Quarto post em homenagem aos 60 anos de Globo através da sua teledramaturgia.
Antes leia o –
Post 1
Mulheres
de Areia (1993)
Mulheres de Areia,
o Remake da Ivani Ribeiro feito
em colaboração com Solange Castro Neves foi um dos maiores
sucesso do horário das seis da década de 90, chegando até superar a audiência
da novela das sete exibida na época (O Mapa da
Mina , do autor Cassiano Gabus Mendes).
Além de se basear no remake
da novela original exibida na Tv Tupi em 1973, a autora
usou o espinha dorsal de outra trama de sucesso sua, O Espantalho, que escreveu na Tv Record em
1977.
Glória Pires foi impecável vivendo as iguais
mais tão diferentes gêmeas. Ruth e Raquel foi um divisor de águas na
carreira da atriz. A Direção e autora da novela queriam Glória no papel, tanto
que adiaram a estreia da trama em um ano devido à gravidez da
atriz. Mulheres de Areia iria substituir Felicidade (1991),
porém a Globo produziu Despedida
de Solteiro (1992), para no ano seguinte poder estrear Mulheres de Areia com Glória
Pires como a grande estrela. O Trabalho da atriz foi tão difícil
principalmente na parte da trama em que as gêmeas trocam de lugar. Glória além
de fazer a diferença entre as irmãs, ainda teve que encontrar o ponto certo
para Ruth fingindo ser Raquel e Raquel fingindo ser a Ruth.
No elenco também vale destacar Tonho da Lua vivido pelo
ator Marcos Frota. Impossível imaginar outro ator vivendo o
personagem numa entrega jamais vista na tv. Eduardo Moscovis e Irving
São Paulo fizeram teste também para o papel.
Outros atores também marcaram seus personagens com
interpretações inesquecíveis : Os saudosos Raul Cortez, que deu
vida o Virgilio Assunção e Paulo Goulart na pele do vilão
Donato; O Casal formado por Laura Cardoso e Sebastião Vasconcellos,
que faziam os pais das gêmeas; Andreia Beltrão como a
Tônia, Viviane Pasmanter como a ovelha negra Malu e
Guilherme Fontes que conseguiu fazer do seu personagem
Marcos, considerado um homem fraco diante do pai e de Raquel, em um bom momento
na tv.
Mulheres de Areia foi uma daquelas novelas onde tudo deu certo.
Produção, direção e elenco impecáveis somados a uma boa
história foram os ingredientes desse sucesso. A novela teve 209 capítulos
e em nenhum deles, mesmo com uma certa barriga, conseguiu segurar os
telespectadores na frente da tv. Lembro-me como agora como era bom jantar com
as paisagens , histórias e personagens criados impecavelmente pela Ivani
Ribeiro.
Renascer (1993)
Com Renascer autor Benedito
Ruy Barbosa, finalmente ganhava a chance de mostrar em grande estilo uma
trama no horário consagrado de grandes autores. Benedito já havia tentado
algumas vezes subir do horário das seis, onde normalmente apresentava
suas tramas, para o horário nobre. Em 1981, apresentou a sinopse de Os Imigrantes para
a emissora carioca, mas a Globo não aprovou, o autor
apresentou a Rede Bandeirantes e a novela se transformou no
maior sucesso da teledramaturgia nacional daquele ano e sem dúvidas o grande
hesito da emissora nesse campo. Em 1990, a história se repetiu, Benedito
apresentou Pantanal,
que foi renegada pela Globo, que não via viabilidade nas gravações
em pleno pantanal mato-grossense. A Manchete comprou a ideia e
a novela se transformou em fenômeno nacional e abalou os alicerces da
audiência global.
Depois do sucesso de Pantanal,
a Globo não podia arriscar novamente, contratou Benedito que
apresentou a trama de Renascer, que
mesmo tendo muitos elementos que nos lembrasse Pantanal (1990) , teve uma identidade própria e se
transformou numa referência de sucesso no gênero das novelas rurais.
