Se o ano de 2022 foi de Pantanal , na nossa teledramaturgia, 2023 ficou marcado por Vai
Na Fé, uma novela sem apelação,
que falou de fé e superação e fez com que o telespectador se visse na tv, como há tempos não acontecia.
Infelizmente os outros títulos do horário sofreram com a
falta de interesse do público e consequente baixa audiência – Como ocorreu com Cara e Coragem no
horário das sete, a antecessora de Vai na Fé e Travessia a sucessora de Pantanal no
início do ano.
O Horário das seis correu por fora e apresentou 2 tramas
fechadinhas e que aos poucos cativou o público - Mar do Sertão e
Amor Perfeito, uma pena que feche o ano com o remake de Elas por Elas, nitidamente um equívoco dessa
faixa.
Todas as Flores,
apresentada no horário das 11 horas, embora não tenha sido o fenômeno que foi na Globoplay,
como era esperado, cumpriu sua função na tv
aberta imortalizando suas vilãs inesquecíveis vividas pela Regina Casé
e Letícia Colin.
Vamos aos detalhes:
Mar do Sertão (Globo – 22 de Agosto de 2022 à 18 de
Março de 2023)
Mar do Sertão, ficou no
horário das seis até metade do mês de
março, do autor MárioTeixeira cumpriu todas as
expectativas. Apesar de sua história ter se acabado
praticamente na metade da trama, os personagens carismáticos, hipnotizantes e
inesquecíveis seguraram a trama e a boa audiência do horário deixada por Além da Ilusão.
A Trama teve uma mocinha valente – Candoca, com uma Isadora Cruz totalmente entregue a sua primeira
protagonista, deu o tom delicado e forte que a personagem pedia. Um mocinho de peão valoroso – Zé Paulino, que claro que nas
mãos do Sérgio Guizé não deixou o peão cair no
caricaturismo, e uma terceira ponta do triângulo amoroso central formada por um
personagem playboy safado interpretado com maestria pelo Renato Góes. Uma pena tertulinho ter morrido no capítulo final, mas foi um desfecho bem coerente e um castigo divino
para Deodora (Déborah Bloch).
No elenco outros grandes
destaques – Enrique Diaz que imortalizou o carismático e espetacular
Timbó em nossas memórias – Assim como Clarisse Pinheiro, que foi um show na pele da simplória Tereza.
Déborah Bloch voltou na hora certa para as novelas , e provou com a Deodora que
está em plena forma. A grande vilã da trama deu um show na reta final e teve
seu merecido castigo atrás das grades depois de ter assassinado o próprio filho.
Giovanna Cordeiro teve um grande bum em sua carreira com a
Xaviera . A personagem que começou como uma ponta na início , voltou na segunda
fase à cidade de Canta Pedra para causar e se tornou uma das mais
carismáticas da trama, e até se elegeu Prefeita. O
Reconhecimento pelo trabalho em Mar do Sertão inclusive
já veio – A Atriz é a mocinha principal
da próxima
novela Fuzuê , substituta de “Vai na Fé”.
Não posso esquecer de
citar outros grandes destaques que fizeram de Mar do Sertão um palco - José de Abreu, inesquecível como o
Coronel que ganhou a redenção; o Prefeito Ladrão (espelho de tanta gente)
do Welder Rodrigues; o casal Maruam e Labibe, vividos
pelo Pedro Lamim e Theresa Fonseca, que
apaixonaram o grande público; Loreeeeena , da Mariana Senna;
o sisudo Pajeú do Caio Blat entre outros.
Mar do Sertão inovou na apresentação das “cenas do próximo capítulo”,
chamando a atenção de uma forma especial e dentro do contexto da trama – a
dupla de repentistas paraibanos Juzé e Lukete, interpretado pelo repentistas na
vida real Totonho e Palmiro, foram incríveis, entraram na
brincadeira e brilharam a cada término do capítulo, com direito a clip final de
encerramento.
Foi sem dúvidas uma novela linda, e que não cansou o
telespectador. Encheu nossa tela com as belezas do meu Nordeste e atores que também em grande parte nordestinos,
conseguiram imortalizar trejeitos, prosódias e vocabulário, que foram o charme
da produção.
Travesssia (Globo – 10 de Outubro de 2022 à 6 de
Maio de 2023)
Ela tomou o lugar de Todas as
Flores, e foi muito aguardada, afinal
tinha a grande missão de substituir o último grande fenômeno da teledramaturgia
no horário - Pantanal.
