“Anos Rebeldes” do SBT completa 10 anos
Em abril de 2011 estreava no SBT segunda novela do
autor Tiago Santiago, que vinha
de sucessos seguidos na RecordTv (A Escrava Isaura,
Prova de Amor, Caminhos do Coração, Os Mutantes e Promessas de Amor).
O Autor pegou os anos de chumbo da ditadura militar como cenário principal e
apresentou Amor e Revolução , uma espécie de Anos
Rebeldes (1992), minissérie do Gilberto
Braga, na Globo, agora
apresentada pelo SBT.
A trama teve inicio com o Golpe de 1964 e abrangeu o período
mais obscuro da ditadura, com exposição do ocorrido durante os terríveis “Anos
de Chumbo” retratado explicitamente pela novela, o que aliás chegou a ser
criticada pela imprensa e apontado como um dos fatores do afastamento do
grande público, que tinha pena de ver
rostos conhecidos como Gabriela Alves ou o saudoso Cláudio Cavalcanti
expostos ao sofrimento e torturas feitas pelos policiais.
Além do tema principal a novela tinha a intenção de levantar
discussões sobre as mudanças comportamentais
da década de 60, como liberação da mulher pós pílula anticoncepcional, o
feminismo, o movimento hippie , o cenário teatral e musical, as transformações
provocadas pela moda entre outras revoluções culturais da época.
A trama conta a história de amor dos jovens Maria Paixão (Graziella Schmitt) e José
Mariano Guerra (Cláudio Lins), que se
conhecem em meio a um incêndio na UNE (União Nacional de Estudantes) em pleno
Golpe Militar de 1964. Ela é filha do jornalista Thiago Paixão (Mário Cardoso),
e de Lúcia (Fátima Freire), e irmã de João (Paulo Leal), um jovem ator.
José é filho do General Lobo Guerra (Reynaldo
Gonzaga), um militar que apoiou golpe, e da submissa Ana (Glauce Graieb). Major
do Exército, José sofreu uma grave perda, quando sua namorada foi morta em uma
chacina promovida por um grupo de perseguição a comunistas. José então busca
informações a meio de fazer justiça. Ele vive em pé de guerra com Filinto (Nico
Puig), seu irmão, um militar que não hesita em abusar do poder, até com a
própria mulher, Olívia (Patrícia de Sabrit).
A mulher de Filinto é contestadora e vive
questionando o marido. Como Olívia não pode ter filhos, Filinto levou para casa
duas meninas órfãs, Alice (Thaynara Bergamim) e Lara (Bruna Carvalho). Olívia,
no entanto, começa a investigar o passado das garotas. Ela ainda não sabe, mas
Alice e Lara foram tomadas de seus pais pelos temidos delegado Aranha (JaymePeriard) e inspetor Fritz (Ernando Tiago). Acusado de comunistas, o casal foi
torturado e morto nos porões da ditadura.
Outro casal, Jandira (Lúcia Veríssimo) e Rubens
Batistelli (Licurgo Spínola), também corre perigo por contestar o Regime
Militar. Jandira é madrinha de Maria, que acaba se unindo a eles no Movimento
Revolucionário Brasileiro. Mesmo pertencentes a lados opostos, Maria e José se
apaixonam perdidamente um pelo outro. Porém, Mário (Gustavo Haddad), diretor de
teatro apaixonado por Maria, e Miriam (Thaís Pacholek), prima de José,
apaixonada por ele, se unem contra esse amor.
Um dos chamarizes
de Amor e Revolução eram os depoimentos reais
apresentados no final de cada capítulo.
Nomes como José Dirceu, Waldir Pires, Carlos Eugênio Paz, Luiz Carlos
Prestes Filho entre outros gravaram
depoimentos sem censura do que viveram
naqueles anos, muitos deles expondo situações nunca contadas explicitamente de tal forma na tv aberta. Uma
pena que por volta do capítulo 50 os
depoimentos tenham sido inexplicavelmente deixados de ser exibidos. Segundo
fontes, o SBT pretendia também apresentar
depoimentos de militares que participaram do movimento , até para ser mostrado
os dois lados da história, mas foi muito
difícil conseguir os tais depoimentos. Assim para não deixar a história ser contada apenas por um lado,
foi decidido encerrar com os tais depoimentos.
Lúcia Veríssimo, até então grande estrela da Globo, foi contratada
especialmente pra viver a guerrilheira Jandira, uma personagem forte, cheia de
personalidade e ao mesmo tempo uma mulher muito bonita que chamava atenção e
arrebatava paixões – Além do Batistelli (Licurgo Spindola) seu fiel companheiro
, conquistou o coração do jovem Bartolomeu (Fábio Rhoden).
