“Você
sabe o quer dizer Cambalacho”
“Você sabe o que quer dizer cambalacho?”
Ninguém sabia até 1986 quando Silvio de
Abreu escreveu para o horário, a novela Cambalacho, um de seus sucessos. Essa era frase usada nos primeiros
“teaser´s” de apresentação da trama , aguçando a curiosidade do público. Hoje o
título da novela virou sinônimo de golpe, trapaça , pessoas que querem se dar
bem acima de tudo, inclusive passando por cima dos outros.
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A Trama trazia nos papéis principais Fernanda Montenegro e o saudoso Gianfrancesco Guarnieri em um de seus
melhores momentos de comédia na TV. Cambalacho era a primeira novela escrita por Sílvio
totalmente livre da censura , e por isso mesmo ele pode abusar nos temas e
personagens, afinal em outras épocas seria impossível trazer como protagonistas
da trama dois trambiqueiros e anti-heróis como a Naná e Jêje.
Naná(Fernanda Montenegro ) , e seu
compadre Jerônimo Machado (Gianfrancesco Guarnieri), o Jejê são parceiros nos cambalachos que Naná faz
para sobreviver e manter os estudos de sua filha, Daniela (Cristina Pereira),
no exterior. Para aliviar a culpa pelas trapaças que comete, Naná leva para sua
casa crianças que recolhe nas ruas. Apesar de viverem de trambiques, Naná e
Gegê são boas pessoas. Só não conseguem ganhar a vida de outra maneira. A vilã
da novela é Andréia (Natália do Vale), uma mulher ambiciosa e sem nenhum
escrúpulo, que se casa com o milionário Antero Souza e Silva (Mário Lago)
sonhando ficar rica. Para herdar a fortuna, ela é capaz de qualquer coisa, até
mesmo planejar a morte do próprio marido. Ainda nos capítulos iniciais da
história, o iate de Antero sofre um grave acidente em alto-mar e o corpo do
milionário desaparece. Com a morte de Antero, seu testamento é aberto e, para
desespero de Andréia, ele designou como herdeira Naná, uma suposta filha
desaparecida. Determinada a reaver a fortuna do marido, Andréia contrata o
advogado Rogério (Cláudio Marzo) para cuidar do caso, e ele usa de todos os
meios ilícitos para satisfazer sua cliente.
A novela dá uma reviravolta com a chegada de Daniela (Louise
Cardoso, intérprete da Daniela impostora), suposta filha de Naná. Ao saber que
receberá a herança de Antero, Naná liga imediatamente para a filha para contar
a novidade. Em poucos dias, Daniela chega ao Brasil, acompanhada do noivo, Jean Pierre (Luiz
Fernando Guimarães), e do sogro, Armand (Oswaldo Loureiro). Aos poucos, nota-se
que Daniela é uma jovem aproveitadora, que está interessada em tirar proveito
da fortuna que a mãe receberá. Jean Pierre e Armand, na realidade, chamam-se
João Pedro e Armandinho e são dois trapaceiros também de olho na grana de Naná.
Daniela passa a exercer tanto poder sobre a mãe que consegue convencê-la a
colocar seus filhos adotivos em um orfanato, para tristeza das crianças. No final da novela, descobre-se que a Daniela
que se dizia filha de Naná é uma impostora. Para a felicidade completa de Naná,
a verdadeira Daniela (Cristina Pereira) aparece no último capítulo, no meio do
casamento de Naná e JeJê. Naná, então, ganha definitivamente a herança de
Antero.
Foto : http://i1.ytimg.com |
Nathália
do Vale brilhou na trama vivendo a vilã Andréia Souza e Silva,
capaz de fazer todas as trapaças e maldades possíveis para que Naná não
recebesse a herança do pai. No auge da beleza a atriz desfilou toda a
sofisticação que a personagem pedia, tudo ao som da música “Perigosa” da banda Syndicatto , que condizia muito bem com o perfil da personagem.
Foto : canalviva.globo.c |
Outra trama que se destacou em Cambalacho ,
foi a história de Tiago e Ana Machadão , vividos por Edson Celulari e Déborah Bloch. Os personagens exerciam profissões
até então não tradicionais. Ele era bailarino e ela mecânica. Apesar das
diferenças o amor entre eles surgiu logo que se conheceram, e passaram a ser o
casalzinho preferido da novela. Com a história dos dois Sílvio de Abreu quis quebrar estereótipos , mostrando que as
mulheres e os homens podiam exercer as funções igualmente, bastando apenas
talento e competência, e que o sexo era um mero detalhe.
