Desde o dia 04.06, Belíssima, trama do autor Silvio de Abreu, exibida originalmente em 2005, está de volta na faixa do Vale a Pena Ver de Novo, e eu já estou na torcida para que a trama
não sofra os drásticos e fatais cortes
que ocorreram e veem estragando a reprise de Celebridade (2003).
Belíssima é sem
dúvidas um dos grandes sucessos do horário das nove dos anos 2000, e depois
da flexibilização do faixa indicativa,
ficou mais fácil vermos mais vezes tramas do horário nobre reprisadas, o que
era praticamente inviável antes.
Claro que comemorei a volta de Belíssima.
Vai ser interessante rever Bia Falcão (Fernanda Montenegro) e cia em uma trama
que investiu no suspense para falar sobre a obsessão pelo poder e pela imagem
em uma sociedade regida por aparências.
Mas o Vale a Pena Ver de Novo está nos devendo algumas tramas que
certamente também surtiriam um bom efeito na faixa de reprises. Tramas que nem
precisariam de tantos cortes assim, e que poderiam ser apresentadas praticamente
na íntegra. O que torna inexplicável até
hoje as reprises de títulos como . . .
Uga Uga (2000)
Uga
Uga, trama exibida em 2000, uma das últimas boas escritas pelo Carlos Lombardi na Globo, tem como história
principal a adaptação à sociedade de um
jovem criado como índio na Amazônia. Claro que tudo isso como muito
humor anárquico, ação, corpos desnudos e
diálogos que só o Lombardi sabe
escrever como ninguém.
A trama foi um grande sucesso de audiência,
mas a crítica caiu em cima por causa do forte apelo sexual. Acho que estava
começando naquele momento o atual “Padrão Moral” que vem podando as novelas
desde os anos 2000.
Claudio
Heinrich viveu o protagonista Tatuapú, a bunda do ator, exposta em
praticamente em todos os capítulos, fez um sucesso junto a mulherada, assim
como Marcos Pasquim que teve 90% das
suas cenas na trama sem camisa.
No elenco destaque para Mariana Ximenes como a tresloucada
Bionda; Nair Bello e Lima Duarte (os
mau humorados Pierina e Nikos); assim como a impagável Brigitte, vivida pela saudosa Betty Lago, em um dos seus melhores
momentos da tv pós Quatro por Quatro (1994).
Viviane Pasmanter viveu em Uga
Uga a personagem Maria João, uma mulher reprimida que tinha sonhos
eróticos. A história da personagem
lembra em muito a Ângela (Maria Zilda) de Bebê a Bordo
(1988), um dos primeiros sucessos do autor.
Uga Uga tem uma aura de Vale a Pena Ver de Novo, é uma trama solar, divertida e mesmo com
quase 20 anos, essa temática da readaptação à sociedade nunca esteve tão em
voga. Acho que o único empecilho para a reprise
seria como esconder dos atuais padrões morais a bunda do Tatuapú!
Um Anjo Caiu do Céu (2001)
Um dos melhores trabalhos do Calmon pós-
Vamp,
Um Anjo Caiu do
Céu é aquele tipo de trama feita pensando em suas reprises
posteriores. Novela leve, sentimental em tom de comédia tendo o universo da
moda como pano de fundo sob a ótica cultural.
Um Anjo Caiu do Céu abordou temas como o neonazismo e
crianças desaparecidas, mas sem o compromisso de levantar polêmicas ou abraçar
causas sociais.
Tarcísio Meira e Caio Blat como os protagonistas João Medeiros e anjo Rafael foram
sem dúvidas o grande acerto da trama. Em sintonia perfeita os dois
brilharam no humor e no drama sempre na
medida que a trama pedia.
No elenco destaque para a Crhistiane Torloni (a vilã Laila de
Montaltino), Patrícia Pillar (como a
complexa Duda), Renata Sorrah (que
viveu duas personagens – Naná e Shirley), Déborah Evelyn (a bela e Frágil Virgínia), Cássio Gabus Mendes ( o Paulinho, personagem que homenageava Cassiano Gabus Mendes – um costureiro afeminado que adorava as
mulheres – uma referência ao Jacques L´Clair de Ti Ti Ti/1985) entre outros.
Um Anjo Caiu do Céu marcou
a estreia em novelas da então apresentadora Angélica. Primeira novela também dos ex-Chiquititas (1997) do SBT – Débora Falabella, Jonatas Faro e Sthefanny Britto.
O Beijo do Vampiro (2002)
Outro grande sucesso do Antônio Calmon no horário das sete, O Beijo do Vampiro é outro título que caberia certinho numa reprise no VPVN, chega ser até mais inexplicável
ainda do que Um
Anjo Caiu do Céu, a sua não reprise até hoje.
