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Enquete e10blog

Balanço da Década - Anos 2010 - Novelas das 9




        O ano de 2020 chega fechando uma década na história da teledramaturgia, e o e10blog   faz  um balanço dessa  década passada analisando as produções que foram apresentadas nestes 10 anos de muitas transformações.
        Dividi os post´s por horário e emissoras -  Vou analisar as novelas da Globo por horários e o conjunto das tramas apresentadas nesta década no SBT e RecordTv.


        No primeiro post do “Balanço da Década  vou analisar as tramas das 9, anteriormente  denominadas “Novela das 8”. Foi exatamente na virada da década de 2000 para 2010 que o horário passou a ser chamado oficialmente de horário das nove. A novela das 8,  desde que me entendo por gente,  já começava as 20:30 e o no decorrer dos anos cada vez mais esse horário era estendido até  que algumas novelas passaram a começar  apenas a partir das 21 horas. Passione (2010), trama do Silviode Abreu, foi a primeira novela das 8 a entrar na década de 2010 também foi a última com o rótulo de novela das 8, a trama seguinte Insensato Coração (2011), do GilbertoBraga, foi a primeira a ser apresentada oficialmente como “novela das nove”.

        Os anos 2010 foram difíceis para a teledramaturgia. A televisão deixou de ser de vez a única tela onde podíamos ver novelas, a internet bem mais difundida, as plataformas de streaming a todo vapor e a Tv por assinatura se tornando cada vez mais popular, fizeram com que as emissoras rebolassem para que as novelas continuassem no topo dos programas mais vistos e inclusive a Globo e toda sua hegemonia no gênero também sofreu essas transformações.

        Depois de Passione e Insensato Coração,  Fina Estampa(2011), do Aguinaldo Silva, trouxe para a horário um  arrebatador sucesso popular unindo tramas surreais sem compromisso algum com a realidade – com elementos populares em voga naquele momento – como UFC e o funk -, personagens caricatos – como a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni) e o gay escrachado e estereotipado Crodoaldo Valério, o Crô (Marcelo Serrado) -, e uma heroína maniqueísta – Griselda (Lília Cabral), mulher batalhadora, de personalidade forte, mãe sofrida, boa e justa, concebida especialmente para criar empatia com o público que se identifica com essa figura idealizada – mais especificamente a “nova classe C” que, acreditava-se, à época, ser a principal responsável pela audiência do horário nobre na TV aberta brasileira.


        O Fenômeno Avenida Brasil (2012), do JoãoEmanuel Carneiro veio em seguida, seguindo a mesma linha anterior – o foco na nova classe C. Excelente direção (equipe de Amora Mautner e José Luiz Villamarim em núcleo de Ricardo Waddington), cinematográfica – em cenas, tomadas e fotografia -, e de elenco – atores que, aliados ao bom texto, deram vida a uma galeria de personagens carismáticos e de forte apelo popular. Carminha consagrou a já consagrada Adriana Esteves, dando um novo status a carreira da atriz.  DéboraFalabella também defendeu bem sua protagonista Nina, não deixando-se engolir por uma antagonista algumas vezes mais interessante. Foi também o melhor papel de Marcello Novaes, como Max. José de Abreu esteve irrepreensível como o monstruoso e divertido Nilo, bem como Vera Holtz, que esbanjou emoção como a misteriosa Mãe Lucinda. O Último capítulo da novela parou o país, algo que não acontecia desde Vale Tudo (1988).

        A Difícil missão de substituir Avenida Brasil coube a Glória Perez com Salve Jorge (2012) que enfrentou rejeição do público e críticas por toda parte, seja pela repetição de temas e elenco, pelo número excessivo de personagens, ou pelas dancinhas e bordões estrangeiros que já não despertavam mais tanto interesse como na época de O Clone (2001). A Turquia retratada em Salve Jorge pareceu uma mistura de Marrocos (de O Clone) com a Índia (de Caminho das Índias/2009). Contudo, as críticas geraram ruído e repercussão. Salve Jorge sobreviveu do que repercutiu. Thammy Gretchen dançando a “Conga”, travestis traficados, as surras que a vilã Wanda (Totia Meirelles) levou, a seringada no elevador, o wi-fi na caverna, viagens de jatinho à Turquia, o “cabelo bipolar” de Morena, a igreja 24 horas, os personagens que sumiram, bebês dentro de bolsas, português falado na Turquia, a repetição de elenco e estilo, Vera Fischer sentada e sua fala final “Eu só faço a contabilidade!”. A  Novela terminou como a que mais apresentou furos e seu roteiro e a que mais gerou memes para internet. Até hoje a cena protagonizada por Dira Paes, que viveu a Lucimar,  gritando em plena favela quando descobre  que a filha Morena (Nanda Costa) esta viva é presença constante nas redes sociais.

