A Garota da Moto (SBT)
– Sob Pressão (Globo) – Filhos
da Pátria (Globo) – Carcereiros (Globo) –
Cine Holliúdy (Globo) – Segunda
Chamada (Globo)
        No 
campo das séries e seriados  2019
foi um dos melhores, Sob Pressão  apresentou 
sua terceira  temporada  aclamada pela crítica e audiência, assim como
Filhos da Pátria
e Carcereiros que se firmaram em suas segundas temporadas  e A Garota da Moto no
SBT , um suspiro adulto de
teledramaturgia no canal sempre com o foco na teledramaturgia infantil. 
        As novidades  do ano também foram muito bem aceitas. Cine Holliúdy,
baseado no filme homônimo que se transformou em referência do cinema cearense
e  Segunda Chamada,  uma espécie de Sob Pressão da
educação pública trouxe para tela da tv a 
dura realidade que alunos e professores dessa camada passam dia a dia. 
        Num ano em que as novelas ficaram
devendo muito em qualidade, as séries e seriados esbanjaram neste quesito. 
        Sob Pressão em sua
terceira temporada,  além da sua essência,
 apresentou uma temporada ainda mais
preocupada em acertar  na parte social e
utilidade pública. Filhos da Pátria, mudou de época mais não perdeu a
graça e nem a crítica ácida ao mostrar que o jeitinho brasileiro pode levar o
Brasil para um lugar ainda mais perigoso. Carcereiros continuou
firme em sua trajetória mostrando os dramas e dilemas do sistema carcerário,
porém com uma temporada mais folhetinesca do que jornalística.  Fechando a 
trinca crítica brasileira, depois da saúde e o sistema carcerário, Segunda Chamada trouxe sem nenhuma pincelada a realidade da  educação pública atual. 
        Depois de um hiato de quase 3 anos, a série A Garota da Moto, 
criada por  David França Mendes e João
Daniel Tikhomiroff,  voltou à grade
do SBT em 2019.
        Com
personagens bem definidos, ou seja o maniqueísmo se tornou ainda mais forte
dentro história – O mal é mal e o bem é o bem - a série se aproxima bem mais
de  uma novela do que uma série propriamente dita. Podemos dizer
que A Garota da Moto é a novela adulta nacional do SBT.
        Com
um misto de ação, mistério, vilanias e até um escapismo do humor, a série que
foi  bem recebida em 2016  em sua primeira temporada,
exatamente pela diferença com o restante da teledramaturgia do canal,
apresentou  um bom desempenho nessa
segunda temporada, embora  tenha ficado
nítido que a qualidade  de produção ficou
 um degrau abaixo da temporada  de  3
anos atrás.
        Essa
segunda temporada se calçou  muito na boa atuação de seu
elenco. Chris Ubach, assim como na estreia mostrou que está segura
na pele da correta protagonista Joana – forte e crível,   a
atriz é uma das boas  da sua geração e certamente
futuramente  teremos muito o que elogiar dessa profissional em
ascensão. Daniela Escobar dá credibilidade a sua vilã, que
mesmo num tom acima, seu talento controla certos exageros do texto e do perfil
da personagem.
        Série com essência de folhetim, A Garota da Moto,
parceria do SBT com a produtora Mixer, dada às
devidas proporções,  é uma boa opção adulta  dentro da
teledramaturgia do SBT. 
        Criada por Luz Noronha, Cláudio Torres e
Renato Fagundes, a partir da ideia original de Mini Kerti inspirada
no livro “Sob
Pressão – A Rotina de Guerra de um Médico Brasileiro”, do Márcio Maranhão  com
redação final do Jorge Furtado, a série  é o melhor produto
dos últimos anos no campo da teledramaturgia da Globo. 
        É
nítido que Sob Pressão tem muito fôlego e entrechos dos mais
variados para no mínimo mais duas temporadas, se fosse apresentada lá fora,
certamente ficaria no mínimo umas 10 no ar. A junção história com entrechos
social, direção cirúrgica e um elenco primoroso transformaram a série é uma
compilado de grandes momentos  que entraram para a história da Tv, um
divisor de águas.
Nesta temporada, Sob Pressão apresentou
uma sequência de dois episódios que,   certamente ficaram para a
história da série.  O episódio  foi totalmente rodado em três longos
planos-sequência, com dois únicos cortes  -apenas para a abertura e
intervalo comercial.
