Stênio
Garcia esteve no topo das notícias
da maioria dos sites na virada do mês de
março para abril. Infelizmente não por que estivesse escalado para uma próxima
produção, apesar da Glória Perez
confirmar que teria uma papel para ele em sua próxima trama, na verdade pipocou
nos quatro cantos do Brasil que Stênio foi dispensado pela Globo depois de mais de 40 anos de serviços prestados na pele de
grandes personagens que fizeram a história da teledramaturgia do canal.
A Esposa do ator, a também atriz Marilene Saade, em entrevista para o
site Yahoo, declarou que o ator
sofria uma grande pressão moral dentro
da emissora, e que estava muito abalado por causa da brusca demissão.
Entendo
que a Globo acima de tudo é uma empresa e tem suas políticas,
independente do que realmente tenha acontecido, administrativamente falando, o mínimo que se
espera é respeito e gratidão pelo
currículo invejável de um dos grandes atores do país.
O e10blog,
que já devia há muito tempo essa homenagem, escolhe essa hora difícil da
carreira e vida do ator, para homenageá-lo através dos seus inesquecíveis personagens,
tipos dos mais variados perfis – de grandes empresários a homens do povo, de
indígenas a vaqueiros do interior do país, enfim uma cartela de papéis que
engrandeceram nossas novelas, séries e minisséries.
Em 1958, Stênio Garcia se formou no Conservatório
Nacional de Teatro, no Rio de Janeiro, e ganhou uma bolsa de estágio no Teatro Cacilda Becker (TCB), o que foi
o marco inicial de sua carreira teatral. Em 1960,
ingressou no elenco da última fase do TBC
– Teatro Brasileiro de Comédia, intercalando suas atuações com atividades
no Cacilda Becker. No final desta década já era um ator premiado
em montagens inovadores do teatro brasileiro, dividindo o palco com nomes como Ziembinski, Flávio Rangel, Antunes Filho
e Ademar Guerra.
Iniciou na Tv e cinema na mesma década de 60, mas foi a
partir do início da década de 70 que começou a se destacar em produções de sucessos como os filmes Morte e Vida
Severina e O Crime do Zé Bigorna, ambos em
1977.
Na tv estreou na trama de As Minas de Prata (1966), na Tv
Excelsior, adaptação do romance do José
de Alencar, feita por Ivani Ribeiro.
Começava uma das carreiras mais sólidas
da história da teledramaturgia, carreira essa que vamos relembrar através de
inesquecíveis personagens que o Stênio imortalizou na tv em novelas, séries e
minisséries.
Stênio
Garcia foi casado com as também atrizes Cleyde Yáconis e Clarice Piovesan.
Tomás de
O Terceiro
Pecado (1968)
O Tomás de O Terceiro Pecado, da Ivani Ribeiro , foi o primeiro grande
personagem do Stênio, e com certeza o que lhe exigiu muito. Tomás era surdo-mudo
e para compô-lo o ator frequentou aulas no Instituto
Nacional dos Surdos-Mudos, no Rio de Janeiro, durante um mês, aprendendo
alfabetos e como comportar-se. Sua dobradinha com Regina Duarte, que vivia a protagonista da trama, irmã de Tomás,
rendeu momentos inesquecíveis a novela.
Em 1989, a Globo produziu um remake
de O Terceiro
Pecado, batizado de O Sexo dos Anjos, com Marcos Frota dando vida ao personagem Tomás. Stênio Garcia voltou no remake fazendo o personagem Padre Aurélio.
Aimbê de A Muralha (1968)
Em 1968, o ator ganhou destaque quando
viveu o Aimbê, filho de índia com um
branco, criado por Dom Braz (Mauro Mendonça) na trama da novela A Muralha (1968),
um dos grandes sucessos da Tv Excelsior, de autoria da Ivani Ribeiro .Sua atuação na trama lhe
rendeu o Troféu Imprensa de Melhor ator daquele ano. Mais de 30 anos depois,
Stênio voltou no remake da novela, escrito em forma de minissérie por Maria Adelaide Amaral, desta vez como o
índio Caraíba.
