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Enquete e10blog - Melhores do Ano

70 Anos de uma paixão nacional!

 


        Junto com o Futebol e o Carnaval,  uma paixão nacional vai virar setentona a partir do dia  21 de dezembro  - Nossa Telenovela  - Nossas novelas !

        Em dezembro de 1951, pouco mais de um ano após a televisão ser inaugurada no Brasil, a Tv Tupi colocou no ar a primeira novela brasileira – Sua Vida me Pertence , exatamente em 21 de dezembro de 1951. Apesar de ainda ser muito diferente do modelo que consagrou o gênero, a final foram apenas 15 capítulos , eram apresentadas ao vivo , não existia o vídeo  tape , ou seja era literalmente tudo muito artesanal, mas começava  ali o projeto de um produto que marcaria a história da tv e levaria o nome do Brasil para os vários cantos do mundo através da suas histórias,  entrechos,  personagens e trilhas.



        Eu sou um desses apaixonadas pela tv e pela teledramaturgia  e confesso que entre o futebol e o carnaval, muitas vezes optei pela novela.  Para não ter que perder um   primeiro ou último capítulo ,  deixei de ir ao jogo de futebol com os amigos ou brincar carnaval na rua.

        Minhas primeira memórias de uma novela, quando  comecei a entender o gênero, são da novela Roque Santeiro (1985), eu tinha 7 anos apenas, como ficar inerte aos gritos da Porcina (Regina Duarte), o balançar das pulseiras do Senhorzinho Malta (Lima Duarte)   e o Lobisomem do Ruy Resende.  Mas claro que mesmo ainda sem entender tenho lapsos de outras tramas  - como a abertura de Locomotivas , que apesar de ser de 1977 (antes do meu nascimento), ela foi reprisada em 1986,  a bela  Maria Cláudia em Pão Pão Beijo Beijo (1983);  a Regina Duarte na vibe Priscila Caprice e Luana Camará em Sétimo Sentido (1982) ou a abertura animada de Vereda Tropical (1984).  Ou seja,  mesmo sem ainda entender,  a paixão por essas novelas,    de certo  nasceu comigo.



        A Globo vai apresentar o especial “Esta Noite 70 Anos” , que vai comemorar esses 70 anos do gênero aqui no Brasil, e claro vai ser  um carrossel de emoção, com atores se reencontrando e relembrando grandes momentos da nossa teledramaturgia.

        Cada  um tem seus momentos preferidos ,  mas algumas  cenas  são unânimes,  entraram para a história da tv, marcaram a novela e seus interpretes.

        A Camila (Carolina Dieckmann)  tendo a cabeça raspada em Laços de Família (2000);  o suicídio da Laurinha (Glória Menezes) em Rainha da Sucata (1990); a  volta de Tieta (Betty Faria) ao Agreste na novela homônima ou a Natasha (Cláudia Ohana) dançando  nas ruas de Veneza em Vamp (1991), são alguns dos momentos que sempre são citados.

        A novela é uma dos poucos produtos originalmente brasileiros cultuados no mundo todo, só se faz novela nesse estilo aqui, estilo esse considerado o melhor e mais magnetizante junto ao telespectador. Temos os melhores autores de Dias Gomes á João Emanuel Carneiro , melhores diretores com nomes como o saudoso Paulo Ubiratan e  o gênio Jayme Monjardim, profissionais de técnica inigualáveis e os atores  . . .  o que dizer dos nossos atores, esses  profissionais ímpares acima de tudo.



        Nós fomos presenteados com os melhores atores sem sombra de dúvidas  - Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Beatriz Segall, Tony Ramos, Antônio Fagundes,  Betty Faria, Regina Duarte, Elizabeth Savalla  e outras centena de nomes  que com profissionalismo e sensibilidade deram vidas a personagens que passaram a ser parte não só do nosso imaginário como da nossas vidas.

        Esses 70 anos de novelas  foi dividido  meio que naturalmente por períodos –  no primeiro período depois do êxito de  Sua Vida me Pertence, era necessário que para a novela se  consagrasse, o costume do telespectador com aquele capítulo   fosse diário, para manter o interesse pela história,  mas foi apenas em 1963 que a primeira telenovela diária foi ao ar -   2-5499 Ocupado na  Tv Excelsior , com essa exibição diária , o ingrediente que faltava estava incluso e o gênero só andaria a passos largos para  o sucesso.

