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Enquete e10blog

Novelas - Balanço 2017


        O ano de 2017 foi bom para teledramaturgia da Globo, que depois de 5 anos, conseguiu com A Força do Querer, da Glória Perez, mobilizar o público com uma trama de bom texto e grande apelo popular. Isso não acontecia desde Avenida Brasil (2012).
        Os outros horários também fizeram bonito. Rock Story manteve os bons índices das tramas do horário das sete e Novo Mundo ,  no horário das seis,  trouxe de volta o público do início do ano, que Êta Mundo Bom, do Walcyr Carrasco,  havia conseguido, mas que Sol Nascente, do Negrão tinha afastado.
        Já na RecordTv  as novelas bíblicas continuaram sendo a grande aposta da  emissora,  mas infelizmente nem A Terra Prometida, do Renato Modesto  e O Rico e Lázaro, da Paula Richard, conseguiram a atenção da crítica e o interesse do público no nível  esperado. E pelo andar da  carruagem,  Apocalipse parece que veio para ser a pá de cal final para o fraco desempenho do gênero das  tramas bíblicas  desse ano.   

Escrava Mãe (RecordTv – 31 de Maio de 2016 à 09 de Janeiro de 2017)

        Escrava Mãe, do autor Gustavo Reiz,  pegou o início de 2017, a trama exibiu seu último capítulo em 09 de janeiro, ou seja  todos os desfechos da trama foram apresentados neste ano. A novela  foi sem dúvidas uma das tramas mais estáveis apresentadas pela emissora, com a exceção do fenômeno Os Dez Mandamentos.
        Uma espécie de “zebra” dentro da emissora, Escrava Mãe foi protelada até onde foi possível e acabou  estreando totalmente gravada, o que desagradou parte do elenco e  o autor. O Receito da Record era  que o público, ainda encantado com Os Dez Mandamentos,  não comprasse uma trama escravagista. Ledo Engano! A trama conquistou um público cativo, bombou nas redes sociais e seus personagens ganharam torcida em todo o Brasil.
        Gustavo Reiz  acertou ao retroagir a novela  tendo com  base um dos clássicos escravagistas da tv, A Escrava Isaura (2004), contando a história do nascimento desta. Isso aguçou a curiosidade do telespectador mais fanático por novelas, que mesmo cansados do tema escravagista já tão explorado na tv, foram pegos pela curiosidade da história.
        À novela não faltaram os velhos e clássicos clichês escravagistas: Escravos ditos alforriados e não eram, senhores apaixonados por suas escravas, Sinhás seduzidas pela subserviência de seus escravos, filhos de escravocratas que adorem ao movimento abolicionista entre outros.

        Escrava Mãe inovou logo em seus primeiros capítulos quando revelou o segredo que poderia ter segurado a trama inteira: O Assassino do Coronel Custódio, vivido pelo ator Antônio Petrin. Sabendo que devido  o fato da novela já está toda gravada  não iria conseguir segurar esse segredo até o final, o autor revelou que a grande vilã da novela Maria Isabel, vivida pela Thaís Fersoza era a assassina. Aí Quando eu pensei que a trama perderia a graça e os atrativos com essa revelação tão importante, ocorreu exatamente o contrário. A Revelação instigou o telespectador em ajudar a revelar para os outros personagens quem era   o verdadeiro assassino, e em cima desse “segredo” dentro da trama foram criados vários outros entrechos que só deram ainda mais fôlego à trama.
        No elenco destaque absoluto para Thais Fersoza , impecável como a vilã Isabel; Jussara Freire como a hilária Arruaca; Luiza Tomé, na pele da Rosalinda; Bete Coelho na pele da sensível Beatrice; Lidi Lisboa como a asquerosa Isméria; Luis Guilherme, o Coronel Quintiliano; Roberta Gualda, na impecável interpretação da Teresa;  Milena Toscano, a Felipa; Léo Rosa, como Átila; Zezé Motta, a tia Joaquina; Cássio Scarpin, como o Tozé  entre outros.

