Há 20 anos saia do ar a Rede Manchete, a emissora comercial fundada no Rio de Janeiro em 05 de
Junho de 1983 pelo jornalista e
empresário ucraniano naturalizado brasileiro Adolpho Bloch. A Manchete
fazia parte do conglomerado de
comunicação do Grupo Bloch, que
publicava à épica Revista Manchete da
Bloch Editores, e que batizou a emissora.
No domingo , 05 de junho de 1983, Adolpho Bloch pôs a emissora no ar com um discurso inicial. Com
equipamentos sofisticados e buscando uma programação casse alta, a Manchete
ficou conhecida por sua programação baseada no forte Jornalismo, na coberta do
esporte brasileiro e internacional, apresentando grandes eventos, programas de
auditório para jovens e crianças, como o
Clube da Criança, que revelou nomes
como Xuxa e Angélica, e foi uma das
primeiras emissoras brasileiras a apresentar produções japonesas do gênero
tokusatsu e anime – como Jaspion, Jiban,
Jiraiya, Ultraman entre outros clássicos.
Na teledramaturgia, a Rede Manchete entrou com tudo e chegou a ofuscar a hegemonia global em 1990, quando apresentou o fenômeno Pantanal,
novela do Benedito Ruy Barbosa. Durante o período em que ficou no ar, a
emissora exibiu dezenove telenovelas. A novela de menor duração foi Brida,
que em 1998, foi abruptamente interrompida com apenas 54 capítulos no ar, em
função da crise financeira da emissora. Mandacaru, exibida em 1997, foi a maior, com 258 capítulos.
O Slogan da Manchete – “A
Televisão do ano 2000” – acabou não se concretizando. Depois de alguns
anos de crise financeira, processos judiciais com empregados e fornecedores,
baixa audiência de sua programação , em 10 de maio de 1999 a emissora fechou as
portas oficialmente, não resistindo a virada do século.
Lembro-me que quando criança, na década de 80, a Manchete era a
emissora que eu mais gostava de ver. Apresentava uma programação ótima
para as crianças, como o Clube da Criança , que era apresentado inicialmente pela Xuxa. Isso sem falar no Lupi Liplim Clapa Topô, apresentada pela LucinhaLins e seu segundo marido Cl. áudio
Tovar Para comemorar esses
20 anos sem a emissora, que na minha infância era um escapismo, quando
a programação vespertina da Globo
não interessava, que tal relembra 10
novelas que fizeram história da Rede
Manchete e em alguns momentos abalaram a programação Global.
Dona Beija (1986)
Dona Beija foi o primeiro grande sucesso na teledramaturgia da Rede
Manchete. A Emissora
investiu pesado na produção da novela, começando pela contratação deMaitê Proença, na época grande estrela da Rede
Globo. O Forte entrecho
novelístico e a ousada direção de Herval Hossano focando no
erotismo com destaque para as inesquecíveis cenas de nudez da Maitê,
foram os pilares de Dona Beija. A cena em
que Beija cavalga completamente nua em cima de um cavalo branco é uma das
mais emblemáticas e marcantes da trama. Dona Beija foi baseada nos romancesDona
Beija, a Feiticeira do Araxá, de Thomas
Leonardos e A
Vida em Flor de Dona de Beija, da Agripa
Vasconcellos. A trama foi
reprisada por três vezes, duas na própria Rede
Manchete em 1988 e 1992 e
depois pelo SBT, quando a emissora
doSilvio
Santos comprou os
direitos da massa falida da Rede Manchete em 2009.
Corpo Santo (1987)
Querendo dar continuidade ao sucesso de Dona
Beija, a Manchete continuou investindo pesado e produziu Corpo
Santo, novela do autor José
Louzeiro e Cláudio Macdowell. A trama mostrava
uma temática com um estilo de novela mais reportagem,
enfocando o dia-a-dia dos personagens sem esquecer a mágica da
ficção. Corpo Santo também trouxe nomes fortes da teledramaturgia da Globo para protagonistas: Reginaldo Faria e Christiane Torloni. A novela foi criticada na época por apresentar uma
trama muito “barra-pesada” que desagradava o público da emissora. No decorrer
da trama os autores foram substituídos por Wilson
Aguiar Filho e a
colaboradora Leila Micollis. Com isso a Manchete contornou os problemas e a novela teve um relativo
sucesso garantindo sempre o segundo lugar no IBOPE.Corpo Santo foi eleita pela APCA (Associação
Paulista de Críticos de Arte) a melhor novela de 1987.
Carmem (1987)
A Manchete continuou
apostando alto e contratou LucéliaSantos, estrela maior da Globo na época pelo
sucesso na novela Escrava Isaura (1976), e recém saída deSinhá Moça (1986), para imortalizar a emblemática personagem de Merimée
e Bizet,Carmem pelas mãos da Glória Perez. Era estreia da autora com escritora solo oficialmente,
antes havia terminada de escrever Eu Prometo (1983) quando JaneteClair morreu, e dividido Partido
Alto (1984) com o AguinaldoSilva. A Autora mostrou que tinha fôlego para
segurar uma trama e despertar o interesse do público. Em uma época em que
a AIDS ainda era vista com muito preconceito, tratou da doença através da
personagem Rosimar (Theresa Amayo), infectada com o vírus de HIV quando fez uma
transfusão.
