mas infelizmente nem A Terra Prometida, do Renato Modesto e O Rico e Lázaro, da Paula Richard, conseguiram a atenção da crítica e o interesse do
público no nível esperado. E pelo andar
da carruagem, Apocalipse parece que veio para ser a pá de cal
final para o fraco desempenho do gênero das
tramas bíblicas desse ano.
Escrava
Mãe (RecordTv – 31 de Maio de 2016 à 09 de Janeiro de 2017)
Escrava Mãe, do autor Gustavo Reiz, pegou o início de 2017, a trama exibiu seu
último capítulo em 09 de janeiro, ou seja
todos os desfechos da trama foram apresentados neste ano. A novela foi sem dúvidas uma das tramas mais estáveis
apresentadas pela emissora, com a exceção do fenômeno Os Dez Mandamentos.
Uma espécie de “zebra” dentro da emissora,
Escrava Mãe foi protelada até onde foi possível e acabou estreando totalmente gravada, o que
desagradou parte do elenco e o autor. O
Receito da Record era que o público,
ainda encantado com Os Dez Mandamentos,
não comprasse uma trama escravagista. Ledo
Engano! A trama conquistou um público cativo, bombou nas redes sociais e seus
personagens ganharam torcida em todo o Brasil.
Gustavo
Reiz acertou ao retroagir
a novela tendo com base um dos clássicos escravagistas da
tv, A Escrava Isaura (2004), contando a
história do nascimento desta. Isso aguçou a curiosidade do telespectador mais
fanático por novelas, que mesmo cansados do tema escravagista já tão explorado
na tv, foram pegos pela curiosidade da história.
À
novela não faltaram os velhos e clássicos clichês escravagistas: Escravos ditos
alforriados e não eram, senhores apaixonados por suas escravas, Sinhás
seduzidas pela subserviência de seus escravos, filhos de escravocratas que
adorem ao movimento abolicionista entre outros.
Escrava Mãe inovou logo em seus
primeiros capítulos quando revelou o segredo que poderia ter segurado a trama
inteira: O Assassino do Coronel Custódio, vivido pelo ator Antônio
Petrin. Sabendo que devido o fato da novela já está toda
gravada não iria conseguir segurar esse segredo até o final, o autor
revelou que a grande vilã da novela Maria Isabel, vivida pela Thaís
Fersoza era a assassina. Aí Quando eu pensei que a trama perderia a
graça e os atrativos com essa revelação tão importante, ocorreu exatamente o
contrário. A Revelação instigou o telespectador em ajudar a revelar para os
outros personagens quem era o verdadeiro assassino, e em cima desse
“segredo” dentro da trama foram criados vários outros entrechos que só deram
ainda mais fôlego à trama.
No elenco destaque absoluto para Thais Fersoza , impecável como a vilã
Isabel; Jussara Freire como a
hilária Arruaca; Luiza Tomé, na pele
da Rosalinda; Bete Coelho na pele da
sensível Beatrice; Lidi Lisboa como
a asquerosa Isméria; Luis Guilherme,
o Coronel Quintiliano; Roberta Gualda,
na impecável interpretação da Teresa; Milena Toscano, a Felipa; Léo Rosa, como Átila; Zezé Motta, a tia Joaquina; Cássio Scarpin, como o Tozé entre outros.
A
Terra Prometida (RecordTv
– 05 de Julho de 2016 à 13 de Março de
2017)
Depois do fenômeno Os Dez Mandamentos, a trama de A Terra Prometida era a novela que tinha o intuito de segurar o sucesso
do gênero na emissora. Não foi nenhum fenômeno, mas também não fez feio.
Apresentou uma trama linear, e junto com o tema bíblico mostrou ingredientes de
folhetim que cativaram o grande público.
A Derrubada das Muralhas de Jericó e as
outras marcantes passagens bíblicas, assim como o elenco,
que queria fazer dar certo, foi o grande trunfo de A Terra Prometida.
Desse elenco destaque para Beth Goulart (Léia), Paloma Bernardi (Samara), Cristiana Oliveira (Mara) e Míriam
Freeland, que na pele da prostituta
Raabe roubou a cena nas duas fases da trama. Segurou boa parte da novela nas costas, como já havia feito antes em Máscaras (2012).