A Terra Prometida (RecordTv – 05 de Julho de 2016 à 13 de Março de 2017)

        Depois do fenômeno Os Dez Mandamentos, a trama de A Terra Prometida era a novela que tinha o intuito de segurar o sucesso do gênero na emissora. Não foi nenhum fenômeno, mas também não fez feio. Apresentou uma trama linear, e  junto   com o tema bíblico mostrou ingredientes de folhetim que cativaram o grande público.
        A Derrubada das Muralhas de Jericó e as outras marcantes passagens bíblicas, assim como o  elenco,  que queria fazer dar certo, foi o grande trunfo de A Terra Prometida.
        Desse elenco destaque para Beth Goulart (Léia), Paloma Bernardi (Samara), Cristiana Oliveira (Mara) e Míriam Freeland,  que na pele da prostituta Raabe roubou a cena nas duas fases da trama. Segurou  boa parte da novela  nas costas, como já havia feito antes em Máscaras (2012).

Sol Nascente (Globo – 29 de Agosto de 2016 à 21 de Março de 2017)

        Com um par romântico que não empolgou no começo e que acabou ficando rotulado pela falta de química entre seus intérpretes  (Giovanna Antonelli e Bruno Gagliasso), Sol Nascente não brilhou como o esperado. E essa falta de química respingou na história central do autor Walther Negrão. Era difícil comprar a Alice, uma mulher cosmopolita, formada  no Japão, ser tão ingênua e depois se descobrir apaixonada pelo amigo de infância depois de anos de convívio.
        Enfim,  Sol Nascente  se segurou  no ar graças suas tramas paralelas que acabaram tomando uma projeção maior que  a trama central.
        A trama da  Lenita, personagem da Letícia Spiller   que por si só, já  era uma boa personagem com essa vibe roqueira e arrasando no canto, no decorrer dos capítulos  ganhou a história da relação com o Vitório, do Marcelo Novaes, e ainda revelou o trauma de ter dado um filho em adoção no passado, depois de ter sofrido da síndrome da rejeição pós-parto.
        Vale citar também a história da organização liderada pela vovozinha do mal vivida pela Laura Cardoso, que infelizmente por problemas  de saúde teve que se afastar da trama, mas o pouco tempo que  passou foi tão marcante  que a história até  pode seguir sem ela fisicamente nas cenas; além da história  das caiçaras versus  japoneses da praia;  O triangulo Dora (Juliana Alves) /Tiago (Marcelo Mello Jr) e Yune (Jacqueline Sato), o romance do Ralf (Henri Castelli) e Milena (Giovanna Lancelotti), e o drama da Milena com o retorno da mãe, Loretta a personagem da Cláudia Ohana.
        Como grande personagem da trama vale destacar o vilão César  construído com perfeição pelo Rafael Cardoso. O ator soube representar como poucos os vilões maquiavélicos e patologicamente desiquilibrados criados pelo Negrão. Entrou para  o seleto time formado entre outros pelos saudosos Marcos Paulo, o Sérgio Santarém de Despedida de Solteiro (1992) e Yara Amaral, a Joana Flores de Fera Radical (1987).

 
Malhação – Pro Dia Nascer Feliz (Globo -  22 de Agosto de 2016 à 04 de Maio de 2017)

        A temporada de Malhação – Pro Dia Nascer Feliz  foi uma sequência  do Seu Lugar no Mundo, a temporada anterior,  ambas escritas pelo Emanuel Jacobina. Da temporada anterior vieram alguns personagens como os vividos por Cynthia Senek, Gabriel Kaufmann, Laryssa Ayres, Amanda de Godoí (revelação na temporada anterior) e Nego do Borel. Além de Francisco Vitti, Pâmela Tomé e Lívian Aragão em participações especiais.
        Infelizmente essa temporada se mostrou com uma história sem consistência, que ficou nítida logo nas primeiras semanas, e até o grande chamariz da “Primeira protagonista Negra” da novela teen, a Joana  vivida pela Alinne Dias,  não surtiu o efeito esperado. O principal gancho, que seria o racismo contra  a protagonista tendo como sua principal algoz a meia-irmã branca e loura Bárbara (Bárbara França), não passou de uma abordagem infantil em que as duas  brigaram com picuinhas toda a temporada num jogo  de gato e rato sem nenhuma sutileza. 
        Em meio a tudo isso brilhou a atriz Bárbara França, impecável como a vilã da temporada. Seu desempenho foi tão bom que acabou apagando a Alinne Dias em cena, mas uma prova da fraca história criada com espinha dorsal.
        Da temporada vale destacar também  a participação luxuosa da Joana Fomm, que protagonizou uma trama paralela sobre velhice e Alzheimer; as belas imagens do meu Ceará, como o Beach Park, e seu complexo de praias no Aquiraz  e a de Morro Branco no Beberibe; além  da volta de uma academia como cenário principal, ambiente que batizou a novela quando ela nasceu no ano de 1995.