Kananga do Japão (1989)
Um painel carioca dos anos
30, num projeto ousado da emissora que chegou ao requinte de reconstruir uma
réplica perfeita da Praça XI. A Novela misturava ficção com realidade tendo
como pano de fundo o movimento musical dos anos 30. Wilson Aguiar
Filho soube costurar com maestria o folhetim aos principais
acontecimentos da história do país na década enfocada.
Kananga do Japão é considerada a melhor
novela em termos técnicos apresentadas pela Rede Manchete e
que tinha a direção cirúrgica da Tizuka Yamazaki.
No elenco , Christiane
Torloni como protagonista foi impecável na pele da
bela Dora. A trama trazia ainda Cassiano Ricardo e Bettina
Vianny encarnando Carlos Prestes e Olga Benário.
Pantanal (1990)
Pantanal, do BeneditoRuy
Barbosa, foi o grande fenômeno da teledraturgia apresentado
pela Rede Manchete. A novela foi a primeira a abalar os alicerces
dos padrões globais. A emissora carioca era líder absoluta desde que se firmou
na metade da década de 70, e imaginar que uma novela de uma emissora recente
ultrapassasse seus índices era inaceitável. Na época, a Globo apresentava
a trama de Rainha da Sucata , do autor Silvio de Abreu.
Curiosamente, Pantanal estava
engavetada na Globo há anos, a emissora não viu viabilidade em
uma trama gravada em pleno Pantanal. Jayme Monjardim , na
época diretor de teledramaturgia da Manchete, comprou a briga
e produziu uma das melhores novelas da história da tv.
A trama primou pelas belas
paisagens pantaneiras, onças, pássaros, e claro a sensualidade através dos
banhos inesquecíveis de Juma e Guta, as personagens daCristiana
Oliveira e Luciene Adami.
Cristiana Oliveira se
transformou em estrela de primeira grandeza depois de viver a protagonista
Juma, que se transformava em onça a beira do rio.
Depois do sucesso de Pantanal , Benedito Ruy
Barbosa foi elevado ao primeiro escalão de autores da Globo,
pulando do horário das seis para o nobre com sucessos como Renascer(1993), O Rei doGado (1996) e Terra Nostra (1999).
A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990)
Um novelão levado ao pé da
letra. A História de
Ana Raio e Zé Trovão, dos autores Marcos Caruso
e Rita Buzzar , trouxe a telinha o mundo dos rodeios, e isso
imprimiu um ar diferente ao folhetim que tinha essa temática itinerante e um
numeroso elenco entre fixos e participações especiais de atores
circenses, cantores e outros artistas.
Depois do sucesso de Pantanal, saiam as paisagens
pantaneiras e a Mancheteinvestia na ideia de mostrar o “Brasil
que o Brasil não conhece” com rodeios e músicas
sertanejas como pano de fundo. As tramas iriam surgindo ao longo das
estradas brasileiras, sem uma temática predeterminada ou uma história definida
antecipadamente.
A Novela não tinha cenas de estúdios, tudo era gravado nas cidades por onde os
rodeios e as caravanas passavam, além das feiras cenográficas criadas
especialmente para a história.
Acho que o único pecado
de A História de Ana Raio e
Zé Trovão foi o fraco
apelo folhetinesco da trama que se arrastou nos 251 capítulos da
trama itinerante.
Amazônia (1991)
“Viver em dois tempos ao mesmo
tempo. Romper 100 anos em 1 segundo”
Esse foi o slogan de divulgação de Amazônia, trama dos
autores Jorge Duran, Denise Bandeira e Regina Braga.
Amazônia seguia o mesmo estilo
de Pantanal, tendo desta vez a floresta
Amazônica como pano de fundo. Porém os esforços foram em vão e a trama acabou
não sendo bem recebida pelo público. Com a tentativa de salvar Amazônia, foi lançada um segunda parte da novela focando a história
apenas na trama do passado, visto que a história inicialmente era contada em
dois tempos, 1899 e no futurista ano de 2010.
Amazônia trazia em seu elenco
nomes que brilhariam na Globo logo nos anos seguintes: Cristiana
Oliveira, Marcos Palmeira, Helena Ranaldi
e Júlia Lemmertz.
Tocaia Grande (1995)
Com uma produção de mais de 8
milhões , em 1995 a Manchete apresentou a trama de TocaiaGrande, dos autores Mário
Teixeira, Duca Rachid e Marcos Lazarini, baseados no romance homônimo
de Jorge Amado.
Tocaia Grande contava a história da
fundação de uma cidade no sul da Bahia numa época em que as plantações de cacau
eram adubadas com sangue. A disputa pela terra e pelo domínio político entre os
coronéis Boaventura Amaral (Carlos Alberto) e Elias Daltro (Leonardo
Villar).
