Foi uma coincidência mórbida, mas que potencializou como
nunca o dia da Consciência Negra aqui no Brasil. Um dia antes , na quinta-feira (19.11), o
Brasil foi acordado por mais um crime contra um negro – João Alberto
Silveira Freitas foi assassinado por 2 seguranças que prestavam serviços a
um supermercado em Porto Alegre.
A Globo, que já
tinha o projeto de Falas Negras pronto para ir ao ar em homenagem o dia da
Consciência Negra , viu esse especial se tornar crucial para ser
apresentado na noite de sexta-feira
(20.11).
Criado, Escrito e roteirizado por Manuela Dias, a
mesma autora de Amor de Mãe, e dirigido
por Lázaro Ramos, o especial
apresentou frases e declarações de nomes que fizeram a história pela luta dos
direitos dos negros no mundo e no
Brasil.
Frisando o Brasil, foi emocionante e de engasgar, os depoimentos que retrataram a morte do menino Miguel,
no Recife, em Junho deste ano, e do adolescente
João Pedro Matos Pinto, no Rio de
Janeiro.
As gravações foram feitas apenas com os atores caracterizados
como esses grandes nomes de lutadores
por justiça e igualdade, olhando direto
para a câmera falando em primeira pessoa. Foi
exatamente esse elenco de peso e
escolhido sob medida que deu o tom do especial. Todo o elenco esteve espetacular,
mas não posso deixar de citar os 3 que mais me tocaram:
Tatiana Tibúrcio incorporou Mirtes Santana , a
mãe do menino Miguel, com uma visceralidade, que ficou impossível não chorar de
novo junto com essa história; Silvio Guidane como Neilton Pinto,
o pai do adolescente João Pedro e Taís Araújo, que deu toda a magnitude que a Mariele
Franco precisava, para mais uma vez ser lembrada.
É um especial não só
para assistir, mas principalmente para ser tocado, para parar e repensar sobre tudo que já aconteceu e acontece no
nosso dia a dia. Se cada pessoa parasse
para pensar atitudes e palavras acho que 50% já
estaria feito.
Abaixo a relação de
todos os grande nomes que foram retratados no especial
(Extraído do material de divulgação fornecido no site da Tv Globo)
Heloísa
Jorge: Nzinga Mbamde – A rainha do
Reino do Congo e Matamba nasceu na Angola e viveu entre 1583 a 1663. Simboliza
a resistência africana à colonização e a comercialização de escravos. Mulher
combatente e destemida, chefiou pessoalmente o exército até os 73 anos de
idade.
Reinaldo
Júnior: Mahommah G. Baquaqua –
Ex-escravizado, viveu entre 1820 e 1857, nasceu na África Ocidental (atual
Benin), veio em um navio negreiro que aportou em Pernambuco. O trabalho em um
navio mercante o levou para os Estados Unidos. Em Detroit, publicou sua
biografia, que é um dos poucos registros da época contados nas palavras de um
negro escravizado no Brasil, e que descreve em detalhes os hediondos castigos
cometidos contra os escravizados no país.
Izak
Dahora: Toussaint Louverture – O líder
da Revolução do Haiti viveu entre 1743 e 1803, foi escravizado até os 30 anos,
e ainda assim aprendeu a ler e escrever. Ao ganhar a alforria, liderou o
levante que conduziu os africanos escravizados a uma vitória sobre os
colonizadores franceses, abolindo a escravidão no local. Em 1804, proclamou a
independência de São Domingos (Haiti).
Olívia
Araújo: Harriet Tubman –
Ex-escravizada, tem data de nascimento imprecisa (1820 ou 1822) e viveu até
1913. Alistou-se como cozinheira e enfermeira durante a Guerra Civil Americana
para espionar e captar informações, e ali ajudou na fuga de centenas de
escravizados dos territórios dominados das fazendas do sul dos Estados Unidos
rumo ao norte do país, onde não havia escravidão, e ao Canadá.
Fabrício
Boliveira: Olaudah Equiano – O escritor
nigeriano, que viveu entre 1745 e 1797, foi sequestrado e escravizado quando
tinha 11 anos. Na Virgínia, foi vendido a um oficial da Marinha Real, com quem
viajou pelos oceanos por cerca de oito anos, período em que aprendeu a ler e
escrever. Conseguiu comprar a própria liberdade, e, em Londres, envolveu-se no
movimento abolicionista. Em 1789, ele publicou sua autobiografia, que é um dos
primeiros livros publicados por um escritor negro africano.
Aline
Deluna: Virgínia Leone Bicudo –
Socióloga e primeira mulher psicanalista brasileira, nasceu em São Paulo e
viveu entre 1910 e 2003. Cofundadora da Sociedade Brasileira de Psicanálise, é
uma das responsáveis por importantes publicações na área.
Flávio
Bauraqui: Luis Gama – Importante líder
abolicionista, jornalista e poeta brasileiro, nasceu em Salvador e viveu entre
1830 e 1882. Filho de um descendente de portugueses com uma escravizada
liberta, foi vendido pelo próprio pai. Autodidata, tornou-se um dos advogados
abolicionistas mais atuantes do país, responsável pela libertação de centenas
de negros mantidos no cativeiro.
Bárbara
Reis: Rosa Parks – Ativista dos
direitos civis, nasceu nos Estados Unidos e viveu entre 1913 a 2005. Atuava no
Montgomery, no Sul dos Estados Unidos, centro dos maiores conflitos raciais do
país. É tida como a “mãe do moderno movimento dos direitos civis” nos Estados
Unidos.