        Em 2013, Walcyr Carrasco estreava no horário nobre como Amor à Vida, o que veríamos  nas suas próximas tramas a criação de um estilo que embora controverso deu certo para captar audiência para o horário.   “A novela do Félix”, como ficou conhecida, em referência ao famoso personagem vivido por Mateus Solano. A princípio, um vilão terrível, Félix foi conquistando o público, graças ao talento do ator e ao texto afiadíssimo, na composição de um tipo carismático: um gay afetado de língua viperina, uma “bicha má”, com bordões engraçados e frases espirituosas. O sucesso foi tanto que, ante um casal protagonista sem química – Paloma e Bruno (Paolla Oliveira e Malvino Salvador) -, o autor promoveu a redenção do vilão e o tornou o protagonista absoluto de sua novela, com direito a par romântico – com Niko, o Carneirinho (Thiago Fragoso) -, torcida da audiência e a coroação final: o primeiro beijo gay em uma novela da Globo, com a aprovação do público. Tatá Werneck, vinda como estrela da MTV foi o alívio cômico da história com sua repetitiva porém   inesquecível Valdirene. Inesquecível também a cena final da novela – Félix e  César (Antônio Fagundes) – Pai e filho que se odiaram a trama inteira – fazem as pazes  nesta última cena que marcou a teledramaturgia.

        Em Família (2014), a última novela do autor Manoel Carlos no horário, apesar de muito promissora, foi mutilada logo em sua primeira fase  e essa edição acabou prejudicando o andamento total da trama. Ficou nítido que o autor se perdeu e a novela foi a menor em capítulos apresentada na década. Júlia Lemmertz ganhou a Helena da vez como presente  a sua já falecida mãe, Lílian Lemmertz, atriz que interpretou a primeira Helena do autor, na novela Baila Comigo (1981). A Atriz defendeu com maestria sua Helena, e o texto do Maneco lhe proporcionou grandes cenas  em parceria com Bruna Marquezine, também impecável vivendo  sua filha; Humberto Martins, Natália do Vale entre outros que brilharam na trama.  Giovanna Antonelli e Tainá Muller viveram um casal lésbico de comercial de margarina. Apesar de inicialmente com uma trama mal conduzida o ponto positivo foi o beijo entre as moças, simples sem a intenção de causar alarde, de forma natural como o tema deve ser tratado.

        Depois de Em Família o horário nobre Global começou a passar por problemas sérios de audiência e rejeição do público. Império, do AguinaldoSilva, a novela do Comendador, protagonizada por Alexandre Nero, foi uma  trama de altos e baixos repleta de apelos que despertaram curiosidade no público. Personagens complexos, bem dirigidos e bem interpretados (a maioria), com histórias que tinham tudo para render ótimos entrechos, enlaces e ganchos. Alguns conseguiram. Outros ficaram na promessa ou decepcionaram. Além de Alexandre Nero e Lília Cabral , a Maria Marta, merecem destaque os esforços de Leandra Leal, Drica Moraes, Marjorie Estiano, José Mayer, Suzy Rêgo, Zezé Polessa, Tato Gabus Mendes, Caio Blat, Othon Bastos e Dani Barros (a Lorraine). Muitos torceram o nariz para o histrionismo de  Paulo Betti, como o jornalista fofoqueiro Téo Pereira; para os o exageros do pintor maluquinho Salvador (do Paulo  Vilhena); e para a interpretação de Aílton Graça, como a cross-dresser Xana. A Cena que marcou Império foi ao ar no capítulo exibido em 06/03/2015 (em que o Comendador recupera sua fortuna e nada em uma piscina cheia de euros), o tema musical de abertura apresentado foi Pedras que Cantam, com Fagner, o mesmo tema de abertura de outra novela de Aguinaldo Silva, Pedra Sobre Pedra (1992) – que, inclusive, era reprisada na ocasião pelo Canal Viva.

