A RecordTv
que revitalizou seu núcleo de teledramaturgia nos anos 2000, viu na década
passada uma oscilação – começou bem com títulos como Ribeirão do Tempo (2010) e Vidas em Jogo (2011),
mas perdeu público com Máscaras (2012) e Balacobaco (2012).
Mas o grande bum da emissora mesmo foi Os Dez Mandamentos (2015), trama bíblica que catalisou um grande público
e chegou até ofuscar algumas tramas da Globo. Uma pena que a emissora terminou
a década com o público cansado das tramas bíblicas que jorraram (inéditas ou reprises), mas ao mesmo tempo acenando com o estilo ágil e contemporâneo, que agradou o público no finalzinho da década com Topíssima (2019) e Amor sem Igual.
A Década começa como uma viagem à cidade
de Ribeirão do Tempo, novela do autor Marcílio Moraes no ar pela Record em 2010, foi uma daquelas novelas
que me pegou pelo coração. Era muito gostoso acompanhar a trama e a vida
“nada pacata” dos pacatos moradores da cidade interiorana. A trama por muitas
vezes me lembrou a clássica Roque
Santeiro (1985), que inclusive o Marcilio Moraes colaborou junto com os autores Dias Gomes e Aguinaldo Silva. Essa semelhança se acentua principalmente nas críticas políticas
sociais que a novela mostrava, usando Ribeirão do Tempo como uma espécie de
microcosmo do Brasil, tal qual Asa Branca, cidade fictícia de Roque
Santeiro.
Ribeirão
do Tempo foi a novela mais longa da emissora até então. Ficou
quase um ano no ar de 18 de Maio de 2010 a 02 de Maio de 2011 totalizando 250
capítulos. Segurar esses 250 capítulos sem “barriga” foi uma tarefa difícil
tanto que a novela teve várias reviravoltas e participações especiais, além de
oito assassinatos, três casamentos, um avião sabotado, bomba na
prefeitura e um atentado a tiro contra um dos protagonistas, o
Joca (Caio Junqueira).
Em 2011, a RecordTv produziu
sua segunda parceria com a Televisa trazendo para a nossa
teledramaturgia a “Rebeldemania”.
Rebelde foi escrita pela Margareth
Boury baseada no original argentina de Cris Morena,
mas tendo como maior referência a versão apresentada pela Televisa ,
que aqui foi veiculada no SBT entre os anos de 2006 e 2007,
escrita por Pedro Damián. Tal
qual a versão do SBT a primeira temporada foi sucesso absoluto
e consagrou seus astros quase estreantes que viveram os 6 protagonistas: Sophia
Abrão, Artur Aguiar, Lua Blanco, Chay Suede, Melanie Franckowiak e Micael
Borges.
Em 2011, Vidas em Jogo se transformou em um
dos maiores sucessos da RecordTv até então, ficando quase um
ano no ar sem perder seu fôlego. A autora soube dosar a trama com
reviravoltas que prenderam o público a
cada novo assassinato e apresentou um final surpreendente e totalmente
coerente.
Destaque para os assassinatos do serial killer da
história, conhecido como o Palhaço, e os dramas dos personagens Andreia (Simone
Spoladore), que contraiu o vírus HIV após ter sido estuprada pelo vilão Cleber
(Sandro Pedroso); Augusta (Denise Del Vecchio), que se revelou uma transexual;
e Wellington (Rick Tavares), um jovem jogador de futebol viciado em crack.
Beth Goulart brilhou no papel da vilã Regina, a melhor interpretação da trama. O destaque do último capítulo – além da revelação de que o Palhaço serial killer era uma farsa – foi a homenagem à atriz Betty Lago, no discurso de sua personagem (Marizete), por causa de sua doença – Betty foi diagnosticada com câncer, durante um procedimento cirúrgico para retirada da vesícula, em março de 2012, quando a novela estava na reta final. A atriz submeteu-se a um tratamento quimioterápico e não precisou se afastar da trama. Betty faleceu em 13 de setembro de 2015, depois de ter atuado em mais uma novela, Pecado Mortal, em 2013.
