Foi mais um ano recheado de reprises em nossos principais
horários de novelas e as inéditas só
ficaram completas no ar - nos três principais horários da Globo - em meados
de novembro.
Não sei se foi ausência de quase um ano, mas as tramas
inéditas flecharam o coração do
telespectador de uma forma ímpar. A
Audiência continuou platinando, mas não
teve que não se emocionasse com a Lurdes (Regina Casé) encontrando Domênico
(Chay Suede) em Amor de Mãe ou tenha se
apaixonado pelo trio de protagonistas atrapalhadas de Salve-se Quem Puder ou
torcido pela redenção da Poderosa (Day Mesquita) em Amor sem Igual - As três
tramas que foram paralisadas por causa da Pandemia.
De volta a normalidade, a Globo fechou suas tramas inéditas no
horário das seis, sete e oito e embora Nos Tempos do Imperador, nunca tenha conseguido o
êxito esperado, é uma trama que tem seus
prós e prima pela requinte de sua produção. Um Lugar
ao Sol , que foi pouco divulgada pela
emissora, correu por fora e vem apresentando uma Lícia Manzo com seus ótimos
textos , porém bem mais fortes e densos , como o horário pede. A última a estrear, Quanto mais Vida,
Melhor, trouxe a essência da
comédia romântica para o horário das sete, uma trama sem pretensões com o único intuito de entreter o público, mesmo falando de morte.
Amor
sem Igual (RecordTv
– 2ª. Parte – 28 de Outubro de 2020 à 19 de Janeiro de 2021)
Amor sem Igual,
trama da Christiane Fridmann, a
primeira a voltar com capítulos inéditos
pós-Pandemia, chegou a sua reta com um
desfecho doutrinador através da sua protagonista Poderosa (Day
Mesquita) , a prostituta que encontrou a paz depois de ler a bíblia
e se entregar a Jesus.
Não
deixa de ser um final “puxado” para uma trama mesmo apresentada
dentro de uma emissora evangélica, e também por que,
apesar da relação quase sem contatos da Poderosa e Miguel (Rafael Sardão),
nunca havia ficado explícito de que ele era representante ou seguidor de alguma
religião ou dogma.
A cena em que a Poderosa, no leito do hospital
lê a bíblia foi emoldurada por um clipe de bloco inteiro, com a personagem
relembrando tudo que passara na trama com direito a música evangélica e letras
pipocando na tela.
Doutrinas
a parte, o fato é que a RecordTv , sempre
citada como uma emissora desorganizada em sua teledramaturgia, na
Pandemia deu o exemplo , Amorsem Igual foi a primeira a voltar depois das paralizações e como
única trama inédita no ar, só cresceu na audiência mantendo o fôlego
da história.
Amor
de Mãe (Globo
– 2ª. Temporada - 1 de Março a 10 de
Abril de 2021)
Amor de Mãe, trama de estreia da autora Manuela Dias, além de ficar marcada como a trama que foi
paralisada pela Covid-19 e inseriu o vírus a sua
sinopse, deixa também para nós, personagens que dificilmente serão
esquecidos - Impossível se despedir da Lurdes (Regina Casé) ou da
Thelma (Adriana Esteves), personagens tão bem construídas por suas intérpretes,
cheia de camadas e viradas que seduziram o público e novamente
consagraram a carreira dessas atrizes que fizeram do texto da
Manuela um espetáculo em forma de capítulos.
Os 23 capítulos
apresentados no retorno da Pandemia mostraram que a trama envelheceu muito
rápido, o otimismo da autora fez com que algumas sequencias que falaram da
COVID-19 apresentasse informações incorretas ou incoerentes
com o atual momento. É certo que com as gravações reiniciadas em de
setembro de 2020 , quando muita gente imaginou que a Pandemia praticamente
estaria controlada, fez com que Amor de Mãe apresentasse alguns desserviços. Uma pena mesmo
que os já infectados uma vez não fossem infectados novamente, como a
Lídia , a personagem da Malu Galli declarou
em um das cenas citadas como mais irresponsáveis da produção.