A Lei do Amor (Globo – 03 de Outubro de 2016 à 31 de Março de 2017)

        MariaAdelaide Amaral, maga das minisséries e dos remakes, estreou em 2016 em horário nobre na trama de A Lei do Amor, em parceria com Vicent Villari. Infelizmente a estreia da autora não foi bem recebida, e a trama que terminou em março de 2017 foi rotulada de morna e nem mesmo  mudanças drásticas no perfil de vários personagens, na tentativa de salvá-la, surtiu efeito. A novela terminou como  a trama de uma personagem só,  muito criticada pela imprensa, e a pior do horário dos últimos anos.
        Marcada por uma trama mal contada, cheias de furos e soluções para esses furos que os tornaram ainda mais inverossímeis, A Lei do Amor foi  praticamente se transformando em uma novela desinteressante  a cada semana de exibição.
No meio dessa  descaraterização de personagens  e a colcha de retalhos  mal costurada das histórias, a  personagem da Vera Holtz praticamente carregou A Lei do Amor nas costas com as vilanias e seu trabalho impecável na pele da Dona Magnólia. Se a novela foi de alguém foi dela,  que centrou todos os acontecimentos desde a primeira fase e ganhou um final apoteótico levada pelo trem do destino, como dizia a abertura.
Com destaques pontuais vale destacar alguns personagens e seus intérpretes que escaparam da metralhadora descontrolada nas mãos dos autores. Assim  a Yara, da Emanuelle Araújo, A Dona Silva da Regina Braga, A Vitória da Camila Morgado, O Senador Venturini do Otávio Augusto, a Gigi da Mila Moreira, a Luciene da Grazzi Massafera  e  o Hélio Bataglia do estreante João Campos, entre outros fatores marcaram sua participação na trama por serem dentro da incoerente A Lei do Amor personagens que no mínimo sobreviveram à novela.

Rock Story (Globo – 09 de Novembro de 2016 à 05 de Junho de 2017)

        Rock Story,  trama das sete que terminou em 05 de junho de 2017, marcou  com chave de ouro a estreia  de Maria Helena Nascimento como autora solo. A novela cheia de personagens críveis e uma trama realista,  tendo a música como pano de fundo, chegou ser até melhor que Totalmente Demais, o  último grande do  sucesso até então.
        Rock Story foi aquele tipo de novela em que esperávamos algo e na verdade fomos presenteado com outra coisa bem melhor. Com  o rock e  a ascensão através da música como pano de fundo,  a autora não se prendeu à essa temática, e mostrou um panorama de bons personagens  e histórias, que mesmo que em alguns momentos tenham demorado para serem contadas no roteiro da novela, como o encontro das gêmeas Julia e Lourena, as personagens da Nathália Dill, a história da prisão por porte de drogas da Júlia, a vingança do Lázaro (João Vicente de Castro)  por amor à Diana (Alinne Moraes) e  a história do câncer do Nicolau (Danilo Mesquita). não deixaram Rock Story  com a aquela  famosa  “barriga” no ar.
 Três principais ingredientes  da formula  de uma boa novela foram  os  pilares  de Rock Story:BOM  TEXTO + DIREÇÃO CIRÚRGICA + UM BOM ELENCO. Numa alquimia perfeita,   esse último item foi um diferencial na trama.
Os protagonistas Nathalia Dill, Vladimir Brichta e Alinne Moraes foram igualmente cruciais para o bom desenvolvimento na trama,   transformando em excelente o ótimo  texto da autora, com personagens viscerais e de uma credibilidade e riqueza artísticas jamais vista.
Nesse elenco vale destacar ainda Ana  Beatriz Nogueira, Caio Paduan, Herson Capri, Julia Rabello, Viviane Araújo, Marina Moschen,  Rafael Vitti, Alexandra Hicther  e SuzyRêgo, alguns em personagens fora de suas zonas de conforto provando uma nova faceta de seus talentos já consagrados. No elenco jovem, claro que os meninos da Banda 4 X 4, Nicolas Prattes (Zac), João Victor Silva (Tom), Danilo Mesquita ( Nicolau ), Maicon Rodrigues (JF) e Enzo Ramani (Jailson)   foram o grande destaque, segurando seus personagens  na interpretação e  no canto,   nos shows da banda.