Antônio Fagundes começava em Renascer uma
parceria de sucesso com o autor que se repetiria ainda em O
Rei do Gado (1996), Terra
Nostra (1999), Esperança (2002),
no remake de Meu Pedacinho de Chão (2014)
e agora em Velho Chico.
Leonardo
Vieira que viveu o José Inocêncio na primeira fase,
e Patrícia
França, a Maria Santa, marcaram essa fase da trama e logo
foram alçadas a grandes astros da casa. O Casal protagonizou a próxima
trama das seis, Sonho
Meu (1993),
do Marcílio Moraes.
Aliás, a primeira fase de Renascer foi
elogiadíssima pela crítica com destaque para a inesquecível cena em que
José Inocêncio teve o corpo escapelado e depois costurado pelo turco Rachid, do
saudoso Luiz Carlos Arutin. Um show de cena no contraste do
estreante ator Leonardo Vieira em parceria com o
veterano. Fernanda
Montenegro foi também um dos destaques desta fase na pele
da dona do bordel da cidade, a Jacutinga, que no decorrer da história
acaba se tornando figura importante na vida do Coronel e Maria Santa.
Na segunda fase, Mariana a personagem vivida pela Adriana
Esteves foi o grande amor de José Inocêncio. A Atriz
foi bombardeada pela imprensa com críticas negativas por sua atuação. A atriz
vinha do protagonismo da trama de Pedra
sobre Pedra (1992), do autor Aguinaldo
Silva, mas sem dúvidas a Mariana de Renascer foi
seu grande desafio.
Muitos inicialmente torceram pelo final feliz entre Mariana e João
Pedro (Marcos Palmeira), o filho “injeitado” do Coronel, mas a empatia e
química com Antônio Fagundes foi tão grande, que ficou
impossível imaginá-los separados.
Marcos
Palmeira tal qual vivera em Pantanal (1990),
era o filho enjeitado pelo pai. O Ator conseguiu grande projeção com seu
trabalho perfeito na pele do cacaueiro nordestino com nuances e trejeitos que
parece que nasceram com ele. Foi sem dúvidas o grande revelação da trama
mostrando o talento de quem se tornaria um dos grandes atores da sua geração.
Osmar
Prado também este espetacular na pele do caricato
matuto Tião Galinha e sua via cruzis em ter um diabinho na garrafa.
Infelizmente o ator desentendeu-se com a direção da Globo e
deixou a trama antes do seu término. Mesmo assim o ator ganhou o prêmio
de melhor ator coadjuvante pela APCA.
Benedito Ruy Barbosa ousou tocando em
assuntos polêmicos na trama de Renascer.
Falou de hermafroditismo com a história da personagem Buba, vivida
pela Maria Luisa Mendonça; o celibato , quando o Padre Lívio se
apaixona por Joaninha (Teresa Sseiblitz) e a questão dos meninos de
rua através da história da menina Teka, personagem da Paloma
Duarte. Inclusive o tema foi sugerido num congresso da
UNICEF dos autores latino-americanos de telenovelas.
No último capítulo
uma das cenas mais emocionantes da trama foi apresentada. José Inocêncio
e João Pedro finalmente faziam as pazes e deixavam explodir o amor de pai e
filho que sempre existira entre eles. O Pai pede um abraço do filho em seu
leito de morte, e ainda dá a incumbência à João Pedro de tirar o facão
fincada no início da trama pelo pai, aos pés do Jequitibá rei. José
Inocêncio só morreria em paz depois que esse facão que, representou sua existência na terra, fosse tirado das terras de Ilhéus. Antônio
Fagundes e Marcos Palmeira fecharam a trama em alto estilo e deram a
cena toda a emoção que ela precisava contagiando o telespectador e a
equipe técnica também que via naquele momento final o fechamento de
um grande trabalho para a teledramaturgia que nunca seria esquecido.
Uma trama que teve a poesia e a lentidão dos acontecimentos com seu principal
trunfo, mas que mesmo assim não perdia a linha dos acontecimentos prendendo o
telespectador. Um novelão direto do mundo encantado rural de Benedito
Ruy Barbosa.
