A RecordTv completa 65 anos este mês, mais precisamente dia 27, e é fato de que a emissora sofreu grandes
mutações no decorrer destes anos desde que
o visionário Paulo Machado de
Carvalho resolveu ampliar seu
conglomerado midiático (na época
diversas estações de rádio).
A
Emissora nunca foi conhecida por sua
teledramaturgia, mas nesses 65 anos vez
ou outra acertou em alguns momentos e chegou a ofuscar a Tupi e a Globo
com sucessos pontuais.
A
primeira telenovela produzida e exibida pela Record foi o folhetim A Muralha, em
1954, e até
1977 a emissora chegou a produzir
mais de 70 títulos. Neste mesmo período,
ainda na era Silvio Santos e Paulo
Machado de Carvalho, Os Deuses Estão Mortos (1971)
e As Pupilas do
Senhor Reitor (1970)
merecem o destaque por terem sido as primeiras a chamar atenção do público e
serem muito elogiadas pela crítica.
Para
comemorar esses 65 anos, o e10blog vai relembrar as 10 novelas que marcaram a tímida história
da teledramaturgia na emissora.
As Pupilas do Senhor Reitor (1970)
Primeiro
grande trabalho do Lauro César Muniz,
e primeira trama da RecordTv a
chamar atenção do grande público e da crítica. A Adaptação do romance de Júlio Diniz teve uma produção
requintada, a emissora não poupou esforços e dinheiro.
Georgia Gomide, que vivia Clara,
se afastou do elenco no terceiro mês da novela, sendo substituída por Maria
Estela. A Mudança fez com que Guida, a personagem da Márcia Maria crescesse dentro da trama, sendo alçada ao posto de grande
protagonista, mostrando que ela estava à altura do papel.
O
Sucesso da trama alterou seu horário de exibição. Passou das 19 horas para o
horário nobre da época às 20 horas.
Os Deuses estão Mortos (1971)
Com o
sucesso de As Pupilas do Senhor Reitor, um ano
antes, a emissora investiu pesado na próxima trama do Lauro César com um esmerado trabalho de reconstituição de
época. Os Deuses
estão Mortos se transformou em um dos
maiores sucessos da emissora e um marco para a teledramaturgia nacional.
A novela
se passava em 1889, e contava a história de duas famílias que disputavam a
liderança política na cidade de Ouro Negro – Os monarquistas Almeida Santos e
os republicanos Lobo Ferraz.
Apesar
de não ter a bagagem da Excelsior, a inovação da Tupi e as estrelas da Globo,
a RecordTv conseguiu o maior sucesso durante sua investida no
gênero.
O
Sucesso de Os
Deuses estão Mortos rendeu pela
primeira vez a continuação de uma novela
- Quarenta
Anos Depois, exibida entre os
anos de 1971 e 1972.
O interior
paulista, onde se passava Os Deuses estão
Mortos, rendeu mais duas tramas de sucessos escritas pelo Lauro
César – Escalada(1975) e O
Casarão (1976), produzidas pela
Globo.
O Espantalho (1977)
O Espantalho,
da Ivani Ribeiro, foi produzida em
1976 pelos Estúdios Silvio Santos,
logo após a inauguração de seu canal de televisão no Rio, TVS, canal 11 (antes
da fase SBT).
A
novela estreou primeiro em São Paulo, pela RecordTv
e suas filiadas em 25 de janeiro de 1977 (com exceção do Rio de Janeiro, onde
estrearia apenas 1º de Junho).
O Espantalho representou um grande prejuízo para o Silvio Santos, que na época ainda não
tinha emissora própria, mas um mistério em sua reta final chamou a atenção do
público da RecordTv para a novela.
O
Vilão Rafael (Jardel Filho) é assassinato no decorrer da trama por uma pessoa
fantasiada de espantalho. Vasco (Régis Monteiro), o inseguro funcionário do
hotel de Rafael assume o assassinato alegando as constantes humilhações que
sofria. Mas, ao final, descobre-se que o assassino era Zé Pedro (Waltér
Stuart), que responsabilizara Rafael pela morte de seu filho caçula, intoxicado
pelas águas da praia.