Novo Mundo (Globo – 22 de Março à 25 de Setembro de 2017)

        A trama de  Novo Mundo, dos autores Alessandro Marson e Thereza Falcão, ,  teve  como um dos seus  pontos fortes o carisma de seus personagens e intérpretes. Depois da novela a história da independência do Brasil com certeza passou a ser vista com outros olhos.
        Poucas vezes tantos personagens em uma mesma trama caíram no gosto do público, chegando ao nível desse carisma salvar o personagem da morte, o caso da Elvira, vivida pela Ingrid Guimarães, que sem dúvidas viveu  seu melhor personagem na teledramaturgia. A Elvira na sinopse original morreria por volta do capítulo 80. A Tentativa da morte aconteceu, porém o público que soube bem antes da morte, não aceitava perder uma personagem tão importante para a novela. Assim a morte foi uma farsa, e a Elvira ganhou um novo entrecho ainda mais interessante que o vivia até então.
        Uma das primeiras  a nos ganhar foi a Leopoldina, vivida pela Letícia Collin. Logo nos primeiros capítulos a Princesa,  rotulada nos livros de história do Brasil apenas como uma parideira, foi pincelada com traços mais humanos que somados ao  trabalho impecável da Letícia,  deram uma outra ótica a sua trajetória. Caio Castro foi outra grande surpresa na pele de Dom Pedro I
        Viviane Pasmanter  abriu mão de toda vaidade,  e fora de sua zona de conforto, apresentou um dos seus melhores personagens na Tv . Já  o Guilherme Piva sempre reservado à personagens coadjuvantes sem muito destaque, foi alçado a outro patamar em Novo Mundo.
        Mas quem fez de Novo Mundo seu palco foi a Ingrid Guimarães na pele da Elvira, que como  o próprio texto da personagem diz , fez de tudo nesta trama. Elvira Matamouros grande atriz, deu um novo status a carreira da Ingrid Guimães, que sai de vez do hall das atrizes humoristas para ser simplesmente um pura Atriz, com A maísculo. Assim Matamouros, grande atriz, amante, escrava, pirata, prisioneira, cartomante, quase-imperatriz  ... entrou para a história do Brasil.
        Novo Mundo foi   uma trama a qual não me apeguei de cara, não gostava do entrecho dos protagonistas,  na falta de força cênica  do Joaquim do Shay Suede e a mocinha conformada Anna, vivida pela Isabelle Drumond, porém ao mesmo tempo fui tomado de paixão pelos personagens Dom Pedro I,  Princesa Leopoldina e cia, as cenas de ação impecáveis desde o primeiro capítulo e o  núcleo de humor  primordial para esse sucesso.  
        Com uma mensagem de otimismo, tendo o desmatamento da Amazônia como foco, visionado por Piatã (Rodrigo Simas) no último capítulo, e brincando com seus próprios clichês, Novo Mundo  foi  marcada por uma  trajetória espetacular como trama atemporal e entrou  para o hall das melhores dos anos 2000.

O Rico e Lázaro (RecordTv – 13 de Março à 20 de Novembro de 2017)

        O Rico e Lázaro, trama da Paula Richard, chega ao seu centésimo capítulo nesta sexta-feira (28.07) foi  uma das mais fracas novelas bíblicas apresentadas pela  RecordTv.  Chegar ao nível do fenômeno que foi Os Dez Mandamentos (2015),  era sonhar alto, mas a emissora não conseguiu emplaca-la, como fez com A Terra Prometida (2016).  Faltou  para   O Rico e Lázaro  o clima folhetinesco que mesclado ao tema bíblico foi o diferencial das tramas anteriores.
        O Trio de protagonistas e triângulo amoroso  Ascher / Zac / Joana vividos peloDudu Azevedo, Igor Ricklli e Milena Toscano foi fraco para segurar  uma trama desse porte,  e sem  esse  principal casal para torcer  o público teve que se contentar com as tramas paralelas.
        Alguns atores  conseguiram  fazer um trabalho marcante na trama como aChristine Fernandes  na pele da vilã Sammu-Rammat; Denise Del Vecchio  numa vibe mais cômica na pele da Elga  e  Gabriel Gracindo  como Daniel,  que protagonizou  várias  das importantes passagens da bíblia.
        Talvez a fórmula  das tramas bíblicas tenha perdido o fôlego e   por isso a opção de retratar o Apocalipse no dias atuais, porém  não deixou de ser maravilhoso ver retratado em cena todas as passagens bíblicas através do Jeremias (Vitor Hugo), Ezeguiel (Ligurgo Spindola),  todos os acontecimentos com Nabucodonosor (Heitor Martinez) , seu neto, a fornalha  onde foram jogados Sodraque (Gustavo Rodrigues), Mesaque (Sacha Bali) e Abednego (Jackson Antunes) e fechando  com a emocionante  passagem do Daniel  na covas dos  leões.
               
