Com a inclusão de Paginas da Vida (2006) na Globoplay e Caminho das Índias (2009)
no Viva , 2 tramas apresentadas no horário das 8 da Globo, ascendeu ainda
mais em mim a vontade de rever alguns clássicos do horário resgatada em uma das plataformas:
Champagne (1983)
“Um clima de festa no
ar. Um brinde para você na nova novela das oito”
Esse slogan anunciava sua nova novela das oito e marcava com Champagne a estreia do
autor Cassiano Gabus Mendes no horário nobre. A Ideia da
emissora era ressuscitar o horário das dez, assim escalou Janete Clair,
que subiu do horário das oito para o das dez com Eu Prometo; e Cassiano Gabus Mendes consagrado com suas comédias
românticas no horário das sete, foi promovido para o horário das oito.
Infelizmente Champagne ficou muito abaixo da audiência esperada, e em
fevereiro de 1984, quando a Globo perdeu a transmissão do Carnaval Carioca
para Rede Manchete foi a gota d´agua. A Novela teve seu pior
índice. A Globo nunca mais deixou de transmitir o carnaval.
Depois
de Champagne, Cassiano
escreveu três dos seus maiores sucessos no horário das sete , Ti Ti Ti (1985), Brega e
Chique (1987) e Que
Rei Sou Eu? (1989),
voltando ao horário nobre apenas em 1990
com Meu Bem Meu Mal.
Na fase final de Champagne além da identidade do verdadeiro assassino de Zaira, copeira vivida pela
Suzane Carvalho, morta no
primeiro capítulo da trama, outro mistério aguçou a curiosidade do
telespectador. O Don Juan Ronaldo, personagem do Carlos Augusto
Strazzer , mantinha um caso amoroso secreto com uma das mulheres
casadas da novela. O mistério perdurou até o último capítulo quando foi
revelado que Diná, a personagem da Marieta Severo era a amante
misterioso do galã.
Faltou
a Champagne o “charme” característica principal nas
tramas do Cassiano. Talvez tenha ficado difícil incluí-lo entre assassinatos,
traições e casamentos desfeitos , principais tramas da novela, mas valeria muito
um novo brinde com Champagne em uma reprise no Viva ou resgate na Globoplay.
Coração Alado (1980)
Coração Alado estreou em 11
de Agosto de 1980 e é considerada uma novela muito depressiva com
exageros de infelicidade para a protagonista e um protagonista com um
caráter muito duvidoso.
A novela apresentou a primeira cena de estupro da teledramaturgia nacional.
Vívian, a protagonista vivida por Vera Fischer, era estuprado pelo
cunhado Leandro, personagem do Ney Latorraca. A Cena apesar
de ter sido considerada um marco, também sofreu rejeição por parte do
público.
O outro ponto
polêmico da trama foi a suposta masturbação de Karany, personagem
da Débora Duarte. A autora pedia no texto uma cena forte
e assim Karany era mostrada em cima de uma cadeira com closes no rosto
quase em êxtase da Débora. Em seguida close nos pés da personagem em
movimentos circulares. A Cena foi exibida no capítulo do dia 24 de Fevereiro de
1981 , depois da exibição sumiram o script e fita da gravação da cena.
A novela tem um leque de situações típicas dos folhetins da
autora Janete Clair, mas as cenas fortes e o pesado melodrama do
texto não cabia mais ao horário nobre e destoava a trama. Isso
somado as polêmicas e o olho forte da censura fizeram a trama não decolar como
a Globo esperava, mas é um título que com certeza faria muito
sucesso nos dias hoje.
Corpo a Corpo (1984)
Um suposto pacto com o diabo foi o mote principal e a trama que mais
chamou atenção dentro da novela Corpo a Corpo, um dos sucessos do Gilberto Braga.
Débora Duarte no auge
da sua beleza e ascensão de carreira viveu uma de suas melhores personagens em Corpo a Corpo, à protagonista Eloá, e Flávio Galvão, que
interpretou o Raul, o suposto “Diabo” sem dúvidas fez um dos seus papéis marcantes na tv. A Química entre eles
deva o tom certo a cada cena.
