“Um Lugar ao Sol” entra para o hall das boas novelas do horário apesar de todos os empecilhos enfrentados
A trama de Um Lugar ao Sol,
da autora Lícia Manzo, chegou ao fim nesta sexta-feira (25.03), e mesmo
toda gravada por causa das Pandemia, e
sem a merecida divulgação da Globo, a novela termina com a pior audiência, mas nem por isso
é uma das piores produções já
apresentadas no horário nobre global, muito pelo contrário. O Texto e narrativa espetacular da autora,
ganchos de tirar o fôlego, a direção
serena e precisa do Maurício Farias
e a volta em grande estilo de grande
nomes do seu elenco como AndreaBeltrão, Mariana Lima, Regina Braga, Denise Fraga entre outros , provaram
que a novela é um marco, e seus
percalços não passaram de apenas detalhes que em nada ofuscaram seu brilho.
Um Lugar ao Sol foi uma novela que pulou muitos obstáculos desde o
início, e nesta reta final ainda tivemos
que ver a trama reeditada para que
durasse uma semana a mais no ar, isso
fez com que perdesse os ganchos, tão necessários para chamar público
para o capítulos seguinte o que refletiu diretamente não tão vigiada audiência.
Com protagonistas reais, cheios de qualidades e muitos
defeitos, Um
Lugar ao Sol , nos fez pensar e
repensar atitudes e conceitos, o que sempre tivemos nas tramas da Lícia
Manzo, como referências suas primeiras
novelas - A Vida da Gente (2011) e Sete Vidas (2015. A autora tentou fugir
dos clichês das tramas de gêmeos - sempre mostrando o gêmeo bom e
gêmeo ruim, mesmo assim precisou de alguns desses clichês pra fechar
alguns entrechos, porém nada que
tenha comprometido a trama.
O Capítulo final ficou corrido com as resoluções feitas ás pressas, o que
nos deixou até sem a reação dos personagens ao descobrir a verdadeira história
de Renato / Cristian. A revelação ficou subentendida, e fiquei frustrado, pois
esperava a reação sempre “I N A C R E D I T Á V E L” da Bárbara (AlinneMoraes), mas a autora nos compensou com uma cena final magistral. O reencontro
do Ravi (Juan Paiva) e Cristian (CauãReymond) fechando a trama foi sem dúvidas um grande momento para a
teledramaturgia, onde eu não segurei ás lágrimas. Foi uma espécie de redenção
para o Cristian, a quem eu já tinha execrado
por tudo que ele havia feito durante a
trama, e nesta reta final sua crueldade com a Elenice (Ana Beatriz Nogueira). A trama que tinha como
protagonista um personagem masculino, mas onde as personagens femininas sempre
foram as estrelas, deu sua cena final
para os dois astros da trama, confirmando o bom trabalho do Cauã e coroando Juan
Paiva.
O elenco de Um Lugar ao Sol
foi aquele espetáculo a parte, a trama nos trouxe de volta grandes estrelas que
estavam fora das novela há algum tempo e que voltaram em estado de graças e fizeram de suas
personagens um momento único na teledramaturgia , como Mariana Lima e Natália
Laje, que protagonizaram um entrecho muito pertinente nesta reta final; Regina
Braga, que conseguiu fazer de uma terapeuta, com apenas um cenário e escutando o texto dos
outros personagens, uma personagem solar
e pertinente na história; Ana Baird
como a Nicole no enredo do sobrepeso , enfim um palco com grandes astros.
Alguns merecem um parágrafo a parte - Favorita de todos Andrea Beltrão nos entregou uma Rebeca
magistral – Uma personagem cheia de nuances, com erros e acertos,
com ânsias e desejos, ou seja , uma das mais críveis entre os personagens . A
mulher no auge dos seus 50 anos tentando se impor sexual, profissional e
socialmente; o casamento deteriorado, a competição velada com a filha; a
relação e entrega a um homem jovem, tudo isso recheado por um
perfil de personagem com aura de gente da vida
real. Nesta reta final a personagem lacrou se empoderando protagonizando
uma campanha de cara limpa e pura coragem.
Alinne Moraes merece
aplausos de pé por ter nos entregue uma Bárbara tão espetacular. Uma
atuação impecável e talento indiscutível, a atriz foi visceral a
frente da personagem. Apesar de ter um perfil agressivo, ao
mesmo tempo ficou nítido para o telespectador suas fragilidades ,
diante de tantos acontecimentos e reações infantis ante os problemas por quais
teve que passar. Eu gostaria de ver uma
reviravolta da personagem, ver a Bárbara se livrando da presença tóxica do
Cristin / Renato (Cauã Reymond) e se tornando uma mulher
completa. Uma pena ele ter continuado numa relação tóxica.