A Viagem
(1994)
Um dos grandes sucesso da era dos remakes sem sombra de
dúvidas é a novela A Viagem da autora Ivani Ribeiro, remake do
sucesso dela na TUPI em 1975.
A Trama falava sobre a vida após a morte, “A Viagem” do título,
sob o olhar da doutrina kardecista , levantando assim todas as dimensões
da crença, desde o preconceito dos leigos aos estudos científicos.
Vários personagens da trama tinha características ou comportamentos que
davam alusão a isso, como as irmãs Dinah (Christiane Torloni) e Estela (Lucinha
Lins) que pressentiam a presença uma da outra; Tibério (Ary Fontoura)
conversava com um espírito que só ele via; Dona Cininha da saudosa Nair
Bello , era uma mulher do povão supersticiosa e cheia de crendices.
Além das possessões de Alexandre (Guilherme Fontes ) em Dona
Guiomar (Laura Cardoso) , Téo (Maurício Mattar) e Tato (Felipe Martins).
Guilherme
Fontes que viveu o protagonista e antagonista ao mesmo tempo, foi o
grande destaque da novela. O Ator que vinha do sem graça Marcos no remake
de Mulheres de Areia um ano antes, conquistou o público com as
nuances do seu Alexandre. Eram perfeitas as cenas do personagem se preparando
para se apossar do corpo de alguém , ou do seu sofrimento no vale dos
suicidas. Ao final o personagem de redime de suas maldades e é liberto
chegando ao céu. Como “prêmio” Alexandre reencarna no filho de Lisa (Andreia
Beltrão) e Téo.
Diferentemente de outras tramas, os três protagonistas da novela morreram bem
antes do final, fizeram a viagem. Alexandre se suicida nos primeiros capítulos,
Otávio Jordão sofre um acidente de carro ocasionado pelo espírito de Alexandre
e Dinah tem um infarto fulminante ao encontrar Bia (Fernanda Rodrigues) sua
sobrinha desaparecida.
Christiane
Torloni deu um ar todo glamuroso a sua Dinah, uma mulher forte e ao
mesmo tempo fragilizada com a perda do irmão. Na trama ficou em destaque
a relação afetuosa fraternal entre ela e Estela (Lucinha Lins) . As duas
sentiam praticamente tudo que a outra sentia , quando Dinah não estava
bem , Estela sabia antes mesmo de vê-la, uma sensação inexplicável que
cativava o público.
A
Chegada de Dinah ao céu , e seu encontro com Otávio foi uma das cenas mais
emocionantes da trama, ao som de “Crazy” na voz de Julio
Iglesias, ao ver seu amado, Dinah corre os longos campos ao seu
encontro. Antes de morrer Otávio em uma regressão descobre que
Dinah foi sua amada em várias outras vidas , e em todas elas Alexandre de uma
forma ou de outra impedia o amor dos dois. Agora finalmente mesmo mortos os
dois poderam concretizar esse amor.
Para
representar o céu e o inferno (o vale dos suicidas), a novela preferiu fugir
dos estereotipos, e assim um grande campo de golfe foi escolhido para serem
gravadas as cenas do céu e uma pedreira abandonada para as
locações do vale dos suicidas onde Alexandre penou até reencarnar.
Foi todo esse conjunto que fez de A Viagem uma
novela inesquecível, abrandando os corações daqueles que perderam pessoas
queridas, tentando fazer entendê-las que a morte não é nada mais do que
: Uma viagem!
Quatro por Quatro
(1994)
A novela Quatro por
Quatro, do autor Carlos
Lombardi pode ser considerada o seu ápice
na história da teledramaturgia. É sem dúvidas o seu melhor trabalho que prendeu
o telespectador do início ao fim recheada de confusões e trapaças, com o humor
escrachado na dose certa, numa divertida história de relacionamentos amorosos,
separações e reconciliações.
