Para os mais jovens que não lembram, a Rede Manchete foi a emissora de tv
criada por Adolpho Bloch em junho de
1983 e ficou no ar até 10 de maio de 1999.
Lembro-me que quando criança, na década
de 80, a Manchete era a emissora que eu
mais gostava de ver. Apresentava uma
programação ótima para as crianças, como
o Clube da
Criança , que era apresentado inicialmente pela Xuxa. Isso sem falar no Lupi
Liplim Clapa Topô, apresentada pela LucinhaLins e seu segundo marido Cláudio
Tovar.
Logo no segundo ano de vida a Manchete resolveu investir em novelas e
apresentou o remake do grande sucesso apresentado na rede Tupi em 1968, Antônio Maria do Geraldo
Vietri. Mas foi com Dona Beija (1986),
trama do Wilson Aguiar Filho,
protagonizada por Maitê Proença, que a emissora entrou no páreo pelo segundo
lugar na audiência.
No post de hoje vou relembrar
a abertura de 10 das 19 novelas que a emissora
apresentou nesses quase 20 anos de existência.
Dona Beija (1986)
Abertura: Tema de Dona Beija – Wagner Tiso e Viva
Voz
Dona Beija foi o primeiro grande sucesso na teledramaturgia da Rede Manchete. A Emissora investiu pesado na produção da novela, começando pela contratação de Maitê Proença, na época grande estrela da Rede Globo. O Forte entrecho novelístico e a ousada direção de Herval Hossano focando no erotismo com destaque para as inesquecíveis cenas de nudez da Maitê, foram os pilares de Dona Beija. A cena em que Beija cavalga completamente nua em cima de uma cavalo branco é uma das mais emblemáticas e marcantes da trama. Dona Beija foi baseada nos romances Dona Beija, a Feiticeira do Araxá, de Thomas Leonardos e A Vida em Flor de Dona de Beija, da Agripa Vasconcellos. A trama foi reprisada por três vezes, duas na própria Rede Manchete em 1988 e 1992 e depois pelo SBT, quando a emissora do Silvio Santos comprou os direitos da massa falida da Rede Manchete em 2009.
Corpo Santo (1987)
Tema de Abertura: Um Lugar no Mundo – Roupa Nova
Querendo dar continuidade ao sucesso de Dona Beija,
a Manchete continuou investindo
pesado e produziu Corpo Santo, novela do autor José Louzeiro e Cláudio Macdowell. A trama mostrava uma temática
com um estilo de novela mais reportagem,
enfocando o dia-a-dia dos personagens
sem esquecer a mágica da ficção. Corpo Santo também trouxe nomes fortes da teledramaturgia da Globo para protagonistas: Reginaldo Faria e Christiane Torloni. A novela foi criticada na época por
apresentar uma trama muito “barra-pesada” que desagradava o público da
emissora. No decorrer da trama os autores foram substituídos por Wilson
Aguiar Filho e a colaboradora Leila Micollis. Com isso a Manchete contornou os problemas e a
novela teve um relativo sucesso garantindo sempre o segundo lugar no IBOPE. Corpo Santo foi eleita pela APCA
(Associação Paulista de Críticos de Arte)
a melhor novela de 1987.
Carmem (1987)
Tema de Abertura: Habanera
(da Ópera “Carmem”)
A Manchete
continuou apostando alto e contratou LucéliaSantos, estrela maior da Globo
na época pelo sucesso na novela Escrava Isaura (1976),
e recém saída de Sinhá Moça (1986), para
imortalizar a emblemática personagem de Merimée e Bizet, Carmem pelas mãos da Glória Perez. Era estreia da autora com escritora solo
oficialmente, antes havia terminada de
escrever Eu Prometo (1983) quando JaneteClair morreu, e dividido Partido Alto (1984) com o AguinaldoSilva. A Autora mostrou que tinha fôlego para segurar uma
trama e despertar o interesse do
público. Em uma época em que a AIDS ainda era vista com muito preconceito, tratou da doença através da personagem
Rosimar (Theresa Amayo), infectada com o vírus de HIV quando fez uma
transfusão.
Kananga do Japão (1989)
Tema de Abertura – Minha –Misty
Um painel carioca dos anos 30, num
projeto ousado da emissora que chegou ao requinte de reconstruir uma réplica
perfeita da Praça XI. A Novela misturava ficção com realidade tendo como pano
de fundo o movimento musical dos anos
30. Wilson Aguiar Filho soube
costurar com maestria o folhetim aos
principais acontecimentos da história do país na década enfocada.
Kananga
do Japão é considerada a melhor novela em termos técnicos apresentadas pela
Rede Manchete e que tinha a direção
cirúrgica da Tizuka Yamazaki.
No elenco , Christiane Torloni como
protagonista foi impecável na pele da
bela Dora. A trama trazia ainda Cassiano Ricardo e Bettina Vianny
encarnando Carlos Prestes e Olga Benário.
