44 anos de uma das tramas realistas da Janete Clair que mais foi mutilada pela Censura Federal
Todo mundo deve ter brincado daquele de
cama de gato quando criança, certo? Cama de Gato é um jogo
feito com um barbante nas mãos onde vão se formando figuras geométricas e o
barbante vai passando de mão em mão, sempre formando novas figuras.
Esse
jogo foi divulgado no Brasil no finalzinho de 1976 quando entrou no ar a
abertura da novela Duas Vidas da autora Janete Clair. A
Autora continuava apostando em tramas
realistas e a novela tinha como personagem principal a obra do metrô no bairro
do palácio do catete no Rio de Janeiro,
uma obra do Governo Federal, o que acabou transformando a novela , que
estreava há 44 anos, em uma das obras
mais mutiladas pela censura federal.
A
história se inicia com a desapropriação de uma rua no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, para
a construção do metrô, que separa vidas
há anos entrelaçadas. Entre elas, os noivos Leda Maria (Betty Faria) e Dino
César (Mário Gomes). Ele resolveu ir para São Paulo tentar a carreira de
cantor. A brecha deixada por sua ausência foi ocupada por Tomás (Cécil Thiré) ,
que há tempos amava Leda. Os dois se casam e vão morar com a família dele: o
pai Menelau Palas (Sadi Cabral), um grego dono de uma agência de casamentos, e
seus irmãos Sônia (Isabel Ribeiro), que trabalha com o pai, e Osvaldo (Luiz Gustavo),
um sonhador que vive em confusões.
A aproximação de Leda e Rosa (Elza Gomes) é reforçada pelo fato do
filho da velha senhora, Vitor Amadeu (Francisco Cuoco), ter sido amigo do pai
de Leda. Vitor é médico e, como a mãe, importa-se com a comunidade. Por isso,
inicia um programa de atendimento gratuito para os mais pobres. No início,
Vitor preocupa-se com a difícil situação de Leda e, dessa preocupação inicial,
acaba nascendo um amor. Porém, esta é uma relação tensa: eles se casam,
separam-se e tornam a ficar juntos. O retorno de Dino César complica ainda mais
a história.
Fracassando em sua tentativa
profissional, Dino quer recomeçar a vida e reatar o noivado com Leda, como se
nada tivesse acontecido. Ao mesmo tempo, utiliza-se de todos os subterfúgios
possíveis para seguir o almejado sucesso como cantor. Por meio de uma farsa,
aproxima-se da temperamental Cláudia (Susana Vieira), dirigente de uma
gravadora, e acaba por se juntar a ela, atingindo seu objetivo. Porém, ao mesmo
tempo que Cláudia tem poderes para consagrar Dino César, também pode acabar com
sua carreira.
Nesse meio tempo, as demolições
começam e os moradores, liderados por Dona Rosa, retiram-se do velho bairro,
mudando-se para outro local. É quando Sônia se apaixona pelo garotão Maurício
(Stepan Nercessian) – ela, uma mulher madura, e ele, um rapaz bem mais jovem –
e tem de lutar contra as dificuldades dessa relação para ficarem juntos.
Janete Clair propunha três partes distintas
dentro de Duas Vidas : a vivência dos moradores desapropriados pelas
obras, a dispersão deles , e o reencontro com as vidas modificadas.
Daniel Filho assinou a direção geral de Duas Vidas e cuidou pessoalmente dos primeiros
capítulos, passando o bastão para Gonzaga Blota e Jardel Mello, a
partir do capítulo 41. Quando explodiu a paixão entre Betty Faria, sua
mulher na época, e o ator Mário Gomes, ambos protagonistas da trama,
ficou insustentável a permanência do diretor.
Conforme ele relatou em entrevistas para
o livro “Nossa Senhora das Oito”, cedidas à Mauro Ferreira e Cleodon
Coelho.
Foi exatamente nesta época, que
surgiu na imprensa a fake News sobre uma suposta entrada de Mário Gomes
em um hospital com uma cenoura introduzida em seu corpo. A notícia caiu como
uma bomba na vida do ator, que apesar de continuar como astros de várias outras
tramas até meados da década de 90, teve muitos trabalhos negados devido ao
fato.
Assim como seu personagem em Duas Vidas, Mário Gomes se lançou como cantor na época, gravando
inclusive um disco. Uma das suas músicas “Chiclete e Carbochard” foi um
dos temas da trama. Mário Gomes voltaria a gravar tema para um
personagem que interpretava na trama de Vereda Tropical (1984), do Carlos Lombardi, onde deu vida o jogador Luca. A música “O Dono da Bola”
integrou a trilha.
Janete Clair fez uma citação ao filme “...
E o Vento Levou” de 1939. Em uma cena , Leda Maria precisa ir
a uma festa e não tem roupa apropriada. Tal qual Scarlet O´Hara do filme
, ela arranca a cortina de renda da janela e faz um vestido com o tecido.