A novela contava a história de quatro mulheres que
cansadas das safadezas dos seus respectivos maridos e namorados, depois de se
conhecerem em um quadruplo acidente de trânsito, resolvem ir à forra e decidem
se unir para se vingar de cada um deles. As vingadoras eram: Abigail (Bety
Lago),
esposa do médico cirurgião Gustavo (Marcos
Paulo); Auxiliadora (Elizabeth
Savalla), casada há anos com Alcebíades (Tato Gabus
Mendes), abandonada por este por uma mulher 20 anos mais jovem; A
tímida Tatiana (Cristiana
Oliveira), abandonada na igreja pelo noivo Fortunado (Diogo
Vilella) e o furacão Babalú (Letícia
Spiller), que estava cansada das traições do namorado Raí (Marcelo
Novaes).
Dois grandes destaques do elenco de Quatro por
Quatro : Betty Lago e Letícia Spiller.
A Saudosa Betty Lago fez da sua dondoca Bibi sem
dúvidas seu grande momento na tv, com um ótimo tempo para humor e um
trabalho de interpretação digno das grandes atrizes. Inesquecível a cena em que
uma barata sobe nas roupas da personagem, e os gritos que foram para o ar na
novela, soubemos depois em reportagens do Vídeo Show, eram de
verdade, tamanho o terror que a saudosa Betty estava do inseto. Pela
Bibi, Betty Lago foi eleita a melhor atriz do ano pelo Troféu
Imprensa.
Letícia Spiller foi a grande
revelação e destaque do ano na pele do furacão em forma de mulher Babalú. Com
uma interpretação inusitada, exagerada e ao mesmo tempo cativante.
O Visual da personagem que usava shorts curtos, blusas ciganas, tiaras de
miçangas, margaridas nos cabelos, sandálias plataformas de meias e unhas
pintadas de vermelho ganharam o Brasil como moda e se tornaram uniforme
obrigatório do mulheril na época.
O vocabulário da personagem foi outro charme da trama. Expressões
como “bofe” (para se referir aos homens), “bicha” (para
se referir às mulheres), “mona” (mulher, amiga, forma de um
gay chamar o outro), “desaquenda” (abandonar, deixar de lado,
sair de perto, esquecer, deixar em paz), “babado” (história,
fofoca), “é uó” (feio, ruim), “erezinho” (criança)
estão até hoje em nossa memória.
Mas nada foi tão marcante na trama como o casal Babalú
e Raí. A química entre Letícia Spiller e Marcelo Novaes foi
tão incrível que saltou a novela e os dois acabaram se casando depois do
término da trama.
Inicialmente Quatro por
Quatro, que marcava a volta do humor escrachado ao horário das sete,
teria apenas 150 capítulos, mas o sucesso da novela a estendeu terminando com
um total de 233. É a novela mais longa do autor e a sétima da Globo.
O primeiro capítulo ficou marcado pelo acidente e briga de trânsito
entre as quatro protagonistas. Um show de humor do texto chique e
dinâmico do Lombardi, nas mãos de quatro grandes atrizes que marcaram Quatro por Quatro.
Quatro
por Quatro cumpriu todos os seus objetivos, inclusive a missão de
manter em alta a audiência do horário que vinha anteriormente com o sucesso da
trama espírita de A Viagem (1994), remake da Ivani Ribeiro.
Foi um golpe de mestre da Globo, mas ao mesmo tempo recheado
de riscos. O público acostumado à trama romântica tinha que se adaptar a
anárquica e dinâmica do Lombardi, além de trocar o mundo espírito pelo humor. O
Risco foi corrido e deu certo. Não sei se o mesmo público de A Viagem se rendeu
à Quatro por Quatro, mas a trama marcou uma época e até hoje é
considerada uma das melhores do gênero.
História
de Amor (1995)
“Lembra de mim ...” era com essa frase
que Ivan Lins abria e encerrava a trama de História de Amor ,
novela do autor Manoel Carlos que foi pro ar pela Globo
em 1995. Um folhetim leve e charmoso , que talvez até pela falta de
pretensão , tenha atingido um nível de sucesso não esperado. O Horário
das seis havia sofrido uma queda com a exibição do remake de Irmãos Coragem (1995)
, e História de Amor conseguiu
levantar o IBOPE e caiu no gosto do público, que começou acompanhar os
dramas dos personagens de Maneco, que são fáceis de ser encontrados ao
nosso redor. A Novela tratava principalmente do relacionamento entre
pessoas em todos os seus níveis, nos apresentando um leque de
situações cotidianas.