        Em 2015, a Globo viu duas novelas do seu horário nobre  serem rejeitadas como nunca visto anteriormente pelo público – Babilônia,  do Gilberto Braga,  que iniciava com o beijo gay entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathália Timberg e A Regra do Jogo , que marcava a volta do João Emanuel Carneiro pós Avenida Brasil. Ambas as tramas foram afetadas pelo fenômeno da trama bíblica da RecordTv de Os Dez Mandamentos, que atingiu a Globo com uma  das pragas do Egito.
"Velho Chico" usa estética sofisticada para narrar trama rural Caiuá Franco/TV Globo/Divulgação
Velho Chico  -Novela com Requinte de Minissérie 
        Velho Chico (2016), marcou a volta do Benedito Ruy Barbosa e seu estilo rural e bucólico ao horário nobre.  Benedito – em idade avançada – começou trabalhando aqui como supervisor de texto. A princípio, quem escreveu Velho Chico foram a filha Edmara Barbosa (que já trabalhou com o pai em várias outras novelas) e o neto Bruno Barbosa Luperi, filho dela. Logo após a finalização das primeiras fases da trama, Edmara pediu afastamento. Benedito e Bruno concluíram o trabalho.  Desde sua estreia, a novela dividiu opiniões e provocou discussões. As metáforas propostas no texto encontraram ressonância na concepção estética do diretor, Luiz Fernando Carvalho. Ele ofereceu ao público do horário o respiro ansiado, mas em uma embalagem à qual este público não estava acostumado. Viraram alvo de críticas a fotografia estilizada e algumas caracterizações que destoavam da realidade (como o traje de época de Dona Encarnação/Selma Egrei ) e o figurino espalhafatoso e a peruca do Coronel Saruê/Antônio Fagundes).  Velho Chico foi uma obra acima da média na TV brasileira, mas lamentavelmente ficou marcada por uma tragédia. Na tarde do dia 15/09/2016 (faltando duas semanas para acabar a novela), os atores Domingos Montagner e Camila Pitanga, em um intervalo de gravação, foram nadar no Rio São Francisco, na região de Canindé de São Francisco, em Sergipe. Camila conseguiu escapar da forte correnteza, mas Domingos não teve a mesma sorte. Quatro horas depois, seu corpo foi encontrado, sem vida. Em uma infeliz coincidência, na trama da novela, um mês antes, seu personagem, o protagonista Santo dos Anjos, havia desaparecido no rio. Porém, dessa vez, a vida não imitou a arte. Santo foi encontrado vivo, Domingos não.
10 personagens que se destacaram em A LEI DO AMOR
        O Horário ainda sofreu com uma  trama complexa que gerou  o desinteresse do público e a consequente baixa audiência. A Lei do Amor (2016), que marcou a estreia da Maria Adelaide Amaral e Vicent Villari no horário nobre depois de sucessos às sete como o remake de Ti Ti Ti (2010) e Sangue Bom (2013),   um fiasco total infelizmente. O Horário nobre só voltou a pegar fôlego com a vinda de Bibi Perigosa (Juliana Paes), a policial Geisa (Paolla Oliveira) e sereia Ritinha (Ísis Valverde)  da trama de A Força do Querer (2017) , da Glória Perez.  Sucesso de audiência e crítica, a novela levantou a moral  da Globo, alcançando audiências não vistas há cinco anos, desde Avenida Brasil, em 2012.  A  autora abordou a diversidade, de tolerância e das dificuldades de compreender e aceitar o que é diferente. E, por meio da saga de seus personagens, levantou discussões muito presentes no mundo contemporâneo, como a identidade de gênero.  O mérito maior foi a abordagem aos dramas dos transgêneros, por meio da personagem Ivana-Ivan (revelando a talentosa atriz Carol Duarte, estreante na televisão). Glória foi sutil e extremamente feliz no seguimento da história, sem chocar o público e sem causar estardalhaço. Difundiu, explicou (foi didática na medida certa) e alertou sobre o preconceito, tendo o respaldo da direção e elenco. Como complemento e contraponto ao drama de Ivana, a figura de Nonato, que se assumia o travesti Elis Miranda, com o ator Silvero Pereira, também estreando na TV.  A Força do Querer trouxe a riqueza da cultura paraense, a lenda dos botos e das sereias e até a sabedoria da tribo indígena ashaninka, que vive na fronteira do Acre com o Peru. A novela  foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor novela de 2017. Juliana Paes recebeu o prêmio de melhor atriz. A novela ainda  foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela. Juliana Paes levou o troféu de melhor atriz e Marco Pigossi o de melhor ator.

