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Atuações impecáveis e texto rico do JEC contrastaram com entrechos simples e infantis de “Segundo Sol”



        Segundo Sol chegou ao  fim nesta sexta-feira (09.11), e  mais uma vez João Emanuel Carneiro apresentou uma trama complexa  que  agradou pontualmente e desagradou em muitos momentos. O Mais grave foi o fato dos entrechos, situações e soluções para os mesmos  soarem  com muita simplicidade e em  alguns casos infantis. Isso fica ainda mais gritante  quando lembramos  que estamos falando de uma trama escrita pelo mestre João Emanuel Carneiro.

        A impressão que o JEC me passou é que ele teve receio de arriscar, como fez em A Regra do Jogo, e o público com preguiça de pensar, rejeitasse a trama. Assim ele entregou tudo mastigadinho, e até o mais atento telespectador não se perderia dentro da história. Talvez em uma trama das seis ou sete, com um texto menos complexo como o horário pede, isso fosse aceitável, mas o próprio contraste com o  texto rico   inviabiliza esses fracos e preguiçosos entrechos. 
        Ficou quase impossível engolir o “casal de três” formado por Maura (Nanda Costa), Selma (Karol Fazu) e Ionan (Armando Babaiof), e a rapidez em que se acertaram dentro da  proposta, apesar de não terminarem juntos; a Laureta assassinando Du Love (Ciro Sales) em um estacionamento de um shopping; a morte do Pai de Santo (João Acaiabe) para que Groa (André Dias) assumisse o terreiro, um entrecho que poderia ter sido apresentado bem antes; isso sem falar na fuga e quase morte de  hora - Remy (Vladimir Brichta), hora Karola (Déborah Secco), hora Laureta (Adriana Esteves).  Enfim, entrechos que nem de longe   lembram   uma última semana de novela das nove.

        O capítulo final foi uma prova de que o autor já não tinha mais  o que mostrar, tinha usado  tudo que poderia no decorrer da trama e apresentou um final morno, que com exceção do   trágico  fim da Karola  e apoteótico da Laureta,  saindo da cadeia direto para os holofotes e a política,  foi o mais do mesmo.  A Luzia e o Beto não tiveram direito nem da cena final – Gorete (Thalita Carauta)  e Clóvis (Luis Lobianco) e  o Baduzinho (Davi Queiroz) fecharam a trama com “chave de ouro”.

        Segundo Sol ficou devendo mais do que entregou, mas o elenco foi  um show à parte, e com algumas exceções,    o melhor da trama. Atores que souberam driblar os entrechos fracos e brilharam com o texto rico na ponta da língua.  Adriana Esteves, na pele da Laureta foi a estrela absoluta da trama e conseguiu apagar de vez o estigma da Carminha de Avenida Brasil (2012), com um novo perfil de vilã do autor. Déborah Secco, muito criticada inicialmente, provou que estava no caminho certo, e apresentou uma Karola crível e linear, culminando  com o rompante de loucura com a personagem cortando os próprios cabelos, que foi um divisor de águas da  trama  e um grande passo na história profissional da atriz.  E a Rosa da Letícia Collin, tomou o público de assalto e se tornou a protagonista da novela, ofuscando Giovanna Antonelli. A Atriz  perfeita na caracterização,  conseguiu transformar uma personagem dúbia, que poderia ser odiada, em adorada e aplaudida.

        Também entram nesse elenco que brilhou em Segundo Sol  - Vladimir Brichta, que salvou o Remy da morte com sua  atuação; Chay Suede  com o Ícaro; Fabrício Boliveira, Fabíula Nascimento e Caco Ciocler, apesar da história Roberval/Cacau/Edgar  andando em círculos;  o Odilon Wagner  como o Severo, um dos seus melhores trabalhos desde Por Amor (1997); Maria Luisa Mendonça (Karen); Giovanna Lancelloti (Rochelle), Roberto Bonfim (Agenor) e Armando Bababiof (Ionan).

        Kelzy Ecard e Cláudia di Moura, nomes renomados do teatro, estrearam com o pé direito em Segundo Sol e fizeram da Nice e Zefa, respectivamente, personagens fortes e que cresceram muito na trama. Impossível imaginar personagens tão marcantes feitas por outras atrizes.

        Na reta final da trama, a entrada da Renata Sorrah vivendo a lunática Dulce, mãe da Laureta, foi um grande acerto.  Deu um novo fôlego  e humor ao núcleo dos vilões.

        Uma pena que na trama complexa o roteiro  deixou alguns  personagens que prometiam, mesmo nas mãos de grandes intérpretes “floparem”. O Caso da Luzia, que fez a Giovanna Antonelli amargar mais uma personagem fraca, depois da Alice de Sol Nascente (2017); e o Beto do Emílio Dantas, que nos deixou com muita saudades do Rubinho de A Força do Querer (2017).     
        Luisa Arraes e Danilo Mesquita, a Manu e o Valentin, apesar da composição e interpretação irrepreensível, não conseguiram a empatia junto ao público e vão passar em branco dentro da trama, assim como outros personagens que perderam totalmente a função – o Groa (André Dias), Acácio (Danilo Ferreira), Naná (Arlete Salles) e Dodô (José de Abreu).

        A Maura , da Nanda Costa,  se mostrou no início da trama uma personagem que ficaria na história da teledramaturgia. Tinha uma  história ousada  com um relacionamento homossexual que o público aceitou e torceu para que ela e Selma (Carol Fazu) dessem certo.  Uma pena que no decorrer da trama o autor, com aquela sua eterna mania de cura gay, tenha perdido a mão no entrecho, e transformado a história em uma desserviço perigoso. Tentou consertar no final, provando que  o amor  prevalece, mas o estrago já estava feito.

        Segundo Sol foi uma novela feita para fazer bonito na audiência, para não decepcionar e nesse campo realmente não decepcionou. Mas muitas vezes isso  prejudica a credibilidade do texto e sua coerência. Ocorreu da mesma forma em O Outro Lado do Paraíso, sua antecessora, e eu espero que em O Sétimo Guardião  não ocorra.
Veja Também: 
Nossos Autores - João Emanuel Carneiro
10 Destaques do Elenco de "SEGUNDO SOL"
10 Personagens que não brilharam e m"SEGUNDO SOL"
Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa

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