História de Amor não teve nenhum pico alto de emoção no decorrer
dos capítulos , como ocorrido em outras tramas do autor : O Encontro dos gêmeos
de Baila Comigo (1981), a descoberta à Bia(Tatiane Gulart)
que seu pai era o Álvaro (Tony Ramos) de Felicidade(1991)
ou a revelação da troca dos bebês de Por Amor(1997), mas mesmo assim a trama prendia
atenção do telespectador , sem ter que apelar para ganchos mirabolantes , ou
assassinatos, a novela primava pela simplicidade, e certamente isso foi o seu
maior charme.
Manoel Carlos contou na época que escreveu
a sua Helena de História de Amor pensando exatamente em Regina Duarte,
a novela inclusive comemorou os 30 anos de Regina Duarte na TV
e a sua estreia no horário das seis. Regina ainda iria viver mais duas
Helena´s do autor , em Por Amor (1997)
e Páginas da Vida (2006). Nesta Helena de 1995, Regina nos
brindou com uma personagem diferente de tudo que ele já havia
interpretado, ainda tinha em minha memória a extravagante Maria do
Carmo de Rainha da Sucata que ela havia feito 5 anos antes, e a personagem de Manoel
Carlos era o oposto. Uma mulher de classe média separada, e que criava a
filha adolescente à duras penas. Enquanto a interpretação primorosa de Regina
Duarte era amplamente elogiada, o seu visual virou alvo de críticas, sempre
usando uma trança nos cabelos “semi-terminada” uma carta no editada no
Jornal do Brasil na época comparava o visual da personagem à uma flagelada, o
que culminou em uma rápida mudança no “layout”.
O elenco de História de Amor , foi um daqueles acertos que acontecem de 20 em
20 anos, a sintonia era perfeita , e cada personagem parecia ter sido
escrito a dedo para o seu respectivo ator.
Carolina Ferraz que deu um show como a mimada
Paula, ex-mulher de Carlos (José Mayer ) que não se conformava em perder seu
marido para uma mulher mais velha. A Personagem sempre que tinha alguma
crise no casamento ou problema , tomava porres de champagne , o que virou sua
marca registrada.
Carla Marins , que aos 29 anos viveu a Joyce uma
adolescente de 19 anos, também brilhou no papel, e nos brindou com
o dueto formado com Regina Duarte, nas inúmeras brigas
e desentendimentos entre mãe e filha. Ao contrário do que aconteceu com as
outras “filhas” das Helenas do Maneco em suas novelas seguintes; A Eduarda ( Gabriela
Duarte em Por Amor ) e a Camila ( Carolina Dieckmann
de Laços de Família – 2000), a Joyce apesar de também ser
muito chata e mimada, agradava o grande público que torceu pelo seu
relacionamento com Bruno (Cláudio Lins ) , livrando-a da relação doentia com o
pai do sua filha Caio ( Ângelo Paes Leme). Na sinopse original da novela
, Joyce disputaria o amor de Carlos com a mãe, mas a Globo resolveu mudá-la por
achar o entrecho muito pesado para o horário das seis, e assim Manoel
Carlos inseriu inseriria esse entrecho à trama de Laços
de Família veiculada no horário
nobre em 2000.
Eva
Wilma, mais uma vez deu show em cena fazendo humor na pele da falida e
excêntrica Zuleika, um papel simples dentro da trama, mas que a atriz fez
brilhar.
Lília Cabral começava mostrar
em História de Amor , a grande atriz que é. No papel da Sheila,
sócia e ex de Carlos, ela iniciou a trama , como aquela amiga confidente, se
mostrando a ex-amante resolvida. Mas no decorrer da história a personagem
declarou o amor que ainda sentia por Carlos , deflagrando uma guerra
com Paula e Helena. A Atriz que é chamada pela imprensa de
atriz “cirúrgica” mais uma vez pegou seu bisturi, e fez uma Sheila perfeita,
mostrando os problemas psicológicos que culminavam em uma patologia nos últimos
capítulos da trama, com a tentativa de atropelar Paula, ex-mulher de Carlos.
