As tradições ciganas e um romances
através da internet (novidade na época) eram o fio condutor de Explode Coração,
trama da autora Glória Perez,
exibida originalmente no horário nobre em 1995 e que volta a partir do próximo
dia 29 no Canal Viva.
Explode Coração nunca
foi reprisada antes, o que já é um bom motivo para rever a trama
que para alguns pode soar como inédita, visto que completa 22 anos de sua estreia original este
ano.
Protagonizada
por Tereza Seiblitz, Edson Celulari,
Ricardo Macchi, Maria Luísa Mendonça , a trama conta a história de Dara (Tereza Seiblitz), uma jovem cigana que se orgulha de suas origens,
mas se recusa a ficar presa às tradições. Deixa sua alma rebelde falar mais
alto e quebra uma tradição de seu povo: nega-se a casar com Igor (Ricardo
Macchi), o noivo prometido. A notícia cai como uma bomba para seus pais, Jairo
(Paulo José) e Lola (Eliane Giardini), e
é ótima para Yanka (Leandra Leal), sua irmã mais nova, apaixonada pelo rapaz.
Mas Igor só tem olhos para Dara e luta por esse amor.
Indiferente às
consequências de sua decisão, Dara conhece, em uma conversa por computador, o
empresário Júlio Falcão (Edson Celulari), que mexe com seu coração. Júlio é o
homem que adora ganhar dinheiro e seduzir mulheres. Vive um casamento de
aparências com Vera (Maria Luisa Mendonça), que nem desconfia da traição de sua
prima Eugênia (Françoise Forton).
Separados pelo mundo,
pessoas tão diferentes como Júlio e Dara se cruzam e lutam contra todos por um
amor que tem velhas tradições de um povo, e Igor e Vera como maiores
obstáculos.
Além da bela história de
amor de Dara e Júlio Falcão, abaixo outros motivos que fazem de Explode Coração uma
trama imperdível:
Cultura Cigana
A Cultura cigana foi o grande pano de
fundo de Explode
Coração. Os hábitos e costumes do povo cigano foram explorados ao
máximo e com maestria pela autora.
Destaque para o casal de ciganos Jairo e Lola vividos pelo Paulo José e Eliane Giardini. Dara, a protagonista vivida pela Teresa Seiblitz, foi inspirada em uma cigana na vida real, que
enfrentou o preconceito de sua raça ao casar-se com gadjô, um homem não cigano.
Mesmo com todo o cuidado na
caracterização e pesquisa para o estilo dos ciganos, logo nas primeiras semanas
os figurinos usados pelo núcleo foi
muito criticado pelo exagero. Os ciganos de Explode Coração não eram nômades, eram modernos e moravam em bairros
nobres e os figurinos soavam fake. A partir da segunda semana de exibição, fora mesclado aos figurinos uma moda mais
contemporânea, deixando os trajes típicos apenas para as cenas de festas e rituais.
Alma Cigana (Tupi, 1964) e O Rei dos Ciganos (Globo,
1966) também abordaram o universo cigano em suas tramas. Assim como em Pedra sobre Pedra (Globo,
1992) tinha um importante núcleo desse
povo.
Relacionamentos pela internet
Com a internet ainda pouco difundida no
Brasil em 1995, o início do romance de Júlio e Dara, através de uma rede
mundial de computadores, atiçou a curiosidade do público que viu nas cenas de
conversa entre o casal de protagonistas algo impensado. Mal imaginávamos que, tão logo o que a sempre visionário Glória Perez previu , seria um dos meios mais usados para
comunicação nos dias de hoje.
Amor em Diferentes Idade
Renéede Vielmond e Rodrigo Santoro protagonizaram na trama de Glória Perez um entrecho polêmico – a relação entre uma
mulher mais velha e um homem mais jovem – ainda um tabu na década de 90. Beth,
a personagem da Renée, era ex-mulher do padrasto de Serginho, personagem do
Santoro, os dois se apaixonam e, juntos resolveram enfrentar os
dilemas pela diferença de idade, e objetivo de vida. No final da trama, Beth
que era 20 anos mais velha que Serginho, fica grávida e os dois finalmente
selam a relação marcada por muito amor.
