Orgulho e Paixão termina nesta
segunda (24.09), como uma trama ímpar, que redimiu o autor do fiasco que foi Além do Horizonte, que escrevera com
Carlos Gregório em 2014. Baseada na
obra da inglesa Jane Austen (1775-1817), o autor soube com maestria transpor o
universo da escritora para o clima brasileiro e a aura dos anos 20.
Mesclou empoderamento feminino, greve,
violência doméstica, homossexualidade, romance, humor e muito
amor, mostrando sem didatismos e principalmente sem personagens chatos,
que levantaram bandeiras contrastando com o contexto da história.
Elisabeta,
a protagonista vivida pela Nathalia Dill, embora tenha perdido o
protagonismo de casal principal, sua química como Thiago Lacerda não rolou, sozinha a personagem foi a maior
representação da emancipação feminina, e o mais importante sem se prender ao
estilo da mocinha lutadora e sofredora. Mesmo nos momentos de tristeza e luta
tinha brilho e beleza que enchiam a tela. Mais uma acerto para o currículo da
atriz sempre tão profissional e talentosa em suas protagonistas. Destaque para duas cenas em que a Elisabeta
explodiu: A Cena do baile em que aparece
vestida de homem, nos primeiros capítulos; e a cenas em cima do trem no penúltimo
capítulo.
Além de Nathália Dill, baseado no principal romance da autora que inspirou a
trama, Orgulho e Preconceito, as
outras quatro atrizes interpretaram e eu diria ainda, incorporaram as outras Benedito de uma forma tão espetacular que isso ajudou em muito
a fluidez da trama. Cada uma com suas particularidades, entrechos e dramas
brilharam e brilharam ainda mais quando se encontravam em cena em prol da felicidade uma da outra
– Pâmela Tomé, a bela Jane, romântica e a mais
sensível das cinco; Anaju Dorigon, a doce Cecília, era a mais moleca das meninas quando criança, e ao
crescer se transformou em uma mulher com uma mente muito inventiva; Bruna
Griphão, com a Lídia, foi a cota comédia da
família e Chandelly Braz, com uma personagem avessa à rotina e apaixonada por aventuras, nesta reta final viveu um dos entrechos mais polêmicos
da novela, quando Mariana teve
seus cabelos cortados à força.
Os
vilões deram o tom da trama. A certa
altura Julieta, a personagem da Gabriela Duarte foi humanizada e a
trama ficou sem uma vilã literal. O
Autor então escalou Natália do Vale
para viver a perversa Lady Margareth, uma espécie de Odete Roitmann (Beatriz Segall em Vale Tudo/1988). A personagem preencheu o posto com maestria vivendo uma vilã visceral,
radical, preconceituosa e que odiava brasileiros e seus modos.
Mas
nesse campo de vilã Alessandra Negrini como a Susana foi a grande estrela. Não foi
nenhuma surpresa que ela se daria muito bem como a vilã dissimulada, manipuladora
e sedutora, afinal de contas a atriz já tem algumas vilãs com esse mesmo perfil
em seu currículo como a Selma de Desejos de Mulher(2002) ou
a também Susana de Boogie Oogie (2014). Mas a Susana de Orgulho
e Paixão foi um espetáculo à parte. A Alessandra roubou
todas as cenas e se transformou em um das personagens com mais empatia dentro
da novela. Mais um grande acerto cênico no currículo da atriz. A dobradinha
com a espetacular Grace Gionaukas, a “Madama” Petúlia, rendeu momentos memoráveis à
produção.
Julieta
e o Aurélio foram os personagens mais ricos
dramaturgicamente da trama, com reviravoltas
em seus perfis que fizeram o público olhar de outro modo para o trabalho de
ambos os atores, já
consagrados em tantos outros personagens.Gabriela Duarte iniciou a trama como a austera e quase vilã, uma
Julieta Bittencourt intragável, que
foi se moldando aos poucos, mostrando as fraquezas do personagem até culminar
na revelação da violência doméstica que sofreu e por isso se trancou para o
mundo. Marcelo Faria iniciou
a trama com um personagem quase sem função, sob a sombra de ninguém menos
que Ary Fontoura, mas logo ao
se deparar com a Baronesa do Café ficou nítido que os personagens iriam se
envolver e isso prometia ótimos entrechos. O Casal de personagens e de atores
vai fechar a trama com o perfil de um dos seus melhores trabalhos na tv com
quase 30 anos de carreira.
Sem um
casal principal forte com química, Orgulho e Paixão deu
vasão para que os outros pares românticos brilhassem. Ema e Ernesto, o
improvável casal vivido por Àgatha
Moreira e Rodrigo Simas, ganharam o posto de casal protagonista. Ernesto,
inicialmente escalado para ser a terceira ponta do triângulo entre Darcy e Elisabeta; e Ema com Jorge
(Murilo Rosa) e Amélia (Letícia Persilles), bastou uma cena juntos para que a química transbordasse, e o autor magistralmente mudasse a sinopse. O Casal roubou a trama e consagrou de vez
seus intérpretes.
Outros casais
brilharam com romances críveis embora açucarados, mas totalmente dentro
do contexto da história - Mariana
(Chandelly Braz) e Coronel Brandão (Malvino Salvador); Cecília (Anaju Dorigon)
e Rômulo (Marcos Pitombo), Jane (Pâmela Tomé) e Camilo (Maurício Destri).
Outro
entrecho importante abordado em Orgulho e Paixão foi o romance homossexual entre Lucinno e
Otávio, os personagens do Juliano Laham e Pedro Henrique Muller. Orgulho
e Paixão apresentou cenas de uma delicadeza, responsabilidade e importância talvez nunca visto em um horário da seis, e ainda inaugurou sem alardes e
polêmicas o beijo gay no horário.
Ary Fontoura viveu
grandes momentos na trama. Ultimamente
as produções esquecem dos seus grandes astros
e os escalam apenas para figuração de luxo. Deu muito Orgulho ver o Ary em plena forma em Orgulho
e Paixão duelando de igual para igual com o elenco
jovem, e o mais importante de tudo - emprestando seu talento peculiar para o sucesso da
novela. O Trabalho do Ary e a empatia do público com o personagem lhe salvou da
morte por volta do capítulo 40 como estava acertado na sinopse. Com isso o
autor mudou os rumos da história e o Barão foi salvo por Ary , e ficou
na novela até o antepenúltimo
capítulo em um das cenas mais
emocionantes da trama. Resultado
do grande trabalho do ator à frente do personagem imprimindo uma interpretação
cômica e teatral.
Vera Holtz (Ofélia) e Tato Gabus (Felisberto) viveram um casal inesquecível duelando de igual para igual nas nuances dos matriarcas dos Felisberto.
No
elenco os únicos percalços foi a falta
de história para personagens como Jorge (Murilo Rosa) e Amélia (Letícia Persilles), e o Ricardo
Tozzi, muito fraco como o vilão nada
crível - Xavier.
Orgulho
e Paixão mudou totalmente a aura do horário das seis com
sua trama leve e solar, mesmo de época, contrastando com a melancolia
romântica marcada em Tempo de Amar. Comprada pelo público e aplaudida pela crítica a novela
termina como uma trama reta, de elenco entrosado, com uma narrativa que não
cansou e uma mensagem espetacular.
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
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