        Mesmo massacrada pela crítica, O Outro Lado do Paraíso (2017), do Walcyr Carrasco,    terminou com Ibope mais alto dos últimos cinco anos no horário, tendo ultrapassado a novela anterior, a festejada e elogiada A Força do Querer.  O dinamismo foi a maior qualidade do roteiro do autor, que mostrou fôlego com mil e uma reviravoltas e o poder de fisgar o público e mantê-lo grudado em sua história por seis meses, causando catarses e, assim, fidelizando a audiência. Porém, para dar conta da trama ágil, Carrasco abriu mão de um texto mais elaborado e caiu no simplismo de diálogos repetitivos e rasteiros em entrechos batidos e situações forçadas.  Ou seja , a audiência nunca foi tão nociva a uma  novela.  A novela que iniciou com bons índices deixados por A Força do Querer teve seu ápice com o retorno e as vinganças da Clara (Bianca Bin), a partir  de então foi uma crescente até ultrapassar a antecessora e fechar com índices iguais aos de  Avenida Brasil (2012). Nos  desperdícios  apresentados pela trama entram o entrecho da Anã Estela (Juliana Caldas). Ao invés  de abordar o nanismo com o intuito de inclusão e aceitação, mostrou uma personagem vitimada e humilhada,   única e exclusivamente por sua condição. O Caso da violência doméstica , justificada com um “problema espiritual” do Gael (Sérgio Guizé), Isso sem falar no núcleo de “humor” da trama encabeçado pelo Dr. Samuel (Eriberto Leão), um dos personagens que mais sofreu mutações conforme  o roteiro pedia. Sem dúvidas um dos maiores desserviços prestados por  O Outro Lado do Paraíso, foi  a confusa relação do Samuel  com Cido (Rafael Zulu), a ex-mulher Suzy (Ellen Rocche) grávida,  a mãe de bicha Adinéia (Ana Lúcia Torre) e  até a ex-amante do atual namorado fechada no penúltimo capítulo com o beijo entre os personagens do Eriberto Leão e Rafael Zulu, principalmente se pensarmos que ela sucedeu A Força do Querer, que apresentou atráves da Ivana (Carol Duarte),  com total responsabilidade o tema da identidade de gênero,  e  o próprio autor que no final de Amor à Vida, deixou uma das mais belas e fortes mensagens contra o preconceito ao homossexualismo com o Félix do Mateus Solano.  Enfim estava perpetuado o estilo do Walcyr Carrasco no horário nobre  que se repetiria ainda em A Dona do Pedaço (2019).

