O Horário das seis nesta última década ganhou ainda mais força. Aquela sensação
de que era um horário secundário e que a Globo
não tinha muita preocupação em ganhar
audiência e público ficou no passado de vez. Os anos de 2010 ficaram marcados pela opinião do telespectador que cada
vez mais cobrava novelas com conteúdo no horário, com histórias
críveis, mensagens positivas e cunho social, isso tudo claro sem perder sua
essência folhetinesca.
Por outro lado a Globo investiu pesado em produções
impecáveis, curiosamente o horário foi o
que mais apresentou tramas que se preocuparam
com requinte e detalhes para
apresentar para o telespectador o que de
melhor a emissora poderia fazer. Não há toa que duas produções da década foram
agraciadas como o Emmy Internacional
de Melhor novela – Lado a Lado (2012)
e Joia Rara (2013).
A década iniciou com Elizabeth Jhin na trama de Escrito nas Estrelas (2010) com
poucos tropeços e um saldo positivo, a trama espírita emocionou o público do
horário e manteve uma audiência cativa e satisfatória para a emissora. A novela
questionou os limites entre o plano físico e o espiritual, e apresentou os
avanços da ciência genética em seus aspectos médicos e éticos, por meio de uma história
de amor. O maior trunfo da autora foi
contar uma boa história sem a pretensão de ser didática. O Espiritismo apareceu
apenas como pano de fundo, gerando assim várias possibilidades dramatúrgicas.
Mesclando drama e humor, o que se viu foi uma novela movimentada numa produção
bem cuidada, com direção segura (equipe de Rogério
Gomes) e elenco de primeira.
Araguaia (2010), do WaltherNegrão veio em seguida. Várias peculiaridades
do irmão menos conhecido do Amazonas e São
Francisco foram exploradas na novela, como o ecoturismo, a cultura indígena, a imponência
dos cavalos e a magia do circo. A
história tinha fortes indícios de duas outras obras do autor: as novelas Cavalo de Aço (Globo, 1973)
e Ovelha Negra (Tupi, 1975). Em Cavalo de Aço, tal
qual o protagonista Solano (Murilo Rosa) de Araguaia, um
forasteiro (Rodrigo, personagem de Tarcísio
Meira) chega a uma pequena cidade e se envolve amorosamente com a filha do
manda-chuva da região, o vilão – que por sua vez também se chamava Max
(Ziembinski em Cavalo de Aço, Lima Duarte
em Araguaia). Em Ovelha Negra, tal qual Solano novamente, um homem (Júlio, personagem
de Rolando Boldrin) luta contra as
injustiças sociais e levanta um povoado para dar melhores condições de vida ao
povo.
Cordel Encantado, da
Thema Guedes e Duca Rachid , entrou no horário em 2011 e o Brasil se apaixonou
pela fábula com pitadas de lendas nordestina apresentada com maestria por um
elenco ímpar e um direção cirúrgica. Uma
super-produção com estética cinematográfica. Foi a primeira novela gravada em 24
quadros, tecnologia na qual a câmera tira 24 fotos por segundo, como nas
filmagens de cinema – em geral as novelas são gravadas a 30 quadros por
segundo. Cordel Encantado citou de Guimarães
Rosa e Graciliano Ramos a Jorge
Amado, João Cabral de Melo Neto
e Ariano Suassuna. Nossos autores se
encontraram com os contos de fadas (de Christian
Andersen a Irmãos Grimm) e os “tesouros da juventude”, como “Os Três Mosqueteiros” e “O Homem da Máscara
de Ferro”. A Novela foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo no início do ano e curiosamente não despertou
o grande interesse do público.