Uma situação engraçada, a personagem apesar da loucura, quando se deu conta que
não poderia vencer Helena na disputa pelo amor de Carlos, resolveu então mirar
toda sua ira para Paula , que insistia em atrapalhar o novo romance do
ex-marido, ou seja Sheila aceitava perder para Helena , para a Paula não.
Certamente foi graças a esse personagem que a Lília soube valorizar tão bem
dentro da trama, que depois ele viveu mais duas personagens do autor que a
consagraram, a vilã Marta de Páginas da Vida (2006) e a Tereza de Viver a Vida (2009).
Nuno Leal Maia na trama deu vida ao
ex-campeão de remo do Vasco, o personagem era machista e não aceitava o
gravidez da filha solteira. Esportista e apresentador de um programa de
esportes o Assunção foi mais um personagem do ator que ganhou o público
logo de cara, assim como aconteceu com o Tony Carrado de Mandala (1987),
o Gaspar de Top Model (1989) e
Padre Garotão de Vamp (1991). No decorrer da trama, Assunção
sofre um acidente de carro e fica tetraplégico. O Drama do personagem para ter
que se adaptar ao seu novo estado foi amplamente divulgado na trama, mostrando
“passo a passo” o retorno de Assunção as atividades do cotidiano, como
trabalhar , vida sexual , etc. Desde o acidente , acho que todos
tinham a esperança de que no final da novela Assunção voltaria a andar, mas o
autor achou por bem deixá-lo nesta situação , que na verdade era irreversível
como na realidade acontecem muitos casos. A Volta por cima de Assunção
foi ter que adaptar seu estilo e sua vida a sua nova condição.
Praticamente o mesmo drama foi mostrada em Viver
a Vida (2009) também do autor ,
com a personagem Luciana , vivida pela Aline Moraes, que também em
um acidente automobilístico ficava tetraplégica.
Outro assunto que o autor achou importante tocar na
trama de História de Amor , foi no câncer de mama. Na novela a personagem
Marta , vivida pela Bia Nunnes descobre um tumor no seio , e Manoel
Carlos mostrou em detalhes todos os passos para a descoberta ,
tratamento e cura da doença, passando pela mastectomia (Cirugia de
retirada da mama) até o acompanhamento psicológico do paciente e seus parentes.
Enquanto História de Amor esteve no ar, registrou-se o aumento no
número de exames preventivos.
História de Amor repetiu
o mesmo sucesso da exibição original , quando foi reprisada no Vale a
Pena Ver de Novo em 2011, sendo considerada uma das melhores da seção
até hoje e isso se vem se repetindo atualmente na reprise da trama nas tardes da Globo.
A Novela História de Amor , veio para provar que se pode fazer uma
novela extremamente simples, com tramas e personagens do cotidiano , vivendo o
que nós vivemos diariamente, e mesmo assim inovar, sem pecar por pieguices e
brindando os telespectadores como um folhetim nota 10.
O Rei
do Gado (1996)
Mais um grande sucesso do Benedito Ruy Barbosa entrava
no ar pela Globo em 1996 em horário nobre. A trama de O Rei do Gado cativou
o grande público do início ao fim, com uma mescla de temas rurais e
urbanos mostrado com muita ênfase na segunda fase da novela.
O
Rei do Gado contou a saga das famílias Mezenga
e Berdinazzi, vizinhos, e, por causa de uma cerca no limite de suas
propriedades, vivem uma guerra sem precedentes. As duas famílias proíbem o amor
entre Enrico (Leonardo Brício), filho de Antônio (AntônioFagundes)
e Nena Mezenga (Vera
Fischer), e Giovanna (Letícia
Spiller), filha de Giuseppe (Tarcísio
Meira) e Marieta Berdinazzi (Eva
Wilma).