Sol
Nascente (Globo
– 29 de Agosto de 2016 à 21 de Março de
2017)
Com um par romântico que não empolgou no começo e
que acabou ficando rotulado pela falta de química entre seus intérpretes
(Giovanna Antonelli e Bruno Gagliasso), Sol Nascente não brilhou como o esperado. E
essa falta de química respingou na história central do autor Walther Negrão. Era difícil comprar a
Alice, uma mulher cosmopolita, formada no Japão, ser tão ingênua e depois
se descobrir apaixonada pelo amigo de infância depois de anos de convívio.
Enfim, Sol Nascente se segurou no ar graças suas tramas paralelas que
acabaram tomando uma projeção maior que a trama central.
A trama da Lenita,
personagem da Letícia
Spiller que
por si só, já era uma boa personagem com essa vibe roqueira e arrasando
no canto, no decorrer dos capítulos
ganhou a história da relação com o Vitório, do Marcelo
Novaes, e ainda revelou o trauma de ter dado um
filho em adoção no passado, depois de ter sofrido da síndrome da rejeição
pós-parto.
Vale
citar também a história da organização liderada pela vovozinha do mal vivida
pela Laura
Cardoso, que infelizmente por problemas de saúde
teve que se afastar da trama, mas o pouco tempo que passou foi tão
marcante que a história até pode seguir sem ela fisicamente nas
cenas; além da história das caiçaras
versus japoneses da praia; O
triangulo Dora (Juliana Alves) /Tiago (Marcelo Mello Jr) e Yune (Jacqueline
Sato), o romance do Ralf (Henri Castelli) e Milena (Giovanna Lancelotti), e o
drama da Milena com o retorno da mãe, Loretta a personagem da Cláudia Ohana.
Como
grande personagem da trama vale destacar o vilão César construído com perfeição pelo Rafael Cardoso. O ator soube
representar como poucos os vilões maquiavélicos e patologicamente
desiquilibrados criados pelo Negrão. Entrou para o seleto time formado entre outros pelos
saudosos Marcos Paulo, o Sérgio
Santarém de Despedida de Solteiro (1992) e Yara Amaral,
a Joana Flores de Fera Radical (1987).
Malhação
– Pro Dia Nascer Feliz (Globo - 22 de Agosto de 2016 à 04 de Maio de 2017)
A temporada de Malhação – Pro Dia Nascer Feliz
foi uma sequência do Seu Lugar no Mundo,
a temporada anterior, ambas escritas
pelo Emanuel Jacobina. Da temporada
anterior vieram alguns personagens como os vividos por Cynthia Senek, Gabriel Kaufmann, Laryssa Ayres, Amanda de Godoí (revelação
na temporada anterior) e Nego do Borel.
Além de Francisco Vitti, Pâmela Tomé e
Lívian Aragão em participações especiais.
Infelizmente essa temporada se mostrou
com uma história sem consistência, que ficou nítida logo nas primeiras semanas,
e até o grande chamariz da “Primeira protagonista Negra” da novela teen, a
Joana vivida pela Alinne Dias, não surtiu o
efeito esperado. O principal gancho, que seria o racismo contra a protagonista tendo como sua principal algoz
a meia-irmã branca e loura Bárbara (Bárbara França), não passou de uma
abordagem infantil em que as duas brigaram com picuinhas toda a temporada num
jogo de gato e rato sem nenhuma
sutileza.
Em meio a tudo isso brilhou a atriz Bárbara França, impecável como a vilã
da temporada. Seu desempenho foi tão bom que acabou apagando a Alinne Dias em cena, mas uma prova da
fraca história criada com espinha dorsal.
Da temporada vale destacar também a participação luxuosa da Joana Fomm, que protagonizou uma trama
paralela sobre velhice e Alzheimer; as belas imagens do meu Ceará, como o Beach
Park, e seu complexo de praias no Aquiraz
e a de Morro Branco no Beberibe; além
da volta de uma academia como cenário principal, ambiente que batizou a
novela quando ela nasceu no ano de 1995.