        O Segundo período,  a partir da segunda metade de 1960, todas as emissoras  viram na telenovela um produto para alavancar suas audiências e começaram a investir no gênero – Começavam as disputas entre Excelsior, Tupi, Record e Globo e nós fomos presentados com ótimos títulos, embora ainda tivessem nos textos as origens radiofônicas e o estilo dramalhão herdado dos mexicanos , cubanos e argentinos  - e foi nesse período que Glória Magadan  virou a grande maga das novelas , naquele estilo inconfundível de capa e espada  com vilões cruéis e mocinhas indefesas em cenários distantes como Marrocos, Japão, na Espanha. São exemplos de sucesso desta década Eu Compro Essa Mulher, O Sheik de Agadir, O Homem Proibido,  todas produzidas pela Globo, que em 1967, contratou Janete Clair para auxiliar Magadan, e a mesma roteirizou Anastácia, aMulher sem Destino  e Sangue e Areia (1968).



        Nesta mesma fase Ivani Ribeiro despontava com suas novelas produzidas pela Tv Excelsior  como Almas de Pedra, Anjo Marcado, Os Fantoches entre outras.  Destaque também para Redenção, escrita por Raimundo Lopes em 1966 e 1968- Famosa por ter sido a mais longa da teledramaturgia nacional, com seus 596 capítulos.

       

        No Terceiro período, no final dos anos 60, o gênero  já estava solidamente implantado, e o próximo passo era transformá-la em um produto genuinamente brasileiro.  A Tupi sai na frente com título que traziam uma nova linguagem, mais próxima da nossa realidade e cotidiano com Antônio Maria, sucesso do Geraldo Vietri. Porém  esse cordão umbilical foi cortado mesmo em 1969, com Beto Rockfeller, idealizada por Cassiano Gabus Mendes e escrita por Bráulio Pedroso. As fantasias dos dramalhões foram substituídas pela realidade, pelo cotidiano, e  a novela seguinte Nino,  O Italianinho, do  mesmo autor foi um grande êxito.



        A Excelsior, trouxe como destaque 3 títulos de sucesso entre 1968 e 1970 : A Pequena Órfã, do Teixeira Filho,  A Muralha, adaptação da Ivani Ribeiro e Sangue do Meu Sangue, do Vicente Sesso.

        Na Globo, Glória Magadan estava com os dias contados. Janete Clair ainda escreveu sob sua supervisão Passos dos Ventos e Rosa Rebelde, ente 1968 e 1969. O Rompimento foi total a partir de Véu de Noiva, que estreou no fim de 1969, marcando o início do quarto período.

        A partir de 1970, a novela não era mais a mesma. Os dramalhões latinos de todas as emissoras já não existiam mais, e a nacionalização do gênero foi uniforme. A Globo  demitiu Glória Magadan e mudou os títulos em seus três horários de novelas – As  7 horas, saiu A Cabana do Pai Tomás e entrou a cosmopolita Pigimalião 70; ás 8, saiu Rosa Rebelde e entrou Véu de Noiva; e as 10, saiu A Ponte dos Suspiros e entrou Verão Vermelho – As três sucessos absolutos da década.

        A Globo se tornava líder absoluta a partir dessa década , criando um padrão próprio, aplaudido aqui e lá fora. A partir da década de 70, nossas novelas começaram a ser exportadas, vendidas para os quatro cantos do país mostrando nossas tendências , desenvolvimento e estilo, passaram a ditar comportamentos, ter mais responsabilidade social, se firmando com um  gênero de primeira qualidade.



        No decorrer desses anos  títulos como As Pupilas do Senhor Reitor (1970) e Ídolo de Pano (1974) na Tupi;   Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972), Pecado Capital (1975),  A Escrava Isaura (1976) , O Astro (1977) e Pai Herói (1979) marcaram a década de 70 na Globo.  

