Rever as novelas antigas, além de um deleite para os nostálgicos
assim como eu, é também uma espécie de estudos de outros tempos, outra
sociedade de épocas em que o que hoje parece inaceitável e gera ojeriza,
passava comumente nos anos 80, 90 e até meados de 2000.
Um desses casos é a novela Laços de Família, clássico do autor Manoel Carlos, que atualmente
está na reta final da sua segunda reprise pelo Vale a Pena Ver de Novo. Como
já disse, a trama é um dos clássicos do
autor, considerada um dos seus melhores trabalhos com grandes personagens e
entrechos e marcou a sociedade, porém mesmo assim algumas abordagens do autor
em meados do ano 2000 e 2001, época em que a trama foi veiculada originalmente
, hoje soam como um total absurdo, e certamente jamais seriam repetidas nas
tramas atuais.
Começando pelas domésticas, que é um tipo de personagem que o
autor tem como característica em dar luz sobre as mesmas, em Laços de Família elas foram usada dentro de história de
uma forma tão descartável – Vamos primeiro
ver a Zilda, vivida pela Thalma de Freitas. Ela é empregada da Helena
(Vera Fischer), babá da filha do Fred (Luigi Barricelli) , do filho da Capitu
(Giovanna Antonelli), sem falar que ainda foi “cedida” para a Camila (CarolinaDieckmann), quando esta volta para casa entre uma seção e outra de
quimioterapia. A personagem é praticamente uma escrava, nunca aparece falando
sequer de um parente ou cogitando uma folga, claro que é certo que é uma
personagem menor e tal mais em se tratando de novela do Maneco . . . Outra doméstica
que começou com destaque em Laços de Família é a Rita, primeiro personagem da Juliana Paes
na tv. A personagem é sim considerada uma trampolim para o trabalho da atriz,
ganhou um entrecho quando engravidou do Danilo (Alexandre Borges), porém o
desfecho foi de uma falta de
consideração por ela total. A Rita morreu, para deixar os filhos gêmeos que
teve do patrão assediador para Alma (Marieta Severo), enquanto Danilo sai da
história com o “engraçado namorador” que teve um pequeno deslize. Numa trama de
hoje, certamente a Rita sobreviveria e Danilo ainda teria que se virar para
tentar conquista-la e ter um final feliz com a, agora mulher e os filhos.
Mas nada é tão grave em Laços de
Família quanto o perfil do personagem
Pedro, um dos galãs da novela vivido pelo
José Mayer. A essência do perfil do
personagem é que ele é selvagem como os animais do haras que administra, mas na
verdade visto aos olhos de hoje, o Pedro
não é só selvagem, ele é grosso, mal educado, inadequado com praticamente todos
os que o cercam, a exceção da Alma, sua patroa. É sem dúvidas o personagem que pior envelheceu.
A evolução dos tempos, a sonoridade de
minorias e o empoderamento feminino aos
olhos de hoje transformam o Pedro em um monstro em forma de personagem. Uma das
cenas mais graves apresentadas na trama com o Pedro, que inclusive foi até editada nesta reprise, e a cena do estupro da Cintia
(Helena Ranaldi), que ambos os personagens confirmaram depois em conversas. A
Química sexual entre ele e Cíntia foi um dos pontos fortes de Laços de Família, mas certamente hoje seria
conduzida de outra forma.
O Sucesso de Laços de Família
no Vale a Pena Ver de Novo é incontestável, e claro que esses percalços,
infelizmente aceitáveis em outra época, devem ser visto sobre uma ótica
positiva , a ótica do repensar , do corrigir e tentar cada vez mais acertar.
Veja Também:
Novelas Inesquecíveis - Laços de Familia (2000)
Meus Personagens Favoritos do José Mayer
Fonte:
Texto: Evaldiano de
Sousa
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