A Novela que mostrava os bastidores da
novela
Em
1977 , Lauro César Muniz, sempre um
inovador, escreveu para o horário global
das 20 horas Espelho
Mágico, a novela que mostrava os bastidores do mundo artístico em
todos os seus níveis. Usando de uma metalinguagem, a novela acabou ficando
incompreendida pelo grande público, que misturava os personagens da trama com
os personagens de “Coquetel de Amor”
novela que era gravada dentro de Espelho Mágico.
Foto : http://4.bp.blogspot.com/- |
A
Novela foi uma inovação para época. Em
1977 pouquíssimas revistas cobriam o mundo da tv e seus bastidores, e os
telespectadores já tinham a curiosidade pela vida real dos personagens da TV. A
intenção da trama era quebrar aquela lenda de que os astros da tv são pessoas
inalcançáveis , e que na verdade são de carne e osso assim como todo mundo. A
Novela primava pela particularidade de cada ator que participava de “Coquetel de Amor” , frisando suas
famílias , relacionamento e os problemas do dia-a-dia.
Foto : msalx.claudia.abril.com.b |
Vários
dos atores escalados para a trama , concederam depoimentos verídicos para serem
exibidos no decorrer da novela. Muitos
desses depoimentos o autor Lauro César usou pra criar a trama do respectivo personagem
do ator. Assim, Glória Menezes e
Tarcísio Meira viveram realmente um
famoso casal de atores na novela como na vida real. Essa narrativa dos
bastidores da TV, logo desagradou ao
público culminando em uma baixa audiência. O autor então abandonou a proposta
inicial dando enfoque aos problemas particulares dos “atores” . Nesta fase
brilhou Lídia Brondi, intérprete da
Beatriz principal responsável pela crise do casal da teledramaturgia
brasileira. Isso dentro da novela , claro.
Além
da novela dentro da novela (Coquetel de Amor), a trama apresentava outros cenários
das artes - como a peça Cyrano de Berjerac de
EdmonRostand , tendo Diogo Maia (Tarcísio Meira) no papel título; o teatro de revista
representado pelo palhaço Carijó (Lima Duarte) e sua filha Lenita ( Djenane
Machado) e a impreNsa que mostrava os bastidores e escândalos das celebridades representada
pelo jornalista Edgar Rabelo vivido pelo saudoso Carlos Eduardo Dolabella, repórter da revista “Magia”. O Personagem que fazia de tudo para conseguir
um furo de reportagem, sem respeitar ética e princípios do jornalismo acabou
ferindo a classe, que se via de maneira
negativa representada por ele.
Foto : http://s2.glbimg.com/H |
A novela teve uma elenco estrelar que ia desde
Tarcísio Meira e Glória Menezes, Juca de
Oliveira e Yoná Magalhães, Lima
Duarte e Daniel Filho , Mauro
Mendonça e Pepita Rodrigues à Carlos
Eduardo Dolabella e Sônia Braga. A
Novela foi a primeira de Tony Ramos e
Vera Fischer na Globo.
Nelson Caruso, Jorge Botelho, Maria Lucia
Dahl , a diva do teatro Bibi Voguel
e a estrela pornô Sylvia Kristel
fizeram participações especiais vivendo eles mesmos.
Sônia Braga impossibilitada de proferir
um palavrão mais cabeludo com sua personagem Cintia Levy, acabou fazendo o maior sucesso cada vez que proferia
um sonoro “Pomba!” . O Tema da
personagem era a música “Tigresa” do
Caetano Veloso , na trama cantada
por Gal Costa. O Cantor na época fez
questão de frisar que a música havia sido feito especialmente para Sônia Braga.
Foto : http://3.bp.blogspot.com/- |
Lauro
já havia escrito em 1967, uma trama que
também falava dos bastidores da Tv e da teledramaturgia. A Novela Estrelas no Chão
que foi para o ar pela extinta Tupi nos
deu a idéia do tipo de trama, que o autor desenvolveu com maior amplitude em Espelho Mágico. Para a
novela da Tupi, Lauro César usou o pseudônimo de Jordão Amaral
, prática comum na época, o mesmo nome do autor de Coquetel de Amor , vivido
pelo Juca de Oliveira em Espelho Mágico.
Uma
curiosidade, na época em que a novela foi para o ar, o Brasil ainda vivia sobre
o regime militar, e uma das atrizes da trama teve que ser tirada da novela. Era
a atriz Cláudia Celeste, um
travesti. Quando foi contratada, Daniel
Filho não sabia da sua condição ,
ao descobrir ela teve que ser sumariamente eliminada da trama, pois o regime não
admitia que travestis ou transformistas fossem mostrados na TV. Claudia Celeste
vivia uma das coristas do teatro de revistas de Carijó ( Lima Duarte).
Esse post me
fez notar que o Lauro César Muniz ,
um dos magos da teledramaturgia brasileira, já é calejado com as críticas
negativas , muitas vezes devido a complexidade de suas tramas. Assim como em Máscaras na Record o autor viu o público rejeitar Espelho Mágico, por causa da sua estrutura narrativa, e Os Gigantes (1979)
, nesta devido o clima excessivamente passional.
Foto : teledramaturgia.com.br |
Lima Duarte foi elogiadíssimo por sua sensível interpretação
na criação do personagem Carijó, o humorista decadente. No final o personagem foi
homenageado e ganhou um papel fixo no programa A Praça da Alegria ( Hoje A
Praça é Nossa) que na época era
apresentado aos domingos na Globo.
Quem sabe
daqui há alguns anos estarei escrevendo
um post sobre Máscaras e mais uma trama incompreendida do Lauro César Muniz. As novelas às vezes
parecem vinho. Ficam melhores com o
tempo, e até aquelas que em sua época foram injustiçadas ou rejeitadas com o
passar dos anos, depois de um bom envelhecimento, deixam expostas suas qualidades.
Espelho Mágico seria uma
ótima opção de reprise para o Canal Viva.
O tema dos bastidores da Tv sempre foi e eternamente será uma incógnita, e ao mesmo tempo um tema sempre interessante e
atual.
Ficha
Técnica :
Novela do autor Lauro César Muniz
Direção Geral : Daniel Filho
Exibição : 14 de Junho à 05 de
Dezembro de 1977
Capítulos : 150
Fonte :
Texto : Evaldiano de Sousa
Pesquisa : Memóriaglobo.com e
teledramaturgia.com
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