        O
Episódio que foi dirigido por Júlio Andrade, o Evandro, ao
contrário do que acontece em produções internacionais, não criou nenhum
artifício para enganar o telespectador  para manter a sequência, foi
bolada  uma coreografia milimetricamente coordenada entre elenco e
câmera para que o resultado fosse o melhor, e como vimos , foi bem mais que o
melhor.
Se para nós ,  como telespectador é um
orgulho assistir uma produção nacional deste nível,  imagino para os
autores, elenco e direção, o prazer que deve dar está envolvido num projeto tão
rico.
Marjorie Estiano na pele da Carolina foi a grande estrela da temporada. Que atriz ímpar e visceral , que entrega cênica, sem dúvidas sua melhor personagem, e se ainda faltava uma credencial para que ela entrasse com pé direito no hall das grandes atrizes do mundo, a Carolina é esse passaporte. Uma pena que o Emmy não veio, mas em nada altera o impecável trabalho da atriz e a importância da personagem.
Drica Mores foi o reforço do elenco principal desta temporada, também
impecável e visceral como a infectologista Vera. 
Com uma  temporada ainda mais
preocupada em acertar  na parte social e
utilidade pública, Sob Pressão é
mágica,  apresentou  com doses milimetricamente acertadas o tom
folhetinesco  do entretenimento com essa
preocupação em panfletar paro  o grande
público os problemas e feridas da nossa saúde pública. Um tapa na cara da
administração pública. 
A Série
que  teve anunciada como última essa
terceira temporada já está confirmadíssima para a quarta em meados de 2021.
Melhor notícia do ano. 
        A série que
mostrou uma primeira temporada mais documental  tendo como único foco
os problemas carcerários do Brasil, resolveu sair do epicentro e mostrar o lado
mais humano do seu protagonista e dos  personagens ao seu redor.
        Rodrigo Lombardi novamente fez
jus ao protagonismo e foi espetacular a frente do Adriano. Que personagem
crível, bem construído, e nesta temporada suas outras nuances como as fraquezas
e as dúvidas éticas depois do  envolvimento com a detenta Érica, num
trabalho  também primoroso da Letícia Sabatella.   Descaracterizou
o herói construído na primeira temporada, mostrando que ele é humano,
portanto  passível de erros.
        Mas não só o
Adriano mostrou novas nuances e cresceu na série. Vale destacar o ótimo
entrecho do casal Tibério e Solange, vividos pelo Othon Bastos e Samantha
Schmutz, outros que mostraram desvio de seus
caracteres, e Lívia, filha do Adriano, um ótimo momento da já  não
mais mirim atriz Giovana Ríspoli, e sua via cruzes em busca da mãe.
Aliás, a cena final do reencontro de mãe e filha foi pura emoção.  
        Mas claro que não
faltou o documental, o diferencial da produção, que tal qual a primeira
temporada falou sobre  corrupção, seja no sistema político ou no
policial nas mais variadas ramificações que isso se reflete como problema
social nos presídios.
         A Segunda temporada mostrou que Carcereiros pode fazer sua ação social chamando foco para o precário
sistema carcerário brasileiro ,  mas também investir no folhetim com
personagens complexos e interessantes que dão fôlego a
produção  do Fernando Bonassi, Marçal Aquino e Denisson
Ramalho e a credenciaram  para uma próxima leva de episódios
fechando  o ano com um filme em todas as
salas de cinema. 
          Cine Holliúdy,
a série baseada no filme homônimo do diretor Halder Gomes, sucesso
de bilheteria em 2013  manteVE  o melhor do filme -  a essência do
típico humor nordestino.
        Estrelada
por Edmilson Filho, astro do filme, e um das revelações do humor
aqui no Ceará, a série lembra muito outro clássico do gênero O Auto da Compadecida , do Guel Arraes e João
Falcão, que comemorou 20 anos neste mês. 
        Com
narrativa e prosódia toda particular  e regional,  as
expressões são um deleite para os nordestinos vendo nosso vocabulário sendo
pronunciado para o mundo.
        O
Elenco é um show à parte – Edmilson Filho, dispensa apresentações
na pele do Francisglaydson, e não ficou devendo em nada para o personagem dos
dois filmes. Haroldo Guimarães, o Munízio, fiel escudeiro de
Francis, é outro destaque do elenco, com um tempo perfeito para humor
cearense. 
        Matheus Nachtergaelle (o prefeito Oleário)  e Heloísa
Perissé  (a primeira-dama Maria do Socorro) são os astros do
humor nacional inseridos na série para dar uma “cosmopolizada” na produção.