Em
1993, Ivani Ribeiro juntou a espinha
dorsal de O
Espantalho ao remake de Mulheres de Areia apresentado
na Globo, sendo um dos maiores
sucessos do horário em todos os tempos.
A Escrava Isaura (2004)
Em
2004, depois da mal sucedida Metamorphoses, a RecordTv decidiu não mais terceirizar sua teledramaturgia e apostou todas as fichas no remake de A Escrava Isaura,
novela do autor Tiago Santiago e Anamaria Nunes, baseada no romance homônimo de Bernardo Guimarães, exatos 28 anos depois da versão global apresentada em 1976 e
que transformou Lucélia Santos em estrela internacional em sua primeira
protagonista.
A
Novela foi um grande sucesso, consagrou sua protagonista novamente, desta vez
vivida pela Bianca Rinaldi, até
então fadada a protagonistas das tramas do SBT,
e elevou a audiência da RecordTv ao segundo lugar garantido com
dias de primeiro, abalando a até então inabalável hegemonia global.
Em uma
semana A Escrava
Isaura
já era o produto mais bem sucedido dentro da emissora e fez com
que a RecordTv investisse ainda mais nas tramas
seguintes. O Sucesso esticou a
novela em 100 capítulos e sua
última reprise, a terceira, exibida em 2017, logo em seguida ao término da
inédita Escrava
Mãe, foi outro grande sucesso
chegando a casa de 2 dígitos.
Essas Mulheres (2005)
Com o
sucesso de A
Escrava Isaura, a RecordTv
continuou na linha de tramas de época e produziu Essas Mulheres, uma mescla de três
clássicos de José de Alencar (Senhora, Lucíola e Diva), escrita por Marcílio Moraes e Rosane Lima. A novela
é considerada um biscoito fino dentro da emissora, e embora não tenha atingido
a popularidade e audiência considerável se destacou pela direção segura do
Flávio Colatrello, a belíssima reconstituição de época e o nível técnico
comparado as melhores produções globais.
No
elenco destaque para as atuações de Gabriel Braga Nunes (Fernando Seixas), Christine Fernandes (Aurélia), Miriam Freeland
(Mila) e Paulo Gorgulho (O Vilão
Lemos).
Os autores souberam como nunca misturar três história distintas em
uma mesma adaptação dando ênfase às três protagonistas - Aurélia Camargo (Christine Fernandes), Maria da
Glória (Carla Regina ) e Mila Duarte (Miriam Freeland) que tiveram brilho uniforme cada uma em sua trama e quando
as tramas se entrelaçavam. A
novela se distanciou um pouco das obras literárias, criando novos entrechos e
unindo as personagens através de um passado comum: as aulas de música e
francês. As tramas paralelas das obras literárias se movimentavam entre si
tornando a novela cada vez mais interessante.
Prova de Amor
(2005)
Em
2006, a RecordTv começou apostar em
tramas contemporâneas, e em Prova de Amor,
do Tiago Santiago, a emissora inaugurou o Recnov, centro de produção de teledramaturgia.
Prova de Amor é considerada o primeiro grande sucesso da
teledramaturgia desde a retomada do gênero em 2004, chegando abalar as produções
globais, tal qual acontecera com Os Dez Mandamentos em
2015.
Com
elementos típicos e com estética dos
folhetins globais, a trama conquistou boa parte dos telespectadores da Globo
que rejeitaram a proposta ousada da novela apresentada na emissora à época, Bang Bang.
Corpos seminus e cenas mais apimentadas
do que nas novelas até então vistas na RecordTv,
era a primeira tentativa da emissora de apagar a ideia de que sua programação
era vinculada à Igreja Universal.