A
Lei do Amor (Globo
– 03 de Outubro de 2016 à 31 de Março de
2017)
MariaAdelaide Amaral, maga das minisséries e dos remakes, estreou em 2016 em
horário nobre na trama de A Lei do Amor, em parceria com Vicent Villari. Infelizmente a estreia
da autora não foi bem recebida, e a trama que terminou em março de 2017 foi
rotulada de morna e nem mesmo mudanças
drásticas no perfil de vários personagens, na tentativa de salvá-la, surtiu
efeito. A novela terminou como a trama
de uma personagem só, muito criticada
pela imprensa, e a pior do horário dos últimos anos.
Marcada por uma trama mal contada, cheias de furos e soluções para
esses furos que os tornaram ainda mais inverossímeis, A Lei do Amor foi praticamente se transformando em uma novela
desinteressante a cada semana de
exibição.
No meio
dessa descaraterização de
personagens e a colcha de retalhos mal costurada das histórias,
a personagem da Vera Holtz praticamente carregou A Lei do Amor nas costas com as vilanias e seu trabalho impecável na pele
da Dona Magnólia. Se a novela foi de alguém foi dela, que centrou todos
os acontecimentos desde a primeira fase e ganhou um final apoteótico levada
pelo trem do destino, como dizia a abertura.
Com
destaques pontuais vale destacar alguns personagens e seus intérpretes que
escaparam da metralhadora descontrolada nas mãos dos autores. Assim a
Yara, da Emanuelle Araújo, A Dona Silva da Regina Braga, A
Vitória da Camila Morgado, O Senador Venturini do Otávio
Augusto, a Gigi da Mila Moreira, a Luciene da Grazzi Massafera e o Hélio
Bataglia do estreante João Campos, entre outros fatores
marcaram sua participação na trama por serem dentro da incoerente A Lei do Amor personagens que no mínimo sobreviveram à novela.
Rock Story (Globo – 09
de Novembro de 2016 à 05 de Junho de
2017)
Rock Story,
trama das sete que terminou em 05 de junho de 2017, marcou com chave de ouro a estreia de Maria
Helena Nascimento como autora solo. A novela cheia de personagens críveis e
uma trama realista, tendo a música como
pano de fundo, chegou ser até melhor que Totalmente Demais, o último grande do sucesso até então.
Rock Story foi aquele tipo de novela em que
esperávamos algo e na verdade fomos presenteado com outra coisa bem melhor.
Com o rock e a ascensão através da música como pano de fundo,
a autora não se prendeu à essa temática, e mostrou um panorama de bons
personagens e histórias, que mesmo que em alguns momentos tenham demorado
para serem contadas no roteiro da novela, como o encontro das gêmeas Julia
e Lourena, as personagens da Nathália
Dill, a história da prisão por porte de drogas da Júlia, a vingança do
Lázaro (João Vicente de Castro) por amor à Diana (Alinne Moraes) e a história do câncer do Nicolau (Danilo
Mesquita). não deixaram Rock Story com a aquela famosa “barriga” no ar.
Três
principais ingredientes da formula de uma boa novela foram
os pilares de Rock Story:BOM
TEXTO + DIREÇÃO CIRÚRGICA + UM BOM ELENCO. Numa alquimia
perfeita, esse último item foi um diferencial na trama.
Os protagonistas Nathalia Dill, Vladimir Brichta e Alinne Moraes foram
igualmente cruciais para o bom desenvolvimento na trama,
transformando em excelente o ótimo texto da autora, com personagens
viscerais e de uma credibilidade e riqueza artísticas jamais vista.
Nesse elenco vale destacar ainda Ana Beatriz Nogueira, Caio Paduan, Herson Capri, Julia
Rabello, Viviane Araújo, Marina Moschen,
Rafael Vitti, Alexandra Hicther e SuzyRêgo, alguns em personagens fora de suas zonas de conforto
provando uma nova faceta de seus talentos já consagrados. No elenco jovem,
claro que os meninos da Banda 4 X 4, Nicolas
Prattes (Zac), João Victor Silva (Tom), Danilo
Mesquita ( Nicolau
), Maicon Rodrigues (JF) e Enzo Ramani (Jailson) foram o grande destaque, segurando seus
personagens na interpretação e no canto, nos shows da banda.