Carlos Poyart, que fez o Téo, o filho da
personagem da Betty Faria, foi a grande revelação de Duas Vidas. Sua química com a Betty foi
agradabilíssima. Depois de Duas
Vidas o ator
mirim ainda participou da novela O Astro (1978) e em seguida migrou para a linha de shows onde participou do
humorístico Planeta dos Homens, onde imortalizou o bordão “Criança
Sofre!”.
Duas Vidas foi a primeira novela das atrizes ChristianeTorloni e Yaçana Martins.
A Abertura de Duas Vidas trazia o jogo
de cama de gato e, as duas mãos , uma adulta e uma de criança
que apareciam no vídeo simbolizavam a relação de Leda Maria (Betty Faria)
, a protagonista da trama e seu filho Téo (Carlos Poyart).
A Atriz Isabel Ribeiro,
conceituada no teatro – mas com pouquíssimas participações na tv , ganhou
projeção nacional por conta da sua personagem Sônia, que teve grande
repercussão na trama. Sônia, uma mulher madura , se envolve com Maurício
(Stepan Nercessian). Estabilizada financeiramente , o romance não foi bem visto
pela censura , o que obrigou a autora
oficializar a união do casal que não estava prevista na sinopse.
Duas Vidas deu muito trabalho à Janete
Clair que pretendia seguir na linha
do realismo social sobre o qual ela sabe escrever com maestria, mas foi o público o grande salvador de Duas Vidas. Mesmo mutilada e chamada de subversiva , reescrita algumas vezes,
sempre que a censura implicou com algo,
o público deu uma boa audiência à
novela, e mesmo não sendo lembrada como os melhores momentos da Janete na
teledramaturgia, esses 44 anos de
estreia da trama merecem ser muito
comemorados.
Ficha Técnica:
Novela da Autora Janete Clair
Direção Geral : Daniel Filho, Jardel
Mello e Gonzaga Blota
Elenco:
BETTY FARIA – Leda Maria
FRANCISCO CUOCO – Vitor Amadeu
MÁRIO GOMES – Dino César
SUSANA VIEIRA – Cláudia
LUIZ GUSTAVO – Osvaldo
SADI CABRAL – Menelau Palas
ISABEL RIBEIRO – Sônia
STEPAN NERCESSIAN – Maurício
ELZA GOMES – Dona Rosa
NEUZA AMARAL – Sara
FLÁVIO MIGLIACCIO – Túlio
ALBERTO PEREZ – Raul Barbosa
HELOÍSA HELENA – Virgínia
HÉLIO ARY – Sena
RUTH DE SOUZA – Elisa
LAURA SOVERAL – Leonor
MOACYR DERIQUÉM – Heitor
CHRISTIANE TORLONI – Juliana
GLÓRIA PIRES – Letícia
NAVARRO PUPPIN – Luiz Carlos
ANTÔNIO GANZAROLLI – Jorge
AUGUSTO OLÍMPIO – Oliveira
YAÇANÃ MARTINS – Shirley
LUÍS VASCONCELLOS – José
LEDA BORBA – Francisca
ISOLDA CRESTA – Vera
ALEGRIA – Gentil Paulino
SILVIO FRÓES – Braga
SAMANTHA SCHULLER – Sandra
MYRIAN RIOS – Cidinha
FRANCISCO MORENO – Eugênio Matta
ZEZÉ MOTTA – Jandira
ALFREDO MURPHY – Osmano
SÉRGIO FONTA – Renatinho
RENATA RAYAN – Maria
o menino CARLOS POYART –
Téo
e
ANA ARIEL – Madame Xavier
ARLETE SALLES – Naná (amante de Tomás)
AURIMAR ROCHA – Carlos
CECIL THIRÉ – Tomás (primeiro marido de Leda, pai de Téo)
CLEYDE BLOTA – Roberta Bernardes
DARY REIS – Barros
ELIANE MEDEIROS – Ana Maria
JAIME BARCELOS – Geraldo
LÚCIA HELENA ALVES – Maria José (assistente social do metrô)
MILTON GONÇALVES – Alexandre
NÍVEA MARIA – Hebe
RICARDO – Ricardo (Rômulo, cantor lançado por Cláudia, no final)
SÔNIA OITICICA
SUZANA FAINI – Paula
VERA GIMENEZ – Zuleica (ex-mulher de Osvaldo, mãe de Letícia)
Exibição : 13 de Dezembro de 1976 à 13
de Junho de 1977
Capítulos: 154
Veja Também :
Homenagem da Semana - Janete Clair |
Aberturas Inesquecíveis -Duas Vidas (1976) |
Terras do Sem Fim (1981) |
Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
Pesquisa : www.memoriaglobo.com.br www.wikipedia.com.br
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