Zezé Motta e Marcos Paulo viveram na trama os personagens Sônia e Claudio. Ela, uma mulher negra de classe média e, ele o herdeiro dos Fraga Dantas. No decorrer da trama eles se apaixonaram e o romance inter-racial causou polêmica e não foi bem visto nem pelo grande público. Dentro da novela a pressão familiar fez com Sônia terminasse com Cláudio, mas como numa obra do destino, o sangue de Sõnia é usado em transfusão para salvar a vida de Alfredo Fraga Dantas (Hugo Carvana), o homem que lhe hostilizara.
Corpo a Corpo foi abraçada pelo público que cativado pelos bons personagens e
entrechos criados pelo autor, todos muito bem costurados ao suposto pacto
com o diabo, que despertou a curiosidade tanto quando um
“quem matou.
Espelho Mágico (1977)
Em 1977 , Lauro César Muniz, sempre um inovador, escreveu para o horário
global das 20 horas Espelho Mágico, a novela que mostrava os bastidores do mundo artístico em
todos os seus níveis. Usando de uma metalinguagem, a novela acabou ficando
incompreendida pelo grande público, que misturava os personagens da trama com
os personagens de “Coquetel de Amor” novela que era gravada dentro de Espelho Mágico.
A
Novela realmente foi uma inovação para época. Em 1977, pouquíssimas revistas cobriam o mundo da tv e
seus bastidores, e os telespectadores já tinham a curiosidade pela vida real
dos personagens e astros da TV. A
intenção da trama era quebrar aquela lenda de que os astros da tv são pessoas inalcançáveis,
e que na verdade são de carne e osso assim como todo mundo. A Novela primava
pela particularidade de cada ator que participava de “Coquetel de Amor” , frisando suas famílias , relacionamento e os
problemas do dia-a-dia.
Além
da novela dentro da novela (Coquetel de Amor), a trama apresentava outros
cenários das artes - como a peça Cyrano de Berjerac de EdmonRostand , tendo Diogo Maia (Tarcísio
Meira) no papel título; o teatro de revista representado pelo palhaço
Carijó (Lima Duarte) e sua filha Lenita ( Djenane Machado) e a imprensa que
mostrava os bastidores e escândalos das celebridades representada pelo
jornalista Edgar Rabelo vivido pelo saudoso Carlos Eduardo Dolabella, repórter da revista “Magia”. O Personagem
que fazia de tudo para conseguir um furo de reportagem, sem respeitar ética e
princípios do jornalismo acabou ferindo a classe, que se via de maneira
negativa representada por ele.
A novela tem um elenco estrelar
que ia desde Tarcísio Meira e Glória Menezes, Juca de
Oliveira e Yoná Magalhães, Lima Duarte e Daniel Filho , Mauro
Mendonça e Pepita Rodrigues à Carlos Eduardo Dolabella e Sônia
Braga. A Novela foi a primeira de Tony Ramos e Vera Fischer na Globo.
Nelson
Caruso, Jorge Botelho, Maria Lucia Dahl , a diva do teatro Bibi
Voguel e a estrela pornô Sylvia Kristel fizeram
participações especiais vivendo eles mesmos.
Lima
Duarte foi elogiadíssimo por sua sensível interpretação na criação do
personagem Carijó, o humorista decadente. No final o personagem foi homenageado
e ganhou um papel fixo no programa A Praça da Alegria (
Hoje A Praça é Nossa) que na época era apresentado aos
domingos na Globo.
Espelho Mágico seria uma ótima opção de reprise para o Canal Viva.
O tema dos bastidores da Tv sempre foi e eternamente será uma incógnita,
e ao mesmo tempo um tema sempre interessante e atual.
Mandala (1987)
Em 1987, Dias Gomes apresentou
no horário nobre global e em plena a ainda vigente Censura Federal, a
trama da novela Mandala, que transpassava para os dias
atuais o Mito de Édipo, tendo como ponto de partida a tragédia
grega Édipo, Rei de Sófocles.
