A trama da Elizabeth Jhin, Espelho da Vida,
está em sua reta final e mesmo minguando uma das piores audiências do horário,
o que não entendo, é sem dúvidas a melhor já escrita pela autora até então.
Sempre frisando em outras vidas, vidas passadas, vidas pós-morte
através do espiritismo em suas novelas, Espelho da Vida também
tem essa essência, mas com o diferencial de ter contada sua narrativa em dois
tempos, mostrando os personagens em suas vidas passadas e reencarnações atuais.
Mesmo já tendo testado esse tipo de
narrativa com maestria em Além do Tempo
(2015), onde a trama mostrava as duas vidas dos personagens, Espelho da Vida inova
ao mostrar concomitantemente as encarnações dos personagens, o que exigiu muito mais do elenco que teve que viver dois
personagens ao mesmo tempo, e na maioria
deles com perfis totalmente diferentes , o caso do Felipe Camargo (Coronel Eugênio /
Américo) e Irene Ravache (Hildegard
/ Margô).
Foi exatamente quando o tempo passado de
Espelho da Vida começou
a tomar conta dos capítulos, que a trama realmente deslanchou, tirando a aura
de lentidão que pairou por quase metade da história.
O brilho e a perícia dos atores
vivendo personagens tão distintos deram
credibilidade ao texto e a narrativa, o
público começou a se formar e torcer pela trama.
Júlia / Cris – Vitória Strada
Ísis
Valverde estava escalada para viver a
protagonista de Espelho da Vida, porém descobriu que estava grávida e teve que
deixar a trama, assim Vitória Strada,
recém-saída de Tempode Amar (2017) foi escalada para
viver Júlia Castelo e Cris Valênça. Era um risco, afinal de contas mesmo com um
trabalho primoroso anteriormente,
Vitória era praticamente estreante e ainda estava muito viva em nossa memória a
Maria Vitória, porém o risco valeu a pena. Logo em suas primeiras cenas vivendo
as duas personagens que defendeu na trama, Vitória mostrou que já estava pronta
sim e conseguiu fazer uma interpretação segura da mocinha da trama nas duas vidas da personagem. Um show em cena de uma
atriz que sabe fazer espetáculo da simplicidade de uma interpretação.
Dora / Isabel – Alinne Moraes
Alinne
Moraes como a antagonista da trama
em nenhum momento ficou em segundo plano. Sua performance como as vilãs Dora / Isabel
foi digna de aplausos, que grande atriz,
principalmente vivendo vilãs. Interpretação segura que em muitos momentos me fez querer entrar na trama para dar uma jeito
nas vilanias da personagem, a atriz fez
um trabalho irrepreensível. Destaque para sua dobradinha com a mãe
Grace/Graça (Patrícia Travassos) e a
filha/irmã Priscila/Teresa (Clara
Galinari).
Danilo / Daniel - Rafael Cardoso
Rafael
Cardoso está há 10 anos ininterruptos no ar e mesmo com a imagem degastada, o ator consegue marcar cada novo personagem
que vive. Em Espelho
da Vida , ele tinha uma tarefa
difícil – Viver uma das pontas do principal triângulo amoroso e entrando na trama mais de 10 capítulos depois,
poderia sair perdendo na disputa pela empatia do público com o Alain, do João Vicente Castro. Porém bastou as
primeiras cenas do ator como Danilo na primeiro encontro com Júlia, para o
Rafael arrematar o público e ganhar sua torcida. A interpretação dupla com
maestria, depois que Daniel, a reencarnação do Danilo apareceu, só confirmou isso. Rafael Cardoso prova em Espelho da Vida ,
que quando um ator sabe se entregar à um personagem e fazê-lo crescer em cena,
esse negócio de “imagem degastada” em trabalhos anteriores é apenas um mero detalhe – cada personagem é
um novo bom personagem é pronto.
Graça / Grace – Patrícya Travassos
Patrícya
Travassos está de volta a Globo
depois de 13 anos e não poderia ter voltado em personagens melhores. Sempre
fadada a papéis mais cômicos na emissora, Espelho da Vida deu a Patrícya a chance de mostrar
uma nova faceta do seu talento – A Grace da vida atual é até parecida com o
perfil eternizado pela atriz, mas foi quando a Graça, a reencarnação entrou em
cena que o trabalho da Patricya começou a ganhar brilho dentro da história da Elizabeth Jhin. A aura simples da Graça
contrastando com a esotérica da Grace
foi o estopim para uma interpretação
irrepreensível da atriz. Impressionante
a transformação da Patrícya na Graça, até o olhar e o jeito de piscar da atriz muda para deixar
o telespectador íntimo da timidez e humildade da personagem, o que torna ainda
mais rico o trabalho cênico. É sempre muito bom ver uma atriz saindo da sua
zona de conforto e dando um show.
