Comédia rasgada bem ao estilo do Silvio de Abreu com direção do saudoso Jorge Fernando completa 20 anos.
Um show em forma de novela
- Essa era a proposta de As Filhas da Mãe,
que tinha como título completo “As Filhas da Mãe nos Jardins do Éden”. A proposta era de uma comédia rasgada ao
estilo do Silvio de Abreu com direção geral do saudoso Jorge Fernando,
imortalizado no horário das sete. A produção
misturava farsa e chanchada a uma narrativa folhetinesca em que a representação
do drama e do romance passassem credibilidade no humor.
Um rap foi criado
a cada capítulo contando a junção dos acontecimentos do dia , deixando
claro a proposta de contar a trama como
um cordel-sulista- paulistano.
Apesar das inovações proposta e todo o esmero da Globo
em apresentar uma novela gigantesca – a trama acabou não agradando o público e a audiência ficou muito abaixo do
esperado, e As Filhas da Mãe acabou sendo encurtada, fechando com um total de 125 capítulos. A Ideia era levar a trama até depois do Carnaval de 2002,
mas foi concluída em janeiro. A Globo,
elegantemente anunciou que esse encurtamento era uma estratégia para lançar a
próxima atração das sete (Desejos de Mulher), antes do Carnaval. O Próprio Silvio de Abreu
declarou em entrevistas que essa havia sido uma desculpa da emissora para não
assumir declaradamente o fraco desempenho de As Filhas da Mãe.
A novela ao contrário do que normalmente ocorre, foi criada
já com o autor sabendo que iria viver
cada personagem, fazendo com que ele os criasse já pensando nas características
de cada interprete.
A novela foi sem dúvidas uma grande homenagem a Fernanda Montenegro que ganhou na trama a protagonista Lulu de Luxemburgo, uma diretora de arte reconhecida
internacionalmente. No primeiro capítulo, em uma reprodução da cerimônia do
Oscar, Lulu é consagrada vencedora do prêmio de arte. Na cena, quem anuncia o
prêmio e lhe entrega a estatueta é o próprio autor da novela. A Homenagem é uma
espécie de correção da história do Oscar de Melhor Atriz por Central do Brasil, em 1999, que Fernanda
Montenegro perdeu para Gwyneth Paltrow, pelo filme Shakespeare Apaixonado.
O Público não entendeu o humor da trama, na verdade muitos
nem a consideraram um comédia, isso sem falar que a novela não tinha uma
trama central - Eram cinco núcleos
importantes que se interligavam, sem os tradicionais protagonistas centrais,
isso somado a moda dos programas policiais de outras emissoras e o fatídico dia
11
de setembro, a explosão das torres gêmeas em Nova York, no oitavo
capítulo da trama, que marcava a entrada
da Cláudia Raia na história, foram os fatores apontados para trama não engrenar.
Aliás a confusão do público ocorreu por toda a história – Claudia Raia
, deu vida a Ramona, a primeira
transexual da história da teledramaturgia, que depois de anos voltava a cidade e acendia
a paixão em seu melhor amigo Leonardo, o personagem do Alexandre Borges. A Personagem teve problemas com a justiça,
que não queria liberar uma abordagem desse nível para o horário das sete, mas o
público se apaixonou de cara pela Ramona,
e não entendia o porque Leonardo a rejeitava, mesmo a amando. Claro que devido
ao carisma da Raia à frente da personagem, em nenhum momento , ela foi vista mesmo com uma transexual e sim
com mais uma exuberante personagem da atriz.
Em contrapartida o casal Dadá e Ricardo, da Cláudia
Gimenez e Reynaldo Giancecchinni, causou estranhamento, já que ela
se aproximava do ídolo se passando por homem, ao ganhar um teste de papel de
melhor amigo do personagem de Ricardo em um seriado de Tv. Seria então Ricardo
gay, já que começou a se sentir atraído por Dadá sem saber que esta era mulher?
