45 anos da primeira
novela a falar sobre ecologia denunciando a expansão imobiliária desenfreada
Há 45 anos, Dias Gomes apresentava no horário das dez um bom momento na teledramaturgia com
a trama de O Espigão, que em sua estrutura girava em torno da desumanização da
cidade, de como o progresso descontrolado poderia esmagar o homem, com avanço acelerado e predatório da imobiliária
sobre o meio ambiente.
Palavras
como “ecossistema”, “ecologia” e “espigão”,
que virou sinônimo de prédios altos como
“arranha-céus”, e assuntos como inseminação artificial e bebê de proveta, entraram para o vocabulário
popular ao serem discutidas na trama. Na época, a Ecologia era discutida apenas nos meios acadêmicos e científicos, e Dias Gomes com a novela ajudou a disseminar
o assunto no meio popular.
Uma novela com assuntos tão ousados,
claro chamou a atenção da censura e de
grandes nomes do meio imobiliário no eixo Rio – São Paulo. Na época, Sérgio
Dourado era o principal nome nesse mercado com obras realizadas por sua construtora
espalhadas por toda cidade. Dias Gomes foi chamado às pressas por Boni (então superintendente da Globo), para uma reunião urgente na
emissora. Ao receber queixas de Dourado, seu amigo, Roberto Marinho havia mandado cancelar a novela, porque o
empresário se dizia retratado à revelia na produção, que sequer havia estreado
ainda - mais precisamente na figura do
protagonista Lauro Fontana (Milton Moraes). Com isso o protagonista da novela deixou
de ser um construtor de prédios de
apartamentos e foco da trama passou a
ser a construção de hotel de luxo.
A Censura interviu muito na trama e
mesmo depois do seu término, anos depois , continuou de olho em O Espigão.
Em 1982, a Globo providenciou um
resumo de 60% da trama para ser
apresentada no lugar da minissérie Bandidos da Falange, que havia sido censurada uma
semana antes da estreia. Porém a pressão das imobiliárias fizeram com que a
reprise também fosse cancelada, e com a liberação da minissérie para o dia
seguinte , a Globo acabou engavetando de
vez a suposta reprise de O Espigão,
que já tinha até uma nova abertura e a trilha sonora nacional pronta para ser
relançada.
O Espigão contava a história de Lauro
Fontana (Milton Moraes), um empresário megalômano com sede de progresso e
tecnologia, quer construir o maior hotel do Brasil, o “Fontana Sky”, um
edifício de 50 andares. Para isso é necessário convencer os irmãos Camará –
Urânia (Vanda Lacerda), Baltazar (Ary Fontoura), Marcito (Carlos Eduardo
Dolabella), Tina (Susana Vieira) e Carlinhos (Tomil Gonçalves) – a vender sua
mansão em Botafogo, no Rio de Janeiro, para que ele possa utilizar o terreno.
O solar pertenceu a um velho advogado, Martiniano Pedreira Camará
(Ibanêz Filho), que chegou a ter grande fortuna, mas, ao morrer, deixou apenas
aquela mansão cercada de árvores. O inventário estava ainda em andamento,
cabendo a herança aos filhos. Deles, em última instância, é que dependia a
viabilidade do audacioso empreendimento de Lauro Fontana.
Dos cinco irmãos, só Marcito quer vender a casa, para gastar o dinheiro
com mulheres. Urânia quer respeitar a vontade do pai, que pediu no leito de
morte para conservar a mansão. Baltazar é um professor de Ecologia contrário à
devastação de mais uma área verde da cidade. Tina não quer sair da casa onde
mora com seus 25 vira-latas. E Carlinhos é um hippie que
mora em uma barraca no jardim, mas não consegue se desapegar da casa.
Lauro Fontana, de origem humilde, deu o golpe do baú ao casar-se com Cordélia
(Suely Franco), a filha do patrão, proprietário de uma rede de motéis. Ela,
fútil e geniosa, deseja um filho a qualquer preço. Porém, Lauro é estéril. A
solução é a inseminação artificial – depois da frustrada tentativa de adoção de
Saulo, o bebê de Dora (Débora Duarte), moça humilde envolvida com Léo (CláudioMarzo), um defensor da natureza sem nenhuma sorte.