Em
2011, A Vida da Gente marcou a estreia da autora que mostrou muita
competência em sua primeira novela solo. Com texto realista e dramacidade
ao extremo, Lícia Manzo mostrou um
panorama psicológico de personagens que encantaram o grande público. A Autora
deu ênfase às personagens femininas que foram o grande destaque da sua trama com atrizes como Marjorie Estiano,
Fernanda Vasconcellos, Ana Beatriz Nogueira e Nicete Bruno dando um show de interpretação do texto. A novela
primava por sequências longas de
diálogos entre os personagens, algo que a teledramaturgia não usava mais, e
isso engrandecia cada capítulo de A Vida da Gente. Uma das
cenas mais marcantes é o acerto de contas entre Manu (Marjorie Estiano) e Ana
(Fernanda Vasconcellos). Um descarrego de sentimentos entre as duas irmãs que
tiveram suas vidas entrelaçadas pelo destino.
Elizabeth
Jhin voltou ao horário das seis em 2012, só que desta vez pesou na mão no
tema espírita em detrimento ao folhetim em Amor Eterno Amor.
Com uma trama lenta
e arrastada, a autora levou a metade da duração da novela para apresentar a
antagonista no amor entre os mocinhos Rodrigo e Míriam (Gabriel Braga Nunes e Letícia
Persiles). Entretanto, a chegada de Elisa/Amparo (Mayana Neiva) não significou que a novela tivesse ganhado
agilidade. A autora só apressou sua história no último mês de exibição. Não
apenas a trama principal, mas a novela como um todo: os meses que antecederam
foram passando e as tramas paralelas patinaram junto com a história central. CássiaKiss foi o maior destaque no elenco de Amor Eterno Amor, como a pérfida
vilã Melissa. A caracterização da personagem chamou a atenção. A inspiração
para o figurino veio das editoras de famosas revistas de moda internacionais, e
iam do clássico às estampas de oncinha, com cintos, bolsas de grife, sapatos
plataforma, perucas e óculos chamativos. Também maquiagem pesada, sombra
marcando os olhos e batom e esmalte em cores fortes. Mas Melissa não caía no
estereótipo da “perua”. Apesar de exagerada, a vilã era sofisticada e estilosa.
A atriz trouxe de uma viagem à Londres a caneca ensanguentada com a qual
aparecia quase diariamente em cena. Para complementar o visual, o celular
chamativo que ela usava com um pop-phone – um telefone de
gancho, daqueles antigos, acoplado ao celular.
“Lado a Lado (2012), novela dos estreantes João Ximenes
Braga e Cláudia Lage fechou como a menos
assistida do horário de todos os tempos,
mas isso com certeza não apagou o brilho da trama. A Novela
foi arrebatando um público fiel no decorrer dos capítulos que se
apaixonaram pela relação Laura (Marjorie Estiano) e Edgar (Thiago Fragaso),
Isabel (Camila Pitanga) e Zé Maria (Lázaro Ramos) e Laura e Isabel. Isso sim, a relação fraternal entre as protagonistas por
muitas vezes foi o foco principal da trama, que mostrou através da luta dessas
duas mulheres tão diferentes e iguais ao mesmo tempo a história da
conquista das mulheres por seus direitos.
Muito
elogiada pela critica , Lado a Lado soube mesclar como em poucas vezes acontece , o
didatismo dos temas históricos que adotou (Futebol, samba, escravidão,
capoeira , direito das mulheres, revolta da vacina e chibata ) com o
drama folhetinesco de seus personagens.
No elenco Patrícia Pillar reinou absoluta , e
conquistou o Brasil com a sua Baronesa , que nos fez por muitas
vezes odiá-la por suas maldades. O Autor dedicou praticamente o último
capítulo inteiro para o desfecho da história da personagem , que terminou
literalmente dentro da lama, abandonada por todos reduzida a sua insignificância.
A Constância pode não ter sido uma grande vilã , como a Flora que a atriz viveu
em A Favorita (2008) do autor João
Emanuel Carneiro, mas com certeza foi uma grande personagem.
Lado a Lado mostrou a
luta por amor e liberdade de duas jovens no início do século XX
e tomou o Emmy Internacional de Avenida Brasil.
Flor do Caribe começou
sem a pretensão de grandes índices de audiência, apesar de ser a sucessora
de Lado a Lado , novela
elogiadíssima, mas que não conseguiu fidelidade do grande público. Porém acho
que foi exatamente esse falta de pretensão de ser que transformou Flor do Caribe em uma novela boa de assistir
e acompanhar.
