Manoel Carlos infelizmente não
conseguiu emplacar “Em Família” no horário nobre. A trama encerrou-se
nesta sexta (18.07) como a pior
audiência do horário nobre, apesar de ser a última novela escrita pelo autor,
conforme se divulgou antes da estreia.
A falta de interesse do público e rejeição aos protagonistas fez com que a
trama fosse encurtada encerrando-se com apenas 143 capítulos. Desde Felicidade (1991) , a menor trama do autor havia sido Por Amor (1997) com 190 capítulos.
Muitas
são as explicações para essa rejeição quase que total a trama do Maneco.
Teria a fórmula de contar a vida do cotidiano se esgotado, o estilo do autor consagrado em
tramas como Laços
de Família (2000) ou Mulheres
Apaixonadas (2003) não seja mais aceita pelos telespectadores?
O Fato é que a Globo viu pela primeira vez uma produção do horário nobre se esvair pelo
ralo.
Sobre a rejeição aos protagonistas, isso ficou
nítido logo que iniciou-se a terceira fase, quando Julia Lemmertz, Gabriel Braga Nunes e Bruna Marquezine assumiram os
papéis de Helena, Laerte e Luiza. Claro que a atuação de uma atriz do quilate
da Júlia não está em jogo, a personagem é que era difícil. Afinal carregava o estigma das “Helenas” do autor,
que são mulheres dúbias, quase sempre as mocinhas da história, mas com segredos
capazes de transformá-las em pessoas tão ruins e egoístas como as vilãs. Mas a
Helena de Em
Família abusava do direito de ser
chata e intransigente com esse ódio inexplicável
pelo Laerte, cultivado há anos. Acho que a historia do trio teria rendido muito
mais se a Helena também tivesse se envolvido novamente com Laerte, afinal de
contas isso explicaria esse ódio.
“Em Família”
foi a primeira novela que lembro de não ter me interessado em assistir
o último capítulo. Assisti claro, mas
caso não conseguisse, assistir na reprise teria causado as mesmas emoções.
Laerte, mesmo sem ser um grande vilão, afinal ele apenas era
ciumento, foi crucificado com um fim trágico e desnecessário. Assassinato no último capítulo de um personagem que nem era um vilão não tem
como aceitar para um final de novela. Uma tragédia para encerrar uma novela
nunca é bem vista.
Mas Em Família teve seus pontos fortes. Bruno Gissoni ganhou destaque no penúltimo capítulo ao descobrir a identidade
da sua mãe. Inclusive o gancho do penúltimo capítulo foi André montando o
quebra-cabeça da foto que havia rasgado e vendo o rosto de Branca (Angela Vieira). Aliás, o
embate entre Branca e André foi o que salvou o último capítulo da trama.
Ambos deram toda a sensibilidade que a cena pedia.
No conjunto da
obra vale destacar as bandeiras que a novela levantou. O Casamento gay foi
tratado de maneira tão natural que fomos brindados com uma das cenas mais
bonitas da trama com a exibição do casamento da Clara (Giovanna Antonelli ) e
Marina (Tainá Muller). Com direito a
selinhos e beijões a trama quebrou esse tabu e mostrou que a sociedade está
começando a se preparar para aceitar, de
verdade, esse novo formato de família. Giovanna Antonelli, que dispensa apresentações, mais uma vez pinta e borda com
uma boa personagem em mãos.
O Transplante
do Cadu (Reynaldo Gianechinni) foi outro grande acerto. Apesar dos exageros na
recuperação do personagem pós-operação.
Alguns atores conseguiram se sobressair a
fraca trama e viveram personagens inesquecíveis. Talento é talento! Foi o caso
da Natalia do Valle, impecável
com sua Chica, Vanessa Gerbelli e perturbada Juliana; Marcelo Mello Jr, o Jairo; Ana
Beatriz Nogueira, a Selma e o Humberto
Martins como o compreensivo Virgílio.
Em compensação alguns
personagens poderiam e deveria ter rendido mais, porém foram engolidos. A
Shirley, da Viviane Pasmanter
prometia ser uma grande vilã e acabou
virando uma antagonista sem peso algum na trama. Assim como o Leto (Ronny
Kriwat), Paula (Manu Gavasi) e a Ana (Cláudia Mauro). Personagens que tinham um
perfil interessante mais que simplesmente só apareceram para fazer figuração no
decorrer da novela.
É uma pena ver o trabalho de um novelista da importância do Manoel Carlos ser bombardeado de críticas negativas, mas
infelizmente Em
Família mostrou que ele tem que repensar seu modo de escrever. Será que o autor já
previa essa saturação em seu trabalho quando anunciou a trama como sua última?
Mesmo glorificando as tramas dos anos 80,
pontuadas por cenas longas e lentidão nos acontecimentos, é fato de que hoje o
público quer ver tramas enérgicas, acontecimentos imediatos que tiram o nosso
fôlego, tal qual a nova trama das onze, O Rebu,
ou no estilo do último fenômeno na teledramaturgia nacional Avenida Brasil (2012).
“Em Família”
não vai deixar saudades, vai ser lembrada apenas com a novela que apresentou o
primeiro casamento gay da história da Tv
e o modo de como não mais fazer
novelas.
Fonte :
Texto : Evaldiano de Sousa
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