Marieta Severo não precisava provar mais nada. Que
atriz, que exemplo de profissional. Eu confesso que achei que a Vô Noca fosse
apenas ser uma espécie de personagem orelha, para ouvir os personagens
e através da suas experiências de vida, iria lhes guiando com
conselhos e dicas, tipo a terapeuta do núcleo dos pobres. Mas que
nada. Bastaram as primeiras cenas da Noca para vermos quanta bagagem a
personagem tinha, e em cada nova cena, a magistral Marieta nos
revelava uma nova nuance, uma ferida escondida daquela doce e forte
senhora.
Juan Paiva merece
todos os prêmios e elogios que vem ganhando com o Ravi. Sem
dúvidas um dos ótimos acertos de escalação de Um Lugar ao Sol. A Trama é repleta de
grandes nomes em seu elenco , e se o Juan não tivesse a competência
necessária, talvez o seu Ravi, mesmo sendo um coadjuvante de peso, tivesse sido
engolido por outros. O Ravi é um personagem cheio
de camadas , que em alguns momentos bastaram as expressões do Juan,
para entendermos suas dores. Pegar um personagem
desse nível em uma trama das nove é uma rua de mão dupla,
se seu intérprete não tiver força para desenvolvê-lo
de nada adiantaria o bom texto.
A Lara foi
aquele tipo de personagem que a gente sente que foi moldado pelo seu
intérprete. Impossível uma Lara tão passional e tão pé no chão ao mesmo tempo,
numa linha tênue, sem o trabalho impecável da Andreia Horta, uma das melhores atrizes reveladas da sua
geração. A entrega da atriz foi crucial para o brilho da personagem.
Denise Fraga foi outro bom retorno
que Um Lugar ao Sol nos trouxe. . A atriz estava longe das novelas há 5
anos, desde 2016, quando fez parte da primeira fase de A Lei do Amor. Muito emocionante ver as cenas
tão sensíveis da Júlia, feitas com maestria pela Denise
– Uma profundidade cênica no drama do alcoolismo ou na
procura da retomada da sua carreira.
Longe dos seus canalhas ou vilões, José de Abreu ganhou um novo fôlego em seu
currículo com o complexo Santiago, um homem cheio de defeitos
que começa a trama na trilha de acertar, com as filhas, com os
empregados , com um novo amor. Foi um perfil com maestria.
Elogiar personagens
da Ana Beatriz Nogueira é chover no molhado. Uma grande atriz que
sabe fazer um personagem
acontecer. A hilária preconceituosa Elenice
foi um show à parte. A personagem era tão fora da realidade que chegava a ser cômica. Os trambiques, que no final
sempre davam errado, nos divertiram muito, eram um alívio dentro da densa
trama. Nesta reta final, a atriz continuou no show com as nuances na interpretação dos
primeiros sintomas da doença de Alzhimer, que acometeu a
personagem. Fiquei muito tocada com sua morte por COVID. Um pena!
Cauã Reymond ganhou um grande desafio nas
mãos - Os gêmeos Cristian e Renato Eu confesso que sempre achei o
Cristian um tanto engessado, mas o decorrer da trama provou que era
o perfil do personagem , passando aquela sensação de que se escondia mais do
que se mostrava. Sobre o perfil do Cristian, cá pra nós, ele é um dos
protagonistas mais sacanas da nossa história. Impressionante o
mau que ele causou a todos de quem se aproximou – Ravi (Juan Paiva), Lara
(Andreia Horta) e Bárbara (Alinne Moraes) e Elenice (Ana Beatriz Nogueira), mesmo assim
a autora conseguiu nos fazer perdoa-lo
com a cena final.
De Um Lugar ao Sol vale
destacar menção honrosa para outros atores que
abrilhantaram a história como
Daniel Dantas (Tulio), Fernanda de Freitas (Érika), Lara
Tremouroux (Joy), Ana Baird (Nicole), Mariana
Lima (Ilana), Gabriel Leone (Felipe), DantonMello (Mateus), Renata
Gaspar (Sthefanny), Danilo Gangreia (Roney), Otávio
Muller (Paco).
Um Lugar ao Sol marcou seu
lugar no hall das grandes novelas apesar de tudo. Não foi uma trama fácil de se
apegar, com o agravante de ter sido apresentada já
como uma obra fechada, a autora não tinha a possiblidade de molda-la conforme a
recepção do público. Não é uma história de amor de um casal, é a história de dois irmãos de alma que tiveram
que sangrar até doer para se entenderem. O que sempre esteve em foco foi a ética, o caráter, os
valores morais , o feminino, muitas
vezes tão esquecidos, sejam na ficção ou na vida real.
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
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