Protagonizada por Tarcísio Meira, Cláudia Raia e Flávia Alessandra, O Beijo do Vampiro apesar
do tema vampiresco, foi produzida com a promessa de que em nada se pareceria
com Vamp,
sucesso do autor em 1991. E assim foi. Mesmo com a inserção do Ney Latorraca no decorrer da novela,
imortalizado como o Vlad de Vamp, O Beijo do Vampiro teve
outra pegada e foco.
No elenco destaque para Tarcísio Meira como o Vampirão Bóris e Cláudia Raia, que mesmo grávida,
imortalizou a bela e sedutora vampira Mirna de Montmatre. A trama revelou o
então talentoso ator mirim Kayky Brito,
que deu vida ao protagonista Zeca.
O Beijo do Vampiro ganhou
o Trófeu
Imprensa de Melhor novela daquele ano e Tarcísio Meira melhor ator.
Páginas da Vida (2006)
Páginas da Vida, do autor Manoel Carlos, esteve algumas vezes na lista de reprises do Canal,
mas essa tão aguardada reprise ainda não veio. Apesar das mutilações que
certamente a trama sofreria, seria muito interessante rever mais essa trama no Vale a Pena Ver de Novo.
A trama retrata o dia a dia de
personagens de diferentes classes sociais e idades tendo como eixo a discussão
sobre a síndrome de Down.
Regina Duarte viveu sua terceira Helena do autor na trama, e mais uma vez brilhou
nas nuances simples e fortes dada à interpretação.
Algumas tramas paralelas também foram
destaques em Páginas
da Vida : A história da Família
Martins de Andrade e seu patriarca Tide (Tarcísio Meira) e a matriarca Lalinha
(Glória Menezes); O Casal homossexual Marcelo (Thiago Picchi) e Rubinho (Fernando
Eiras), que decidem adotar um filho; a história de Isabel (Vivivane Pasmanter),
Renato (Caco Ciocler) e Lívia (Ana Furtado), que formam um triângulo amoroso,
quando Isabel, fotógrafa do casamento de Renato e Lívia, se apaixona pelo
noivo; o romance de Jorge (Thiago Lacerda) e Thelminha (Grazzi Massafera); a
história de Ana (Déborah Evelyn), uma bailarina frustrada que deposita sua
realização pessoal na filha, Giselle (Pérola Faria) entre outros.
No elenco destaques para Ana Paula Arósio e sua polêmica Olívia;
Fernanda Vasconcellos, que estreava
em novelas, brilhou
no tom correto de emoção e veracidade da sofredora Nanda e, LíliaCabral (como sempre) espetacular na pele da vilã Marta.
Páginas da Vida marcou
a estreia em novelas dos atores Armando Babaioff,
Carolina Oliveira, Sophie Charlotte e Grazzi Massafera, que havia sido destaque do BBB de 2005.
Ciranda de Pedra (2008)
O Remake de Ciranda de Pedra, escrita pelo Alcides Nogueira, baseado na obra
homônima da Lygia Fagundes Teles,
parecia ser mais uma trama daquelas soturnas e esquecidas do horário das seis.
O Romance já havia sido adaptado para o
horário em 1981, escrito pelo autor Teixeira Filho, mas a versão de 2008
foi mais leve e solar, e talvez exatamente por isso seja uma ótima opção de
reprise.
Ana
Paula Arósio deu vida a protagonista Laura, e causou espanto no
telespectador ver a bela atriz vivendo mãe na tv, e de três adolescentes na
faixa dos quase 18 anos. Porém o sucesso da personagem foi imediato e a empatia
da atriz junto ao público mudou seu rumo.
Na história original, Laura morre por
volta do capítulo 80 e a filha Virgínia (LucéliaSantos em 1981 e Tammy di Calafiori
em 2008) tomava ares de protagonista. Mas o autor mudou, e Laura foi até o final, fechando com um belo desfecho feliz.
Paolla
Oliveira deu vida a personagem Letícia, que no romance era lésbica. Porém
nas duas versões o tema teve que ser esquecido. Em 1981, por causa da recente terminada Censura
Federal, e em 2008 Alcides Nogueira
declarou em entrevista que não gostaria que a trama fosse reclassificada por
causa do tema. Porém em sua cena final, Letícia viaja para fora do Brasil
acompanhada de uma “amiga”.
O Núcleo da Vila Mariana teve grande
força dentro da novela, pelo lado do humor encabeçado pela inesquecível Euzinha
Biscoito Fino , vivida pela Leandra Leal
e pelo drama, com a doce professora
Margarida, vivida pela Cléo Pires,
que acaba passando por uma grave doença no decorrer da novela.