Pantanal (1990)
Tema de Abertura: Pantanal - Sagrado Coração da Terra
Pantanal, do BeneditoRuy Barbosa, foi o grande fenômeno da teledraturgia apresentado pela Rede Manchete. A novela foi a primeira
a abalar os alicerces dos padrões globais. A emissora carioca era líder absoluta
desde que se firmou na metade da década de 70, e imaginar que uma novela de uma
emissora recente ultrapassasse seus índices era inaceitável. Na época, a Globo
apresentava a trama de Rainha da Sucata , do autor Silvio de Abreu.
Curiosamente, Pantanal estava
engavetada na Globo há anos, a
emissora não viu viabilidade em uma trama gravada em pleno Pantanal. Jayme Monjardim , na época diretor de
teledramaturgia da Manchete, comprou a briga e produziu uma das melhores
novelas da história da tv.
A trama primou pelas belas paisagens
pantaneiras, onças, pássaros, e claro a sensualidade através dos banhos
inesquecíveis de Juma e Guta, as personagens da Cristiana Oliveira e Luciene Adami.
Cristiana
Oliveira se transformou em estrela de primeira grandeza depois de viver a
protagonista Juma, que se transformava em onça a beira do rio.
Depois do sucesso de Pantanal , Benedito Ruy
Barbosa foi elevado ao primeiro escalão de autores da Globo, pulando do horário das seis para o nobre com sucessos como Renascer(1993), O Rei doGado (1996) e Terra Nostra
(1999).
Tema de Abertura: Raio e Trovão – Sagrado Coração da Terra
Um novelão levado ao pé da letra. A História de Ana Raio e Zé Trovão,
dos autores Marcos Caruso (O
Pedrinho de Pega-Pega)
e Rita Buzzar , trouxe a telinha o
mundo dos rodeios, e isso imprimiu um ar diferente ao folhetim que tinha essa
temática itinerante e um numeroso elenco
entre fixos e participações especiais de atores circenses, cantores e outros artistas.
Depois do sucesso de Pantanal,
saiam as paisagens pantaneiras e a Manchete investia na ideia de mostrar o
“Brasil que o Brasil não conhece” com rodeios e músicas sertanejas como pano de fundo. As tramas iriam surgindo
ao longo das estradas brasileiras, sem uma temática predeterminada ou uma
história definida antecipadamente.
A Novela não tinha cenas de estúdios,
tudo era gravado nas cidades por onde os rodeios e as caravanas passavam, além
das feiras cenográficas criadas especialmente para a história.
Acho que o único pecado de A História de Ana
Raio e Zé Trovão foi o fraco apelo folhetinesco da trama que se
arrastou nos 251 capítulos da trama
itinerante.
Amazônia (1991)
Tema de Abertura:
Primeira Parte: Eldorado -Sagrado
Coração da Terra e participação especial do Milton Nascimento
Segunda Parte: Casa das Andorinhas – Música instrumental
de Egberto Gismonti
“Viver em dois tempos
ao mesmo tempo. Romper 100 anos em 1 segundo”
Esse foi o slogan de divulgação de Amazônia,
trama dos autores Jorge Duran, Denise
Bandeira e Regina Braga.
Amazônia seguia o
mesmo estilo de Pantanal,
tendo desta vez a floresta Amazônica como pano de fundo. Porém os esforços
foram em vão e a trama acabou não sendo bem recebida pelo público. Com a
tentativa de salvar Amazônia, foi lançada um segunda parte da novela focando a história apenas na trama do passado, visto que a
história inicialmente era contada em dois tempos, 1899 e no futurista ano de 2010.
Amazônia trazia em
seu elenco nomes que brilhariam na Globo
logo nos anos seguintes: Cristiana
Oliveira, Marcos Palmeira, Helena Ranaldi
e Júlia Lemmertz.
Tocaia Grande (1995)
Tema de Abertura: O Vento – Oswaldo Montenegro
Com uma produção de mais de 8 milhões ,
em 1995 a Manchete apresentou a
trama de TocaiaGrande, dos autores Mário
Teixeira, Duca Rachid e Marcos Lazarini, baseados no romance homônimo de Jorge Amado.
Tocaia Grande contava a história da fundação de uma cidade no sul da
Bahia numa época em que as plantações de cacau eram adubadas com sangue. A
disputa pela terra e pelo domínio político entre os coronéis Boaventura Amaral
(Carlos Alberto) e Elias Daltro
(Leonardo Villar).
Com os resultados negativos da trama, Adolpho Bloch resolveu trocar a direção
da novela e chamou Walter Avancini para
“salvar” Tocaia
Grande. Uma das primeira
providencias de Avancini foi chamar Walter
George Durst para escrever a novela a partir de então, criou novos personagens, enxugou o elenco, e
claro inseriu bem mais sensualidade as sequencias da novela.