Bino de Carga Pesada (1979)
Sem dúvidas o divisor de águas na
carreira do Stênio foi o Bino de Carga Pesada,
série brasileira escrita por Dias Gomes,
Gianfrancesco Guarnieri, Walter George Durst e Ferreira Gullar. Protagonizada por Antônio Fagundes e Stênio, Carga Pesada ficou
no ar por dois anos- de 1979 e 1980, e foi a primeira produção do gênero a
mostrar na televisão os problemas dos caminhoneiros pelas estradas do
Brasil. Fagundes e Stênio
escreveram 12 dos 54 episódios da
série. Stênio Garcia esteve perfeito na caracterização do caminhoneiro
mais famoso do Brasil. Sua dobradinha como Antônio
Fagundes foi um dos pontos fortes da série, impressionante a química da
dupla. Os dois voltaram a trabalhar juntos nas novelas Corpo a Corpo (1984), O Dono do Mundo (1991) e O Rei do Gado (1996).
Em 2003, a Globo produziu um remake
da série, na verdade uma continuação mostrando a trajetória dos caminhoneiros
22 anos depois.
Mestre Antônio de Final Feliz (1982)
Em Final Feliz, da Ivani Ribeiro, Stênio Garcia
apresentou uma sensível interpretação na pele do Mestre Antônio, um simplório
pescador que marcou a trama com a relação de amizade com Rafael, do
saudoso Irving São Paulo,
adolescente com deficiência mental. Por sua interpretação como Mestre Antônio, o ator ganhou o prêmio Destaque do Ano e da Associação Brasileira de Críticos de Artes
(ABCA). A Empatia do personagem e a boa repercussão da novela fizeram com que o
ator fosse contratado pelo governo do Ceará
para promover o turismo no estado durante um ano. O Personagem ainda
ganhou um prato especial na culinária aqui do estado – A “Peixada à Mestre Antônio”.
Pedro de Selva de Pedra (1986)
O remake de Selva de Pedra, escrito por Regina Braga e Eloy Araújo,
recém terminado em reprise no Canal
Viva, trouxe Stênio Garcia como
o personagem Pedro. Tal qual seu papel
anterior, Pedro também era um homem do mar, cuidava dos barcos da empresa
náutica da família Vilhena. No decorrer da trama se torna amigo de Cristiano
(Tony Ramos) e acaba ficando nas mãos de Miro (Miguel Falabella), quando este
resolve chantageá-lo sobre o passado de sua filha Joana (Tássia Camargo).
Corcoran de Que Rei Sou Eu? (1989)
Outro personagem diversificado da carreira
do ator foi o bobo da corte de Avilan, o inesquecível Corcoran, de Que Rei Sou Eu,
do autor Cassiano Gabus Mendes. No
papel, o ator aos 57 anos deu seu
primeiro salto mortal, resultado de um trabalho corporal de acrobacia de solo
que passou a fazer na Escola Nacional de
Circo. A Caracterização de Corcoran foi um dos destaques do trabalho de
maquiagem que levava cerca de uma hora
de meia para ser feita.
Herculano Maciel de O Dono do Mundo (1991)
Numa virada de 360º., em 1991 Stênio Garcia voltou a teledramaturgia
na pele do ricaço empresário Herculano Maciel, pai da Estela, a protagonista
vivida pela Glória Pires, na trama
de O Dono do
Mundo, do autor GilbertoBraga. Acostumado a viver homens mais simples e apesar de Herculano ter um
perfil grosseiro, exatamente por ser um homem pobre que ficou rico as custas de muito trabalho
duro, o ator mostrou uma interpretação impecável à frente do grande empresário.
Samuel de Tropicaliente (1994)
Outro pescador imortalizado por Stênio Garcia na tv foi o Samuel de Tropicaliente,
trama do autor Walther Negrão.
Samuel é um homem assentado, equilibrado, que vive em perfeita harmonia com sua
família e os companheiros de trabalho da aldeia. Devido aos conhecimentos que adquiriu, lendo e vivendo, é uma espécie de mestre e terapeuta de todos
da região. Enquanto Ramiro, o protagonista vivido por Herson Capri, é o líder político da aldeia, Samuel é o líder
espiritual.