        João Emanuel Carneiro  voltou ao horário em 2018 com Segundo Sol, trama marcada por atuações impecáveis  e o texto rico do autor que contrastaram com entrechos simples e infantis.  mais uma vez João Emanuel Carneiro apresentou uma trama complexa  que  agradou pontualmente e desagradou em muitos momentos. O Mais grave foi o fato dos entrechos, situações e soluções para os mesmos  soarem  com muita simplicidade. Isso fica ainda mais gritante  quando lembramos  que estamos falando de uma trama escrita pelo mestre JEC.   A impressão que me passou é que ele teve receio de arriscar, como fez em A Regra do Jogo, e o público com preguiça de pensar, rejeitasse a trama. Assim ele entregou tudo mastigadinho, e até o mais atento telespectador não se perderia dentro da história.
        Ficou quase impossível engolir o “casal de três” formado por Maura (Nanda Costa), Selma (Karol Fazu) e Ionan (Armando Babaiof), e a rapidez em que se acertaram dentro da  proposta, apesar de não terminarem juntos; a Laureta assassinando Du Love (Ciro Sales) em um estacionamento de um shopping; a morte do Pai de Santo (João Acaiabe) para que Groa (André Dias) assumisse o terreiro, um entrecho que poderia ter sido apresentado bem antes; isso sem falar na fuga e quase morte de  hora - Remy (Vladimir Brichta), hora Karola (Déborah Secco), hora Laureta (Adriana Esteves).  Enfim, entrechos que nem de longe   lembram   uma última semana de novela das nove. 
         Segundo Sol ficou devendo mais do que entregou, mas o elenco foi  um show à parte, e com algumas exceções,    o melhor da trama. Atores que souberam driblar os entrechos fracos e brilharam com o texto rico na ponta da língua.  Adriana Esteves, na pele da Laureta foi a estrela absoluta da trama e conseguiu apagar de vez o estigma da Carminha de Avenida Brasil (2012), com um novo perfil de vilã do autor. Déborah Secco, muito criticada inicialmente, provou que estava no caminho certo, e apresentou uma Karola crível e linear, culminando  com o rompante de loucura com a personagem cortando os próprios cabelos, que foi um divisor de águas da  trama  e um grande passo na história profissional da atriz.  E a Rosa da Letícia Collin, tomou o público de assalto e se tornou a protagonista da novela, ofuscando Giovanna Antonelli. A Atriz  perfeita na caracterização,  conseguiu transformar uma personagem dúbia, que poderia ser odiada, em adorada e aplaudida.   Segundo Sol foi uma novela feita para fazer bonito na audiência, para não decepcionar e nesse campo realmente não decepcionou, uma pena que isso quase sempre prejudica a qualidade da produção.


        O que era para ser o grande retorno  do Aguinaldo Silva ao Realismo fantástico e volta do gênero ao horário nobre , acabou se transformando em uma das tramas mais equivocadas,   chegando a ofuscar neste quesito Babilônia  (2015) e A Lei do Amor (2016).
        Muito antes de entrar no ar,  O Sétimo Guardião já era uma novela a acompanhar por causa da confusão  pela  paternidade da trama, que Aguinaldo Silva e a Globo tiveram que enfrentar  com alunos de um curso de autores promovido pelo autor. A confusão atrasou a viabilidade da trama que por pouco não foi pro ar.  Hoje talvez ninguém nem faça tanta confusão por essa paternidade!
        Depois que estreou,  a falta de química entre os protagonistas Luz e Gabriel, os personagens da Marina Ruy  Barbosa e Bruno Gagliasso, a história incoerente , os entrechos esquecidos pelo autor no meio do caminho mostraram que os bastidores da trama acabaram sendo mais “folhetinescos” que a história ficcional.  Deu vergonha ver a Lília Cabral fazendo uma vilã tão caricata e sem brilho. E o Tony Ramos então! O Ator que estreou no texto do Aguinaldo Silva, ganhou um personagem  tão engessado que  nem ele conseguiu dar vida.
         O Público não comprou o enredo,  e se  pararmos para pensar,  da forma que foi roteirizado,  é  um entrecho muito fraco – Sete guardiães que  se juntam para proteger um fonte  que cura pessoa. O Porque de proteger e não utilizar seu benefícios? Por que punir quem trai  e não quem  invadiu e tentou fazer o mau uso?  Enfim, uma história nada  fantástica,   e sim infantilóide.