        Os anos 80  foram marcados por títulos como Dona Beija e Kananga do Japão (1989) na extinta Rede Manchete;  Água Viva (1980), Vale Tudo (1988),  O Salvador da Pátria (1989), Tieta (1989), Elas por Elas (1982), Ti Ti Ti (1985) entre outras  marcaram na Globo, além de Roque Santeiro (1985), que foi o grande fenômeno na década.

        A Guerra pela audiência marcou a década de 90 – A Globo viu a Rede Manchete com Pantanal (1990), “roubar” uma boa fatia do seu público; e por isso recontratou Benedito Ruy Barbosa que marcou a década com títulos como Renascer (1993), O Rei do Gado (1996) e Terra Nostra (1999).

        O SBT marcou a década com o remake de Éramos Seis (1994), um grande sucesso protagonizado por Irene Ravache.

        Outros títulos como Pedra Sobre Pedra (1992), A Indomada (1997), A Viagem (1994), Mulheres de Areia (1993), Rainha da Sucata (1990), A Próxima Vítima (1995), Por Amor  (1997), Vamp (1991), Barriga de Aluguel (1990), todas na Globo e Xica da Silva (1996), na extinta Rede Manchete foram os destaques da década.

        Os anos 2000 mostraram  o quanto a telenovela mudou no decorrer desses anos   - principalmente na maneira de se fazer – Agora é  uma indústria, uma empresa que precisar da audiência e lucro.

        A RecordTv marcou a época com a retomada de seu núcleo de teledramaturgia e o relevante sucesso do remake de Escrava Isaura (2004) e apresentou outros relevantes sucessos como Cidadão Brasileiro (2006), Vidas Opostas (2008), Prova de Amor (2005) e Poder Paralelo (2008).

        A Globo continuava na liderança com tramas ainda mais preocupadas com o social e as novas camadas  que aderiam ao gênero , com destaque nesta década de  títulos  como Laços de Família (2000), O Clone (2001), Celebridade (2003),  O Cravo e a Rosa (2001) e Da Cor do Pecado (2004), Senhora do Destino (2004) , entre outras.

        Nos anos 2010, o SBT voltou a investir em teledramaturgia própria e descobriu o filão do público infantil com sucesso dos remakes de Carrossel e Chiquititas entre outros.

        A RecordTv marca a década com o fenômeno Os Dez Mandamentos (2015), assim como a Globo fez em 2012 com Avenida Brasil.

        A audiência das novelas já não é mais a mesma, claro que as novas plataformas contribuíram para isso, e com mais opções,  o  público passa cada vez mais mandar nas tramas e escolher o que e como quer ver. Foi a década que marcou a Globo com rejeição a tramas como A Regra do Jogo  e Babilônia, em contra partida de sucessos da década como Cheias de Charme, Cordel Encantado, A Vida da Gente, Totalmente Demais, A Força do Querer, Verdades Secretas , O Outro Lado do Paraíso e A Dona do Pedaço entre outras.



        No início dos anos 2020, fomos surpreendidos pela paralização do setor de teledramaturgia pela primeira vez  ... era inacreditável que uma novela fosse sair do ar antes do seu término ... isso ocorreu com  Amor de Mãe , Salve-se Quem Puder, na Globo e Amor sem Igual na RecordTv. Na década em que comemoraríamos os 70 anos da novela, a Pandemia conseguiu infelizmente parar uma novela. Porém o gênero mais uma vez ganhou força e sobreviveu, terminamos agora o ano e a pandemia com os 3 títulos inéditos da Globo, tramas que reforçam o gênero – em seus três estilos consagrados  - de época no horário das seis com Nos Tempos do Imperador; a comédia de volta ao horário das sete com Quanto mais Vida, Melhor e o texto social, intrigante e sedutor do horário nobre de  Um Lugar ao Sol.

        No decorrer desse últimos anos, muito se falou que o gênero telenovela estava se defasando, que iria acabar – Ledo engano, a novela a cada nova produção se solidifica, se transforma, se adapta e quando pensamos que   não tem mais nada a mostrar de novo, nos surpreende e nos arremata de paixão novamente.

        Parabéns por esses 70 anos muito bem vividos e que venham mais 70  ... estamos prontos!

Veja Também:

Vale Tudo (1988) 


Pantanal (1990) 


Fonte:

Texto: Evaldiano de Sousa

       

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