O Sucesso esticou Prova de Amor em 54 capítulos. A novela teve algumas
inspirações de tramas de outras emissoras, com A Pequena Órfã (1969) da Excelsior,
de onde o autor tirou a história de Nininha (Júlia Magessi), menina que é
obrigada pela megera Elza (Vanessa Gerbelli) a pedir esmolas nas ruas e
encontra amparo nos braços do bom velhinho Gui (Rogério Fróes). A novela
misturou à sua história depoimentos de pais em busca de filhos desaparecidos –
uma campanha semelhante à que Glória Perez desenvolvera em Explode Coração, na
Globo em 1995.
Prova de Amor, juntamente com A Escrava Isaura, rendeu ao autor Tiago Santiago, o prêmio de autor revelação do ano de 2005.
Vidas Opostas (2006)
Em Vidas Opostas, do Marcílio Moraes, a RecordTv trouxe para a tv um Rio de Janeiro
nada glamoroso, bem diferente do que era retratado nas tramas globais. O
Romance entre o rapaz rico, da Zona Sul, com a moça moradora da favela deu o
tom da novela.
Tal
qual acontecera em Prova de Amor, Vidas Opostas bateu a Globo em vários capítulos, mostrando a importância
da novela para a história da emissora.
A
Violência dura e crua, nunca mostrada tão explicitamente na teledramaturgia,
chocou mais não assustou o público, que viu um
bom e inovador folhetim com direção
segura de cenas e atores e um texto
inspirado. O Conjunto da obra não poderia ter sido melhor.
Chico Buarque assinou toda a trilha
sonora de Vidas
Opostas, a convite de Márcio
Vip Antonucci, produtor musical da novela e amigo do compositor.
Chamas da Vida (2008)
Em Chamas da Vida,
a autora Cristianne Fridmann abordou temas
polêmicos como AIDS, aborto e o uso incorreto da internet, estupro entre
outros. Os temas pertinentes, fizeram a trama crescer no IBOPE a cada dia, em
destaque o entrecho em que Vivi, a personagem da Letícia Collin, engravida após ser estuprada por Lipe (André
Filippi di Mauro), depois de conhece-lo através de uma sala de bate papo.
Além
desse entrecho, o segredo sobre a
identidade do incendiário que fez muitas vítimas até o último capítulo atiçou a
curiosidade do público e crítica e garantiu a audiência cativa.
A Novela ganhou vários prêmios, entre eles o Trófeu Imprensa de
Melhor Novela junto com Paraíso Tropical (2007) da Globo,
quebrando uma abstinência de 14 anos. A última vez que uma
novela havia ganhou o Troféu sem
ter sido apresentada na Globo foi em 1994, o sucesso Éramos Seis no SBT.
Lucinha Lins,
que viveu a grande vilã da trama, esteve impecável na pele da Vilma. A Atriz sem
dúvidas viveu um de seus melhores papeis na emissora. Em um fato inédito
na teledramaturgia nacional o capítulo exibido em 28.11.2008 foi interrompido
numa cena com Lucinha Lins onde a atriz se volta para a câmera
e faz um apelo aos telespectadores pedindo ajuda às vítimas das enchentes que
assolaram o estado de Santa Catarina naquele mês.
No elenco vale
destacar também os nomes de Juliana Silveira , Bruno Ferrari,
Jussara Freire , Dado Dolabella e Andreia Horta, que defenderam muito
bem seus respectivos personagens.
Chamas da Vida foi
um novelão que mesmo com 253 capítulos não apresentou “barrigas” e
mostrou uma trama romântica mesclada com muita ação. As cenas das rave´s
no ferro-velho eram perfeitas e totalmente críveis. A Novela
teve um roteiro digno das tramas globais.
Imagino o “estrago” que ela faria se apresentada no horário nobre da emissora
carioca.
Os Mutantes - Caminhos do Coração (2007 à 2009)
Em Os
Mutantes – Caminhos do Coração, a segunda novela mais longa da história da
teledramaturgia nacional, Tiago Santiago conseguiu através do realismo fantástico mesclado a ficção
científica apresentar um trabalho inovador dentro da história da RecordTv.
