Sabe
quando dizemos que aquela pessoa parece móveis e utensílios de uma empresa,
depois de tantos anos de serviços prestados. Essa é a impressão que passa Milton Gonçalves, que estreou na Globo antes mesmo da emissora estrear em 1965.
O Ator
de voz inconfundível já coleciona mais de 40 trabalhos na Tv marcados por sua
interpretação única e A dedicação de
poucos.
Começou
a carreira em São Paulo, trabalhando como gráfico quando, um dia, depois de
assistir a peça A
Mão do Macaco, a convite do ator Egídio Écio, saiu maravilhado e encantado com aquele mundo. Tratou
logo de entrar para um clube de teatro amador, do qual passou para um grupo
profissional. E estreou no palcos em 1957,
em Ratos
e Homens, quando um diretor carioca procurava um ator hábil para
viver um preto velho na peça.
O Ator
fez carreira nos palcos integrando o místico Teatro de Arena e atuou em mais
de 60 filmes sendo agraciado com vários prêmios – Entre eles clássicos
como O
Grande Momento (1958), Macunaíma (1969), O Beijo da Mulher-Aranha (1985) entre outros.
Milton
escreveu quatro peças, uma delas montada pelo Teatro Experimental do Negro e dirigida por Dalmo Ferreira, onde o ator declarou que aprendeu tudo sobre
teatro.
Militante
do Movimento Negro, chegou a tentar a carreira política nos anos 90, ao
candidatar-se a governador pelo Estado do Rio de Janeiro em 1994. Milton foi o
primeiro brasileiro a apresentar uma categoria na cerimônia de premiação do Emmy Internacional em 2006.
No ar
como o cortês e bondoso Eliseo, na trama de O Tempo não Para, Milton Gonçalves mostra que é acima de
tudo um ator multifacetado, se renovando a cada novo personagem sem se deixar
encantar pela fama e sucesso que já lhe pertence devido os vários anos dedicados as artes.
Junto
com Célia Biar e Milton Carneiro,
formou o primeiro elenco de atores da Globo.
Ele chegou à emissora a convite do ator
e diretor Otávio Graça Mello, de que
fora companheiro de set no filme Grande Sertão (1965). Os estúdios da Globo ainda nem tinham sido inaugurados e ele integrou o elenco das
primeiras experiências dramatúrgicas da
emissora – o seriado Rua da Matriz, da Lygia Nunes, Hélio Tys e Maysés Weitmann e a novela Rosinha do Sobrado,
do Moysés Weltman.
Milton Gonçalves é um ator que viveu de
tudo principalmente na teledramaturgia, e mesmo em papéis menores ou
participações especiais, imprimia sua arte com uma maestria, que impregnava com
talento quaisquer produção.
Tido
como um patrimônio das artes brasileiras, Milton
Gonçalves é um dos poucos atores que
nunca trocou de emissora, está na Globo desde sua estreia, e lá se vão mais de 53 anos dedicados a teledramaturgia.
Dividi
o post deste mês em duas partes, afinal de contas eram mais de 40 trabalhos na
tv e ficou impossível filtrar apenas 10 ou 12 para o post. O Talento do Milton é tão visceral que ele precisa de 2 para ser merecidamente homenageado.
Vamos
então os 12 primeiros do post 1:
Hasan
(Onça) de A Cabana do Pai Tomás (1969)
Depois
de participações no Grande Teatro Tupi (1957 – 1959), no seriado O Vigilante Rodoviário (1961), na
minissérie Rua da
Matriz (1965) e nas novelas Rosinha do Sobrado (1965), A Moreninha (1965) e Padre Tião (1965),
em A Cabana do
Pai Tomás (1969), do autor Hedy Maia, que tinha como protagonista
um negro, parecia ser a primeira grande chance de Milton mostrar seu talento
como protagonista oficialmente de uma trama. Ledo Engano! A agência de
publicidade Colgate-Palmolive, responsável pelo patrocínio das telenovelas na
década de 60, não viu com bons olhos um negro
vivendo um protagonista negro, e assim influenciou diretamente na
escolha de Sérgio Cardoso, astro unânime
da época, para viver o papel título. O
Ator tinha que se pintar de preto cada vez que entrava nos estúdios para
gravar. A trama acabou tendo um início tumultuado por causa dessa polêmica, principalmente quando o ator Plínio Marcos, em sua coluna Navalha na
Carne no jornal Última Hora, liderou
campanha de repúdio à escolha de um ator branco para interpretar um negro. Milton Gonçalves continuou na trama e acabou dando vida ao personagem Hasan, também conhecido por Onça.
Braz
Canoeiro de Irmãos Coragem (1970)
Não
falei no texto acima, mas Milton
Gonçalves também é diretor de
novelas, tendo estreado como assistente do Daniel Filho na trama de Véu de Noiva. Em Irmãos Coragem, da Janete Clair, foi sua estreia oficial
como diretor. Na trama ele deu vida ao personagem Braz Canoeiro, e quando não
estava gravando auxiliava na direção. No
remake de Irmãos
Coragem, produzido pela Globo
em 1995 com a autoria de Marcílio Moraes, Maurício Gonçalves, filho do Milton, deu vida ao personagem Braz Canoeiro, numa
grande homenagem ao pai.