Com os resultados negativos da trama, Adolpho Bloch resolveu
trocar a direção da novela e chamou Walter Avancini para
“salvar” Tocaia Grande. Uma das primeira
providencias de Avancini foi chamar Walter George Durst para
escrever a novela a partir de então, criou novos personagens, enxugou o
elenco, e claro inseriu bem mais sensualidade as sequencias da novela.
Mesmo sem chegar aos 22 pontos sonhados por Adolpho, Tocaia Grande se recuperou e terminou com uma audiência satisfatória, considerando o
fato de estar sendo vinculada pela Rede Manchete. A trama deu uma
injeção de patrocínio à emissora, que nos 11 meses de exibição da trama
produziu vários outros programas dando uma boa revitalizada na grade de
programação da trama.
Pela primeira vez na história da
Justiça do Trabalho, uma novela foi dada como garantia para pagamento de
dívidas. No processo movido, em 1998, por funcionários da extinta Rede
Manchete, Tocaia Grande avaliada em 5 milhões, foi oferecida como penhora pela
empresa Bloch Som e Imagem.
Xica da Silva
(1996)
O prestígio e terceiro lugar
isolado, a Rede Manchete só voltou a ter novamente em 1996,
quando exibiu o fenômeno Xica da Silva, do autor Walcyr
Carrrasco (sob o pseudônimo de Adamo Angel) baseado no romance Xica que Manda de Agripa
Vasconcellos.
Com forte apelo erótico, Xica da Silva é considerada um clássico dentro
da emissora, consagrou Walcyr Carrasco, na época contratado
pelo SBT, e por isso o pseudônimo para assinar a trama; e Tais Araújo que
na pele da escrava foi alçada ao posto de grande estrela, e logo que
terminou a novela foi contratada pela Rede Globo.
A Atriz ainda era menor quando começou gravar a trama e assim não poderia
aparecer em cenas de nudez. Enquanto não podia despir Tais, a trama exibiu a
nudez de várias outras atrizes, em destaque
Adriana Galisteu, quem mais apareceu nessas condições na novela. Os
dezoitos anos da Tais Araújo foi comemorado em alto
estilo. Depois de 50 capítulos, finalmente a nudez completa de Xica da Silva em um banho de cachoeira no capítulo de 02.12.1996.
Com
primorosa e caprichada direção de Avancini, Xica da Silva foi uma novela empolgante,
forte, sensual, realista, e não poupou em cenas de violência explícita. São
inúmeras as seqüências de assassinatos, execuções, e até torturas. Um dos
fortes momentos da novela aparece quando Maria (Zezé Motta),
mãe de Xica, é morta, tendo seus braços e pernas amarrados a quatro cavalos
que, assustados por um tiro, correm em direções contrárias, esquartejando o
corpo da negra em plena praça pública. Além dessa, as cenas que envolviam as
bruxarias de Benvinda (Míriam Pires) e Violante (Drica Moraes) também não
economizaram em tecnologia e realismo.
Além de Taís
Araújo, Giovanna
Antonelli e Drica Moraes tiveram destaque na novela e logo em
seguida voltaram para a Globo com status de grande
estrela.
Mandacaru (1997)
Mandacaru, planta que nasce no
sertão, batizou essa história que tinha o cangaço como tema, retratando os
costumes e discutindo questões de terra. A Trama do autor Carlos Alberto Ratton foi
a penúltima novela apresentada pela Rede Manchete, que já passava
pela crise que a levaria à falência em 1999. Depois de Mandacaru a
emissora ainda produziu Brida,
inspirada no livro de Paulo Coelho, mas que acabou não sendo
finalizada.
A
novela teve pouca repercussão, porém mesmo assim apresentou 259 capítulos
e é uma das mais longas novelas da emissora. Devido à crise financeira que a
Manchete enfrentava não teve condições de produzir rapidamente uma
substituta no horário e esticou Mandacaru até onde pode.
Para segurar esse “esticamento” a
novela cortou vários personagens e trouxe várias participações de luxo
como Marília Pêra, Agildo Ribeiro, Elba Ramalho,
Tânia Alves, Roberta Close e uma versão de Lampião e Maria Bonita
vivida pelos cantoresAlceu Valença e Daniela Mercury.
Para justificar a duração, a trama
central inicial deu lugar a uma nova história, onde o personagem Zebedeu
do Benvindo Siqueira, tornou-se o protagonista, dando mais
ênfase ao humor na produção.
A novela tinha uma boa temática e
com o cuidado certo talvez tivesse repetido o sucesso de Xica da Silva (1996), a trama anterior no horário. Isso ficou ainda mais claro quando
a Rede Bandeirantes comprou os direitos de exibição da trama da massa
falida da Manchete e reapresentou em 217 capítulos , marcada
por um audiência maior do que a da exibição original.
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
Pesquisa: www.wikipedia.com.br
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