Mesmo sem chegar aos 22 pontos
sonhados por Adolpho, Tocaia Grande se
recuperou e terminou com uma audiência satisfatória, considerando o fato de estar
sendo vinculada pela Rede Manchete.
A trama deu uma injeção de patrocínio à emissora, que nos 11 meses de exibição
da trama produziu vários outros programas dando uma boa revitalizada na grade
de programação da trama.
Pela primeira vez na história da
Justiça do Trabalho, uma novela foi dada como garantia para pagamento de
dívidas. No processo movido, em 1998, por funcionários da extinta Rede
Manchete, Tocaia Grande avaliada em 5 milhões, foi oferecida como
penhora pela empresa Bloch Som e Imagem.
Xica da Silva (1996)
Tema de Abertura (Na
exibição Original da Manchete): Xica Rainha – Patrícia
Amaral, Marcus Viana e Transfônica Orkestra
Tema de Abertura (Na reprise do SBT, em 2005): Xica da Silva – Jorge Benjor
O prestígio e terceiro lugar isolado, a Rede Manchete só voltou a ter novamente
em 1996, quando exibiu o fenômeno Xica da Silva, do autor Walcyr Carrrasco (sob o pseudônimo de Adamo Angel) baseado no
romance Xica
que Manda de Agripa Vasconcellos.
Com forte apelo erótico, Xica da Silva é considerada um clássico dentro da emissora,
consagrou Walcyr Carrasco, na época
contratado pelo SBT, e por isso o
pseudônimo para assinar a trama; e Tais Araújo que na pele da escrava foi
alçada ao posto de grande estrela, e logo que terminou a novela foi contratada
pela Rede Globo.
A Atriz ainda era menor quando começou
gravar a trama e assim não poderia aparecer em cenas de nudez. Enquanto não
podia despir Tais, a trama exibiu a nudez de várias outras atrizes em destaque Adriana Galisteu, quem mais apareceu nessas
condições na novela. Os dezoitos anos da
Tais Araújo foi comemorado em
alto estilo. Depois de 50 capítulos, finalmente a nudez completa de Xica da Silva em uma banho de cachoeira no capítulo de 02.12.1996.
Com primorosa e caprichada direção de Avancini, Xica
da Silva foi uma novela empolgante, forte, sensual,
realista, e não poupou em cenas de violência explícita. São inúmeras as
seqüências de assassinatos, execuções, e até torturas. Um dos fortes momentos
da novela aparece quando Maria (Zezé Motta), mãe de Xica, é morta, tendo seus
braços e pernas amarrados a quatro cavalos que, assustados por um tiro, correm
em direções contrárias, esquartejando o corpo da negra em plena praça pública.
Além dessa, as cenas que envolviam as bruxarias de Benvinda (Míriam Pires) e
Violante (Drica Moraes) também não economizaram em tecnologia e realismo.
Além de Taís Araújo, Giovanna Antonelli e Drica
Moraes Drica Moraestiveram destaque na novela e logo em seguida voltaram para a Globo com status de grande estrela.
Mandaracu (1997)
Mandacaru, planta que nasce
no sertão, batizou essa história que tinha o cangaço como tema, retratando os
costumes e discutindo questões de terra e que completa 20 anos neste sábado
(12.08). A Trama do autor Carlos Alberto Ratton foi a penúltima novela apresentada pela Rede
Manchete, que já passava pela crise que a levaria à falência em
1999. Depois de Mandacaru a emissora ainda
produziu Brida, inspirada no
livro de Paulo Coelho, mas que acabou
não sendo finalizada.
A novela teve pouca repercussão, porém mesmo assim
apresentou 259 capítulos e é uma das mais longas novelas da emissora.
Devido à crise financeira que a Manchete enfrentava não teve condições de
produzir rapidamente uma substituta no horário e esticou Mandacaru até onde pode.
Para segurar esse “esticamento” a novela
cortou vários personagens e trouxe várias participações de luxo como Marília Pêra, Agildo Ribeiro, Elba Ramalho,
Tânia Alves, Roberta Close e
uma versão de Lampião e Maria Bonita vivida pelos cantoresAlceu Valença e Daniela Mercury.
Para justificar a duração, a trama central
inicial deu lugar a uma nova história, onde o personagem Zebedeu do Benvindo Siqueira, tornou-se o
protagonista, dando mais ênfase ao humor na produção.
A novela tinha uma boa temática e com o cuidado
certo talvez tivesse repetido o sucesso de Xica da Silva (1996), a trama
anterior no horário. Isso ficou ainda mais claro quando a Rede
Bandeirantes comprou os direitos de exibição da trama da massa falida da Manchete e
reapresentou em 217 capítulos , marcada por um audiência maior do que a da
exibição original.
Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
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