Os Dias Eram Assim (Globo – 17 de Abril à 18 de Setembro de 2017)

        Passagens políticas que marcaram a história do Brasil como os anos de chumbo e luta pelas Diretas  foram retratadas com muita sensibilidade e credibilidade por Os Dias eram Assim, a novela apresentada como supersérie das autoras Ângela Chaves e Alessandra Poggi. O público  se emocionou ao  rever cenas reais da época das Diretas Já com políticos e  artistas que se jogaram de corpo e alma pela causa, entre eles Chico Buarque, Jô Soares, Osmar Santos e Christiane Torloni, na época eleita a musa do Diretas.
        Infelizmente  Os Dias Eram Assim flopou” ,  expressão usada na internet para  designar programas e produções que não caem no gosto do público, e mesmo tendo uma boa audiência, principalmente às quintas-feiras, impulsionada pela  A Força do Querer, fechou como a produção mais fraca, no sentido de audiência do horário das onze.
        Acho que o grande erro de Os Dias Eram Assim foi a demora de alguns acontecimentos que eram cruciais para o desenrolar da história. A primeira semana da supersérie  por exemplo,  poderia ter sido facilmente condensada em uma capítulo apenas. As autoras usaram duas semanas para apresentar o encontro da Alice com Renato (Renato Góes), sua fuga para o Chile e a prisão do Gustavo (Gabriel Leone), fatos que dariam o desenrolar da trama nas fases seguintes. Foi tempo demais. Isso sem falar no desperdício que foi o entrecho do reencontro entre Alice e Renato, quando ela ainda pensava que seu grande amor estava morto, faltaram os ganchos tão importantes para dar aquele gostinho de quero mais ao telespectador.
        Os protagonistas da trama  infelizmente não tiveram empatia junto ao público, mas em contrapartida outros atores  fizeram da trama seu palco e brilharam como sempre , o caso do Cássia Kiss, Marco Ricca, José de Abreu e Natália do Valle que há tempos estava precisando de uma personagem a sua altura em novelas. No elenco jovem nomes como Julia Dalavia, Daniel de Oliveira  e a revelação Carla Sale,  fizeram  a supersérie  valer a pena.
        Mas sem dúvidas o grande trunfo de Os Dias Eram Assim é a nostálgica trilha sonora utilizada como elemento de centralização de época da trama. Emocionou logo no tema de abertura, o clássico “Aos Nossos Filhosda Elis Regina, regravado especialmente para a supersérie pelos protagonistas Sophie Charlotte, Renato Goes, Daniel de Oliveira, Maria Casadewall e Gabriel Leone.
        Na Reta final destaque para a pertinente abordagem sobre a AIDS , que na década de 80 levou muita gente por pura falta de informação, e que nos dias de hoje apesar de não ser mais considerada mortal ainda é muito importante as informações sobre a doença  para uma conscientização da galera desta década.  A cena  de despedida da personagem, sua morte,  entrou para o hall das grandes cenas da teledramaturgia. Muita emoção e sensibilidade.
        A Trama valeu pela pertinente revisão na história politica do Brasil,  desde os anos de chumbo até a política atual  com direito a um resumão emocionante em suas cenas finais.

A Força do Querer (Globo – 03 de Abril à 21 de Outubro de 2017)