Os personagens tinham
figurinos criativos, alguns inspirados em personalidades. O visual exótico de
Lulu de Luxemburgo (Fernanda Montenegro), por exemplo, tinha como referência Peggy
Guggenheim, colecionadora de artes e fundadora do Museu Guggenheim
de Nova York. As irmãs Alessandra (Bete Coelho) e Tatiana (Andréa Beltrão) se
odiavam, mas, inexplicavelmente, tinham sempre as mesmas ideias e escolhiam os
mesmos modelos, onde predominava o estilo “punk chique”. A Ramona vestia um
figurino que explorava a feminilidade, por meio de vestidos, fendas, crepes,
sedas e mousselines. Manolo Gutierrez (Tony Ramos) fazia a linha latin lover, um cubano cafona que abusava dos brilhos e
dourados e cujo penteado e costeletas bem marcadas lembravam o cantor Elvis
Presley. Já o figurino de Valentine (Lavínia Vlasak), homenageava Audrey
Hepburn e o estilista Givenchy: era a própria bonequinha de luxo dos
anos 1960. Destaque também para Milagros (Patricya Travassos), que representava
uma mistura de Frida Khalo e Almodóvar.
No rastro da trama alguns produtos foram
lançados comercialmente - as bonecas Susy Dramaturgia que tinha uma
cartela de roupas inspiradas nas roupas das irmãs Alessandra e Tatiana, vividas pela Bete Coelho e Andrea
Beltrão; e o jogo cartonado “Bingo do Manolo” , uma alusão as casas
de bingo do personagem Manolo, vivido pelo Tony Ramos .
Aliás o personagem exagerado e cafona do
Tony Ramos foi um dos poucos que agradou o público e a crítica. Por sua atuação
ele ganhou da APCA o prêmio de melhor Ator de Televisão daquele
ano. A Ideia de Manolo andar com vários
celulares, cada um com um toque diferente, com os quais ele se atrapalhava todo
para atender, foi sugestão da esposa do Tony,
Lidiane.
Assim como abordado em Cambalacho (1986), Silvio de Abreu voltou a explorar os
preconceitos em relação aos papéis femininos e masculinos, em que o personagem do
Edson Celulari era bailarino e o da Déborah Bloch era mecânica. Em
As Filhas da Mãe , o personagem do Mário
Frias tinha inclinações artísticas, enquanto a da Priscila
Fantin queria ser praticante de luta livre.
As Filhas da Mãe marcou a estreia
em novelas de 2 astros de Malhação que iriam ainda ter muita ascensão nas carreiras - Bruno Gagliasso e Priscila Fantin.
As Filhas da Mãe completa 20 anos de estreia no próximo dia 27 de agosto como
uma trama pouco lembrada e citada na história da teledramaturgia, talvez tenha
sido a novela certa na hora errada, porém mesmo com todos esses percalços seu
elenco estrelar é um dos pontos mais marcantes da trama – Como resistir a Fernanda
Montenegro, finalmente recebendo seu merecido Oscar; Claudia Raia exalando
feminilidade na pele de uma transexual em pleno início dos anos 2000 , quando o
assunto ainda era cheio de tabus e preconceitos; a dobradinha na guerra cênica das irmãs
Alessandra e Tatiana, com Bete Coelho e Andreia Beltrão nos
brindando com momentos icônicos; Tony Ramos mais um vez saindo da sua
zona de conforto em um personagem ímpar;
Regina Casé e sua Rosalva, uma espécie de percursora da Lurdes de Amorde Mãe; Claudia Ohana e sua “Orora Analfabeta”, Patrycia Travassos e sua complexa Milagros e Thiago Lacerda vivendo seu primeiro grande vilão nas novelas
– Adriano.
A novela foi um salto no escuro, onde o
autor quis subverter tudo que dava certo dentro do folhetim e inovar para um
público que infelizmente não queria
sofisticação e nem novidades, apenas o trivial , o que já estavam acostumados –
mocinhos lutando para ficar com mocinhas, vilões malvados , personagens
centrais, personagens de identificação . . .