Com uma lentidão em seus acontecimentos a novela primou pelas belas imagens,
afinal Jaime Monjardim estava á frente da direção, e
pelo cotidiano de pequenas cidades praianas sempre tão bem retratadas em
tramas do Walther Negrão (Vide Tropicaliente / 1994 e ComoUma Onda /2004).
Grazzi Massafera pode não ter vivido
ainda uma grande personagem , mas a Ester com certeza foi sua melhor personagem
até então. Mas experiente e madura profissionalmente, a atriz seguro a protagonista
com unhas e dentes. Flor do Caribe foi uma novela
simples e cotidiana que nos pegou exatamente por isso.
Joia Rara , da dupla
Thelma Guedes e Duca Rachid, foi
mais uma vencedora do Emmy Internacional do horário das seis. Na trama vale destacar a excelente produção,
que caprichou em figurinos, caracterizações e costumes da época. Como não
se apaixonar pelos espetáculos no mais grau de amplitude da palavra espetáculo,
que foram os show do cabaré Pacheco Leão ? Show literalmente de estrelas
como Mariana Ximenes , Letícia Spiller e cia. E as belas
gravações no Nepal também deram o tom que a trama precisava para ser
contada.
Além da temática budista muito bem retratada na trama e em meio aos
muitos clichês, Joia Rara abordou assuntos como direito dos
operários das mulheres e política.
No elenco destaque para Bruno
Gagliasso, Nathália Dill, Carolina Dieckmann, Domingos Montagner , Caio Blat,
Ana Cecília Cost, Ana Lúcia Torre e
a perita Mel Maia que tal qual acontecera na primeira
fase de Avenida
Brasil (2012) deu um show de interpretação. A Especialíssima participação de Glória
Menezes como a Pérola no ano de 2014 passando uma linda mensagem
de paz no final do último capítulo foi mais do que providencial para fechar a
trama que tinha essa bandeira como pano de fundo. Um biscoito fino no horário das seis.
O delicioso remake de Meu Pedacinho de Chão, baseado na novela
educativa lançada em 1971 do autor Benedito Ruy Barbosa, veio em
2014. Nesta nova versão, reescrita pelo
próprio autor com colaboração de Edimara e Marcos Barbosa, foi dada
uma nova linguagem e layout para a trama que na primeira versão era
considerada uma novela rural. Foi
exatamente essa nova estrutura que fez de Meu Pedacinho de Chão um sucesso de crítica. A novela não teve grandes índices de audiência, mas o
charme e riqueza de detalhes na direção e produção impecáveis
fizeram o sucesso da novela. Em muitos momentos o público se comoveu com
a delicada história e os números musicais com todo o elenco cantando
músicas regionais. No elenco vários destaques como Osmar
Prado, Rodrigo Lombardi, Antônio Fagundes e Juliana Paes vivendo
personagens que jamais imaginaríamos vê-los fazendo; além de Bruna
Linzmeyer de cabelo rosa e Jonny Massaro transformado
em galã.
Uma trama simples e sem
pretensões. Um bom produto apresentado no horário. Não conseguiu alavancar a
audiência, mas mostrou tal qual acontecera com Lado a Lado (2012), que a tv aberta ainda pode
mostrar um bom produto sem se preocupar apenas com números.
Boogie Oogie, trama
do autor Ruy Vilhena foi recheada de
clichês clássicos, e apesar da agilidade muito elogiada nos primeiros meses
apresentou uma “barriga” das grandes em sua reta final. Aquele casa não
casa da Sandra (Isis Valverde) e Rafael (Marco Pigosi); o casal de vilões
(Vitória e Pedro) sempre armando planos falíveis contra a felicidade dos
protagonistas e a vilã sanguinária entre outras situações cansaram o
público. Boogie Oogie também
soube dosar com maestria a trama de suas protagonistas, a certa altura da
novela ficou impossível decidir entre Sandra e Vitória. Claro que
torcemos pelo final “RAFAEL e SANDRA” , mas era impossível torcer contra
a dúbia Vitória, interpretada com excelência pela Bianca Bin.