Zelão das Asas de O Bem Amado (1973)
Em
1973, Milton Gonçalves conquistou o
público com a fé de Zelão das Asas de O Bem Amado, do autor Dias Gomes. O Personagem, um simplório pescador que faz uma
promessas de voar para Nossa Senhora dos Navegantes, depois de escapar de uma tormenta em alto mar,
passou a trama inteira tentando cumprir a promessa com asas feitas de pano, metal e plástico, sempre sem sucesso. O que acaba lhe deixando
muito triste e desesperado e preocupava sua esposa, Chiquinha do Parto (Ruth de
Souza). No último capítulo Zelão finalmente consegue pagar sua promessa e voa
sobre a cidade de Sucupira. Vale
destacar a dobradinha inesquecível do
Milton com a magistral Ruth de Souza,
que rendeu momentos memoráveis a produção.
Nonô
Alegria das Gringas de O Espigão (1974)
Em O Espigão,
também do Dias Gomes, Milton deu
vida ao bandido braço direito da Lazinha Chave-de-cadeia (Betty Faria),
Norival. Ele faz a linha bandido
intelectual e durante uma viagem a Escandinávia ganhou o apelido de “Nono
Alegria das Gringas” devido ao sucesso
que sua cor fez com as mulheres Suecas. Ainda hoje sonha em voltar ao país. Os
planos dos golpes da quadrilha são
traçados por ele, mas sempre falham, principalmente por causa do
sentimentalismo de Norival.
Filó de Gabriela (1975)
Na clássica
Gabriela,
do autor Walther George Durst,
Milton voltou ao horário das 22 horas
com o Filó, irmão mais velho de Tuísca (Cosme dos Santos), um ladrão de
cavalos por força das circunstâncias, preso já inúmeras vezes. Nunca se
conformou com o cativeiro e está sempre alerta para uma suposta fuga.
Dr.
Percival de Pecado Capital (1975)
Em
1975, a primeira versão de Roque Santeiro foi censurada
e impedida de ir ao ar no dia da sua estreia. Janete Clair teve que escrever às pressas uma nova trama para
substituí-la e remanejou praticamente
todo o elenco para Pecado Capital, curiosamente um dos maiores
sucessos da autora. Milton Gonçalves viveria o Padre
Honório na versão censurada, o equivalente
ao Padre Hipólito da versão de 1985,
defendido pelo saudoso Paulo Gracindo.
Quando soube do remanejamento, Milton Gonçalves pediu a autora que
escrevesse para ele um personagem que “usasse terno e gravata” e com isso houvesse a presença de um ator
negro em papel de maior destaque, sem que fosse escravo, serviçal ou
bandido. Assim ela desenvolveu para Milton
o renomado psiquiatra Percival Garcia, e através dele abordou o preconceito de
cor, de parte de personagens que não se importavam com respeitabilidade e
competência do médico, mas sim o fato dele ser negro. Ele entrou na trama para tratar dos problemas
psiquiátricos de Vilminha, a personagem da Débora Duarte. Janete Clair ainda ensaiou um romance entre Dr. Percival e a filha
mais velha de Salviano (Lima Duarte), a
bela Vitória (Thereza Amayo), cujo casamento com o dominador Ernani (Dary Reis)
entrava em crise. O público não viu com bons olhos o romance inter-racial e a
autora acabou não fazendo acontecer.
Rafa
de Sinal de Alerta (1978)
Em
1978, na trama de Sinal de Alerta, do Dias Gomes, Milton Gonçalves
e Ruth de Souza dividiram cenas na pele dos operários Rafa e Adelaide. Na
trama eles trabalhavam para a Fertilit e
junto com Consuelo (Isabel Ribeiro) lideravam o movimento contra a poluição que
a fábrica de Tião Borges (Paulo
Gracindo) vinha causando na cidade.
Damião
de Terras do Sem-Fim (1981)
Em Terras do Sem-Fim,
do Walter George Durst, Milton Gonçalves
deu vida ao fugitivo da polícia Damião, conhecido como a melhor pontaria em
toda a zona do cacau. No decorrer da trama pede abrigo na fazenda Santana da
Alegria e transforma-se no principal capanga dos Badarós. Homem de temperamento
límpido, adorado pelas crianças e companheiro dos demais.
Otto
de Baila Comigo (1981)
O Otto
de Baila Comigo,
do autor Manoel Carlos, vem podendo ser visto na reprise da trama
veiculada atualmente pela Canal Viva.
O Personagem na trama é padrasto da temperamental e audaciosa Mira Maia, vivida
pela Lídia Brondi, com quem tem uma
relação superficial devido o gênio forte da menina.
Reginaldo
de Partido Alto (1984)
O
Reginaldo de Partido
Alto, trama dos autores Aguinaldo
Silva e Glória Perez, era o braço-direito do bicheiro Célio Cruz, vivido
pelo saudoso Raul Cortez. Faz de
tudo para corresponder às expectativas do patrão, sem medir esforços ou pesar
consequências.
Mestre
Lídio Corró de Tenda dos Milagres (1985)
Em Tenda dos Milagres,
baseado no romance do Jorge Amado,
Milton Gonçalves ganhou um dos
principais papéis da minissérie, o mestre Lídio Corró. Por volta do capítulo
14, a trama volta para 1930, onde o Mestre Lídio Corró ganha o maior destaque.
Como
disse no início do post, o Milton viveu
mais de 40 personagens de destaque , assim eu dividi a homenagem ao ator em
duas partes .... semana que vem tem “Meus
Personagens Favoritos” segunda parte
. . .
Veja Também:
Novelas Inesquecíveis - A Cabana do Pai Tomás (1969) |
Novelas Inesquecíveis - Irmãos Coragem (1970) |
Nossos Autores - Marcílio Moraes |
Novelas Inesquecíveis - O Bem Amado (1973) |
Meus Personagens Favoritos da Betty Faria |
Novelas Inesquecíveis - Baila Comigo (1981) |
Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
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