        A Série é uma mistura de show, poesia,
humor e regionalidade que só enriquecem a dramaturgia nacional,  e a
temática da luta do cinema para sobreviver com a chegada da televisão nas
cidades do interior no início dos anos 70  é uma grande homenagem
mútua as duas artes.
Uma pena mesmo que o excesso de séries exibidas
nesses  seis primeiros   meses
de 2019  e  a competição como dois nomes fortes (Sob Pressão e Carcereiros) somada a pouca  divulgação da Globo ,
tenha  enfraquecido  a audiência da séroie.  
PS: A série tem um gostinho ainda mais delicioso para
mim. Os dois filmes foram gravadas em Pacatuba no Ceará, minha cidade natal, e
a série apesar de  ter sido gravada em uma cidade do interior de São
Paulo, lembra muito a cidade do filme.
        Filhos da
Pátria, minissérie do Bruno
Mazzeo  e Alexandre Machado, apresentou  sua segunda temporada este ano e,  transportada para era Vargas, a minissérie não
poderia ser tão atual, infelizmente!
        Algumas das
expressões usadas logo nas primeiras cenas por Maria Thereza, a protagonista
vivida pela Fernanda Torres, cabem como uma luva nos dias de hoje:
“Acabou
a Mamata”
“Esse
é uma país que vai pra frente”
“Mas
pode tirar um presidente assim, só porque o povo quer? Adorei isso”
“Meninas
vestem rosa, meninos vestem azul”
        É
para gargalhar mesmo! 
            O Humor perito e preciso
de Filhos da Pátria é  o seu melhor.
Com texto inteligente e um elenco em sintonia perfeita.  A narrativa inédita  me agradou, a
família Bulhosa simplesmente se teletransportou  do Brasil
pós-independência (época retratada na primeira temporada)  para a era
Vargas nos anos 30, o que deu  um fôlego bem mais interessante a
produção.
        O elenco é outro
primor. Fernanda Torres e Alexandre Nero perfeitos. Jonny Massaro e
Lara Tremouroux   mostraram um 
Geraldinho e Catarina  ainda mais
interessantes. E a Jéssica Ellen   com uma Júcelia
ainda mais realista e pontual  é a cereja do bolo  e uma
das boas revelações da minissérie.
        Com fôlego para
mais outras temporadas, a Globo pode
comemorar que Filhos da Pátria – Era Vargas -   é  uma importante
produção de crítica com humor a nossa vergonhosa política. E Se depender do
nosso cenário político temos pano para várias outras temporadas
–  Estado Novo , Golpe Militar, Color,
Lula,  Bolsonaro  e nossa eterna esperança de que dessa vez
o Brasil vai!
        Apelidada de “Sob Pressão”  do
ensino, a série Segunda Chamada coprodução da Globo e
da 02 Filmes, escrita por Carla Faour e Julia Spadaccini com
direção geral e artística de Joana Jabace,  já
estreou  impactando o telespectador  com a dura realidade
do ensino público brasileiro em destaque para o noturno com os alunos em uma
zona de risco extremada.
        Com uma abordagem agressiva, mas perita,  o primeiro episódio
apresentou sistematicamente todos os alunos e seus dramas – o motoboy cansado de
trabalhar (Felipe Simas), a mãe solteira (Carol Duarte), a travesti
marginalizada (Linn da Quebrada), o garoto de programa, enfim várias camadas da
sociedade que terão seus problemas explanados  entre uma aula e
outra.  Os professores são
outro show à parte. Também com dramas particulares, são o “grito de basta” do
pouco caso com a educação no Brasil.  
        O
elenco afiado mostrou que  é um dos
ingredientes que fizeram   Segunda Chamada valer a pena. Déborah Bloch magistral fazendo drama. Sempre fico impressionado  como a atriz
consegue passear pelo humor e o drama de forma impecável. Nesse campo Thalita Carauta, imortalizada  com personagens
cômicos, com a Janete do Zorra Total,
é outro destaque, com o drama da professora Eliete.  Uma das novidades
da produção é o retorno de Paulo Gorgulho à Globo depois de anos na RecordTv. 
 Linn da Quebrada,  a cantora,
compositora e ativista dos direitos civis da comunidade LGBT e da população
negra, que vive a transexual Natasha,   estreou  na série como atriz  - foi a revelação da produção com um trabalho
impecável . 
    Segunda Chamada fechou o ano já  com
uma segunda temporada garantida, o que prova a importância do tema ser
discutido assim em tv aberta sem filtros ou maquiagem.
Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa 








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