Nesta segunda
temporada Regina Casé que imortalizou a Lurdes, carregou a
novela nas costas. Foram espetaculares todas as sequencias da
personagem, sua busca pelo Domênico, suas tiradas
cômicas, como na dobradinha com a Lídia (Malu Galli), pertinho do
final da primeira temporada; o sequestro pela Thelma, que nos proporcionou um
show dessas duas grandes atrizes e nesta semana final o tão aguardado
reencontro com Domênico (Chay Suede), que sequencias, que cenas inesquecíveis
numa entrega visceral.
Os vilões foram um show à
parte em Amor de Mãe. Manuela Dias anunciou que a trama
realista, não tinha vilões, que todos
tinham atitudes dúbias e que a vida e seus acontecimentos
seriam os grandes vilões da trama. Mas não foi isso que vimos não – Adriana
Esteves, alçada ao posto de grande vilã na reta final da primeira
temporada, provou mais uma vez que já é especialista em vilãs
carismáticas. Totalmente entregue as nuances da Thelma, a
personagem finalmente conseguiu o que a Inês
de Babilônia (2015) e a Loreta de Segundo Sol (2018) não
conseguiram. Brigar de igual para igual como a Carminha de Avenida Brasil (2012), a
vilã mor que até hoje marca a carreira da atriz e é sua personagem
com maior empatia junto ao público.
Jéssica Ellen, mereceu ser aplaudida de pé. A atriz ganhou a
confiança da autora desde seu destaque em Justiça (2016), e em Amor de Mãe driblou
outras personagens e se transformou na protagonista jovem da trama. Seus
entrechos sociais, na luta pelos direitos das
mulheres, dos negros, dos professores, fizeram da
personagem um baluarte para dar foco as injustiças sociais.
Destaque também
para Ísis Valverde (Betina), Malu
Galli (Lídia), Juliano Cazarré (Magno), Nanda Costa (Érica), Vladimir Brichta (Davi), Érica
Januza (Marina), Enrique Diaz (Durval), Isabel
Teixeira (Jane), Débora Lamm (Miranda) entre outros.
Salve-se
Quem Puder (Globo
– Segunda Fase – 17 de Maio a 17 de Julho de 2021)
Daniel Ortiz optou em não falar da COVID no retorno de Salve-se Quem Puder, assim o
telespectador continuou sendo brindado com as infantis e hilárias cenas e o
carisma das três protagonistas que tentavam sobreviver a todo custo.
Aliás o carisma das interpretes foi crucial para o sucesso do trio.
Déborah Secco, Vitória Strada e Juliana Paiva emprestaram muito mais que talento para
Aléxia/Josimara , Kyra/Cleide e Luna/Fiona . O carisma das atrizes e a química à frente das confusões das personagens foi
ingrediente indispensável para que o público se pegasse à novela como uma válvula de escape do noticiaria sempre tão pesado.
Carisma não faltou mesmo. Além desse carisma entre elas
, a química com seus respectivos pares também rendeu bons momentos a
trama – Josimara / Zezinho (João Baldasserini) / Renzo (RafaelCardoso); Luna / Theo (Felipe
Simas) / Alejandro (Rodrigo Simas) e Cleide/Rafael
(Bruno Ferrari)/Alan (Thiago Fragoso) dividiram
o público que tinha uma torcida para cada par, não à toa que o
autor deixou a escolha dos casais para último capítulo enlouquecendo
o shipper´s.
Emoção
também não faltou , o reencontro
das protagonistas com seus familiares foi o ponto alto da
trama nesta última semana, foi impossível não
se emocionar à cada cena. O Reencontro da Luna (Juliana
Paiva) e Mário (Murilo Rosa), na mesma pegada de emoção foi o reencontro da Alexia
(Déborah Secco) com Alan (Thiago Frogoso), as crianças e sua mãe, Graziela (Débora
Olivieri) ; e em
seguida Kyra (Vitória Strada )
no reencontro com a mãe, Agnes (Carolina
Kasting).
Salve-se Quem Puder teve momentos de dramalhão mexicano e foi uma novela
infantilóide sim , com um texto fácil sim, sem sutileza,
principalmente no núcleo das protagonistas, praticamente uma esquete de humor
seguida da outra. Porém mesmo nitidamente feita apenas para entreter sem a
preocupação de fazer o público pensar, a trama foi pegando o telespectador a cada capítulo e a parada devido a Pandemia até
serviu para fazer alguns
ajustes que a trama pedia, e o retorno provou que o público precisava dessa
trama leve e sem pretensões.