Falar de Boogie Oogie e não citar sua trilha sonora seria um
pecado. A Globo lançou dois CD´s da trilha que
são duas relíquias e claro entraram para a minha seleta lista de
trilhas. A Novela apresentou clássicos do final dos anos 70 e início dos
anos 80, a era disco, que era o pano de fundo da novela.
Um “novelão” sim senhor! Seja pelos clichês, pela quantidade de capítulos
ou pela sensação que a trama nos dava de que estávamos na sala da casa da
Sandra ou participando de alguns dos vários (milhares) de barracos da casa dos
Fraga. A Novela que teve como mote inicial a troca de bebês no
nascimento, não se prendeu a esse fato e mostrou um novelo bem enrolado e
desenrolado a medida que era preciso.
Sete Vidas foi um grande panorama de dramas familiares que se
entrelaçavam, assim como o logotipo da trama, e sobre esse assunto a autora
fala com uma propriedade poucas vezes vista. Desde A Vida da Gente (2011), LiciaManzo é chamada de a nova “Maneco”, uma referencia ao
autor Manoel Carlos, que também sempre primou em suas tramas
falar sobre o cotidiano e dramas familiares. Sete Vidas chamou
atenção pelo texto impecável , direção precisa e roteiro
perfeito. Uma trinca de fatores que transformaram cada capítulo em uma obra
prima.
Elizabeth
Jhin arriscou em Além do Tempo.
Com o sucesso da novela já consolidado no século XIX, a autora deu um salto de
mais de 100 anos e transportou a trama para os dias atuais ,
invertendo os papéis de Vitória/ Emília - vilã e algoz.
Isso poderia ter sido uma catástrofe, mas felizmente não foi. A
autora teve confiança em seu texto e provou que ele poderia ser bem contado em
qualquer século e em qualquer época. O Fato é que o público
comprou a novela novamente, a crítica aplaudiu de pé e o Brasil foi
presenteado com duas novelas de sucesso.
Depois de passar por todos os horários da emissora, Walcyr Carrasco voltou ao horário das
seis, que lhe consagrara com O Cravo e a Rosa (2000),
Chocolate comPimenta (2003) e Alma Gêmea (2005),
viu Êta Mundo Bom se transformar em uma das tramas de
maior audiência da década.
Sol
Nascente (2016), trama
dos autores Walther Negrão Júlio Fischer e Suzana Pires,
passou quase 6 meses no ar, praticamente se arrastando e
segurando-se apenas em suas tramas paralelas, só ganhando fôlego no
último mês. E Marcada por um casal de protagonista que
mostrou total falta de química desde o início, não deu para engolir o romantismo
entre Alice e Mário, os personagens da Giovanna Antonelli e BrunoGagliasso, Sol Nascente acabou
chamando a atenção para seus vilões , e que vilões.m Laura e Rafael Cardoso tomaram
as rédeas da trama na pele da vovozinha do mal Dona Sinhá e o vilão
desiquilibrado César.
Coroada como um dos melhores trabalhos
apresentados pela Globo naquele ano. Em Novo Mundo (2017), os autores Alexandre Marson e Thereza Falcão,
conseguiram fazer uma novela atraente, consistente e que prendeu o
telespectador do início ao fim com sobressaltos a cada novo capítulo que
tiraram o fôlego. Isso tudo tendo como base uma história datada, já que a
vinda da família real portuguesa ao país e a independência do Brasil está
em nossa memória desde os livros de história das escolas e em outras
produções que exploraram o tema como O
Quintos Infernos (2002) na Globo e Marquesa de Santos (1984) na extinta Rede Manchete.um
Em 2017, a trama de Tempo
de Amar,
do Alcides Nogueira se diferenciou de outras tramas também
consideradas impecáveis apresentadas no horário (Lado a Lado/2012 e Joia Rara/2013), mas
que amargaram uma baixa audiência por toda sua exibição, o que deixou o estigma
de que o grande público não comprava esse tipo de trama. Tempo de Amar provou que o
público gosta sim de uma novela com bom texto, roteiro e direção,
uma obra de arte. O grande trunfo de Tempo de
Amar, sem dúvidas, foi seu texto impecável com a
bela história de amor como pano de fundo. Quando falo do texto da trama
refiro-me a todos os detalhes que isso engloba, que vão desde a criação
propriamente dita, quanto o texto falado pelos personagens com precisão e
segurança, um português “bem falado” dando credibilidade e
charme à história.
