Ousada transposição do sertão para a cidade do clássico de Guimarães Rosa, pode não ter sido um acerto, mas se mostrou contextualizado com a essência original
De 7 a 10 de janeiro a Tv Globo exibiu
ação e drama com GrandeSertão, filme do Guel Arraes, com roteiro dele e
de Jorge Furtado, em formato de minissérie. Adaptação do clássico
romance literário "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães
Rosa, que já havia rendido a minissérie exibida pela Globo em 1985, transpôs com muito ousadia o universo da violência dos jagunços do sertão
para o território das organizações criminosas de uma periferia urbana, cercada
por muros gigantescos, em um tempo indeterminado. A obra abordou temas como os
conflitos da população com o Estado, a violência nas periferias do Brasil, o
questionamento do papel do homem no mundo e uma paixão proibida pelas normas da
sociedade.
É uma produção ousada, afinal o clássico do Érico
Veríssimo esta entranhado no sertão mineiro
em nossa memória e era inimaginável ver
outro Riobaldo e Diadorim que não os
imortalizados por Tony Ramos e
Bruna Lombardi, na minissérie homônima produzida pela Globo em 1985,
escrita por Walther George Durst, considerada uma
das melhores do gênero.
Essa atualização da
história conversa melhor com o nosso
mundo atual, especialmente a realidade nas periferias, porém perde toda a magia
da memória afetiva do telespectador, que assim
como eu, buscavam a essência da minissérie
de 1985.
A construção desse universo funciona pelo casamento perfeito
entre a direção de fotografia do Gustavo Hadba e o trabalho
competente de efeitos especiais, que conseguem representar visualmente esses
elementos de distopia na composição desse novo
Grande Sertão.
Como ponto positivo de Grande Sertão, apesar da adaptação, Guel Arraes decidiu manter o texto original de Guimarães
Rosa, o que deixou a produção com o teor poético e teatral, que contrastou positivamente com o visual.
Caio Blat e LuisaArraes, os novos Riobaldo e Diadorim,
apesar de terem uma difícil missão, em nenhum
momento
comprometeram os personagens – A construção da relação complexa
entre eles novamente é um dos grandes pontos da história.
Eduardo
Sterblitch na pele do Diabo , é também um grande destaque cênico. Mais um ótimo trabalho do
ator fora da linha do humor.
Grande Sertão é
uma adaptação ousada, porém muito
criativa de GrandeSertão: Veredas. Os mais conservadores e nostálgicos podem torcer o
nariz, mas Guel Arraes e Jorge Furtado fizeram uma releitura atual e potente da obra original
e sua essência contextualizada com uma distopia sobre a violência urbana, ainda
se mantendo fiel ao texto de Guimarães Rosa – por mais que escorregue um
pouco, foi um espetáculo no ar.
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Fonte:
Texto: Evaldiano de
Sousa n
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