A Trama muito ousada para época, tratava de temas como paranormalidade,
incesto, uso de drogas, bissexualidade, política e jogos ilegais. Mandala era nitroglicerina
pura. A Censura claro interferiu diretamente na trama , e Dia
Gomes teve que atenuar vários temas antes mesmo da estreia, e
conseguiu a duras penas pôr a trama no ar.
Porém a
censura voltou a intervir quando Édipo e Jocasta, personagens do Felipe Camargo e Vera Fischer, iriam se beijar pela primeira vez. A Censura considerava a
cena um desrespeito ao telespectador pelos personagens serem mãe e filho. A Globo e Dias Gomes alegaram que ambos não sabiam da condição ,
e que no entanto o incesto apenas pelo beijo não ficaria exposto. A
Censura aceitou e liberou a cena, mas com a certeza de não haver apelo
sensual ou sexual envolvendo os apaixonados. E Assim foi, Édigo e Jocasta nunca concretizaram seu amor
na novela.
A Primeira fase da novela
foi muito elogiada pela crítica e também perseguida pela censura. O Forte apelo
político foi cortado pelo censores e o autor teve que fazer
vários ajustes. Giullia Gam estreou na novela Mandala vivendo a Jocasta
desta primeira fase , já mostrando um talento promissor. Nesta mesma fase Gianfrancesco
Guarnieri viveu o personagem Tulio Silveira, pai de Jocasta, que era
um dramaturgo comunista que enfrentava problemas com a polícia e o
governo. O personagem foi inspirado no saudoso ator e
dramaturgo Mário Lago.
Mesmo com a trama confusa depois da transposição para os dias atuais, o elenco
de Mandala foi um dos melhores já reunidos por Dias Gomes, e segurou o texto do
autor com unhas e dentes.
Dias Gomes escreveu Jocasta pensando
em Dina Sfat, que não aceitou viver o papel, devido sua
debilitação pelo câncer. A atriz ainda participou da novela Bebê a Bordo em 1988 e viria a morrer no ano seguinte. Vera Fischer ficou então com o papel, e
é impossível imaginar outra atriz vivendo a deusa. A atriz esbanjou
beleza e classe à frente da personagem.
Nuno Leal Maia,
com uma intepretação incrível do bicheiro Tony Carrado foi o grande destaque da
novela. As pérolas que o personagem soltava garantiram o sucesso: "Depois da tempestade vem a
ambulância" e "Vê se tu vai decorar necrotério, que dá mais certo". Foi o personagem que apelidou Jocasta de “Minha
Deusa” sua paixão desde o início da novela. Como presente no final, Tony ganha
o amor de sua deusa.
Vera
Fischer e Felipe Camargo não puderam viver o amor de Édipo e Jocasta
na novela, mas a paixão dos personagens passou para vida real e o casal
de atores acabaram se apaixonando na vida real, vindo a se casar depois do
término da trama.
A
trilha sonora de Mandala ficou marcada pela música “O Amor e o Poder” da cantora Rosana, tema da personagem Jocasta. A música que tinha
como estrofe principal “Como uma Deusa . . .” ganhou as rádios do Brasil, consagrou a cantora Rosana e tocou incessantemente nas cenas entre Tony
Carrado e Jocasta. Até hoje a música é considerada um dos clássicos temas da
teledramaturgia nacional.
Mandala é considerada uma novela complicada, uma literal
tragédia grega brasileira, mas sua audiência chegou a dar 70 pontos de
IBOPE em média geral, e foi esticada em 12 capítulos, algo
inimaginável para os dias de hoje. Apesar dos cortes e incoerências que
se fundaram devidos a dura pressão da censura, Mandala se transformou em um autêntico
dramalhão , com tramas que inicialmente não tinham muita força, mas que se
tornaram grandes ganchos, como o romance de Tony e Jocasta, que começou como
apenas uma loucura do bicheiro, mas que no decorrer da trama conquistou o
público que torceu para o final feliz dos dois juntos.