Travessia, chegou ao fim em 05
de maio , e para muitos foi um grande alívio. Glória Perez foi infeliz na abordagem do tema central da
trama - a tecnologia, metaverso e o deep fake, que inseridos e abordados de forma confusa, rasa e incoerente, nos lembrou que a nossa teledramaturgia ainda não está pronta
para falar sobre isso, ou pelo menos o público ainda não consegue comprar essa ideia dentro de um folhetim.
Assim como no primeiro capítulo, Chiara (Jade Picon) voltou a ser a protagonista e foi dela
praticamente toda a reta final , com o drama da descoberta da sua mãe, que até
emocionou, mas pecou por uma amostragem tão rasa sobre o metaverso.
Realmente não precisa desse retorno da Déborah (Grazzi Massafera), um sonho teria sido muito mais coerente.
Outro ponto negativo de Travessia foi a quantidade de personagens que perderam o
sentido desde o início e ficaram fazendo figuração de luxo - Personagens como Dante (Marcos Caruso), Moretti (Rodrigo Lombardi), Leonor (Vanessa Giácomo), Cotinha (Ana Lúcia Torre), Guida (Alessandra Negrini), entre outros foram praticamente esquecidos ou jogados em tramas que
andavam em círculos sem nenhum sentido. Um total desperdício.
Lucy Alves , em sua primeira protagonista oficial, foi espetacular
dando vida a Brisa, uma pena que a personagem não lhe ajudou. Foi uma das
piores protagonistas da autora, que em sua maioria ou estava sofrendo ou em uma total inércia. Envolta da história central ficou
esquecida na trama confusa e sem sentido do deep fake ou do exame de DNA dos filhos na reta
final. A Brisa ainda caiu na falta de química e empatia com seus 2
pares românticos - Ary (Chay Suede) e Otto (Rômulo Estrela).
Mas nem tudo foram
espinhos - abordagem do assédio do pedófilo foi um dos
pontos fortes - Aplausos para a autora direção e os atores Cláudio
Tovar, que conseguiu imprimir com maestria todas as características do
criminoso, e também para a estreante Danielle Olimpia, que foi
magistral na pele da Carina.
Cidália,
da Cássia Kiss, apesar da torcida contra, foi outra grande
personagem da atriz. Impossível imaginar Travessia sem ela.
Travessia tomou o
posto de Salve Jorge (2012), até então a trama mais incoerente e sem
sentido da autora. Sem a clareza dos personagens e da história, a
novela perdeu o ritmo e cansou o público, que não voltou mais,
mesmo com uma última semana que valeria a pena, se a trama tivesse
seguido um eixo mais condizente com sua sinopse.
Ah e
eu continuo procurando saber qual
a Travessia da Brisa?
Poliana
Moça (SBT
– 21 de Março de 2022 à 26 de Maio de 2023)
O SBT exibiu o 307 capítulos
da trama de Poliana Moça, novela da autora Íris Abravanel,
inspirada na obra de Eleanor H. Porter. A primeira parte
da história, As Aventuras de Poliana, também assinada pela íris, foi
exibida de maio de 2018 a julho de 2020, o que somou 564 capítulos.
Apesar
de ambas as tramas serem adaptadas de um mesmo autor, e com boa parte do elenco
igual, tratam-se de histórias distintas, com os personagens mais adultos e
consequentemente mais distantes das temáticas infantis, o viés o qual o SBT vinha apostando
há alguns anos.
Como Poliana Moça, a história mostrou a personagem central em sua fase
“mocinha”, com dramas idade, como primeiro beijo,
namorados, ciúme do pai, o que destacou ainda mais o
trabalho da protagonista Sophia Valverde, que cresceu física e
profissionalmente nesses mais de 800 capítulos, somadas as 2 tramas.
Aliás além de Sophia, Igor Jansen , que viveu o João, par romântico da Poliana, é outro destaque da trama e atual estrela em ascensão, cria
do SBT.
Vai na Fé (Globo – 16 de Janeiro à 12 de Agosto de
2023)
O Fenômeno do ano de 2023 – Vai na
Fé , da autora Rosane Svartmann
foi a melhor novela de 2023 ( eleita aqui
pelo e10blog) e vários outros. A
trama que falou de fé, justiça, tocou em
pontos importantes e questões sociais pertinentes, foi sem dúvidas o maior
projeto do ano da Globo , aclamada pela crítica, com ótima audiência e jorrando dinheiro para emissora.