Pepe de Explode Coração (1995)
Um dos atores preferidos da Glória Perez, Stênio Garcia foi um dos
destaques da trama de Explode Coração, de autoria desta, no ar pela Globo em 1995. Na pele do Cigano Pepe,
revela-se passional quando descobre que Dara (Teresa Seiblitz) se nega a
casar-se com seu filho Igor (Ricardo Macchi). Na trama, ele encara a situação como uma grande traição
do amigo Jairo (Paulo José), pai de Dara, causando uma guerra entre as
famílias. Mesmo com toda essa carga, o
personagem tinha uma aura de comédia, mostrando essa veia do Stênio em
cena.
Zé do Araguaia de O Rei do Gado (1996)
Zé do Araguaia foi outro personagem
imortalizado na tv pelo Stênio, que de tão bem interpretado, era impossível não
acreditar que ele fosse realmente das margens do Rio Araguaia, uma das locações
de O Rei do Gado,
trama do autor Benedito Ruy Barbosa.
Zé do Araguaia era o fiel escudeiro e capataz de Bruno Mezenga (Antônio Fagundes), mas do que isso, era seu
grande amigo e confidente. Casado com Donana (Bete Mendes), vivia um casamento
sereno, esbanjando muito amor. A trama ficou marcada por grandes cenas de
diálogos do ator com Fagundes e Bete
Mendes, sempre uma aula de interpretação na tv.
Tio Ali de O Clone (2001)
Stênio
Garcia está no ar na reprise de O Clone (2001) no Viva, outra trama da autora Glória Perez que o ator integrou. Ali é
o patriarca da família muçulmana, tio da protagonista Jade, vivida pela Giovanna Antonelli. Estudou em Oxford,
onde foi contemporâneo de Albieri (Juca de Oliveira). Os dois são grandes
amigos, mais sempre discordam quando o assunto é a clonagem humana. Para Ali, a
engenharia genética, que Albieri personifica, é a tradução exata do
materialismo do ocidente.
Dr. Castanho de Caminho das Índias (2009)
Em 2009, o ator foi novamente destaque
em outra trama da Glória Perez, como
o renomado psiquiatra Dr. Castanho, de Caminho das Índias. Excêntrico e muito competente,
sabe falar a linguagem de seus pacientes, e
para o telespectador é uma espécie tradutor quando os entrechos da
esquizofrenia do Tarso, personagem do Bruno Gagliasso, começam dar vazão na
trama.
Laudelino de A vida da Gente (2011)
Em A Vida da Gente, trama da autora Lícia Manzo, Stênio Garcia viveu um
personagem muito interessante. Laudelino era um homem da melhor idade que vivia
um romance regado a muito amor e paixão com Iná, a personagem da Nicette Bruno. Apesar de muitos diferentes, Laudelino e Iná, tem uma sólida relação com
um complementando o outro. Ambos passam por muitos obstáculos familiares
durante a trama, principalmente com as netas, mas é quando Laudelino descobre
um câncer de próstata e começa a passar
pelo tratamento que percebe realmente a força de sua relação com Iná. Eles
vivem o tratamento lado a lado mostrando ao telespectador os dramas de cada
fase deixando explícito o brilho do
talento de anos de dois grandes astros da história da nossa teledramaturgia.
O último trabalho inteiro em novelas do Stênio Garcia foi na trama de Salve Jorge (2012), da Gloria
Perez. De lá para cá , o ator vem
sendo escalado apenas para pequenas participações, como em Meu Pedacinho de Chão (2014), Totalmente Demais (2015), reprisada atualmente no horário das sete,
onde ele reviveu o Bino de Carga Pesada (1979
e 2003), e Deus
Salve o Rei (2018).
Veja Também:
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Meus Personagens Favoritos da Lucia Veríssimo |
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Novelas Inesquecíveis - QUe Rei Sou Eu? (1989) |
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Fonte:
Texto: Evaldiano de
Sousa
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