Ficha Técnica :
Novela do Autor Silvio
de Abreu
Direção Geral : Jorge Fernando
Elenco:
FERNANDA MONTENEGRO
– Lulu de Luxemburgo (Lucinda Maria Barbosa)
RAUL CORTEZ – Arthur Brandão
TONY RAMOS – Manolo Gutierrez
REGINA CASÉ – Rosalva Gislene Rocha
THIAGO LACERDA – Adriano Araújo
ANDRÉA BELTRÃO – Tatiana
BETE COELHO – Alessandra
CLÁUDIA RAIA – Ramona / Ramon
ALEXANDRE BORGES – Leonardo
REYNALDO GIANECCHINI – Ricardo
CLÁUDIA JIMENEZ – Dagmar Cerqueira (Dadá Fortuna)
CLÁUDIA OHANA – Aurora (Orora Anarfabeta)
DIOGO VILELA – Webster Pereira
TUCA ANDRADA – Nico (Nicolau)
LAVÍNIA VLASAK – Valentine Ventura
YONÁ MAGALHÃES – Violante
LULO SCROBACK – Waldeck (Valdeci Ventura)
PATRÍCIA TRAVASSOS – Milagros Quintana
CLEYDE YÁCONIS – Dona Gorgo
FLÁVIO MIGLIACCIO – Barnabé
MÁRIO FRIAS – Diego
PRISCILA FANTIN – Joana
ELIAS GLEIZER – Seu Dedé
VIRGÍNIA CAVENDISH – Maria Leopoldina
CRISTINA PEREIRA – Divina
JACQUELINE LAURENCE – Margot de Montparnasse
NELSON FREITAS JR. – Clóvis
BRUNO GAGLIASSO – José
PEDRO GARCIA – Pedro
GUSTAVO FALCÃO – Faísca
VIVIANE NOVAES – Érica
JOANA MEDEIROS – Milena
HILDA REBELLO – Dona Geralda
MARCELO BARROS – Polenta
as
crianças
ANA BEATRIZ CISNEIROS – Amadinha (filha caçula de Rosalva)
FELIPE LATGÉ – Felipe Augusto (filho de Webster e Maria Leopoldina)
ISABELA MOTTA – Maria Elizabeth (filha de Webster e Maria Leopoldina)
e
ADÉLIA LAZARI
ADRIANO GARIB – médico
ANA CARBATTI – Luzineide (amante de Edmilson)
ANDRÉ VIEIRA
BÁRBARA PAZ – namorada de Ricardo
CASTRO GONZAGA – padre que casa Rosalva e Nicolau e Joana e Diego
CISSA GUIMARÃES como ela mesma
CLÁUDIA LIRA – Dalete (amante de Edmilson)
CLÁUDIO LINS – Fausto (jovem)
DANIELA CICARELLI – Larissa (namorada de Ricardo)
DAVID HERMAN – Mr. Andrews
DÊNIS DERKIAN – advogado
EDGAR AMORIM – Setembrino
EDSON CELULARI – Edimilson Rocha (marido de Rosalva, morre no início)
EMILIANO QUEIRÓZ – João Alberto Araújo (pai de Adriano)
ERNESTO PICCOLO – diretor dos testes de Webster para comerciais
FERNANDA TORRES – Lulu (jovem)
FERNANDO BENÉVOLO
FRANCISCO CUOCO – Fausto Cavalcante (marido de Lulu, sócio de Arthur e Manolo,
nos quais deu um golpe)
FRANCISCO FORTES
HENRI PAGNOCELLI – Comendador Maringoni
HENRIQUE TAXMAN – Arthur (jovem)
ISABELA CUNHA
ISADORA RIBEIRO – Madalena
JOÃO JÚNIOR
JONATHAN NOGUEIRA – contra-regra
JÚNIOR LISBOA
KENIA COSTA
LÍCIA MAGNA – avó de Setembrino
LUCY MAFRA – mulher que leva a filha para fazer um teste na televisão
MALU VALLE – Sandra (enfermeira de Ricardo)
MÁRCIA MARIA – cliente de Lulu (na primeira fase)
MARIA ALVES – Jussara (enfermeira de João Alberto)
MARIANA KUPFER – amante de Leonardo
MARIA SÍLVIA – mendiga
MÁRIO CARDOSO – Dr. Aírton (advogado de Manolo)
MAURÍCIO GONÇALVES – Dr. Martinez
NORTON NASCIMENTO – Investigador Marcelo
OSWALDO LOUREIRO – delegado
PAULO GUILHERME
RAPHAEL MOLINA – delegado
REGINA REMENCIUS – Ivone (enfermeira)
RICARDO PAVÃO – médico
ROBERTO BATAGLIN – ladrão em Las Vegas
ROBERTO PIRILO – patrocinador do programa de Tatiana
RÔMULO MEDEIROS
ROSAMARIA MURTINHO – empresária rica, nova vítima de Adriano
SAMANTA PRECIOSO – Mônica (namorada de Ricardo, no início)
SILVIO DE ABREU – anuncia e entrega o Oscar de direção de arte a Lulu de
Luxemburgo
WALDIR SANTANNA – juiz de boxe
Exibição: 27 de
Agosto de 2001 à 19 de Janeiro de 2002
Capítulos: 125
Veja Também:
Nossos Autores - Silvio de Abreu |
Aberturas Inesquecíveis - AS Filhas da Mãe (2001) |
Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
Pesquisa : www.wikipedia.com.br e www.memoriaglobo.com.br
Comentários
Postar um comentário