Aliado ao texto impecável,
um elenco escolhido a dedo, fez de Tempo de Amar esse sucesso. Vitória Strada e Bruno Cabrerizo, ela estreante em novelas e ele com
experiência apenas fora do Brasil, tiveram suas escalações criticadas no
início. Não seria um risco escalar dos rostos praticamente desconhecidos para
estrelar uma trama? Ledo engano! Logo nos primeiros capítulos ficou nítido a
escolha certa – Strada deu um ar solar e leve à Maria Vitória, que embora tenha
passado por tristeza praticamente a novela inteira, nunca se apegou ao estigma
da “mocinha chorosa”. Bruno Cabrerizo me preocupou
inicialmente, faltava vida ao Inácio do início da trama, principalmente na fase
em que ficou cego e sob o domínio da vilã Lucinda (Andreia Horta). O Ator mostrava uma
interpretação apática que não condizia com o perfil do personagem. Porém
o tempo mostrou que o Inácio precisava daquela fase apática e fraca, para que
ao “libertasse” da Lucinda (Andreia
Horta), o personagem se
apresentasse com um perfil mais agradável, e o Bruno terminou Tempo de Amar também como um grande acerto
de escalação e um dos destaques. Tempo
de Amar foi um melodrama sim, mas ficou muito longe dos mexicanos. A Qualidade e leveza ao
escrever, que marcou a perícia do autor,
distanciou a trama dos velhos clichês e da perda do poder de encanto ao grande
público.
Um folhetim açucarado por temas fortes e pertinentes, assim foi Orgulho e Paixão (2018), do Marcos Bernstein, baseado na obra de Jane Austen, que conseguiu com maestria transpor o universo da escritora para o
clima brasileiro e a aura dos anos 20. Mesclou empoderamento feminino, greve, violência doméstica,
homossexualidade, romance, humor e muito amor, mostrando sem didatismos e principalmente sem
personagens chatos, que levantaram bandeiras contrastando com o contexto da
história. Comprada pelo público e aplaudida pela crítica a novela
terminou como uma trama reta, de elenco entrosado e com uma narrativa
que não cansou e uma mensagem espetacular.
Taxada de lenta inicialmente, Espelho
da Vida (2018), que marcou a volta
de Elizabeth Jhin ao horário das
seis, terminou marcada pela riqueza de seu texto, roteiro e atuações. Assim
como em Além do Tempo (2015), Espelho da
Vida foi contada em dois
tempos, e mesmo falando de espiritismo e vidas passadas, a autora não foi
didática e poupou o público de doutrinação exagerada, o que descaracterizaria o
bom folhetim, e apresentou uma trama que precisou dessa lentidão inicial para
apresentar um final eletrizante, com direito a torcidas nas redes sociais e
bolsas de apostas.
Sem dúvidas o
grande trunfo de Espelho da Vida foram as viagens entre as dimensões que a autora soube dosar de
forma perfeita, deixando o público curioso para
saber quem seria no passado o personagem da vida atual
de Cris (Vitória Strada), e passando a torcer por esses reencontros
e pelo bom desfecho da história.
Foi nessa duplicidade de personagens que o elenco de Espelho da Vida fez da trama um palco e nós fomos brindados com
grandes atuações em cenas memoráveis de atores veteranos e iniciantes que só
enriqueceram a produção. Vitória Strada (Cris / Julia ) e Alinne Moraes, excelentes como protagonista e antagonista, respectivamente; Rafael
Cardoso (Danilo / Daniel ), que logo que apareceu em cena ganhou
o posto isolado de mocinho da trama jogando para escanteio o Alain , do João
Vicente de Castro, até então muito engessado. Porém vale citar
que Alain cresceu muito em cena e o João
Vicente conseguiu fazê-lo com maior credibilidade da metade da
trama em diante. O Elenco veterano foi um show à parte – Irene Ravache, Ana Lúcia Torre,
Patrycia Travassos, Suzana Faini, Julia Lemmertz, Felipe Camargo, Ângelo Antônio, Emiliano Queiroz entre
outros, fizeram valer a pena cada cena nas duas vidas de
seus personagens.