Crianças desaparecidas
Explode Coração desenvolveu
uma importante campanha social através da personagem Odaísa, vivida pela atriz Isadora Ribeiro. A personagem era a
babá de Dara e Ianca e dava shows de tango em parceria com seu companheiro
Adilson Gaivota, vivido pelo saudoso Guilherme
Karan. O Filho de Odaíza desaparece no meio da trama, gerando uma grande
campanha em prol das crianças desaparecidas
no Brasil. Glória Perez levou
diariamente para a telinha da Globo
as mães da Cinelândia, que eram entrevistadas pela Yone, personagem da Déborah Evelyn , repórter dentro de Explode Coração,
misturando ficção e realidade em prol do bem comum. Os veículos de comunicação
fizeram uma massiva cobertura sobre o
caso de cada criança desaparecida que ganharam suas fotos estampadas em várias
embalagens de produtos e no término de cada capítulo da novela. Do início da
campanha até o final de Explode Coração
foram encontradas mais de 60 crianças na
vida e o Gugu (Luiz Cláudio Jr), o filho
da Odaíza.
Floriano Peixoto e a Drag Queen
Sarita Witte
Floriano
Peixoto estreou em novelas vivendo a polêmica Drag Queen Sarita Witte.
Mesmo com um personagem bem construído, Sarita se apresentava à noite em
boates, mas mantinha uma postura discreta pela manhã, e agia como conselheira
de outros personagens, inclusive mulheres,
sem uma identidade de gênero definida, Sarita incomodou os Grupos Gays
que não via representatividade de nenhum gênero nela. Sarita não caracteriza
bem um travesti, gay, crossover, transformista, transexual ou drag queen. Glória Perez voltaria a falar desse
tema, desta vez bem mais explícito e explicado em sua última trama, A Força do Querer,
com a personagem Ivana (Carol Duarte) e Nonato (Silvero Pereira). Floriano Peixoto foi muito elogiado por
sua atuação em Explode
Coração, mas nem por isso ficou preso ao personagem. Depois da
Sarita o ator apareceu em outros trabalhos conquistando inclusive posto de galã
e protagonista.
Cigano Igor
Pode ser que alguns não lembrem de temas
ou personagens de Explode Coração, mas o Cigano Igor , vivido pelo
estreante Ricardo Macchi é unanimidade
e não tem quem não lembre dele. O Personagem foi sem dúvidas o
de maior destaque da novela, uma pena que pelo lado negativo. Alçado ao posto
de protagonista, dividindo o amor de Dara com Júlio Falcão, o ator foi bombardeado
de críticas negativas por seu nítido
despreparo para viver um personagem tão forte e o “Cigano Igor” acabou virando
sinônimo de ator canastrão e mau ator.
Mais de 20 anos depois e com outros
personagens no currículo, o estigma do Cigano Igor nunca abandonou o ator, que
já se sentiu ofendido, se recusou a falar sobre o personagem por anos, mas nos
últimos anos declarou que se resolveu
com o Cigano e inclusive participou de uma grande campanha publicitária
brincando com a “suposta” má interpretação do personagem.
A
Criativa e visionária abertura
A abertura de Explode Coração foi tão visionária quanto a trama. No vídeo que
mesclava dança cigana com a tecnologia da internet, a equipe de Hans Donner “previu” o uso de tablets sensíveis ao toque (Touch
Screen) muitos anos antes da tecnologia ter sido criada. A Abertura marcou a
estreia na Tv da atriz Ana Furtado
que era a cigana que se materializava em nosso vídeo através de um dos toques no
tablete.
Salgadinho
e Lucineide dos saudosos Rogério Cardoso
e Regina Maria Dourado
Explode Coração vai
nos trazer de volta os inesquecíveis Salgadinho e Lucineide, casal que roubou a
novela pela comicidade vividos pelos saudosos Rogério Cardoso e Regina Maria Dourado. Os bordões da Lucineide “Stop, take it easy! Me poupe, me economize!”, ganharam os quatro cantos do
pais e transformaram a personagem em uma das mais marcantes da atriz nos seus
últimos anos de trabalho.
A
polêmica perda da virgindade de Dara
A personagem Dara se viu em volta de uma
polêmica fora da trama. Uma cena de sexo envolvendo Dara e Júlio levou a
advogada Myrian Stanescon à justiça
alegando que o episódio fora inspirado
em sua vida e que depreciava sua imagem e a de seu povo – cuja tradição impõe a
virgindade para mulheres solteiras. Ele obteve uma liminar para impedir a
exibição na cena, mas a Tv Globo
impetrou um recurso, e a cena foi exibida sem cortes.
Primeira
novela gravada no Projac e a
primeira da Glória a explorar uma nova cultura
Explode Coração foi
a primeira novela gravada do início ao fim nos estúdios do Projac, a Central Globo de
Produção, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro (hoje Estúdios Globo). A
Construção numa área de 1 Milhão de Metro quadrados começou em 1989 e terminou
em 1995. A novela foi também a primeira de Glória a falar de outras culturas e
costumes, características que ela
manteve em outros trabalhos como O Clone (2001), Caminho das Índias (2009) e Salve Jorge (2012).
Fonte:
Texto:
Evaldiano de Sousa
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