Lauro tinha outras mulheres em sua vida - Lazinha Chave-de-Cadeia (Betty Faria), que se
torna sua amante. Ela também tivera infância pobre: depois de muito lutar pela
vida no Beco da Fome, tornou-se assaltante, liderando sua própria gangue, na
qual Nonô Alegria-das-Gringas (Milton Gonçalves) é o cérebro. Já Elka
Escobar (Rosamaria Murtinho), mulher prática e dinâmica, fora secretária e
amante de Lauro. Quando ele casou com Cordélia, Elka jurou vingança e acabou se
tornando a sua maior concorrente no negócio hoteleiro.
Uma cena marcante de O Espião
foi apresentada logo no primeiro capítulo, onde em um engarrafamento de
trânsito na cidade do Rio de Janeiro, em plena noite de reiveillon, alguns
personagens se conheceram, criando os entrechos necessários para os capítulos
seguintes. Foi nesse engarrafamento, no meio do túnel Rebouças, que aconteceu o
nascimento do filho da jovem Dora, a personagem da Débora Duarte.
Dias Gomes trouxe mais uma seleção de tipos curiosos na trama, como os irmãos Camará, uma família
tradicional, bem educada, mas reprimida sexualmente. O maior exemplo das
neuroses era dado pelo professor Baltazar, que colecionava mechas de cabelos de
mulher que nunca havia possuído. Mais um tipo inesquecível criado por Ary Fontoura – assim como seriam o Professor Aristóbulo de Saramandaia
(1976) e o Prefeito Florindo Abelha de Roque Santeiro (1985).
Inesquecíveis também a Lazinha Chave-de-Cadeia imortalizada pela Betty Faria; Nonô
Alegria-das-Gringas do Milton Gonçalves; Elka Escobar da Rosamaria Murtinho e Susana Vieira que foi agraciada com atriz revelação da APCA
pela composição impecável da Tina
Camará.
O Espigão foi agraciada pela APCA em duas outras categorias: Melhor novela juntamente como Os Ossos do Barão e Os Imigrantes; e melhor atriz para Betty Faria, juntamente com Neuza Amaral e Elza Gomes por Os Ossos do Barão e CleydeYáconis, por Os Inocentes. Também
venceu o Troféu Imprensa de Melhor novela do ano de 1974 e melhor ator
para o protagonista Milton Moraes.
A novela usou pela primeira vez,
em grande escala, muitos efeitos especiais. Como o corredor que
antecedia o escritório de Lauro Fontona ou a cama vibratória de Cordélia. Na
verdade os “efeitos especiais” ainda eram bem
artesanais. O Corredor do escritório de Lauro na verdade era um carrinho
puxado por contra regras, assim com a cama vibratória era sacudida manualmente.
Objetos de decoração sofisticados e de alta tecnologia foram importados
especialmente para enfeitar os cenários da casa e escritório de Lauro Fontana ,
com um super-relógio digital de mesa, que exibia as horas em vários países, um aparelho que funcionava
como rádio, abridor de cartas e apontar de lápis. Novidades para época!
A Inseminação artificial e bebês
de proveta foi abordado através dos personagens
Lauro e Cordélia. Pressionado pela esposa, com ideia de ser mãe, e
depois de não conseguir adotar o filho de Dora, que presenciara o parto no
primeiro capítulo, o casal decide recorrer a inseminação artificial para gerar
o filho tão desejado. O procedimento ainda
parecia ficção científica em 1974,
e foi mais uma ótima ideia de Dias Gomes para a trama.
A Abertura mostrava o logotipo da trama rasgando o céu com
imagem de grandes prédios das metrópoles brasileiras, ao som de “O Espigão”,
música feita especialmente para a novela e cantada por Zé
Rodrix.
Outra cena marcante e popular de
O Espigão foi a morte de Urânia (Vanda Lacerda), acertada por
um coco na cabeça. Com a morte de Urânia, os Írmãos Camará são vencidos pela
proposta de Lauro Fontana, que consegue finalmente comprar o casarão no final
da trama. Na cena final, enquanto manifestantes de movimentos pró-ecologia são
mantidos afastados por policiais, o empresário assiste impassível à demolição
do casarão e a limpeza do terreno onde, em breve, começaria a ser erguido O Espigão.
Por mais que retratasse um assunto sério e pertinente, Dias Gomes seguiu a linha do humor em O Espigão, e isso foi um diferencial, dando uma
leveza nos temas e mostrando nas entrelinhas o que precisava ser dito. A novela
é mais um dos clássicos escritos pelo autor, que se tornou um expert nessa categoria –
criticar rindo, apontar o erro com gargalhadas e conseguir prender a
atenção do grande público.