O Casarão (1976)
A Série alemã de drama e ficção
científica “Dark” virou queridinha do Brasil . Em
2020, não tinha uma roda de conversa que
não surgissem perguntas e teorias sobre
a produção, mas o que pouca gente sabe é que em 1976 a Globo produziu sua
própria Dark, ou seja, a mais de 44 anos atrás, já
éramos presenteados com a novela O Casarão, do Lauro César Muniz, que
assim como a série da Netflix, era contada em três tempos
diferentes simultaneamente.
Claro
que a nova narrativa, as épocas que se intercalavam sem linearidade nas três
fases, sem um código explicito para um flashback, a troca de “o que
acontecera” para o “como aconteceu”, confundiu
o público, que não conseguiu entender nem o primeiro capítulo, o que obrigou
a Globo a reapresenta-lo no mesmo dia às 23 horas,
algo sem precedentes até então.
O
Ponto de partida de O
Casarão foi o teleteatro “A Estátua”, do próprio Lauro, produzido
pela Tv Escelsior em 1961, que por sua vez gerou a peça “A Morte do Imortal”, encenada em 1966.
As
três épocas focadas na trama são: 1900 à 1910 , 1926 à 1936 ,
1976 .
Paulo Gracindo foi disputado por O Casarão e Saramandaia, tanto Lauro como Dias Gomes o queriam como protagonista de suas tramas. Daniel Filho deixou a escolha a cargo do autor, que preferiu fazer O Casarão, o que causou uma grande chateação ao Dias Gomes, que já havia escrito tipos inesquecíveis para ator, entre eles
, o Odorico Paraguaçu, de O Bem Amado (1973) e o Tucão de Bandeira 2 (1971).
O Casarão nunca foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo, porém já foi reprisada por duas vezes – em
janeiro de 1980 numa apresentação especial de 1 hora apresentada por Yara Cortes, no Festival em comemoração aos 15 anos da Globo; e entre março e abril de 1983 substituindo Sol de Verão, do Manoel Carlos, que teve que ser encerrada às pressas por causa
da morte do protagonista Jardel Filho, numa edição de 18 capítulos, enquanto não entrava
a substituta Louco Amor (1983). Não sei se a Globo tem a novela completa em seus arquivos, mas é uma ótima
opção para o Viva e a Globoplay.
Um dia entre os meus muitos twitter´s diários ao
mencionar uma personagem vivida por Malu Mader na novela O Outro, a inesquecível Glorinha da Abolição, um dos primeiros
grandes papeis da atriz, fui surpreendido com uma resposta que dizia, que O Outro era a novela que até a Globo fazia questão de esquecer. Obviamente isso me instigou.
A
trama se desenrola entre os diferentes mundos de dois homens idênticos fisicamente.
O empresário
milionário Paulo Della Santa ( Francisco Cuoco ) ,
um homem atormentado com a família e os
negócios em crise, e o negociante Denizard de Mattos ( Também vivido por
Francisco Cuoco ) , dono de um ferro-velho, uma
figura simples, do povo.
Paulo vive sem saber que tem um sósia, Denizard de Mattos, e, por acaso, ambos se encontram no
banheiro de um posto de gasolina, momentos antes de o lugar explodir e
incendiar-se. Resgatado no lugar de Paulo e confundido com ele, Denizard acaba
por tomar o lugar do empresário e, mesmo depois que seu segredo é descoberto, a
farsa é mantida por interesse dos adversários que desejavam tomar o poder de
seu sósia. Entretanto, aproveitando-se da troca de identidade, Paulo decide
lutar para retornar e retomar seu lugar de direito.
Mas a troca de identidade dos sósias não é
segredo para a hippie Glorinha da Abolição (Malu Mader) ,
uma jovem à procura do pai e de suas origens, e que já foi apaixonada por Paulo
Della Santa.
A
Trama trazia de volta às novelas Francisco Cuoco, vivendo os sósias. O ator estava afastado das
novelas há 3 anos desde o término de Eu Promento (1983) da autora Janete Clair.
A
Novela pode até não ter sido um grande sucesso do horário nobre, e nem
ser uma das pérolas escritas pelo Aguinaldo Silva, mas O Outro teve seus encantos, e o esquecimento
certamente não lhe é merecido.