No elenco destaque para a impecável
interpretação da Ana Beatriz Nogueira
como a governanta Frau Herta; Daniel Dantas como Natércio Prado e Marcelo Antonny, o Dr. Daniel.
Cama de Gato (2009)
Cama de Gato é a
única trama contemporânea da dupla Thelma
Guedes e Duca Rachid. Apresentada no horário das seis , a história tinha com centro a ambição, em
contraste com a solidariedade e o resgate de valores humanos.
A Trama central é baseada nas histórias
de Jó e Buda. Como no livro de Jó, do
Antigo Testamento da Bíblia, o protagonista Gustavo, vivido pelo Marcos Palmeira, é um homem que perde
todas as suas riquezas, e como Buda, desperta e conhece o verdadeiro mundo.
O trio de protagonista da trama fechava
com Paolla Oliveira, que com a vilã Verônica, ganhou um novo status para
sua carreira, e Camila Pitanga na pele da Rose, sua personagem de maior destaque
pós-Bebel de Paraíso Tropical (2007), que brilhou e emocionou o público.
Outras tramas paralelas chamaram atenção
em Cama de Gato
– Como o núcleo da terceira idade, totalmente ativos e atuais. Lolô, a personagem da Berta Loran, era antenada com a internet e redes sociais, tinha até
um blog que era o maior sucesso entre os jovens. Julieta e Ferdinando,
personagens da Suely Franco e Pedro
Paulo Rangel, eram outros idosos, que antes de irem para um asilo tomaram
banho de sol nús na varanda do prédio para não fazer feio.
Uma novela simples, reta e sem muito
subterfúgios, um folhetim clássico que enriqueceu muito a história das tramas
do horário das seis dos anos 2000 e uma reprise seria mais que bem-vinda.
Escrito nas Estrelas (2010)
Elizabeth Jhin falou de espiritualismo, reprodução humana e questões éticas
associadas aos avanços da ciência genética ,
e fez de Escrito nas Estrelas uma novela com poucos tropeços e um saldo
positivo, sem a obrigação de ser
didática transformou a trama espírita em
bom folhetim com personagens marcantes e tramas que prendiam ao telespectador.
A Novidade de Escrito nas Estrelas era a geração do filho de um homem morto, um dos
principais temas da trama, algo ainda não previsto na legislação brasileira, e
que a autora e a Globo explicaram em seus mínimos detalhes, sem assustar ou
polemizar junto ao público.
No elenco destaque absoluto para Nathália Dill, que em seu terceiro
trabalho na tv, mostrou muito segurança à frente da mocinha sofredora, mas que
em nenhum momento deu uma ar piegas à
interpretação, mostrando o preparo,
principalmente se compararmos a Viviane/Vitória com sua protagonista anterior,
a Santinha de Paraíso
(2009).
Alexandre
Nero, ainda como coadjuvante, brilhou como o vilão cômico, irritadinho e
impaciente. Seu lado cafajeste com as mulheres que conquistou durante a trama
me preocupou, mas foi tão dentro do perfil de vilão que passou tranquilamente.
Humberto Martins inovou ao apresentar um personagem mais contido e sereno, bem
diferente dos descamisados do Lombardi que marcaram sua carreira.
Jayme
Matarazzo, filho do diretor Jayme
Monjardim, estreou em novelas na trama. Antes ele havia interpretado o próprio pai, na minissérie Maysa - Quando Fala o Coração
(2009), no início do ano.
O Humor decolou com a química da dupla Zezé Polessa e Débora Falabella, mãe e
filha, na trama, que mesmo em tons bem acima, condiziam com a proposta do
enredo.
Escrito nas Estrelas foi ao ar em um ano
em que o tema da vida após a morte estava em alta, tanto nos telões quanto na Tv, com o filme que virou série na Globo,
Chico
Xavier e o seriado A Cura (2009).
Ti Ti Ti (2010)
O Remake de Ti Ti Ti, escrita por Maria Adelaide Amaral, juntou a
história de dois clássicos do autor Cassiano
Gabus Mendes – A versão original de Ti Ti Ti, de 1985 e Plumas e Paetês (1980), é sem dúvidas uma das melhores tramas
escritas para o horário das sete dos anos 2000. Também inexplicável sua NÃO
reprise ainda.
A versão conquistou o público com trama
ágil e mesmo em se tratando de um remake,
um texto totalmente atual. A Metalinguagem
esteve presente, e as referências a outros trabalhos da autora e Cassiano Gabus Mendes deu um charme a
mais a história.
A trama de Marcela e Edgar, personagens
vividos pela Ísis Valverde e Caio Castro,
tirada de Plumas
e Paetês, teve grande
destaque no remake e o público se apaixonou de cara pelo casal.