Esta era a mensagem narrada nas cenas dos próximos capítulos, uma
prática comum na época:
“Cidade grande. O homem vira máquina, a máquina esmaga o homem. Chega
pro lado! Abre caminho… A engrenagem engolindo… O futuro brotando… O Espigão!”
Ficha Técnica:
Novela
do Autor Dias Gomes
Direção
Geral: Régis Cardoso
Supervisão:
Daniel Filho
Elenco:
MILTON MORAES – Lauro Fontana
BETTY FARIA – Lazinha Chave-de-Cadeia
ARY FONTOURA – Baltazar Camará (Tatá)
CARLOS EDUARDO DOLABELLA – Marcito Camará
VANDA LACERDA – Urânia Camará
SUSANA VIEIRA – Tina Camará
SUELY FRANCO – Cordélia
CLÁUDIO MARZO – Léo Simões
DÉBORA DUARTE – Dora
ROSAMARIA MURTINHO – Elka Escobar
MÁRIO LAGO – Gabriel Martins
MAURO MENDONÇA – Donatelo
MILTON GONÇALVES – Nonô Alegria-das-Gringas (Norival)
LUTERO LUIZ – Gigante
RUY REZENDE – Dico
MYRIAN PÉRSIA – Olga Maria
DORINHA DUVAL – Zilda
JARDEL MELLO – Machado
IBAÑEZ FILHO – Martiniano Pedreira Camará
TOMIL GONÇALVES – Carlinhos Camará
MARIA POMPEU – Leda
MARIA LÚCIA DAHL – Renata
ANA CRISTINA – Marly
RENÊ FERNANDES – Edinho
JÚLIO CÉSAR – Luluca
JORGE LUIZ
PIETRO MÁRIO – mordomo na casa de Lauro Fontana
LUIZ MAGNELLI – gerente
o bebê CARLOS EDUARDO CIPRIANO – Saulo (filho de Dora)
e
AMILTON MONTEIRO
BIBI VOGEL – Samanta
CECIL THIRÉ – Silveirinha
ESTELITA BELL – Marieta (tia de Cordélia, e nova namorada de Marcito)
GILBERTO GARCIA – coroinha
ILKA SOARES – dona de uma boutique, tem um caso com Léo
KÁTIA D´ANGELO
MARTA ANDERSON – Elisabeth
ROGÉRIO FRÓES
VERA LÚCIA – Sula
BETTY FARIA – Lazinha Chave-de-Cadeia
ARY FONTOURA – Baltazar Camará (Tatá)
CARLOS EDUARDO DOLABELLA – Marcito Camará
VANDA LACERDA – Urânia Camará
SUSANA VIEIRA – Tina Camará
SUELY FRANCO – Cordélia
CLÁUDIO MARZO – Léo Simões
DÉBORA DUARTE – Dora
ROSAMARIA MURTINHO – Elka Escobar
MÁRIO LAGO – Gabriel Martins
MAURO MENDONÇA – Donatelo
MILTON GONÇALVES – Nonô Alegria-das-Gringas (Norival)
LUTERO LUIZ – Gigante
RUY REZENDE – Dico
MYRIAN PÉRSIA – Olga Maria
DORINHA DUVAL – Zilda
JARDEL MELLO – Machado
IBAÑEZ FILHO – Martiniano Pedreira Camará
TOMIL GONÇALVES – Carlinhos Camará
MARIA POMPEU – Leda
MARIA LÚCIA DAHL – Renata
ANA CRISTINA – Marly
RENÊ FERNANDES – Edinho
JÚLIO CÉSAR – Luluca
JORGE LUIZ
PIETRO MÁRIO – mordomo na casa de Lauro Fontana
LUIZ MAGNELLI – gerente
o bebê CARLOS EDUARDO CIPRIANO – Saulo (filho de Dora)
e
AMILTON MONTEIRO
BIBI VOGEL – Samanta
CECIL THIRÉ – Silveirinha
ESTELITA BELL – Marieta (tia de Cordélia, e nova namorada de Marcito)
GILBERTO GARCIA – coroinha
ILKA SOARES – dona de uma boutique, tem um caso com Léo
KÁTIA D´ANGELO
MARTA ANDERSON – Elisabeth
ROGÉRIO FRÓES
VERA LÚCIA – Sula
Exibida: 03 de Abril à
1º. de Novembro de 1974
Capítulos: 150
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Nossos Autores - Dias Gomes |
Aberturas Inesquecíveis - O Espigão (1974) |
Novelas Inesquecíveis - Os Ossos do Barão (1973) |
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
Pesquisa: www.memoriaglobo.com.br www.wikipedia.com.br
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