Uma das principais qualidades de Vaina Fé foi a
representatividade com um elenco praticamente 50% de negros em
papéis de muito destaque inclusive no protagonismo, onde aqui vai todas as
reverencias para Sheron Menezzes, finalmente no posto de protagonista
que sempre mereceu, e Samuel de Assis que apresentou uma
Benjamim cheio de nuances que cativaram o grande público.
A Sol é sem
dúvidas a grande personagem do ano, muito mais que uma protagonista
evangélica, ela se mostrou uma mulher de várias nuances que
fez com que várias outras se identificassem.
Sheron Menezzes já
havia mostrado em vários outros personagens ditos coadjuvantes, mas que em
muitas vezes tiveram ares de protagonismo, todo o seu
talento e competência para encarar qualquer protagonista, mas
talvez essa espera de 20 anos se explique pelo fato de só agora, com
essa mudança de consciências uma personagem do viés da Sol pudesse ser escrita
da forma que foi e estava reservada a mesma com certeza. Impossível imaginar
outra atriz nesse posto.
E o que falar do elenco de Vai na Fé , uma fórmula , uma junção de profissionais que
poucas vezes acontece na teledramaturgia. Destaque para RenataSorrah como a Wilma Campos, ela merecia essa
personagem desde a Nazaré de Senhora do Destino(2004), um papel a altura do seu talento. O Entrecho da personagem reverenciou clássicas peças teatrais
e a teledramaturgia cada vez que Wilma se via como uma protagonista de novela
ou lembrava de alguma que havia “perdido” para outra grande estrela da nossa
Tv.
Poucas
vezes vimos em tramas do horário das sete um vilão tão complexo e completo como
o Théo, que além de ser bem escrito, Emílio Dantas esteve do início ao fim
irretocável.
Carolina Dieckmann passou
para outro status em sua carreira com a Lumiar. A
intérprete ganhou da autora grandes momentos.
Regiane Alves, é mais uma desta lista. Brilhou nas cenas de confronto com a Sol, com o Théo quando
resolveu finalmente abrir os olhos, mas o grande destaque da personagem na
trama foi sem dúvidas o relacionamento homoafetivo com Helena (Priscila
Sztejnman). O Romance quase foi limado com os adiamentos do tão esperado
primeiro beijo delas, porém depois de uma pressão do público, o
romance deslanchou junto com o receio
da Globo, que o público mais conservador, pudesse se afastar da
trama anunciada como pano de fundo evangélico. Clara e Helena tiveram um
final feliz selado por um beijão!
O Que dizer da Clara Moneke, a grande revelação e estrela de Vai na Fé, logo na sua estreia! O que aconteceu com ela, poucas vezes ocorre
na teledramaturgia, uma atriz explodir e se destacar assim logo em sua primeira
personagem.
Não posso
deixar de cita nesse elenco nomes como Claudia Ohana, um espetáculo à parte como a Dora; José Loreto como o impagável Lui Lorenzo; Caio Manhete como Rafa; Elisa Lucinda como a Dona Marlene; Carla Cristina Cardoso , a Bruna; Bela Campos na pele da Jennifer; Zé Carlos Machado , o Fábio Lorenzo; Mc Cabelinho como Hugo, Jean Paulo Campos como Iuri, Mel Maia na pele da influencer Guiga entre outros.
A novela
terminou mostrando um novo caminho para a teledramaturgia, a aposta em tramas folhetinescas modernas.
Amor
Perfeito (Globo
– 20 de Março à 23 de Setembro de 2023)
Amor Perfeito, teve uma trama apaixonante e emocionante, a novela apesar
do começo complicado na audiência, fecha com o melhor ibope de
novelas do horário pós-pandemia. Exibida deste 20 de março , Amor Perfeito, criada por Duca Rachid e Júlio Fischer , baseada em "Marcelino pão e Vinho", de José Maria Sânchez Silva, teve Direção artística de André Câmara . A trama encantou e agradou o público. A história de amor de
Marê (Camila Queiroz) e Orlando (Diogo Almeida) e a procurar por seu filho Marcelino (Levi Asaf) foi cativante.