Gênesis (RecordTv – 19 de Janeiro a 22 de
novembro de 2021)
Gênesis ficou 9 meses no ar, escrita por Camilo Pelegrini, Raphaela Castro e Stephanie Ribeiro, com 7
fases, acho que nem a RecordTv contou com esse destaque nas duas últimas fases da trama - “Jacó” e “José”.
A trama
teve destaques pontuais desde o seu
início, personagens e entrechos que chamaram atenção nas
fases iniciais, como O Profeta Abraão (Zé Carlos Machado), Sara (Adriana Garambone), Massá (Marcos Winter)
e Adália (Carla Marins), o Patriarca Noé (OscarMagrini) e Semiramis (Francisca
Queiroz) entre outros.
A
Fase de José do Egito , última delas, sem dúvidas foi a que teve mais repercussão, e cativou o
público que fugiu das reprises do horário nobre da Globo.
A Fase se saiu tão bem que até ofuscou a audiência de Um Lugar ao Sol, a trama inédita
da Globo que estreou na última semana de Gênesis.
Mas uma superprodução
bíblica da RecordTv, que apesar do tema saturado, a emissora
insiste em investir, e que desta vez, ao contrário das 3 últimas - Apocalipse (2017), Jesus (2018) e Jezabel (2019), conseguiu reconquistar um boa fatia do seu público cativo.
Nos
Tempos do Imperador (Globo
– 9 de Agosto de 2021 ...)
“Nos Tempos do Imperador” , dos autores Alessandro Marson e Thereza
Falcão, vem patinando no interesse do público e não foi o sucesso esperado para a primeira
novela totalmente inédita pós- Pandemia.
A trama que conta a
história do Brasil cerca de 30 anos depois da independência, é uma
espécie de continuação de Novo Mundo (2017) , a outra produção
dos autores que contou a história a partir da chegada da Família Real
Portuguesa no Brasil, e que igualmente teve os capítulos iniciais marcados pelo
desinteresse do grande público.
Nos Tempos do Imperador segue a mesma linha , o público tem muito mais
interesse nas tramas paralelas , como as que envolvem Tonico Rocha (Alexandre Nero) e o casal
protagonista jovem Pillar e Samuel, vividos pela Gabriela
Medvedovski e Michel Gomes, do que o trio central
formado por Dom Pedro II (SeltonMello), Imperatriz Tereza Cristina (Letícia Sabatella) e a condessa de Barral, Luiza (Mariana Ximenes), que apesar de uma trinca com química , ainda soa muito
austero e sem emoção. Isso sem falar no perfil machista do Pedro com a amante
dentro de casa embaixo dos olhos da esposa, o que para a sociedade de hoje é
algo inaceitável.
A trama também teve alguns percalços graves como o erro do “Racismo Inverso”, que fez com o
que Thereza Falcão fosse as redes sociais pedir desculpas.
A trama completou 5 meses no ar com a audiência ainda
sofrível expondo o principal grande problema em apresentar uma
novela totalmente gravada.
Algumas apostas
da trama se tornaram totalmente equivocadas no decorrer das
semanas - Pillar , a tão aclamada primeira médica vivida pela Gabriela
Medvedovski e Samuel , o protagonista jovem vivido pelo Michel
Gomes, perderam a agradável química inicial; Germana e Licurgo ,
renascidos de NovoMundo (2017), o trabalho anterior
da dupla de autores, vividos pela Viviane Pasmanter e Guilherme
Piva, não decolaram ; Mariana Ximenes, com
a Condessa de Barral, que conquistou a total falta de empatia
do público. Em meio a tudo isso o grande destaque de Nos Tempos do Imperador vem ficando com Letícia Sabatella, o que não é uma surpresa, afinal a bagagem cênica da atriz
comprova seu talento.
Um Lugar ao Sol (Globo – 8 de Novembro de
2021 . . .)
