“Saramandaia” estreia com “criticamento” mais “atualizante” do que nunca !

         “Saramandaia” remake de um dos grandes sucessos do Dias Gomes  , escrito por Ricardo Linhares que  estreou ontem (24.06)  na Globo não poderia ter estreado em hora melhor.

        O Primeiro capítulo mostrou logo uma  manifestação de populares que lutam pelos desmandos dos poderosos de Bole-Bole , cidade fictícia onde passa a trama,  e pela mudança do nome da mesma para Saramandaia. Coincidência ou não o capítulo  repetiu  o que vem acontecendo há duas semanas no Brasil , o movimento  “O Gigante Acordou” , onde os brasileiros  foram às ruas  cobrar seu direitos  e  obrigações dos políticos.

        Assim como é a maioria dessas tramas regionalistas   de cidades de interior, o enredo vai criticar em metáforas.  Já começou   com Zico Rosado  personagem do José Mayer dizendo que tem “aquilo Roxo” explícita  menção ao ex-presidente Collor  que usou essa expressão no auge do seu governo.

        Para quem não lembra, em 1992 quando foi ao ar a Minissérie Anos Rebeldes do autor Gilberto Braga que contava os anos de chumbo da ditadura, o processo foi ao contrário, e muitos dizem que os manifestos da minissérie que iniciava   em 1964 , foi o estopim que levou a juventude às ruas pedindo o impeachment  do  então presidente Collor.

        No primeiro capítulo vale destacar o perfeito desempenho de José Mayer na pele do protagonista Zico Rosado. O ator   está tão a vontade no personagem que parece ter nascido pondo formigas pelo nariz. Com certeza vai ser um grande momento dele na tv, um personagem bem diferente dos que o  ator vem vivendo nos  últimos dez anos, os eternos pegadores da meia idade. 

        Leandra Leal , vivendo a Zélia Villar que tem um  perfil diferente da que a Yoná Magalhães  viveu na versão de 1976, foi outro bom momento do capítulo de estreia. Aliás, a Leandra Leal faz jus ao sangue e já é uma das grandes atrizes desse Brasil.

        Ricardo Linhares  homenageia Dias Gomes em dois pontos da trama. O Santo padroeiro de Bole-Bole  é Santo Dias em homenagem ao autor, e todos os nascidos em Bole-Bole usam um “português” próprio,  “um  parlapatório”   tal qual Odorico Paraguaçu, Paulo Gracindo em O Bem Amado (1973) , outro sucesso do autor.

        Saramandaia  com certeza é a mãe dessas obras dosadas em realismo fantástico,  as características de seus personagens  foram usadas muitas outras vezes em obras do autor e do seu discípulo Aguinaldo Silva. Quem não lembra do Lobisomen de Roque Santeiro (1985)  ou a rescussreição de Odorico para o Seriado de O Bem Amado ( 1980 ) ?

        A Novela é um prato cheio para os amantes e saudosistas desse tipo obra , que perdeu o lugar para as tramas  dosadas mais na realidade cotidiana nos últimos anos. 

Fonte :

Texto : Evaldiano de       Sousa