A trama se confirma como fenômeno em todos os sentidos em sua edição especial
O Fenômeno em forma de novela, A
Força do Querer terminou nesta
sexta-feira (12.03), mostrando literalmente a força da trama escrita por Glória
Perez que , nesta edição especial comprovou o porque de tantos elogios
positivos quebrando o estigma de
rejeições da autora no horário nobre como ocorreu com a trama de Salve Jorge (2012),
e quebrando também o recorde de Avenida Brasil (2012), que até então era a trama de maior audiência do horário.
Visceral, emocionante
e forte no sentido mais ampla dessa palavra. Glória Perez prometeu e dessa
vez cumpriu. Com uma trama reta, dosada
com muita realidade e coerência, a autora traçou um leque de entrechos
pertinentes com personagens cativantes que tomaram o público de assalto com técnica e
talento juntos em prol de um só desejo – fazer “A Força do Querer dar certo.
Sem dúvidas
o grande trunfo da novela foi sua coerência, presente do princípio ao fim – A
Bibi (Juliana Paes) queria “amar grande”, e amou foi do 8 a 800, se arrependeu e com toda
a força que a personagem sempre apresentou começou do zero e teve o seu final
feliz. A Ritinha (Isis Valverde), nossa eterna Sereia, encantou o público e
seus pretendentes, e também teve seu final condizente com sua trama. Nunca se
apegou a ninguém, era um ser da natureza, um fenômeno. A Jeiza, da Paolla Oliveira exigiu da atriz um trabalho duro, mostrou a polícia que nós
acreditamos que existe, que veste a camisa e luta pela honestidade. Foram três
protagonistas viscerais , os pilares da trama que de tão bem escritas e
interpretadas em nenhum momento uma suplantou a outra, mostrando mais uma vez a
força do texto da Glória e a escalação perita desse elenco.
O merchandising
social da transição de gênero foi um dos mais importantes abordados
pela autora, que já falou sobre tráfico de pessoas, barrigas de aluguel,
crianças desaparecidas entre outros. Com uma abordagem delicada e a escolha de
uma atriz cara nova, mas nem por isso sem competência para viver a Ivana que
viraria o Ivan, Glória Perez jogou o assunto na sala do Brasil
inteiro, e pessoas de vários níveis sociais e intelectuais discutiram essa
transição, tentaram entender e se ainda não entenderam no mínimo iram pensar
duas vezes antes de ignorar ou agredir simplesmente.o Contra ponto da Ivana com a história do Donato (Silvero Pereira)
foi outro fator que contou muito favor da abordagem.
A Força do Querer tocou em vários tabus que estavam ali ao nosso
redor, fazendo parte da nossa realidade e que com a trama enxergamos e
certamente tentaremos tomar outras atitudes em relação – a transição de gênero,
o preconceito, o vício nos jogos, o domínio do crime nas favelas,
enfim, assuntos que todas as noites eram retratadas em
notícias reais no Jornal
Nacional .
O Elenco ímpar de A Força do
Querer foi um show a parte – todos seguros e entregues a seus personagens
deixaram a trama ainda mais crível e interessante para o telespectador.
Quem não chorou, brigou e
amou com a Bibi Perigosa, numa Juliana
Paes em estado de graças de tão bem na
personagem? Quem tentou entender e perdoar a Sereia? Afinal a empatia
da Isis Valverde foi crucial para o sucesso da Ritinha, que
como a maioria das mocinhas da Glória Perez, era dúbia. Mentiu, enganou, fez sofrer, sofreu, mas sempre com a
intenção de ser feliz.
Juliana Paes foi
alçada a outro patamar com a força da Bibi, uma personagem tão cheia de nuances
e reviravoltas, que exigiu da Juliana um trabalho visceral e delicado- digno da
grande profissional que ela é.
Paolla Oliveira saiu de vez do estigma de atriz bonita e sexy com a Jeiza. Muitas
vezes livre da vaidade, como na luta final da personagem, mostrou toda a
força do seu talento e a perícia na construção da inesquecível policial e lutadora
de MMA.
Outros destaques: Maria Fernanda Cândido com a Joyce, que foi tão criticada inicialmente, e
mostrou que a personagem precisava daquele engessamento fútil inicial
para dar credibilidade na fase do descobrimento da transição da Ivana.
LíliaCabral, como a Silvana; Débora Falabella, a vilã Irene; A dobradinha Zezé Polessa e Tonico Pereira, com a Ednalva e Seu Abel; Emílio
Dantas, o Rubinho
e Elizângela, que com sensibilidade, fez da Aurora
a mãe do ano e sua melhor personagem de todos os tempos.
A Força do Querer revelou o grande talento de Carol Duarte, que
tem formação no teatro, e estreou em horário nobre vivendo a complexa
personagem Ivana / Ivan. Era uma estrada de mão dupla. Ou seja, se não fosse
seu talento mostrado desde as primeiras cenas, a Ivana e essa transição poderia
ter soado fake e caricata. Sem dúvidas foi a melhor estreia de uma atriz em
anos.
Alguns coadjuvantes
também fizeram de A Força do Querer seu palco e deram a seus personagens ares
de protagonistas e se tornaram queridinhos do público. O Caso do
estreante Silvero Pereira, que quebrou tabus com o transformista Elis
Miranda e o motorista Nonato; Mariana
Xavier, que como ela mesmo
declarou em entrevistas, não queria fazer a gordinha que sofria bulling e
ficava triste. Mostrou que as gordinhas tem outro lado, além de lutar para
mostrar que o sobrepeso é algo que pode ser bonito e respeitado. No final foi
premiada com um ensaio sensual de lingerie. Ah , e não posso esquecer a Dita,
da Karla Karenina, sempre impecável vivendo a empregada nordestina
que se envolve com o drama dos patrões. Mas o coadjuvante que roubou a cena na
trama foi o Jonathan Azevedo, como o bandido Sabiá, que entrou na
trama apenas para dois capítulos, e acabou se tornando um dos grandes destaques
da novela.
Tenho que fazer um
parágrafo especial para Marco
Pigossi e Fiuk, que
tanto critiquei toda a trama pela apatia do Ruy e as bobalhices do Zeca.
Não que eu tenha mudado de ideia, mas tenho que destacar a cena final dos dois
no reencontro do Rio no Parazinho selando a amizade entre eles. Uma das
poucas cenas em que os dois se saíram bem em toda trama.
O Mais interessante
em A Força do Querer é que
a proximidade da trama com a realidade foi muitas vezes citadas como o
grande trunfo da Glória Perez, o que
foi apontado com um dos problemas de A Regra do Jogo,
do João Emanuel Carneiro, considerada um das novelas rejeitas do horário. Porém no
caso de A Força do Querer, essa realidade foi mesclada com um folhetim dos
bons e personagens carismáticos que transformavam essa realidade dura em cotidiano.
Talvez esteja ai o grande diferencial de “A Força do Querer”.
Ao contrário de Fina Estampa (2011), a primeira edição especial apresentada no horário nobre, onde só confirmamos o
quanto a trama era tosca e datada, A Força do Querer, embora a diferença entre a
apresentação original e a reprise tenha sido menor, a trama só confirmou suas
qualidades e sua importância para a história da teledramaturgia.
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Fonte:
Texto : Evaldiano de
Sousa
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