No elenco destaques para Cláudia Raia, com a espetacular
Jacqueline; Alexandre Borges e Murilo Benício que imortalizaram uma nova versão de Jacques L´clair e Victor
Valentin; e Caio Castro (Edgar), Guilhermina Guinle (Luísa), Maria
Helena Chira (Camila), Mayana Neiva
(Desirée), Giulia Gam (Bruna), Rodrigo Lopez (Chico), Juliana Alves (Clotilde), Thaila Ayala (Amanda), Sophie Charlotte (Stéphany), Fernanda Souza (Thaísa), Clara Tiezzi (Mabi), Maria Célia Camargo (Dona Mocinha).
Cordel Encantado (2011)
Misturando
contos de fadas e as lendas heroicas do sertão brasileiro, Thelma Guedes e Duca Rachid apresentaram Cordel Encantado, uma das melhores
novelas da dupla, apresentada originalmente em 2011.
Cordel encantado foi a primeira novela a usar a técnica de gravação em
24 quadros, por isso as belas imagens de cinema apresentadas ao público na
trama.
Protagonizada por Cauã
Reymond, Bianca Bin, o saudoso Domingos
Montagner , Bruno Gagliasso e grande elenco,
apresentava uma nova narrativa que tinha
como pano de fundo uma nova versão de clássicos como Bela Adormecida, Cinderela,
Rapunzel e Branca de Neve, além do nosso
velho conhecido gangaceiro, matador e
homem-gentil ao mesmo tempo.
Sangue Bom (2013)
Primeira novela totalmente autoral da Maria Adelaide Amaral, mestre dos remakes
e minisséries adaptadas, Sangue Bom, completou 5 anos de estreia no mês
passado, e é a última que entra nessa minha lista de 10, que tal qual Belíssima (2005), merece uma reprise no Vale a Pena Ver de Novo.
Sangue Bom explorava como pano de fundo a
valorização excessiva da aparência, a febre pelo consumo e o desejo de fama à
qualquer custo.
A trama foi a prova dos nove da
autora, que saia da sua zona de conforto, os remakes e adaptações, e dava a
cara a tapa. O Risco valeu muito a pena. Através de um texto irônico e
divertido, Sangue Bom abordou de forma inteligente a busca pela fama à qualquer custo, sem
mérito e com o mínimo de esforço possível, uma explícita crítica ao mundo das
(sub) celebridades. A novela conquistou o grande público logo em
seus primeiros capítulos, e Maria Adelaide Amaral havia
passado no teste.
A novela apostou em seis protagonistas jovens e com poucos trabalhos na
tv que, bem entrosados, com o texto bem amarrado e direção firme,
fizeram a trama fluir de uma maneira espetacular , consagrando o sexteto para o seleto time de grandes astros da
casting da Globo – Fernanda Vasconcellos, Marco Pigossi, Isabelle Drumond, Jayme Matarazzo, e destaque para os vilões complexos da trama, vividos magistralmente pela Sophie Charlotte e Humberto
Carrão.
Assim como em uma pirâmide, o núcleo
jovem tinha um time de peso de coadjuvante para seu alicerce. Neste campo
brilharam, Giulia Gam,
como a tresloucada e atriz fracassada Bárbara Ellen; Malu Mader, inacreditavelmente
vivendo uma personagem popularesca, a ex-prostituta Rosemare; MarisaOrth,
fazendo uma espécie de remake da Nicinha de Rainha da Sucata,
com sua Damaris e Gladis; e Letícia
Sabatella que com sua personagem ficou responsável pela
parte dramática da trama, com Verônica e sua outra fase, a cantora de boate
Palmira Valente. Todas atrizes veteranas que fizeram de suas
personagens em Sangue Bomum diferencial para seus currículos.
Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari levaram a trama de forma tão linear, que
mesmo com um elenco numeroso, nenhum ator ou personagem foi esquecido, cada um
sempre com falas e entrechos importantes.
Sangue Bom não levantou bandeiras do homossexualismo, porém abordou o tema da forma
mais natural possível, mostrando a diversidade da sua forma mais simples , com
direito inclusive a um personagem travesti, a Mulher Pau-de-Jacu, vivida pelo
ator Luis André Alvim e a descoberta do homossexualismo
do personagem Filipinho, do Josafá Filho, o famosinho da Casa Verde.
Maria Adelaide Amaral e Vicent Villari mostraram com maestria o
que a mídia é capaz de fazer, levantando ou derrubando uma pessoa
com facilidade e rapidez. Isso através
de um folhetim interessante
com uma direção, elenco e produção impecáveis.
Fonte:
Texto : Evaldiano de
Sousa
Cordel Encantado agora tá sendo exibida no vale a pena ver de novo desde 14 de janeiro de 2019, substituindo Belíssima.
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