Tiago
Santiago, o autor, iniciou escrevendo Caminhos
do Coração, tida como a primeira fase, que estreou em 28 de
agosto de 2007, que era um folhetim clássico tendo Marcelo e Maria, personagens
do Leonardo
Vieira e Bianca
Rinaldi , como o principal par
romântico da novela, com pitadas de elementos de ficção científica. Porém logo
que os Mutantes começaram a aparecer na trama o público se identificou e o
autor foi aos poucos deixando a trama folhetinesca de lado e transformando a
novela numa espécie de série americana, que lembrava muito Heroes,
X-Man entre outras.
Em resumo Santiago, apresentou Caminhos
do Coração, que logo depois ganhou o status de Os
Mutantes – Caminhos do Coração ,
por fim concluiu a trama de Marcelo e Maria e lançou uma nova fase
intitulada de Promessas de Amor, com
novos personagens, que estreou em 24 de março de 2009, com Renata
Dominguez e Luciano Szafir como
protagonistas. Novamente o público pouco se interessou pela história do
folhetim e Os Mutantes dominaram a trama.
Com uma tecnologia de
ponta a RecordTv usou tudo que pode em Os Mutantes para dar mais
veracidade as cenas e aos personagens. Com “O Inferno” como era
chamado os novos equipamentos, a emissora gastou US$ 1 milhão apenas com
o hardware. Com o equipamento, foi possível modelar pessoas em três
dimensões e criar grandes números de figurantes virtuais. Com isso , a RecordTv deu
um acabamento de qualidade na novela às cenas com personagens que
sofreram mutações genéticas e obtiveram superpoderes. Os Mutantes teve um menino com
feições de lobo, uma garota que voava, um rapaz que corria numa velocidade
impressionante, uma adolescente que fazia levitar grandes e pesados objetos, e
muitos outros personagens com poderes
especiais.
Vários atores ficaram marcados pelos mutantes que
representaram na novela como a inesquecível vilã Ghor, da Juliane
Trevisol; Metamorfo do Sacha
Bali; Draco, do Rômulo
Estrela; Scorpio, do José
Loreto; Pisadeira, da Zulma
Mercadante e o Sucupira, do Gabriel
Canela entre outros.
Os Mutantes foi uma novela experimental onde tudo foi
possível, e se dava certo continuava sendo mostrado, caso o público não
se identificasse era subtraído da história. A Sinopse original sofreu
mais mutações do que os próprios mutantes, com trocas de pares românticos e
mudanças de rumo do destino de alguns personagens, principalmente quando o
público se identifica mais com um ou outro.
Os Dez Mandamentos (2015)
Depois
de investir em minissérie bíblicas entre os anos de 2010 e 2014, em 2015 a RecordTv resolveu apresentar sua
primeira novela bíblica e viu logo em
suas primeiras semanas, Os Dez Mandamentos, da Vivian de Oliveira, se
transformar em um fenômeno de público
dentro da emissora.
A novela que começou sem muita pretensão, pegou uma
audiência baixa e um público decepcionado com a trama de Vitória (2014)
e mesmo assim se transformou em um fenômeno da teledramaturgia nacional do ano.
Vivian de Oliveira conseguiu
mostrar em Os Dez Mandamentos não simplesmente uma trama bíblica, e diferente
de outros sucessos bíblicos da autora A
História de Ester (2010), Rei
Davi (2012), José do Egito (2013)
e Milagres de Jesus (2014),
que tiveram um relevante sucesso mais muito aquém se comparado à Os Dez Mandamentos, a novela seguiu a história bíblica mais sem
se prender ao didatismo e com tramas paralelas conseguiu mesclar o tema bíblico
com o tradicional folhetim.
As 10 pragas do Egito
e a abertura do Mar Vermelho apresentados na trama com muito propriedade e
técnica, garantiram sem dúvidas o sucesso da
produção. Era impossível pensar em perder a próxima praga, e o efeito
das mesmas respingou muito nas emissoras concorrentes.
Assim Os Dez Mandamentos fechou a trajetória do povo hebreu com um show de
pirotécnica, uma história sem didatismo mesclado com pitadas de um bom folhetim e é até hoje o
maior sucesso do gênero na história da teledramaturgia nacional.
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa .
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