        Walcyr Carrasco voltou ao horário com mais uma show na audiência e um espetáculo de dessserviços na trama de A Dona do Pedaço. O autor se transformou na carta guardada na manga, sempre que a Globo precisa revitalizar a audiência do seu horário nobre.  A Dona do Pedaço  foi apenas uma máquina de captar audiência e merchandising, sem  dar a menor importância para um texto no mínimo coerente  e sempre utilizando-se de entrechos tão fáceis, que beiraram as novelas infantis do SBT.  Os desserviços foram muitos -  As  cenas circenses entre a personagem  trans Britney (Glamour Garcia) e seu pretendente português;  o caricaturismo de evangélicos; o casal gay quase enrustido, com direito a beijo só para selar o final da trama (Agno/Malvino Salvador e Leandro/Guilherme Leicam ), entre outros... mas nenhum foi tão grave quanto a romantização  do atirador Chiclete (Sérgio Guizé)  e a violência doméstica sofrida por Vivi Guedes (Paolla Oliveira) na reta final da trama. Muitos assuntos abordados de forma irresponsável. 
        Muitos dos personagens  brilharam  mais graças a empatia e talento de seus intérpretes do que pela  história que viveram propriamente. Imaginem a Maria da Paz sem uma Juliana Paes por trás, a Vivi Guedes, que foi uma máquina de fazer dinheiro através de propagandas dentro da novela  sem o carisma e poder comercial da Paolla Oliveira; a Fabiana sem a perícia da Nathália Dill; o Chiclete sem o Sérgio Guizé,  ou a Kim sem a Mônica Iozzi ...  Enfim os intérpretes salvaram seus personagens.   Esse tipo de trama, sem a preocupação de um bom texto ou história com o único intuito entreter e captar audiência, que  já virou a marca registrada do Walcyr Carrasco no horário nobre  da Globo, foi assim com Amor à Vida (2013) e O Outro Lado do Paraíso (2017) – Novelas também  marcadas por uma audiência espetacular,  mas sem um conteúdo importante, tendo como pilares grandes viradas,  retornos de personagens e finais apoteóticos, mas sem dúvidas entre as três A Dona do Pedaço se superou muito. Confesso que tenho receio da próxima trama do autor.


        A Década virou com a trama de Amor de Mãe, que marca a estreia de Manuela Dias no gênero telenovela e no horário nobre da emissora. A Novela já acendeu o sinal amarelo. Taxada de densa e muito dramática está cansando o público. Espero que a trama entre nos trilhos  e no balanço da década dos anos  2020 eu possa citá-la com uma novela que marcou a positivamente essa virada de década.

Veja Também : 
Novelas - Balanço 2019  - As tramas que ainda estão no ar 
Novelas  - Balanço 2019 
Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa

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         A Segunda versão de  Sinhá Moça   (2006), trama do autor  Benedito Ruy Barbosa ,  estreou no início do ano   no  Canal Viva,  substituindo a reprise de  Escrito nas Estrelas  (2010), a partir das 15:30.         Protagonizada por  Débora Falabella ,  Danton Mello   e um grande elenco, a novela tem direção geral de  Ricardo Waddintgon e é considerada um dos grandes sucessos do horário nos anos 2000.         Remake da novela exibida em 1986 com a história dos personagens Sinhá Moça ,   Rodolfo   e Barão de Araruna, vividos por LucéliaSantos, Marcos Paulo e Rubens de Falco na ocasião – agora interpretados por Débora Falabella, Danton Mello e Osmar Prado . Baseada no romance de Maria Dezonne Pacheco Fernandes (lançado em 1950), a história já tivera uma versão cinematográfica, produzida pela Vera Cruz em 1953, dirigida por Tom Payne e Oswaldo Sampaio , com Eliane Lage (Sinhá Moça), Anselmo Duarte (Rodolfo) e José Policena (Barão de Araruna). A Trilha Sonora de Sinh

No Tema e Na Trilha do Andrea Bocelli

        Tenor, compositor e produtor musical italiano, vamos falar de   um dos ícones da música italiana - Andrea Bocelli .         Andrea Bocelli nasceu na cidade de Lajatico, em 1958, e aos seis anos de idade, iniciou aulas de piano e depois vários outros instrumentos como flauta, saxofone, violão. O Cantor nasceu com glaucoma congênito que o deixou parcialmente cego. Com doze anos, durante uma partida de futebol levou um golpe na cabeça que fez com que sua cegueira se tornasse   total.   Foi também aos doze anos que   venceu o prêmio Margherita d´Oro em Viareggio, com a canção “ O Sole Mio ”, sendo o seu primeiro numa competição musical.         Após a conclusão do ensino médio, na década de 80, Bocelli foi para a Universidade de Pisa , onde mais tarde foi graduado em Direito. Depois de trabalhar por um ano como advogado, Andrea teve aulas de canto do maestro Luciano Bettarini dedicando-se a música em tempo integral a partir de então.         Sua primeira grande apari