Amor Perfeito retratou o amor em
todos os sentidos – amor familiar dos protagonistas Marê, Orlando e
Marcelino; o amor maduro e forte de Verônica e Érico, os personagens da
maravilhosa Ana Cecília Costa e Carmo Dalla Vecchia,
que passou por muitas reviravoltas e foi muito bem construído, e nem a “Cura
gay” do Érico, ofuscou o brilho da história. Muita gente torceu por um final
entre ele e Romeu (Domingos de Alcântara), mas eu achei bem mais coerente
vencer esse o amor por Verônica e a filha. Destaque também para o amor
na fase madrugada da vida de Celeste ( Cyda Moreno) e Popó (Mestre Ivamar), realmente cativou o grande público, além do
amor do Frei João (Alan Souza Lima) que deixa a irmandade por Darlene (Carol Castro) , outro destaque.
O elenco foi o mais perfeito na trama – Camila Queiroz e Mariana Ximenes , brilharam do início ao fim como
protagonista e antagonista. Com ótimos entrechos e texto, as atrizes
compuseram as personagens sob medida e nenhuma foi ofuscada pela outra – Cada
uma teve seu espaço digno na trama e marcam mais essas grandes personagens em
suas carreiras. A Mariana Ximenes conseguiu um grande feito com a Gilda, compor uma vilã,
que ficou na linha tênue do caricato, e esse detalhe foi o grande charme dela,
assim como os impecáveis figurinos. Camila Queiroz, que não caiu no viés da mocinho sofredora,
imprimiu todo o sofrimento que a Marê trazia, porém foi uma
protagonista solar, lutadora, daquele tipo o qual adoramos torcer.
Os
freis, religiosos da Irmandade dos Clérigos de São Jacinto – Leão (Tonico Pereira),
Severo/Padrão (Babu Santana), Tomé (Tony Tornado), Vitório
(Antônio Pitanga) e Padre Donato/Papinha (Bernardo Berro) formaram um dos
núcleos mais queridos da trama. A química entre eles e Marcelino foi a
cereja do bolo de Amor
Perfeito.
Levi Asaf, o protagonista mirim de Amor Perfeito é um dos casos da soma de graciosidade com talento , uma fórmula perfeita. Logo nos primeiros capítulos o ator roubou a cena e transformou o Marcelino em um dos personagens mais queridos da história.
Amor
Perfeito foi a novela mais inclusiva da história
da Globo, com mais de 50% do elenco negro, em papeis de
destaque, com um bom texto e entrechos interessantes. Em seu conjunto
a novela cresceu consideravelmente, desacelerou os acontecimentos, algo
muito criticado em suas primeiras semanas, e transformou o duelo entre Gilda e
Marê pelo amor de Marcelino no tema principal da história, que impulsionou com
maestria a reta final da trama que compensou todos os percalços da
primeira parte.
Todas
as Flores (Globo
– 4 de Setembro à 20 de Novembro de 2023)
Todas as Flores, trama do autor João Emanuel
Carneiro, encerrou seu último capítulo na tv aberta nesta em 20 de novembro,
marcada por uma boa audiência, mas nem por isso, não podemos deixar de
citar seus pontos fracos.
A
novela foi produzida exclusivamente para a Globoplay em 2
temporadas - a primeira apresentada entre 17 de outubro a 14 de
dezembro de 2022 e a segunda entre 05 de abril à 01 de junho de 2023 e essa
divisão, apesar de não ter ocorrido na tv aberta, deixou o telespectador com a
sensação de que assistiu 2 tramas distintas. Pareceu que todos os
envolvidos com a trama sofreram uma transformação e esqueceram a essência da
primeira temporada. A segunda fase foi repleta de incoerências,
direção equivocada, personagens mal aproveitados, texto pouco inspirado e situações
ridículas.
Alguns personagens foram tão
prejudicados que deu até raiva. A Mauritânia da Thalita Carauta, grande estrela da primeira fase, amargou uma história sem
nexo, que não combinou em nada com a personagem “safa”, vivida apresentada
anteriormente.
Embora
tenha ficado difícil para elas também, alguns personagens conseguiram se manter na
linha e continuaram brilhando, o caso de Regina Casé e Letícia Colin, que
nas dobradinhas e brigas entre Zóe e Vanessa fizeram alguns capítulos valer a
pena. Sem dúvidas as melhores personagens das atrizes até então.
Todas as Flores pode até ter feito bonito na
audiência, mas ainda é preciso repensar essas apresentações de
tramas do streaming direto para tv aberta. Ao contrário até que funciona, basta
vermos o sucesso que os resgates dos clássicos da teledramaturgia vem causando,
mas a ida do streaming para a tv aberta em 2 vezes (Verdades Secretas 2 e Todas as Flores)
vimos que isso ainda precisa muito ser analisado e repensado.
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
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