Bukassa
Kabengele: Nelson Mandela – Advogado,
presidente da África do Sul, viveu entre 1918 e 2013. Liderou o movimento
contra o Apartheid – legislação que segregava os negros no país. Condenado em
1964 à prisão perpetua, foi libertado em 1990, depois de grande pressão
internacional. Recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”, em dezembro de 1993, pela sua
luta contra o regime de segregação racial.
Ângelo
Flávio: James Baldwin – Escritor,
dramaturgo, poeta e crítico social, nasceu nos Estados Unidos e viveu entre
1924 e 1987. Em Paris, escreveu o livro semiautobiográfico ‘Go tell it on the
mountain’, publicado em 1953 e considerado pela revista Time, em 2005, um dos
100 melhores romances de língua inglesa do século 20.
Samuel
Melo: Malcolm X – Ativista de
direitos civis, nasceu nos Estados Unidos, viveu entre 1925 e 1965. Por
influência dos irmãos aderiu ao islamismo. Por conta de sua inteligência,
oratória, personalidade forte, logo arrebatou multidões. Com o aumento de sua
popularidade, aumentou também sua rejeição e fez inimizades que o levaram a ser
assassinado.
Aílton
Graça: Milton Santos – Geógrafo,
jornalista, advogado e professor universitário, nasceu em São Paulo, e viveu
entre 1926 e 2001. É reconhecido mundialmente como um dos maiores geógrafos
brasileiros. Em 1994 foi consagrado com o Prêmio Vautrin Lud (algo como o
prêmio Nobel da Geografia). Tem mais de 40 livros publicados em sete línguas.
Guilherme
Silva: Martin Luther King – Pastor
batista e ativista político, nasceu nos Estados Unidos, viveu entre 1929 e
1968. Dentro do movimento negro, lutava pela igualdade civil entre negros e
brancos e tinha como estratégia de luta o método da não-violência e a pregação
de amor ao próximo, inspiradas nas ideias cristãs.
Ivy
Souza: Nina Simone – Cantora,
compositora e ativista pelos direitos civis, nasceu nos Estados Unidos, viveu
entre 1933 e 2003. Usava suas canções para expressar sua revolta com os
conflitos raciais que testemunhou desde a infância no Sul dos Estados Unidos.
Mariana
Nunes: Lélia Gonzalez – Historiadora,
antropóloga e professora, nasceu em Belo Horizonte, e viveu entre 1935 e 1994.
Intelectual que dedicou parte de seu trabalho a analisar os efeitos da nefasta
combinação entre racismo e sexismo na situação das mulheres negras, além de
discutir a linguagem e criar as noções de amefricanidade e pretuguês.
Babu
Santana: Muhammad Ali – Maior pugilista
da História, eleito “O Desportista do Século”, nasceu nos Estados Unidos, viveu
entre 1942 e 2016. Nasceu Cassius Clay e converteu-se ao islã, mudando de nome.
Convocado, recusou-se a ir à guerra do Vietnã e desafiou o governo americano. A
atitude rendeu a cassação de seu título de pesos pesados e o deixou por três
anos longe dos ringues até que a Suprema Corte decidisse a seu favor.
Naruna
Costa: Angela Davis – Filósofa e
ativista, nasceu em 1944 nos Estados Unidos. Ainda adolescente, organizou
grupos de estudo inter-raciais, que acabaram perseguidos e proibidos pela
polícia. Foi perseguida por sua associação com o partido comunista americano e
com os Panteras Negras, condenada e presa sem provas. Ao sair da prisão,
tornou-se uma influente professora de história e passou a militar contra o
sistema carcerário norte-americano.
Valdinéia
Soriano: Luiza Bairros – Administradora
e cientista social, nasceu em Porto Alegre, viveu entre 1953 e 2016. Foi um dos
nomes mais atuantes do Movimento Negro Unificado (MNU), a principal organização
da comunidade negra do país na segunda metade do século 20. Foi secretária de
Promoção da Igualdade Racial da Bahia entre 2007 e 2011 e ministra-chefe da
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil, entre 2011 e
2014.
Taís
Araujo: Marielle Franco – Vereadora,
socióloga, ativista de direitos humanos, nasceu no Rio de Janeiro, no Complexo
da Maré, viveu entre 1979 e 2018. Eleita vereadora em 2016, presidiu a Comissão
de Defesa da Mulheres e foi executada em 14 de março de 2018. Sua morte virou
um marco e motivou protestos por vários países do mundo. Ainda hoje o caso não
foi desvendado. A vereadora defendia as causas das mulheres, negros, LGBTs e da
periferia.
Silvio
Guindane: Neilton Pinto – Trabalhador
autônomo, pai do adolescente João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, assassinado em
18 de maio de 2020 com um tiro na barriga após uma operação conjunta da Polícia
Federal e da Polícia Civil no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de
Janeiro.
Tatiana
Tibúrcio: Mirtes Santana – Empregada
doméstica, mãe do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, morto após
cair do nono andar de um prédio de luxo no centro do Recife, no dia 2 de junho
de 2020.
Tulanih Pereira: a atriz interpreta um misto de
depoimentos de manifestantes à época do trágico episódio que culminou com a
morte de George Floyd, em Minneapolis (Estados Unidos), em 25 de maio de 2020,
que deu início a uma onda de protestos pelo mundo. Floyd morreu asfixiado
depois que um policial ajoelhou-se em seu pescoço durante 8 minutos e 46
segundos.
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Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
Pesquisa: www.globo.com
Fotos : Montagens e10blog
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