Novo
Mundo (Globo
– 22 de Março à 25 de Setembro de 2017)
A trama de Novo Mundo, dos autores Alessandro Marson e Thereza Falcão, ,
teve como um dos seus
pontos fortes o carisma de seus personagens e intérpretes. Depois da
novela a história da independência do Brasil com certeza passou a ser vista com
outros olhos.
Poucas vezes tantos personagens
em uma mesma trama caíram no gosto do público, chegando ao nível desse carisma
salvar o personagem da morte, o caso da Elvira, vivida pela Ingrid
Guimarães, que sem dúvidas viveu seu
melhor personagem na teledramaturgia. A Elvira na sinopse original morreria por
volta do capítulo 80. A Tentativa da morte aconteceu, porém o público que soube
bem antes da morte, não aceitava perder uma personagem tão importante para a
novela. Assim a morte foi uma farsa, e a Elvira ganhou um novo entrecho ainda mais
interessante que o vivia até então.
Uma das primeiras a nos ganhar foi a Leopoldina, vivida
pela Letícia Collin. Logo nos primeiros capítulos a Princesa,
rotulada nos livros de história do Brasil apenas como uma parideira, foi
pincelada com traços mais humanos que somados ao trabalho impecável da
Letícia, deram uma outra ótica a sua trajetória. Caio Castro foi
outra grande surpresa na pele de Dom
Pedro I.
Viviane Pasmanter abriu mão de
toda vaidade, e fora de sua zona de conforto, apresentou um dos seus
melhores personagens na Tv . Já o Guilherme
Piva sempre reservado à
personagens coadjuvantes sem muito destaque, foi alçado a outro patamar em Novo Mundo.
Mas quem fez de Novo Mundo seu palco foi a Ingrid Guimarães na pele da
Elvira, que como o próprio texto da personagem diz , fez de tudo nesta
trama. Elvira Matamouros grande atriz, deu um novo status a carreira da Ingrid
Guimães, que sai de vez do hall das atrizes humoristas para ser
simplesmente um pura Atriz, com A maísculo. Assim
Matamouros, grande atriz, amante, escrava, pirata, prisioneira, cartomante,
quase-imperatriz ... entrou para a história do Brasil.
Novo Mundo foi uma trama
a qual não me apeguei de cara, não gostava do entrecho dos protagonistas,
na falta de força cênica do
Joaquim do Shay Suede e a mocinha conformada Anna, vivida
pela Isabelle Drumond,
porém ao mesmo tempo fui tomado de paixão pelos personagens Dom Pedro I,
Princesa Leopoldina e cia, as cenas de ação impecáveis desde o primeiro
capítulo e o núcleo de humor primordial para esse
sucesso.
Com uma mensagem de otimismo, tendo o desmatamento da
Amazônia como foco, visionado por Piatã (Rodrigo Simas) no último
capítulo, e brincando com seus próprios clichês, Novo Mundo foi
marcada por uma trajetória espetacular como trama atemporal e
entrou para o hall das melhores dos anos
2000.
O Rico
e Lázaro (RecordTv – 13 de Março à 20 de Novembro de 2017)
O Rico e
Lázaro, trama da Paula
Richard, chega ao seu
centésimo capítulo nesta sexta-feira (28.07) foi uma das mais fracas novelas bíblicas
apresentadas pela RecordTv. Chegar ao
nível do fenômeno que foi Os Dez Mandamentos (2015), era sonhar
alto, mas a emissora não conseguiu emplaca-la, como fez com A
Terra Prometida (2016). Faltou
para O Rico e Lázaro o clima folhetinesco que mesclado ao tema bíblico foi o
diferencial das tramas anteriores.
O Trio
de protagonistas e triângulo amoroso Ascher / Zac / Joana vividos peloDudu Azevedo, Igor Ricklli
e Milena Toscano foi fraco para segurar uma trama desse porte,
e sem esse principal casal para torcer o público teve
que se contentar com as tramas paralelas.