Espelho da Vida em termos de audiência ficou muito longe das suas
antecessoras Orgulho e Paixão (2018) e Tempo de Amar (2017), mas
também é de longe uma trama bem mais interessante e complexa, que
pediu para o telespectador pensar para entender a história que se
entrelaçou entre os
dois tempos. Nessa contramão, o telespectador mais preguiçoso
desistiu , porém aquele mais
paciente conseguiu se apegar aos entrechos e torcer por eles.
Órfãos
da Terra, trama das autoras Thelma Guedes e Duca Rachid, de uma novela muito elogiada em sua primeira fase se
transformou em uma história que andou em
círculos e perdeu todo o fôlego no decorrer dos capítulos.
Na
verdade Órfãos da Terra foi
um “novelão” digno do horários das nove até o momento em que dois pilares
da trama tiveram que ser limados da história -Aziz (Herson
Capri) e Soraya (Letícia
Sabatella). O Vilão e uma de suas vítimas. Já
estava na sinopse que a história sofreria essa baixa, até mesmo para dar vasão
ao ódio da Dalila (Alice Weigmann) por Laila (Júlia Dalavia), a mola mestra dos entrechos desta
segunda fase, dando a personagem ao posto prometido de
grande vilã. Porém sem Aziz, Laila (Júlia
Dalávia) e Jamil (Renato Góes) ficaram livres para curtirem seu amor
selado com um filho. O casal
curiosamente perdeu toda química que explodiu na primeira fase e o interesse do
público foi instantâneo. A esperança foi aguardar a chegada de Dalila (Alice
Weigmann) ao Brasil para vingar a morte do pai. Mas ao chegar, num perfil quase
patológico com maldades e planos falíveis, com várias idas e vindas à prisão e o ódio desmedido
e quase sem fundamentos contra Laila, também deixou a personagem que prometia
tanto , dentro de uma
história vazia, que nem mesmo todo o brilho e
talento da Alice Weigmann foi capaz de
salvar.
Assim
de um novelão das nove com uma abordagem crível de um tema pertinente, os
refugiados, Órfãos da Terra se mostrou em mais uma novela água com açúcar com
pontuais entrechos interessantes. Embora a audiência da trama não tenha
sofrido muito com essa discrepância entre as fases, a novela fez o caminho
inverso de sua antecessora Espelho
da Vida, que começou fraca e só pegou força da sua metade em diante.
O tão aguardado remake de Éramos
Seis, foi a última trama do
horário a entrar no ar, vai virar a
década, uma pena que marcada por uma fraca audiência e com o público que não comprou o clima denso e sombrio
dessa nova versão da história de Dona
Lola. A novela estreou com uma grande carga de nostalgia,
principalmente pelos telespectadores que conviveram com os personagens da
última adaptação, de 1994, apresentada pelo SBT, com a Irene Ravache espetacular como a protagonista , e considerada a
melhor das 4 até então. E em minha singela opinião a melhor novela apresentada
pelo Canal em toda sua história. GlóriaPires mostrou que tomou a Dona
Lola para si, e como a Irene fez na versão de 1994 e a Nicete Bruno em 1977, vem
carregando a trama nas costas, no melhor sentido dessa expressão.
Contida e com interpretação cirúrgica da dona de casa dos anos 20, Glória mostra todo o seu potencial dentro de uma
personagem. Emocionante, com o texto impecável da Ângela Chaves, produção caprichada, elenco muito
bem escalado e dirigido com maestria (Carlos Araújo e
equipe) com a pretensão de conquistar o difícil público das seis, a
novela tem todos os ingredientes para dar a volta por cima e marcar novamente
na história da teledramaturgia nacional
o nome de Dona Lola.
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Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
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