Os telespectadores puderam se deliciar com Déborah Bloch fazendo uma mulher “machão” grosseira e suja de
graxa, impossível imaginar se compararmos as suas personagens dos anos 90 em
diante , todas mocinhas ou mulheres ricas da sociedade. A atriz elogiadíssima
na época , conseguiu achar o tom certo para a personagem , fugindo da
caricatura e deu um show!
Foto : http://4.bp.blogspot.com/ |
Cambalacho como não podia deixar de ser,
afinal estamos falando de uma trama do Sílvio
de Abreu, abusou da comédia e nesse
contexto brilharam as personagens de Regina
Casé e da saudosa Consuelo Leandro.
Vivendo Tina Pepper e Lili Bolero , elas faziam o Brasil cair na gargalhada a
cada cena. Tina Pepper uma cover da Tina Tuner, usava uma peruca que
imitava o penteado da cantora na época, e Lili Bolero, sua mãe, passava o tempo
todo a queixar-se da carreira de cantora que lhe fora roubada por Angela Maria. A cantora inclusive fez
uma participação especial na trama.
Foto : http://jmonline.com.br/ |
O Piloto Ingo Hoffmann fez uma participação na como o empresário e patrocinador de Athos , o
piloto de corridas vivido por Flávio
Galvão. Silvio de Abreu também
fez uma participação mega especial vivendo o padre que casou Nana e Gegê , e o
diretor Jorge Fernando que viveu um
palhaço no circo de Rick ( Marcos Frota ).
Silvio havia
escrito especialmente para Cláudia Raia a
personagem Debbie Day , que teve que ser recusada devido Roque Santeiro (1985) onde ela vivia a Ninon, ter sido esticada. A Atriz que hoje é uma das
preferidas do autor, acabou fazendo uma pequena participação vivendo Maria
Antonieta Félix uma falsa milionária portenha. A Aparição de Claudia na trama
foi muito divulgada e aguardada. Quando
o grande dia chegou , nós vimos uma Cláudia toda de negro envolta num casaco de
pele com um vestido recheado de paetês.
Depois de Cambalacho,
Claudia participou de quase todas as outras tramas do autor : Sassaricando (1987), Rainha da Sucata (1990)
, Deus Nos Acuda (1992), Torre de Babel (1998),
As Filhas da Mãe (2001), Belíssima (2005) e ainda uma pequena participação
no capítulo final de A Próxima Vítima (1995) e viveu ela mesma em Passione (2010). Cláudia ficou de fora também do remake de Guerra dos Sexos ,
que o autor reescreveu em 2012.
Foto : http://www.portalorm.com.br/ |
Pouco antes da novela estrear, em pleno governo Sarney, o Brasil
lançou o Plano Cruzado . Algumas
cenas da novela tiveram que ser
adaptadas, pois faziam menção valores ainda cotados em cruzeiro ( a moeda
anterior ). A Solução foi fazer a “conversão”
com legendas.
Inesquecíveis as
placas que representavam as passagens de
cena e tempo da novela. Eram letreiros luminosos nas ruas de São Paulo, onde a novela era
ambientada, onde podíamos ler “Enquanto
Isso”, “Cai a Noite” entre
outros. No final do último capítulo, a novela mostrou como festa de encerramento um
corpo de balé caracterizado com os figurinos dos personagens da trama, que
vistos de cima em uma imagem gravada por um helicóptero formavam a palavra Cambalacho.
Quando começou ser divulgado que Silvio de Abreu escreveria um remake de um grande sucesso seu,
pensei em Cambalacho.
Inclusive por muito tempo a imprensa
divulgou que o autor pretendia escrever o remake da trama, mas na hora de bater
o martelo foi escolhida Guerra dos Sexos, outro sucesso do autor do ano de
1983. O Remake acabou não repetindo o
sucesso do original, e até agora me pergunto se Cambalacho tivesse
sido a escolhida o resultado fosse outro. Afinal de contas o “jeitinho brasileiro” para se conseguir
o que quer está mais atual do que nunca.
Silvio de Abreu ousou ao escrever a trama. Afinal nas entrelinhas o
“Cambalacho” do título se referia a condescendência das pessoas
frente aos comportamentos corruptos alheios,
e a maneira de se levar vantagem em
tudo. Mas no conjunto da obra , Cambalacho foi um novelão, e seria ótimo revê-la em uma nova
reprise.
Ficha Técnica :
Novela
do autor Silvio de Abreu
Direção
Geral : Jorge Fernando
Exibição
: 10 de Março à 04 de Outubro de 1986
Capítulos
: 173
Foto : http://2.bp.blogspot.com |
Fonte :
Texto :
Evaldiano de Sousa
Pesquisa
: teledramaturgia.com, Wikipédia.com
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