Para viver a protagonista jovem , Maria , o autor queria Ana Paula Arósio. A
atriz havia acabado de quebrar seu contrato com a Globo e deixado a
produção de Insensato Coração (2011), porém a ideia da atriz era realmente se
aposentar. Depois , Alice Braga foi convidada para viver o papel, seria
a primeira novela da sobrinha de Sonia Braga em novelas, mas a atriz não
pode deixar os compromissos com a carreira internacional. Tiago tentou ainda
algumas estrelas com quem trabalhou na RecordTv – Bianca Rinaldi
e Renata Domingues, mas também não conseguiu. Assim Day Mesquita
(que fez a Poderosa de Amor sem
Igual) e Graziella Schimitt fizeram teste para o papel, e esta
última ficou com a guerrilheira Maria.
No capítulo do dia 12/05/2021, Amor e Revolução apresentou o beijo lésbico entre as personagens Marcela
(Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre), o que causou alvoroço e chamou
muita atenção para a trama, então já com a audiência baixíssima. A cena é
considerada o primeiro beijo de duas mulheres nas novelas brasileira. Em 1963,
o Teleteatro Calúnia, exibido na Tv Vanguarda, da Tv Tupi,
apresentou o primeiro beijo entre mulheres
(Vida Alves e Geórgia
Gomide), considerado o primeiro da teledramaturgia em um teleteatro, e não
em novelas.
Ao contrário do que se esperava, o beijo
gay entre homens não teve autorização para apresentação pelo SBT. Jeová e
Chico, os personagens vividos pelo Lui
Mendes e Carlos Artur Thiré, começavam uma relação na trama, mesmo
assim a cena não foi autorizada. Mostrando o retrocesso. O SBT divulgou
em Nota que havia vetado a cena após uma pesquisa junto aos telespectadores da
novela, que indicaram que as famílias brasileiras se ofendiam com o beijo tão
explícito. Tiago Santiago escreveu
e foi gravada uma segunda cena de beijo entre Marina e Marcela , que também foi vetada. Curiosamente a cena
ficou disponível no site do SBT
na época da suposta exibição.
Outra sequência usada para chamar atenção do
público, mas que teve um efeito contrário, pegando muito mal e considerada de
mau gosto – foi a que Padre Inácio (Pedro Lemos), teve relações
sexuais com a fiel Marília (Marilice Conseza), dentro da sacristia da Igreja, e
que acaba com Marília grávida do sacerdote.
Amor e Revolução apresentou um “crossover”
com a novela Redenção (1966), exibida pela Tv
Excelsior. Na sequência, Stella (Joana Lima Verde) é atriz de teatro e
consegue um papel em uma novela de televisão. Na trama, ela vai trabalhar na novela e numa montagem
contracena com o ator Francisco Cuoco, protagonista da novela.
A trilha sonora de Amor e Revolução é um compilado de clássicos que marcaram a época do
regime ditatorial. Grandes nomes da MPB e releituras de músicas lançadas
naqueles anos compuseram a trilha. “Roda Vida”, o tema de abertura,
composição do Chico Buarque, já havia sido tema de abertura de outra
novela – Roda da Vida , exibida pela RecordTv
em 2001.
Amor e Revolução ficou inacreditáveis 9 meses no
ar. A novela estreou em abril de 2011 e
foi sendo espichada até janeiro de 2012 – apesar de as gravações terem sido
encerradas em 31.08.2011.
Na última semana de exibição, o SBT promoveu
uma enquete no site da trama para que o público decidisse o destino de alguns
personagens:
·
Jandira deve ficar com
Batistelli ou Bartô? (Ficou com Batistelli)
·
Marcela deve ficar com Marina
ou Mário (Gustavo Haddad)?(Fica com Marina)
·
Inácio (Pedro Lemos) deve ou
não largar a batina? (Largou a batina)
Apesar
do capricho da produção, a novela fracassou na audiência, uma pena! Só a
ditadura como pano de fundo não foi suficiente para segurar uma história com
204 capítulos. A novela deu menos audiência que as novelas reprisadas no
horário da tarde do SBT. Tiago
Santiago foi muito criticado pelo didatismo do roteiro e nítido fraco
desempenho do elenco ante o texto. Principalmente o elenco jovem, pareciam uma Malhação dos anos
60 dentro da trama.
A
trama está disponível na plataforma de streaming da emissora – SBT Vídeos,
e eu que já estou reassistindo com calma a trama , é realmente nítida a falta de preparo da
maioria do elenco para seus personagens, principalmente os jovens, já os
veteranos em alguns casos os personagens com o texto engessado prejudicam e
muito o desempenho cênico.
Destaco
desse elenco Lúcia Veríssimo, sempre voraz em qualquer personagem; Pathy de Jesus como a guerrilheira Nina/ Natasha; Jayme Periard execrável como o vilão
delegado Aranha e Patrícia de Sabrit
, que ficou devendo muito fazendo a Olívia Guerra, mas
ganhou vida nova literalmente ao voltar para a trama como Violeta.