Pátria Minha (1994)
Seguindo o enredo da corrupção e
politicagem iniciada com Vale Tudo (1988) e O Dono do Mundo (1991) , Gilberto
Braga fechava essa trilogia com Pátria Minha exibida em
1994, levantando a bandeira de que vale a pena ser honesto no Brasil sim. Uma
trama gostosa de ver, com cada capítulo milimetricamente pensado. A
novela desfilou no horário nobre todos os bons ingredientes de um
folhetim misturada com um tema social e político que fugia ao “exagero” ,
afinal , a mocinha da trama era honestíssima , mas não absurdamente cega
às situações a sua volta.
A trama teve quatro
pontos considerado a locomotiva que moveu a trama. Primeiro o núcleo de
Alice ( Cláudia Abreu ) e Raul Pelegrini ( Tarcísio Meira ) , personagens que
representavam a virtude e desonestidade , que se cruzavam na trama devido um
acidente de carro no qual Alice foi testemunha da imprudência de Raul,
pressionada a depor a favor do empresário, a menina recusa o suborno, dá
o depoimento verdadeiro , e sela a partir de então uma confronto com este
homem que ainda mudaria sua vida. Alice também é protagonista de um segundo
eixo da história, sua relação com a mãe Natália ( Renata Sorrah ), e
através das duas o autor passa discutir todos os problemas que abrangem a vida
de uma adolescente de classe média, passando pela escola, primeiro
namorado , primeira transa.
A Terceira vertente de Pátria Minha surge
a partir dos questionamentos políticos de Pedro ( José Mayer ). Um homem que
viajou com a família para exterior, com intenção de tentar uma vida
melhor , juntando dinheiro e voltando para o Brasil com mais condições de
crescer. Sua esposa Esther ( Patrícia Pillar ) devido as atuais crises no
Brasil , se nega a voltar , com receio de perder o que já haviam
conquistado. Pressionada Esther acaba cedendo e os dois voltam juntamente com o
filho Gabriel ( Eduardo Caldas ). No Brasil uma tragédia muda para sempre a
vida deles. Pedro lidera uma manifestação contra a construtora de Raul
Pelegrini , que tenta fazer uma desocupação em um terreno pertencente a
construtora , onde ali mora seu pai. Esther sofre um acidente gravíssimo
e morre em meio à confusão , depois de Pedro gastar todas as economias da
família para tentar salvá-la.
E a Novela se fecha com o
núcleo de Lídia Laport (Vera Fischer) uma socialite falida, que vive de planos
e falcatruas para conseguir algum dinheiro. Ao ler sobre Raul Pelegrini nos
jornais , ela ver neste homem sua chance de ascender social e financeiramente ,
e começa a partir de então um plano para conquistá-lo , chegando até criar um
flagra de adultério , dado por Raul a sua esposa Tereza ( Eva Wilma).
As histórias foram estrategicamente se entrelaçando quando Alice conhece Pedro
em meio a manifestação contra Raul, e ainda descobre que na verdade é neta
daquele homem que ela tanto menospreza, fruto de um caso de sua mãe com Gustavo
( Kadu Moliterno), finalizando com sua paixão por Rodrigo ( Fábio
Assumpção ) filho de Lídia Laport.
Pátria Minha foi marcada pelas
longas cenas de diálogos dos personagens, em destaque Natália e Alice,
personagens da Renata Sorrah e Cláudia Abreu. Ambas tinham um
ótimo relacionamento de mãe e filha, e discutiam assuntos que tomaram as salas
dos brasileiros com cenas impecáveis.
Claudia Abreu mais uma vez deixou sua marca registrada , com mais uma
personagem inesquecível. A Alice era honesta , incorruptível mais sem ser
chata, sem didatismo, era honesta por que era. Várias cenas dela até hoje não
me saem do pensamento, se fechar os olhos posso imaginar a Alice andando de
patins pela faculdade e esbarrando no Rodrigo , o que selou o primeiro encontro
dos dois; Ela impedindo a entrada dos tratores que iriam destruir as
casas na desocupação como o próprio corpo, entre outras.
