30 anos sem a “maga das oito”
Janete Clair, nome artístico de Ginette Stocco Emmer Dias Gomes (Conquista, 25 de abril de 1925 — Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1983) |
Neste último dia 16 de novembro completou 30 anos que perdemos Janete Clair , a maga das oito. A Atriz morreu precocemente devido um câncer no intestino em 1983, enquanto ainda escrevia sua última novela, Eu Prometo. Glória Perez ficou encarregada de finalizar a trama.
Janete filha de libanês depois de passar uma infância tranquila em Conquista, no Triângulo Mineiro, no vale do Rio Grande, próxima a Uberaba, em Minas Gerais, o talento de Janete para a vida artística começou a despontar quando a família se mudou para Franca, em São Paulo. Na Rádio Herz, a principal emissora da cidade, Janete fazia sucesso interpretando canções em árabe e francês. Aos quatorze anos, precisou interromper temporariamente a vida artística e se dedicou a trabalhar como datilógrafa para ajudar na renda da família. Depois, já na capital São Paulo fez estágio num laboratório como bacteriologista e aos vinte anos passou num teste para ser locutora e rádio atriz da Rádio Tupi. Adotou o sobrenome artístico Clair, inspirada na música "Clair de Lune" de Claude Debussy por sugestão de Otávio Gabus Mendes.
Na década de 50 conheceu Dias Gomes , seu marido até a morte e por incentivo dele começou a escrever radionovelas tendo grande sucesso com Perdão, Meu Filho (Rádio Nacional , 1956).
Em 1960, Janete Clair começou escrever novelas para a Tv, o gênero que lhe consagraria. Escreveu então O Acusador (1964, Tv Tupi ), Estrada do Pecado (1965, Tv Itacolomi) e Paixão Proibida (1967 , Tv Tupi).
No mesmo ano de 1967 Janete foi contratada pela Globo para dar um jeito na novela Anastácia , A Mulher sem Destino. A trama era escrita pelo brilhante ator Emiliano Queiroz , que sem técnica como autor acabou se perdendo no decorrer da trama. Janete Clair só via uma forma de salvar a trama, criou um terremoto que matou a maioria dos personagens e recriou a história com os poucos que sobraram e inserção de novos. Pronto estava criado o estilo da autora dentro da Globo, emissora onde ela criou clássicos para teledramaturgia.
Foto : teledramaturgia.com |
Em seguida a autora começou a via sacra escrevendo praticamente uma novela por ano. No final do ano de 1967 ela escreveu a primeira novela do horário nobre da Globo (a novela das oito) , Sangue e Areia que também marcava a estreia do casal vinte Tarcisio Meira e Glória Menezes na emissora. Depois vieram Rosa dos Ventos (1968), Os Acorrentados que ela escreveu na Record em 1969 , voltando a Globo no mesmo ano para escrever Rosa Rebelde (1969) e Véu de Noiva (1969).
Mas foi na década de 70 que a autora escreveu suas melhores novelas. As obras que entraram para a história da teledramaturgia , e até hoje são usadas como referências.
Iniciou 1970 com o estrondoso sucesso de Irmãos Coragem, novela que trouxe o público masculino para à frente da tv, depois da providencial inserção do futebol como um dos temas da trama. A Novela teve ininterruptos 328 capítulos.
Foto : teledramaturgia.com |
No ano seguinte foi aproveitado praticamente tudo de Irmãos Coragem, produção, direção e parte do elenco para a nova novela da autora O Homem que Deve Morrer (1971).
Em 1972, a autora escreveu a única novela dar 100% de audiência na história das novelas. Selva de Pedra protagonizada por Regina Duarte e Francisco Cuoco. A trama imortalizou também os personagens vividos por Dina Sfat e Carlos Vereza.
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Depois do sucesso de Selva de Pedra , a autora escreveu em 1973 o Semideus, que trazia Francisco Cuoco e Tarcísio Meira como protagonistas. Os atores eram os preferidos da autora. Em 1974 veio Fogo sobre Terra e em 1975 a Globo com o intuito de renovar a fórmula melodramática que vinha sendo dada por Janete Clair o horário nobre, resolve tirar a autora “rebaixando-a” para o horário das sete com a novela Bravo , protagonizada por Carlos Alberto e Aracy Balabanian.
Porém, Roque Santeiro (1975) a trama que Dias Gomes escrevia para estrear no horário nobre foi barrada pela censura, e a Globo tratou logo de convocar Janete para escrever um novela às pressas para substituindo a trama censurada. A autora deixou Bravo a partir do capítulo 106 a cargo de Gilberto Braga, e aproveitando o mesmo elenco escalado para Roque Santeiro , Janete Clair escreveu Pecado Capital , enquanto a Globo reapresentou um compacto de Selva de Pedra (1972).
Pecado Capital (1975) foi concebida em pouco mais de 3 meses, um tempo recorde , e acabou se tornando um dos maiores sucessos de Janete Clair. A trama marcou ainda uma mudança no estilo da autora, que abandonava o melodramático e apostava mais no romantismo real. A trama apresentou tipos inesquecíveis, em destaques o anti-herói Carlão , em uma perfeita caracterização de Francisco Cuoco e a Lucinha da Betty Faria, os protagonistas da novela.
