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“Velho Chico” termina marcada por uma tragédia real e falta de ritmo


        Um espetáculo em forma de novela! Uma frase que poderia resumir a trama de Velho Chico, novela do autor Benedito Ruy Barbosa, que se encerrou nesta sexta-feira (30.09). Mas infelizmente,  Velho Chico termina marcada por uma tragédia da vida real e  a falta de ritmo da trama que perdurou do primeiro ao último capítulo.  

        Curiosamente o motivo que a fez ser escolhida para o horário nobre global ,  quebrando a fila já formada  de apresentações,  foi exatamente o que a fez ser uma das novelas mais “arrastadas” apresentadas até então.  Depois de um choque de realidade e acontecimentos com Babilônia (2015) e A Regra do Jogo (2015), a Globo apostou em uma trama bucólica e calma , escalou Benedito Ruy Barbosa, rebaixado ao horário das seis desde Esperança (2002) e apresentou a emblemática trama que contaria os encantos e mistérios do Rio São Francisco.
        A primeira e segunda fases até fizeram bonito, tinha um certo ritmo, lento mas aceitável por se tratar de épocas passadas e o encanto de viver emoções que teriam consequências anos mais tarde, porém ao chegar em sua terceira fase a novela se mostrou seca e teatral num grau que assustou o telespectador. Sem romances entre os personagens e um inflamado texto político agrário,  a novela  praticamente andou em círculos,  se apoiando apenas em interpretações impecáveis  e viscerais , que vistas como em quadros, separadas do conjunto do obra folhetinesca,  foram o grande destaque de Velho Chico.

        E por falar no elenco da trama ...  Impossível esquecer as intepretações da Selma Egrei como a Dona Encarnação, Lucy Alves (Luzia), a grande revelação da trama; Irandhir Santos (Bento) , Dira Paes (Beatriz); Zezita Gomes (Piedade) , Marcelo Serrado ( Carlos Eduardo), alçado a grande vilão  no final da trama e Christiane Torloni, que foi fiel à Iolanda por toda a trama e nos brindou com uma crível interpretação e um show “literalmente” , quando precisou dar vida ao lado musical da personagem.

        A primeira fase também  foi marcada por grandes intepretações nos  trabalhos impecáveis do Rodrigo Santoro (Afrânio), Rodrigo Lombardi (Capitão Ernesto Rosa), Carol Castro (Iolanda), Cyria Coentro (Piedade), Fabíola Nascimento (Eulália) e Chico Diaz (Belmiro dos Anjos). 


        No elenco de jovens e estreantes Lucas Veloso foi a grande revelação dosando humor e irreverencia com seu personagem homônimo. Mas não posso deixar de citar Giullia Buscácio (Olívia);  Gabriel Leone, o Miguel depois que o personagem perdeu aquele perfil  rebelde sem causa; Renato Góes e Júlio Dallavia, O Santo e a Tereza da primeira e segunda fases; e os estreantes em novelas Marienne de Castro (Dalva) e Lee Taylor, que foi impecável como o Martin, uma pena que o ator foi tão mal aproveitado.
       

        O Trio de protagonistas também defendeu com maestria seus personagens, embora com perfis difíceis   devido à grande carga dramática que eles traziam das fases anteriores. Antônio Fagundes (Afrânio)  e Camila Pitanga (Tereza) , apesar de terem sido bombardeado de críticas, principalmente o Fagundes devido a discrepância entre o Afrânio da terceira fase e das anteriores vivido pelo Rodrigo Santoro e o figurino exagerado com direito a peruca,  conseguiram chegar ao tom dos seus personagens na reta final da novela.
        Aliás como já citei, o grande erro de Velho Chico foi sua lentidão nos acontecimentos, o que  deixou alguns entrechos tanto tempo esperando que perderam o sentido ou o brilho. Precisava mesmo fazer a Tereza e o Santo demorar tanto para se reencontrarem  anos depois?  O Amor do casal tinha que ter pego fogo logo no início da terceira fase, mostrando a força que ele tinha.

        Nesta última semana Velho Chico abusou do direito de apresentar cenas que ficarão  no nosso imaginário eternamente. Algumas que primaram pela simplicidade usando apenas a locação e um ator. Vale destacar:

·        Ceci (Luci Pereira) revendo a árvore que representa o seu povo nas terras doadas por dona encarnação ao Miguel ;
·        O Casamento de Miguel e Olívia;
·        Martin descobrindo que estava morto;
·        A Reconciliação de Afrânio e Iolanda.

       Todos foram momentos memoráveis proporcionados pelo autor sob a ótica e direção do Luiz Fernando Carvalho.

Uma pena que na reta final a arte saltou a ficção e a emblemática história de  vida e morte às margens do Rio São Francisco tenha nos levado Domingos Montagner,  imortalizado para sempre nas águas do Velho Chico.
        A perda do protagonista da trama em um  acidente nas locações das gravações da novela comoveu o Brasil que ficou sem entender se era verdade ou gravação de novela. Perdemos o  grande talento do ator Domingos Montagner, mas a  novela  não perdeu seu Santo. Na trama,  o personagem continuou vivo com os atores contracenando diretamente para a câmera como se o olho de Santo e do Montagner fosse a lente. No capítulo de segunda-feira (26.09)  foi apresentado a primeira cena em que os atores interagiam diretamente com a câmera, como se fosse o Santo. Confesso que me deu uma sensação estranha, um misto de medo com emoção.

A Globo , os autores e a direção escolheram não fazer da morte do ator um chamariz para o final da novela e até mesmo em respeito fizeram uma singela homenagem final com imagens do Santo desbravando o Velho Chico  na última cena da novela.

Fotografia, roteiro, trilha e direção impecáveis,  mas que no rótulo de trama das nove “rodaram” tão sem ritmo que não funcionaram. Velho Chico foi uma trama tão  requintada  que  tinha que ser vista  por uma ótica mais teatral e menos novelística, talvez assim fosse marcada pelo sucesso. 

Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa 

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