Eva Wilma e Kadu Moliterno protagonizam uma das cenas mais emocionantes da trama. No
leito de morte Gustavo depois do acidente sofrido em meio a desocupação do
terreno da construtora, manda chamar a mãe , com quem estava de relações
cortadas desde a época em que Lídia armou o flagrante de adultério.
Em lágrimas ele perde perdão a Tereza e falece em seus braços. A Cena emocionou
o Brasil e ainda a produção da trama, direção e atores que caíram em um
choro coletivo incorporando toda a dor sentida por aquela mãe.
A Novela apesar do grande sucesso ,
passou por alguns percalços , que se não fosse a autoria “cirúrgica” de
Gilberto Braga poderia ter naufragado . Carolina Ferraz que seria a ponta do triângulo entre Alice e Rodrigo se
descobriu grávida e certamente não terminaria a novela. Assim o autor resolveu
deixá-la até onde seria possível, e com a sua saída entra sua prima Bárbara
vivida por Déborah Evelyn. Quando tudo parecia bem, Vera Fischer aparece de braço quebrado no estúdio graças a uma briga
com o então marido Felipe Camargo também do elenco da trama . A Solução
achada foi internar Lídia em uma clinica de sonoterapia, mas os constantes
atrasos de Vera, depois do retorno acabaram acarretando na saída
definitiva da trama juntamente com Felipe Camargo, que na trama morreram no incêndio do hotel.
Em substituição a
personagem de Vera Fischer, que era esposa do Raul Pelegrini
e amante do Pedro , entrou Luiza Tomé para ser o par romântico
do Pedro, e Isadora Ribeiro que fazia o par romântico de Felipe
Camargo acabou se envolvendo com Raul. O Curioso é que graças a esse
envolvimento da Cilene ( Isadora Ribeiro ) com o Raul , o personagem acabou
sendo humanizado, e depois de perder toda a fortuna passou a ter outros valores
, foi perdoado pelo “público” e terminou feliz com seu amor administrando
um hotel fazenda no interior do Brasil. Final parecido com o personagem do ator
em Roda de Fogo(1986) do Lauro César Muniz, o Renato Villar , que apesar de
morrer nos braços da Lúcia Brandão ( Bruna Lombardi ) na última
cena , se redime de todos os seus pecados na reta final.
Como o Viva já nos presenteou com as reprises de Vale Tudo (1988) e O Dono do Mundo (1991), tem que fechar essa
trina com Pátria Minha (1994).
Sétimo Sentido (1982)
“Eu
gostaria que o ser humano acreditasse que existe uma força capaz de mudar sua
vida. É bom confiar em si mesmo e esperar um novo amanhecer.”
Com essa frase JaneteClair encerrava a trama da
novela Sétimo Sentido (1982). Na trama Janete voltava a falar de um tema sempre recorrente em
suas tramas – O Duplo. A Autora se familiariza com histórias de gêmeos e
sósias, e em Sétimo Sentido juntou isso a
paranormalidade, nos presenteando com uma visceral Regina Duarte vivendo
as protagonistas Priscila Caprice e Luana Camará.
Polêmicas ou
exageros à parte, Regina Duarte deu um show à frente das duas personagens. Com perfis
totalmente diferentes, Luana era simples, tímida e contida, enquanto Luana era
uma explosão em forma de mulher, exuberante e sensual, foi exatamente
esse contraponto entre elas que enriqueceu ainda mais o trabalho da Regina
interpretando de forma visceral personagens tão marcantes na
teledramaturgia. A Atriz declarou em entrevista que depois que interpretou a
Porcina de RoqueSanteiro (1985), descobriu que a Priscilla Caprice foi uma
espécie de percussora da personagem mais lembrada de Asa Branca.
Duas cenas
protagonizadas por Regina Duarte na pele da Priscilla Caprice
marcaram Sétimo Sentido: Priscila no palco vivendo Branca Dias de O Santo Inquérito, personagem que
a Regina Duarte realmente viveu no teatro na peça do Dias Gomes; e o exuberante e fantástico
casamento cigano com Tião Bento.