Um Lugar aoSol, trama da estreante no horário Licia Manzo, já é considerada uma das
melhores estreia dos últimos anos. Claro, que não estou falando de audiência, o
que nesse momento é o que menos importa, não à toa que a
novela esteve em primeiro lugar na lista
da Globoplay, ou seja muita gente que não está vendo pela Tv não
perde um capítulo no streaming.
O
Texto da Lícia Manzo , desde A Vida da Gente (2011) e Sete Vidas (2015) , é um primor, é rico
como poucos, e no caso de Um
Lugar ao Sol, a autora deu uma temperada
que o horário das nove pede, e só o deixou ainda mais pertinente e
precisa.
Além do
texto , o que chama atenção são as primorosas sequencias de direção – O que
mostra o quanto o Maurício Farias estava fazendo falta na direção de novelas. Cada sequência tem uma riqueza de detalhes , que ajuda no contexto das cenas , detalhes que se talvez nem
sentíssemos falta, mas que se não tivessem lá a cena não passaria a mesma mensagem. É tudo muito milimetricamente
estudado e pensado.
O Elenco por sua vez não
desperdiça uma cena sequer - Personagens bem construídos e interpretados nos prenderam a frente da tv com uma identificação imediata . O Christian (Cauã Reymond), já é o personagem mais azarado da história da
TV. A Autora mostrou todo o drama dos personagens nos capítulos iniciais para
que, quando ele decidisse assumir o lugar do irmão, o público até questionasse sua atitude, mas não o reprovasse.
Andreia Horta, é aquele tipo de atriz que fala com os
olhos! Impressionante as cenas pós-morte do Crhistian, nem precisa do texto, só
as expressões da atriz já entregavam toda a dor da Lara, perdendo seu grande
amor. Sua dobradinha com a Marieta Severo foi a cereja do bolo. Duas grandes atrizes
de gerações diferentes que se encaixaram perfeitamente em cena. A Vó Noca,
bastou entrar em cena, para ver o tamanho da entrega da Marieta Severo ao papel e as emoções que ela ainda vai nos
proporcionar.
Alinne Moraes tem a personagem inicialmente mais
difícil nas mãos. Poderia ter sido odiada ou caído nos exageros e armadilha que
foi a Sílvia de Duas Caras (2007), mas mesmos os exageros da Bárbara,
foram cruciais para o desenrolar da
personagem , e a atriz mais uma
vez visceral á frente de um grande personagem.
Juan Paiva é a grande revelação da trama. Alçado ao posto de
protagonista, o Ravi é a chave da trama, o elo de ligação entre os dois mundos de Christian/Renato.
Juan vem dando um show em cena com uma interpretação crível e
sensível e protagoniza cenas que
emocionam e chocam o público, deixando impossível não se identificar com ele.
A novela é recheada de
clichês encabeçado pela velha história do gêmeo que troca de lugar com o outro,
porém a maneira de contar é que faz o diferencial de Um Lugar ao Sol, é uma história repetida porém muito bem escrita, dirigida e interpretada e com ganchos que prendem o telespectador.
Quanto mais Vida, Melhor !(Globo – 22 de Novembro
de 2021 ...)
Com pouco mais de 1 mês no ar , a trama das sete , que marcou a
estreia do Mauro Wilson como autor, só
melhora , tendo o carisma e a
química do quarteto de protagonista se mostrando como o grande trunfo da história.
A
química entre o Neném (Vladimir Brichta) e Paula (Giovanna
Antonelli), casal mais chippado da novela ; a falta de preparo
do Guilherme (Mateus Solano), na tentativa de mudar de
vida, totalmente coerente com o perfil do personagem e a urgência da Flávia
(Valentina Herszage) na iminência do seu último ano
de existência na terra . . . apresentam ótimos entrechos e deixam a
trama leve e fluente . . . tudo que precisamos para uma
história inédita do horário das sete.
E
falando de química, não posso deixar de citar também os embates cênicos entre Paula e Norman, sempre um espetáculo a parte de Giovanna Antonelli e Julia Lemmertz, sua intérpretes que estão no tom das inimigas cômicas.
Com uma trama ousada, tendo a morte como tema mostrada de uma forma lúdica e, Quanto mais Vida, Melhor foi uma boa escolha neste momento para o
horário.
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Texto: Evaldiano de Sousa
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