Patrícia
de Sabrit estava longe das novelas desde 2000, quando havia
estrelada a novela Vidas Cruzadas , na RecordTv. A atriz aceitou o convite
pessoal do autor para participar de 2
semanas da novela, mas a personagem ganhou uma empatia junto ao público e assim
foi convencida a ficar toda a novela.
Atores
que trabalharam como o autor em seu trabalho anterior no SBT – o remake
de Uma Rosa com Amor (2010), voltaram em papéis de destaque em Amor e Revolução – Cláudio
Lins, Pathy de Jesus, Joana Lima Verde, Luciana Vendramini e Isadora
Ribeiro.
Amor e Revolução foi
a primeira novela dos atores Tiago Abravanel, Pedro Lemos, Dani Monreno,
Diego Montez e Diogo Savalla Picchi.
Uma
trama que muito prometeu, mas que infelizmente não pode ser desenvolvida como pretendida,
devido ao choque do grande público, a
trama acabou primando em sua metade mais pelo “Amor” do que a “Revolução” ,
abandonando suas polêmicas anunciadas inicialmente, e fechando com mais uma
trama pouco lembrada do catálogo do SBT.
Ficha
Técnica:
Novela
do autor Tiago Santiago
Direção
Geral do Reynaldo Boury
Elenco:
CLÁUDIO
LINS – Major José Mariano Guerra
GRAZIELLA SCHMITT – Maria Paixão
THAÍS PACHOLEK – Miriam Santos
LICURGO SPÍNOLA – Rubens Batistelli
LÚCIA VERÍSSIMO – Jandira (Dira)
REYNALDO GONZAGA – General Lobo Guerra
GLAUCE GRAIEB – Ana Guerra
NICO PUIG – Major Filinto Guerra
PATRÍCIA DE SABRIT – Olívia Guerra / Violeta
CLÁUDIO CAVALCANTI – Geraldo Cordeiro
JAYME PERIARD – Delegado Aranha
MÁRIO CARDOSO – Thiago Paixão
FÁTIMA FREIRE – Lúcia Paixão
GISELE TIGRE – Marina Campo Belo
LUCIANA VENDRAMINI – Drª Marcela
GUSTAVO HADDAD – Mário Vieira
PAULO LEAL – João Paixão
JOANA LIMAVERDE – Stella Lira
PATHY DEJESUS – Nina Madeira / Natasha
FÁBIO VILLA VERDE – Tenente Telmo
CACÁ ROSSET – Beto Grande
CARLOS ARTUR THIRÉ – Chico Duarte
ERNANDO TIAGO – Inspetor Fritz
FÁBIO ROHDEN – Bartolomeu
THIAGO PICCHI – Miguel
NICOLE PUZZI – Feliciana
ANTÔNIO PETRIN – Dr. Ruy
IVAN DE ALMEIDA – Coronel Santos
CARLOS DIAS – Diego
DIOGO SAVALA PICCHI – Padre Bento
PEDRO LEMOS – Padre Inácio
MARILICE COSENZA – Marília
LUI MENDES – Jeová
NATASHA HAYDT – Heloísa
DANI MORENO – Marta
AIMÉE UBACKER – Edith
NATÁLIA VIDAL – Beth
ÉLCIO MONTEZE – Luís
THIAGO ABRAVANEL – Davi
DANIEL MARINHO – Capitão Gabriel Tavares
BRUNA CARVALHO – Lara Fiel
THAYNARA BERGAMIM – Alice Fiel
MARCELO REIS – Couto
ROBERTO SKORA – Major Borges
MARCELO CAMARGO – policial
DIEGO MONTEZ – Gabriel
WALDYR GOZZI – Paulo Arikatan
MARIUSA BREGÔLI – Ivone
MARCELO CAMARGO – Cardoso
ALEXANDRE FREDERICO – Aquiles Lobo Guerra
ISADORA PETRIN – Sônia
REGINA REMENCIUS – Margarida
BLOTA FILHO
e
CAMILA DOS ANJOS – Cléo
CIDINHA MILAN – Madame Lola
GABRIELA ALVES – Odete Fiel
ISADORA RIBEIRO – Bianca
JAEDSON BAHIA – Curió (guerrilheiro treinado em Cuba)
MARCOS BREDA – Carlo Fiel
MÁRIO BORGES – Coronel Demóstenes
ROGÉRIO MÁRCICO – Augusto Fiel
SAMANTHA DALSOGLIO – Vilminha
SOLANGE THEODORO – amiga de Lúcia
VICTOR BRANCO – Mr. Harry
Exibição:
05 de Abril de 2011 à 13 de Janeiro de 2012
Capítulos:
204
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Fonte:
Texto: Evaldiano de
Sousa
Pesquisa: www.wikipédia.com.br
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