Outra personagem que caiu no gosto popular
em Sétimo Sentido foi a caminhoneira Gisa, vivida pela Tamara Taxmann, entrando para o hall das inesquecíveis “mulheres do povo”
sempre presente em tramas da autora como foram Chica Martins (Dina Sfat) de Fogo sobre Terra (1974), Leda Maria (Betty Faria) de Duas Vidas (1977), a Lili (Elizabeth Savalla) de O Astro (1978), a Ana Preta (Glória Menezes) de Pai Herói (1979) e a Maria Faz-Favor (Aracy Balabanian) de Coração Alado (1980).
O grande trunfo de Sétimo Sentido sem dúvidas foi Regina Duarte, que sempre queridinha do grande público,
conquistou e prendeu o telespectador com uma intepretação inesquecível
das duas protagonistas, e a empatia com Francisco Cuoco, dez anos depois do sucesso em Selva de Pedra (1972), também foi crucial para o sucesso da trama.
Sol de Verão (1982)
Sol de
Verão , novela do autor Manoel Carlos de
1982 e uma das poucas sem a personagem Helena como protagonista.
A Trama de Sol de Verão sugeria uma
novela alegre e colorida tal qual sua abertura, apresentando corpos femininos
suados ao som de “Tô que Tô” da cantora Simone, com todas as
cores do verão da época.
Mas
ao contrário disso, Sol de Verão tinha uma trama densa, que mexia com
os padrões morais. A telenovela relata o dilema de Rachel (Irene Ravache) , uma mulher que acaba de sair de um casamento infeliz com Virgílio (Cécil Thiré) . Rumo ao Rio
de Janeiro, ao lado da mãe e da filha, ela acaba por se envolver com
Heitor (Jardel Filho), um mecânico boêmio e bonachão que nunca havia vivido um compromisso sério. Paralelo a isso, está o surdo-mudo Abel (Tony Ramos) , que, em busca de sua mãe,
emprega-se na oficina de Heitor.
O Conservador público das 20h não viu com bons olhos a protagonista
Raquel, uma mulher que resolve abandonar um casamento de anos em busca da
felicidade, ou seja colocando a frente da comodidade de um vida construída o
único intuito de ser feliz. Algo normal nos dias de hoje, mas há trinta anos
chocou.
Mas Sol de Verão acabou chamando mais atenção fora da
trama, com a morte precoce de Jardel Filho que vivia o protagonista Heitor, por
volta do capítulo 120. O ator morreu de ataque cardíaco em 19 de Fevereiro de
1983. A Morte do ator desestabilizou toda a produção, direção e
elenco da trama. O Autor Manoel Carlos que era muito amigo de Jardel Filho , não teve mais condições de continuar escrevendo Sol de Verão, e a Globo até pensou em cancelar a trama, termina-la
sem um desfecho, mas uma pesquisa de opinião junto ao público apurou que eles
queriam que a trama tivesse um desfecho , até mesmo em homenagem a Jardel Filho. Assim Lauro César Muniz e Gianfrancesco Guarnieri (que fazia parte do elenco) foram chamados para
finaliza-la. Assim foram escritos mais 17 capítulos terminando a
trama com 137.
Em Sol
de Verão vale
destacar o sensível trabalho de Tony Ramos , que deu vida ao
surdo-mudo Abel. O Ator foi elogiadíssimo pela magistral interpretação do
personagem, que além da deficiência ainda vivia um dilema , descobrir quem era
sua verdadeira mãe. Inesquecível nos capítulos finais a cena em que a Abel
e Sofia (Yara Amaral) finalmente descobrem que são mãe e filho , e
caem no choro de emoção.
Irene Ravache a grande estrela da novela , estreava na
Globo em Sol de Verão, e sua Rachel foi inesquecível. Sua química com Jardel Filho foi incrível, uma pena que os personagens não puderam
terminar juntos no final, que era o plano de Manoel Carlos. A Ideia era casa-los na Holanda,
Heitor era descendente de Holandeses e sonhava conhecer a terra de seus
antepassados.
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Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
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