Em 1976 , a autora seguia a linha realista criada em Pecado Capital e escreveu Duas Vidas , novela que falava sobre a desapropriação do bairro do Catete para a construção do metrô. Era mais uma tragédia urbana. Uma pena que a censura tenha interferido na história, que tinha como vilão não um personagem, mais sim a construção do metrô, que era uma obra do Governo Federal e como tal não poderia ser criticado.
Em O Astro (1977) , Francisco Cuoco voltava a viver outro personagem da autora que marcaria para sempre sua carreira. O Herculano Quintanilha , assim como a novela se transformaram em um sucesso popular como jamais visto. O Público parou para saber quem era o assassino de Salomão Hayalla (Dionísio Azevedo). Minha mãe conta que quando nasci em 1978, estava na reta final de O Astro , e enquanto a novela estava no ar ela não via sequer uma enfermeira pelos corredores do hospital, estavam todas ligadinhas na tv, querendo saber os finais de Herculano, Amanda (Dina Sfat) e cia.
No ano seguinte a autora emplaca outro sucesso, a novela Pai Herói, onde o Brasil foi monopolizado pela espera da solução dos problemas na vida de André Cajarana (Tony Ramos) com o sumiço de Carina (Elizabeth Savalla), dada como morta , e a procura da verdadeira identidade do pai.
Janete Clair entra década de 80 escrevendo a novela Coração Alado, considerada uma novela muito depressiva , devido a alta carga de sofrimento para a protagonista Vívian, vivida pela Vera Fischer e o caráter duvidoso do protagonista Juca Pitanga do Tarcisio Meira. A Novela chocou o país ao apresentar no capítulo 40 o estupro de Vívian, cometido por Leandro (Ney Latorraca). Em entrevista a revisa Amiga , Janete comentou que não entendia o tamanho estranhamento dos telespectadores com a cena, afinal diariamente os noticiários falavam de crimes e monstruosidades acontecidos na vida real ainda mais fortes. Não satisfeita, no capítulo 171 , a personagem Catucha , vivida por Débora Duarte protagoniza a primeira cena de masturbação feminina na história da teledramaturgia brasileira. Claro que era tudo subentendido, a câmera mostrava closes do rosto de Débora, e seus pés em movimentos circulares estendida sob um cadeira de madeira. A Cena considerada forte também causou polêmica, e como em um toque de mágica, logo após sua exibição a fita com o capítulo 171 , onde a cena foi gravada desapareceu misteriosamente.
Ainda na década de 80, a autora escreveu o argumento da primeira novela solo de Silvio de Abreu, Jogo da Vida (1981) e escreveu sua penúltima novela , Sétimo Sentido em 1982 , protagonizada por Regina Duarte. A atriz viveu dois papéis : A paranormal Luana Camará que recebia o espírito da atriz italiana Priscila Capricce. Em Sétimo Sentido, Janete Clair escreveu a cena do casamento cigano entre Tião Bento (Francisco Cuoco) e Priscila Caprice, uma das mais deslumbrantes da novela. Faltando cerca de 40 capítulos para finalizar a trama, Janete descobriu o câncer que a mataria um ano depois. Para não criar especulações a Globo não divulgou o afastamento da autora da novela , e assim na época ninguém ficou sabendo que foi Silvio de Abreu que finalizou Sétimo Sentido.
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Com a desculpa de reascender o horário das dez , esse foi o argumento usado para levar Janete Clair para esse horário, afinal ela estava muito debilitada devido o câncer que enfrentava, e às dez a carga de trabalho era bem menor. Assim ela apresentou Eu Prometo (1983) protagonizada por um de seus preferidos atores , o Francisco Cuoco. Mais uma vez a autora criava um grande personagem para Cuoco, o deputado Lucas Cantomaia. Uma pena que a trama se destaque mesmo pelo fato de ter sido a última trama da autora , que nos abandonou em 1983, nos deixando órfãos de seu talento inigualável.
Foto : teledramatugia.com |
Sinto-me injustiçado por nunca ter assistido uma novela da Janete Clair na época em que elas foram exibidas. Quando a autora escreveu sua última trama tinha penas 5 aninhos , e não entendia ou me interessava por nada de teledramaturgia , claro! O maravilhoso mundo de Janete Clair é enriquecedor para qualquer telespectador. Pelo pouco que acompanhei da autora, a novela Irmãos Coragem que eu assisti em DVD, os remakes de Selva de Pedra (1986) , Pecado Capital (1998), Vende-se um Véu de Noiva (2009) e O Astro (2011), deu para sentir o magnetismo dessa “Usineira de Sonhos” , a nossa senhora das oito, que criou um jeito de fazer novelas só seu, e que mesmo 30 anos depois de sua morte e seu último trabalho é citada como uma das grandes novelistas brasileiras.
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A força de seus personagens e suas tramas tem uma proporção sem medidas. Afinal que nunca sonhou tal qual a Lucinha de Pecado Capital ? Quem não chorou com a morte do Carlão ? Quem não torceu por um final feliz entre Herculano e Amanda em O Astro ? Quem não se emocionou como João Coragem quebrando a pepita de ouro na praça da cidade em Irmãos Coragem ? Ou seja, as tramas de Janete Clair fizeram e fazem parte da vida e da memória afetiva de muitos, que sem perceber entram nesse universo noveleiro criado por ela.
Fonte :
Texto : Evaldiano de Sousa
Pesquisa : teledramaturgia.com , Wikipédia.com
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