Alguns
atores conseguiram fazer um trabalho marcante na trama como aChristine Fernandes na pele da vilã
Sammu-Rammat; Denise Del Vecchio numa vibe
mais cômica na pele da Elga e Gabriel Gracindo como Daniel,
que protagonizou várias das importantes passagens da bíblia.
Talvez
a fórmula das tramas bíblicas tenha perdido o fôlego e por
isso a opção de retratar o Apocalipse no dias atuais, porém não deixou de ser
maravilhoso ver retratado em cena todas as passagens bíblicas através do
Jeremias (Vitor Hugo), Ezeguiel (Ligurgo Spindola), todos os
acontecimentos com Nabucodonosor (Heitor
Martinez) , seu neto, a fornalha onde foram jogados Sodraque
(Gustavo Rodrigues), Mesaque (Sacha Bali) e Abednego (Jackson Antunes) e
fechando com a emocionante passagem do Daniel na covas
dos leões.
Os
Dias Eram Assim (Globo
– 17 de Abril à 18 de Setembro de 2017)
Passagens políticas que marcaram a
história do Brasil como os anos de chumbo e luta pelas Diretas Já foram
retratadas com muita sensibilidade e credibilidade por Os Dias eram Assim, a novela
apresentada como supersérie das autoras Ângela
Chaves e Alessandra Poggi. O público se
emocionou ao rever cenas reais da época das Diretas Já com políticos e artistas que
se jogaram de corpo e alma pela causa, entre eles Chico Buarque, Jô Soares, Osmar Santos e Christiane Torloni, na época eleita a musa do Diretas.
Infelizmente Os Dias Eram Assim “flopou” , expressão
usada na internet para designar programas e produções que não caem no
gosto do público, e mesmo tendo uma boa audiência, principalmente às
quintas-feiras, impulsionada pela A Força do Querer, fechou como a produção mais fraca, no sentido de audiência
do horário das onze.
Acho
que o grande erro de Os Dias Eram Assim foi a demora de alguns acontecimentos que eram cruciais para
o desenrolar da história. A primeira semana da supersérie por exemplo,
poderia ter sido facilmente condensada em uma capítulo apenas. As autoras
usaram duas semanas para apresentar o encontro da Alice com Renato (Renato
Góes), sua fuga para o Chile e a prisão do Gustavo (Gabriel Leone), fatos que
dariam o desenrolar da trama nas fases seguintes. Foi tempo demais. Isso sem
falar no desperdício que foi o entrecho do reencontro entre Alice e Renato,
quando ela ainda pensava que seu grande amor estava morto, faltaram os ganchos
tão importantes para dar aquele gostinho de quero mais ao telespectador.
Os
protagonistas da trama infelizmente não tiveram empatia junto ao público,
mas em contrapartida outros atores fizeram da trama seu palco e brilharam
como sempre , o caso do Cássia
Kiss, Marco Ricca, José de Abreu e Natália do Valle que há tempos estava
precisando de uma personagem a sua altura em novelas. No elenco jovem nomes
como Julia Dalavia, Daniel de Oliveira e a revelação Carla Sale, fizeram
a supersérie valer a pena.
Mas sem dúvidas o grande trunfo de Os Dias Eram Assim é
a nostálgica trilha sonora utilizada como elemento de centralização de época da
trama. Emocionou logo no tema de abertura, o clássico “Aos Nossos Filhos”
da Elis Regina, regravado especialmente para
a supersérie pelos protagonistas Sophie
Charlotte, Renato Goes, Daniel de Oliveira, Maria Casadewall e Gabriel Leone.
Na Reta final destaque para a pertinente abordagem sobre a AIDS , que na
década de 80 levou muita gente por pura falta de informação, e que nos dias de
hoje apesar de não ser mais considerada mortal ainda é muito importante as
informações sobre a doença para uma conscientização da galera desta
década. A cena de despedida da personagem, sua morte, entrou
para o hall das grandes cenas da teledramaturgia. Muita emoção e sensibilidade.