Beth Goulart brilhou no papel da vilã Regina, a melhor interpretação da trama. O destaque do último capítulo – além da revelação de que o Palhaço serial killer era uma farsa – foi a homenagem à atriz Betty Lago, no discurso de sua personagem (Marizete), por causa de sua doença – Betty foi diagnosticada com câncer, durante um procedimento cirúrgico para retirada da vesícula, em março de 2012, quando a novela estava na reta final. A atriz submeteu-se a um tratamento quimioterápico e não precisou se afastar da trama. Betty faleceu em 13 de setembro de 2015, depois de ter atuado em mais uma novela, Pecado Mortal, em 2013.
Problemática
atração da Record, Máscaras (2012) já começou com o pé esquerdo. Algumas declarações de
Lauro César Muniz (o autor), antes
da estreia, soaram mal para o público. Máscaras entrou
no ar com a fama de não ser uma novela popular – Lauro havia criticado a
tendência das novelas da Globo em
mirar “a tal nova classe C”. A estreia causou grande estranhamento: uma direção
equivocada e um texto por demais confuso afastaram o telespectador. A RecordTv, viu seu Ibope cair
vertiginosamente, o que acabou por deflagrar a pior crise no setor de
Teledramaturgia da emissora desde que foi renovado, em 2004.
Balacobaco (2012) novela da autora Gisele
Joras, entrou com a responsabilidade de levantar a
audiência derrubada pela novela Máscaras sua antecessora do autor Lauro
César Muniz . A Trama
conseguiu o esperado , e inclusive deixou a RecordTv na
vice liderança.
Balacobaco foi
lançada com uma novela extremamente popular pegando carona no sucesso de Avenida Brasil (2012)
da Globo e tentando fugir totalmente do estilo de Máscaras, e foi exatamente isso que foi mostrado.
Em Balacobaco vale destacar as atuações de Ana Roberta Gualda que
viveu a Dóris, ao lado de Bárbara Borges, a
Diva , que acabaram virando as
estrelas da trama e protagonizaram cenas hilárias. As duas eram vilãs no
início , mas a empatia com o público acabou transformando-as em
vilãs cômicas. A Dupla chegou ao auge da loucura na trama se travestindo
de cantoras de rap negras para fugir da
polícia.
No núcleo dramático destaque absoluto para Bruno Ferrari que
roubou as cenas com seu vilão Norberto, apesar de alguns exageros nas últimas
semanas da trama, o ator soube dar o tom certo ao vilão , mesclando seu
mau caráter com doses de loucuras. O Final do Norberto poderia também ter sido
melhor, morrer com um tiro certeiro foi muito ‘normal” para um vilão tão
rico dramaturgicamente.
O Remake de Dona
Xepa (2013), trama reescrita
por Gustavo Reiz , adaptada da peça teatral
homônima do Pedro Bloch , que teve uma versão em 1977 na Globo pelas
mãos do Gilberto Braga e uma releitura em
1990 com o título de Lua
Cheia de Amor escrita por Ricardo
Linhares, Maria Carmem Barbosa e Ana Maria Moretzsonh , não
chegou a ser um estrondo na audiência em 2013 , mais ganhou o
público com uma história velha modernizada. Foi uma “velha novela nova”
já que o autor usou a ideia original mesclada com temas da atualidade como a especulação imobiliária , política
corrupta e a força das redes sociais .
O que dizer de Ângela Leal à
frente da protagonista? Impecável e magistral, como não poderia deixar de
ser em si tratando de uma atriz do seu quilate. A Personagem que por muitas
vezes soava chata de tão ingênua que era, tinha essa característica suplantada
pelo carisma de sua interprete na caracterização perfeita de uma
feirante. Robertha Portella , cria da edição de A
Fazenda do ano anterior , deu vida a inesquecível Dafne, a
mulher Tutti-frutti da trama. Dentro do núcleo de humor a
personagem dividiu com a Meg Pantaleão, da Luiza Tomé, os louros da
trama. Foi uma grande revelação. “Alerta, glamour , nível máximo”. Thais Fersoza vivendo a vilazinha
Rosália mais uma vez provou o porquê é uma das estrelas da casa.
Forte e ousada a novela de
estreia do Carlos Lombardi na Record terminou
sem grande sucesso de audiência mas consagrando o estilo do autor. Eu
considero a baixa audiência da trama uma total injustiça, pois Pecado Mortal (2013) pode ser considerada a melhor novela
entre as que estão no ar. O Texto do Lombardi em horário nobre pode ser ainda
mais ampliado e a trama sem dúvidas foi também a melhor do
autor. Muitos fatores que fugiram ao seu controle também ajudaram a
aumentar o desinteresse do público na trama. Desfalque no elenco, na
direção, troca de horário, o embate injusto com as novelas do
horário nobre global (Amor
à Vida e Em Família), mas mesmo assim o autor se manteve
ao texto e apesar de ter algumas histórias sacrificadas, conseguiu contar uma
trama “redondinha”.