Hildegard / Margô – Irene Ravache
Irene
Ravache já é uma espécie de amuleto nas tramas da Elizabeth Jhin, e em Espelho da Vida não
foi diferente. Dá gosto assistir cada cena
da atriz por mais simples que seja, a Margô de tão simples, ou por isso
mesmo, é uma personagem espetacular, e a
Irene no auge dos seus 74 anos, é uma expert em fazer esse tipo. Porém na metade da trama fomos presenteados com a
vida passada da Margô, a exuberante Hildegard, um literal contraponto da
outra. Ai a Irene mais uma vez
transforma a novela em seu palco nos brindando com duas personagens totalmente
diferentes e igualmente bem interpretadas.
Cel. Eugênio Castelo
/ Américo – Felipe Camargo
Felipe
Camargo é outro ator em ótima forma dentro da narrativa de Espelho da Vida.
Se o Américo vai redimir ou não os pecados do Cel. Eugênio, isso ainda é uma
incógnita, mas o fato é que os personagens nas cronologias diferentes da trama
deram um outro status ao trabalho do Felipe
Camargo, que precisava desse novo fôlego. Se alguém tinha alguma dúvida que
ele é um dos grandes atores da sua geração, o trabalho impecável na trama das
seis é uma prova disso.
Albertina Castelo /
Guardião do Castelão – Suzana Faini
Suzana
Faini outra grande veterana que
ganhou uma ótima personagem na trama. Aliás essa escalação de atrizes veteranas
em bons papéis também é uma marca registrada da autora Elizabeth Jhin. Suzana Faini começou Espelho da Vida como a figura enigmática da Guardiã da casa onde Júlia (Vitória Strada) fazia a passagem
para outra vida. No decorrer da trama é revelado que a Guardiã na verdade está
morta e trata-se da avó de Júlia, que ainda vaga pagando por um grande pecado
de outras reencarnações. Será que ela matou a Júlia? Enfim Suzana
Faini vai terminar a trama marcada por um ótimo trabalho no auge dos seus
86 anos de vida e quase 50 de carreira.
Piedade / Ana - Júlia Lemmertz
Sensibilidade e perícia são as
principais características do trabalho da Júlia
Lemmertz, que a meu ver é uma atriz camaleônica, se transformando nos mais
variados tipos de personagem. A Piedade e a Ana, suas duas personagens em Espelho da Vida, são mais uma prova disso. A Mãe sensível da
protagonista nas duas vidas deu um vasão para a Júlia apresentar tudo que ela
pode fazer em cena com uma personagem simples e humana enriquecendo ainda mais o texto da Elizabeth.
Madre Joana / Gentil
– Ana Lúcia Torre
Elogiar Ana Lúcia Torre em cena é chover no molhado. Seja fazendo drama ou
humor ela é sempre um espetáculo. Em Espelho da Vida a Gentil,
que de gentil nada tem, cativou o público logo em suas primeiras cenas com as tiradas
nada discreta e sempre bem sinceras. Sua personagem em 1930 demorou aparecer,
mas a Madre Joana veio quando socorreu
Danilo (Rafael Cardoso), depois de espancado por Augusto (João Vicente Castro).
Com a inserção da nova personagem tivemos o contraponto da Ana Lúcia, vivendo,
assim como Irene Ravache, magistralmente
duas personagens totalmente diferentes.
Gustavo / Alain - João
Vicente de Castro
Confesso que não engoli inicialmente o João Vicente de Castro como o Alain,
principalmente depois que o Danilo (Rafael Cardoso), aparece na outra vida da
Cris (Vitória Strada). Faltava força na interpretação do ator para viver o
protagonista da trama, e a química entre a Vitória Strada e Rafael Cardoso
também enfraqueceu muito o Alain. Mas
também confesso que ao vê-lo na versão
de 1930, como o vilão Gustavo Bruno, o
Marquês de Torga, a interpretação do ator ficou sem dúvidas mais digestiva. Com
uma bagagem de humor como um dos fundadores do Porta dos Fundos e uma experiência em novelas Rock Story (2016),
Espelho da Vida sem dúvidas exigiu muito do ator, que vai sair da trama galgado por um bom e bem
construído personagem.
Veja Também:
Aberturas das Novelas da Elizabeth Jhin |
Meus personagens Favoritos do Rafael Cardoso |
Meus Personagens Favoritos da Alinne Moraes |
Meus Persoangens Favoritos da Irene Ravache |
Meus Personagens Favoritos da Suzana Faini |
Fonte:
Texto: Evaldiano de
Sousa
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