A
Trama valeu pela pertinente revisão na história politica do Brasil, desde
os anos de chumbo até a política atual com direito a um resumão
emocionante em suas cenas finais.
A
Força do Querer (Globo – 03 de Abril à 21 de Outubro de 2017)
Com trama reta, realista e coerente, A Força do Querer, da Glória Perez, foi a
melhor novela do horário nobre global desde Avenida Brasil, do João Emanuel Carneiro, exibida em 2012.
Foi um fenômeno. O Brasil se apaixonou
pela Bibi Perigosa, da Juliana Paes; se encantou pelo sereismo da Ritinha,
vivida pela Ísis Valverde; a força da
Major Jeiza, da Paolla Oliveira e se identificou com o drama da
transição de gênero da Ivana, personagem da estreante Carol Duarte. Visceral, emocionante e forte no sentido
mais ampla dessa palavra, Glória Perez prometeu e
dessa vez cumpriu, quebrou o estigma de rejeições de tramas no horário.
Sem
dúvidas o grande trunfo da novela foi sua coerência, presente do princípio ao
fim – A Bibi (Juliana
Paes) queria “amar grande”, e amou foi do 8 a 800, se arrependeu
e com toda a força que a personagem sempre apresentou começou do zero e teve o
seu final feliz. A Ritinha (Isis Valverde), nossa eterna Sereia, encantou o
público e seus pretendentes, e também teve seu final condizente com sua trama.
Nunca se apegou a ninguém, era um ser da natureza, um fenômeno. E a Jeiza, daPaolla Oliveira que exigiu da
atriz um trabalho duro, mostrou a polícia que nós acreditamos que existe, que
veste a camisa e luta pela honestidade. Foram três protagonistas
viscerais , os pilares da trama que de tão bem escritas e interpretadas em
nenhum momento uma suplantou a outra, mostrando mais uma vez a força do texto
da Glória e a escalação perita desse elenco.
O
merchandising social da transição de gênero foi um dos mais importantes
abordados pela autora, que já falou sobre tráfico de pessoas, barrigas de
aluguel, crianças desaparecidas entre outros. Com uma abordagem delicada e a
escolha de uma atriz cara nova, mas nem por isso sem competência para viver a
Ivana que viraria o Ivan, Glória Perez jogou o
assunto na sala do Brasil inteiro, e pessoas de vários níveis sociais e
intelectuais discutiram essa transição, tentaram entender e se ainda não
entenderam no mínimo iram pensar duas vezes antes de ignorar ou agredir
simplesmente.
A
Força do Querer tocou em vários
tabus que estavam ali ao nosso redor, fazendo parte da nossa realidade e que
com a trama enxergamos e certamente tentaremos tomar outras atitudes em relação
– a transição de gênero, o preconceito, o vício nos jogos, o domínio do
crime nas favelas, enfim, assuntos que todas as noites eram
retratadas em notícias reais no Jornal Nacional, com a invasão do
crime de volta ao Morro do Alemão, que culminou exatamente com a invasão
do Morro da trama , misturando com maestria ficção e realidade.
No elenco
grande destaque para Juliana Paes, alçada ao grande posto de estrela com o
sucesso da Bibi Perigosa, assim como Paolla Oliveira, Ísis Valverde, Maria
Fernanda Cândido, Lília Cabral, Humberto Martins entre outros.
Caras
novas que fizeram jus a escalação também foram cruscial para o bom desenvolvimento da trama como a Carol
Duarte e Silvero Pereira, o Donato.
A
proximidade da trama com a realidade foi muitas vezes citadas como o grande
trunfo da Glória Perez, o que há
dois anos foi apontado com um dos problemas de A Regra do Jogo, do João Emanuel Carneiro, considerada um
das novelas mais rejeitas do horário.
Porém no caso de A Força do Querer, essa realidade
foi mesclada com um folhetim dos bons e personagens carismáticos que
transformavam essa realidade dura em cotidiano. Talvez tenha sido este o grande diferencial desse novo fenômeno da
teledramaturgia chamado “A Força do Querer”.
Fonte:
Texto:
Evaldiano de Sousa
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