O Elenco de Pecado Mortal foi
espetacular. Destaque especial para Paloma Duarte, sempre perfeita
vivendo mulheres poderosas e perigosas; Vitor Hugo, que
marcou a trama como o psicopata vilão Picasso; Carla Cabral ,
uma pena sua personagem ter perdido um pouco de espaço e Denise Del
Vecchio, uma espécie de Eva Wilma da RecordTv. Mesmo sem um beijo gay entre Carlão
(Fernando Pavão) e Picasso (Victor Hugo)
, o autor chocou ao fazer o grande vilão confessar sua paixão pelo
protagonista, usando de frases de efeito que até nos fizeram pensar, quem sabe,
em uma redenção para o Picasso.
Vitória (2014),
da autora Cristianne
Fridmann, terminou sem muito alarde e mais uma vez com pouquíssima
audiência, mesmo tentando se aproveitar da baixa audiência também
de Em Família, novela Global concorrente no horário, como aconteceu com
as suas antecessoras Pecado Mortal e Dona Xepa em 2013 e 2014.
Mais independente da audiência, Vitória tinha uma trama que se apresentada em um bom
horário e em uma emissora com público consolidado seria sucesso tal quais
grandes novelões da nossa teledramaturgia. A trama se destacou pelo protagonista vivido pelo ator Bruno
Ferrari, um paraplégico com um caráter dúbio no início e que
mostrava um relacionamento incestuoso, mesmo que por vingança e sabendo que não
eram irmãos, com a protagonista Diana, vivida pela atriz Thais Melchior.
O Núcleo nazista, embora em alguns momentos tenha exagerados nas cenas de
violência, rendeu outros bons momentos à trama com destaque para a atriz Juliana
Silveira, impecável na pele da vilã Priscila.
Em 2015, a RecordTv viu sua trama bíblica Os Dez Mandamentos se transformar em fenômeno, alavancando a baixa audiência de Vitória,
e ofuscando os alicerces de duas tramas globais – A Regra do Jogo e Babilônia –
abaladas pela 10 pragas do Egito. A primeira novela bíblica marcou bons índices de audiência e conquistou
um público cativo. Claro
que Os Dez Mandamentos não se transformou em um dos maiores
sucesso da teledramaturgia da RecordTv e destaque
do ano apenas pelo show de pirotecnia das 10 pragas , mas seu elenco mesclado com atores de
renome e outros menos experientes fizeram em muitos momentos
a trama fluir e emocionaram o telespectador.
Livre adaptação dos
livros do Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio, a novela narrou a saga
bíblica protagonizada por Moisés (Guilherme Winter), atravessando passagens
conhecidas, como o nascimento do profeta, as pragas lançadas sobre o Egito, a
fuga pelo Mar Vermelho, o encontro de Moisés com Deus no Monte Sinai e a
revelação dos mandamentos. Os Dez Mandamentos chamou a atenção até
mesmo de quem era alheio a temas bíblicos, curioso com os efeitos especiais que
a RecordTv mandou fazer nos Estados
Unidos, tanto para as pragas do Egito quanto para a travessia do Mar Vermelho –
a maioria, bons e eficientes. A novela que inicialmente seria uma minissérie em
30 capítulos, foi transformada em novela, estendida para 2 temporadas fechando um total
de 242 capítulos aplaudidos pela crítica e pelo público.
Escrava Mãe (2016), novela do autor Gustavo Reiz,
terminou como uma das tramas mais estáveis apresentadas pela RecordTv.
Mesmo já apresentada totalmente gravada, a novela não teve barrigas, manteve o ritmo, conquistou um
público cativo, teve pouquíssimas falhas, e é sem dúvidas um dos grandes
acertos da emissora em 2016.