        Com trama reta, realista e coerente,  A Força do Querer, da Glória Perez, foi a melhor novela do horário nobre global desde Avenida Brasil, do João Emanuel Carneiro, exibida em 2012.
        Foi um fenômeno. O Brasil se apaixonou pela Bibi Perigosa, da Juliana Paes; se encantou pelo sereismo da Ritinha, vivida pela Ísis Valverde; a força da  Major Jeiza, da Paolla Oliveira e se identificou com o drama da transição de gênero da Ivana, personagem da estreante Carol Duarte. Visceral, emocionante e forte no sentido mais ampla dessa palavra,  Glória Perez prometeu e dessa vez cumpriu, quebrou o estigma de rejeições de tramas  no horário.
        Sem dúvidas o grande trunfo da novela foi sua coerência, presente do princípio ao fim – A Bibi (Juliana  Paes) queria “amar grande”, e amou foi do 8 a 800, se arrependeu e com toda a força que a personagem sempre apresentou começou do zero e teve o seu final feliz. A Ritinha (Isis Valverde), nossa eterna Sereia, encantou o público e seus pretendentes, e também teve seu final condizente com sua trama. Nunca se apegou a ninguém, era um ser da natureza, um fenômeno. E a Jeiza, daPaolla Oliveira que exigiu da atriz um trabalho duro, mostrou a polícia que nós acreditamos que existe, que veste a camisa e luta pela honestidade. Foram três protagonistas  viscerais , os pilares da trama que de tão bem escritas e interpretadas em nenhum momento uma suplantou a outra, mostrando mais uma vez a força do texto da Glória e a escalação perita desse elenco.
        O  merchandising social da transição de gênero foi um  dos mais importantes  abordados pela autora, que já falou sobre tráfico de pessoas, barrigas de aluguel, crianças desaparecidas entre outros. Com uma abordagem delicada e a escolha de uma atriz cara nova, mas nem por isso sem competência para viver a Ivana que viraria o Ivan, Glória Perez  jogou o assunto na sala do  Brasil inteiro, e pessoas de vários níveis sociais e intelectuais discutiram essa transição, tentaram entender e se ainda não entenderam no mínimo iram pensar duas vezes antes de ignorar ou agredir simplesmente.
        A Força do Querer tocou em vários tabus que estavam ali ao nosso redor, fazendo parte da nossa realidade e que com a trama enxergamos e certamente tentaremos tomar outras atitudes em relação – a transição de gênero, o preconceito,  o vício nos jogos, o domínio do crime nas favelas, enfim,   assuntos que todas as noites eram retratadas em  notícias reais no Jornal Nacional, com a invasão do crime de volta ao Morro do Alemão, que culminou exatamente com a invasão  do Morro da trama , misturando com maestria ficção e realidade. 
        No elenco grande destaque para Juliana Paes, alçada ao grande posto de estrela com o sucesso da Bibi Perigosa, assim como Paolla Oliveira, Ísis Valverde, Maria Fernanda Cândido, Lília Cabral, Humberto Martins entre outros.
        Caras novas que fizeram jus a escalação também foram cruscial para o  bom desenvolvimento da trama como a Carol Duarte e Silvero Pereira, o Donato.
        A  proximidade da trama com a realidade foi muitas vezes citadas como o grande trunfo da Glória Perez,  o que há dois anos foi apontado com um dos  problemas de A Regra do Jogo, do João Emanuel Carneiro, considerada um das novelas  mais rejeitas do horário. Porém   no caso de A Força do Querer, essa realidade foi mesclada com um folhetim dos bons e personagens carismáticos que transformavam essa realidade dura em cotidiano. Talvez tenha sido este  o grande diferencial desse novo fenômeno da teledramaturgia chamado “A Força do Querer”. 
Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa


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#ValeTudo30anos

        E um dos maiores sucessos e fenômenos da teledramaturgia nacional estreava há exatos 30 anos – Vale Tudo , do autor Gilberto Braga .         “Vale a pena ser honesto no Brasil de hoje?”.         Com essa pergunta Gilberto Braga dava o    pontapé inicial à trama e o “hoje” da pergunta  nos remete há 30 anos atrás em 1988, ano em que se refletiam  os principais problemas políticos do país,  mas a pergunta infelizmente parece mais atual do que nunca.          Vale Tudo   juntou o mais fiel dos folhetins com uma crítica social aguçada, que fez os brasileiros pararem para pensar.  Gilberto  usou como  os dois pontos dessa história as figuras de Raquel Acciolly ( Regina Duarte ) e Ivan ( Antônio Fagundes )  representando o lado honesto e integro , e Odete Roitmann ( Be...

Globo 60 anos - 60 Novelas que marcaram a teledramaturgia (post 1)

            A Maior   emissora do país está completando 60 anos no ar (fundada  em 26 de abril de 1965) e não tem como tentar   pensar em televisão no Brasil e não citar a Globo , que   marcou a história de   muita gente com seu jornalismo, entretenimento, reality´s e   principalmente com   a teledramaturgia, as novelas   que sempre foram sua alma.         Com mais de 300 títulos   apresentados nesse     60 anos, a emissora marcou e ajudou a escrever e mudar a história   nessas 6 décadas. Ditou regras, desfez algumas,    mudou comportamentos,    abriu discussões , quebrou tabus, conscientizou, polemizou, construiu . . . enfim   fez   histórias para   mudar   vidas.         A   moda   no Brasil sempre   foi guiada   pelas novelas   - Qual mu...