A Terra Prometida (2016) que mostrou a saga de Josué (Sidney Sampaio) na
caminhada rumo essa terra que Deus lhes prometeu provou de uma vez por todas o sucesso das
tramas bíblicas. Passado o fenômeno de Os Dez Mandamentos (2015) e Os Dez
Mandamentos Segunda Temporada (2016) , A Terra
Prometida era a trama que tinha o intuito de firmar esse
estilo no Brasil, e o autor Renato Modesto soube leva-la com
uma precisão incrível mesclando o tema bíblico com grandes romances e o
maniqueísmo tradicional.
O Rico e Lázaro (2017) , trama da autora Paula Richard,
ficou marcada por uma das menores audiência da trilogia
apresentada pela emissora iniciada com Os Dez Mandamentos ( 2015) e A
Terra Prometida (2016).
Porém independente dessa audiência, afinal de contas Os Dez Mandamentos foi o fenômeno do ano de 2015 e A Terra Prometida era sua continuação, faltou
para O Rico e Lázaro o clima
folhetinesco que mesclado ao tema bíblico foi o diferencial das tramas
anteriores. Começava naquele momento o desgaste do gênero na emissora.
A
Trama medieval de Belaventura (2017), do autor Gustavo Reiz, que iniciou
com uma novidade, afinal de contas há
tempos a RecordTv e nenhuma das outras emissoras investiam em
tramas medievais, e essa temática era
moda no mundo a fora por causa da série Games Of Thrones, prometia ser bem recebida aqui no Brasil. Não à toa que
a Globo no início de 2018 também investiu no tema com a trama de Deus Salve o Rei, do Daniel Adjafre.
Infelizmente Belaventura terminou minguando na audiência e praticamente sem
repercussão alguma. Uma pena para uma trama que mostrou uma produção tão
primorosa e uma vontade do autor, elenco e direção de fazer dar certo. A falta
de planejamento da RecordTv em divulgar e estrear suas tramas pode ter
prejudicado em muito a audiência da novela. Belaventura estreou no período de férias,
coincidiu com o desentendimento da RecorTv com as operadoras de Tv, a reprise
recente (que também fracassou) de Os Dez
Mandamentos e a estreia de Apocalipse que também vem amargando baixa audiência e
aceitação, foram fatores importantes para esse desinteresse pela trama.
Apocalipse (2017), escrita pela autora Vivian de Oliveira, foi a pá de cal que
faltava no gênero bíblico que a emissora passou a investir pesado depois do
fenômeno de Os Dez Mandamentos. Infelizmente a proposta inovadora de mostrar
o Apocalipse segundo a
Bíblia, nos dias atuais, o que daria um fôlego na fotografia de novelas
bíblicas que a emissora vinha apresentando, acabou se escoando em suas
primeiras cenas. O viés doutrinador, tendo a igreja católica metaforicamente
mostrada como a não “Verdadeira Fé” procurada na história, o texto alterado, além de atuações fake , em
destaque para o protagonista vivido pelo Sérgio Marone, o anticristo Ricardo, transformaram a novela na pior
já apresentada pela emissora desde Metamorphoses (2004).
Uma pena que tal qual acontecera com Apocalipse, a trama
antecessora, Jesus (2018) foi deixada de lado
pela audiência logo na sua
primeira fase quando Maria, a mãe de Jesus que foi concebida
sem pecados, na trama vivida pelas atrizes Juliana Xavier e Claudia Mauro em fases diferentes, foi mostrada como uma mulher que amava,
que teve uma vida ao lado do marido e inclusive outros filhos. A Igreja boicotou a trama
com direito à discursos
inflamados de padres para as suas ovelhas.
Mas a autora não se amedrontou, e como
já havia anunciado nas entrevistas de estreia da trama, seguiu a linha de
humanização da história que foi além da doutrinação ou da entrega de Jesus para
salvar o mundo simplesmente. Curiosamente, Jesus foi
sucesso absoluto no Estados Unidos.
Claro que estou falando da audiência latina do país.
Com o gênero bíblico saturado em exaustão
Jezabel (2019) literalmente passou em branco. Nem a protagonista vilã, um diferencial
dentro das tramas bíblicas da RecordTv, foi capaz de
salvar a trama da Cristianne Fridmann.
No finalzinho
da década a emissora voltou a
apostar em tramas comtemporâneas longe do tema bíblico, e viu Topíssima e Amor
sem Igual, ambas da Christiane Fridmann, recuperar um boa
faixa do público que tinha migrado
fugindo das tramas bíblicas.
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
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