O Rei do Gado apresentou
uma primeira fase inesquecível e emocionante. Com ares operístico juntou
elementos do teatro e da narrativa audiovisual, com contrastes de luz que
deram uma ressonância de passado às imagens. Isso somado ao elenco em
total sintonia, com destaques para Vera Fischer, Tarcísio Meira, Eva
Wilma, Letícia Spiller e Antônio Fagundes que fazia também
essa primeira fase vivendo o seu avô. Sem esquecer MarceloAntonny e
Caco Ciocler que estrearam na primeira
fase da trama já dando indícios da promissora carreira que teriam pela
frente. Essa primeira fase de foi transformada em uma minissérie para o
festival Banff, do Canadá, onde foi selecionada como obra
hors-concours.
Na segunda fase foi mostrada toda a modernização e a riqueza do interior
paulista tendo Ribeirão Preto como a principal cidade de locação da
trama.
Nesta fase Antônio Fagundes (Bruno
Mezenga), Raul
Cortez (Jeremias Berdinazzi) e Carlos
Vereza (Senador Caxias) viveram os melhores
personagens da suas carreiras.
Às margens do Rio Araguaia foi outra locação da segunda
fase da novela e presenteou o público com imagens belíssimas. Stênio
Garcia e Bete Mendes, que viveram Zé do Araguaia e Donana, emocionaram o
público com a caracterização dos personagens que nos deixavam em dúvidas sobre
o fato deles serem realmente ribeirinhos do Araguaia, de tanta verdade passada
no trabalho desses dois grandes astros da tv.
Patrícia
Pillar passou dez dias convivendo com sem-terras para
compor a Luana, a ex boia-fria que se transforma em rainha da gado. O
Laboratório foi crucial para a composição da personagem que foi o grande
divisor de aguas na carreira da atriz.
Carlos Vereza protagonizou uma das cenas
mais emblemáticas apresentadas pela trama. Seu Senador Caxias discursando
emocionado sobre a causa dos sem-terra para um plenário ocupado apenas por três
colegas – um cochilando, outro lendo um jornal e o terceiro ao celular. A
cena causou protestos de senadores, que a consideraram uma “Distorção da
realidade”. A Cena do velório do senador, assassinado num confronto dos
sem-terra, também marcou muito a novela e teve participações especiais
dos senadores Eduardo Suplicy e Benedita da Silva.
Outra trama que chamou atenção em O Rei do Gado foi
a relação doentia entre Léia e Ralf, vividos pela Silvia
Pfeiffer e Oscar Magrini.
Ela, esposa de Bruno, se envolve com Ralf e passa a sustentar a boa vida do
amante. De olho na fortuna do marido de Léia, ele faz de tudo para que a mulher
tire o que puder na separação. Ao ser flagrada com o amante, Léia acaba
perdendo alguns direitos no divórcio e passa a ser humilhada e violentada por
Ralf que não vê-la mais como um gancho para sua ascensão financeira. A história
de violência e coerção marcou a novela em um trabalho impecável dos dois
atores. Era a primeira vez que em uma novela era tocado com mais força
sobre o tema da violência contra a mulher.
A Reforma agrária, a vida dos trabalhadores do
Movimento dos sem-Terra (MST) e a luta pela posse de terras foram amplamente
discutidos na novela e tiveram uma repercussão na mídia e na sociedade em geral
jamais vista. Pela primeira o assunto tomava o horário nobre de uma grande
emissora, se tornando um momento importante para o Brasil.
A trilha volume 1 de O
Rei do Gado bateu um recorde de
vendas que há anos pertencia a trilha internacional de Dancin´Days (1978).
O CD/LP vendeu mais de 1,5 milhão de cópias e teve praticamente todas as suas
faixas tocadas nas rádios nos quatro cantos do país. O Volume 2
também teve uma boa vendagem. Trazia na capa a dupla sertaneja da trama
formada por Pirilampo e Saracura, vividos por Almir Sater e
Sérgio, que cantaram 7 das 12 canções do CD/LP.
Outros atores que fizeram um trabalho impecável na
trama: Fábio
Assumpção (Marcos Mezenga), Jackson
Antunes (Regino), AnaBeatriz
Nogueira (Jacira), Walderez de
Barros (Judite), Mariana Lima (Liliana), Ana
Rosa (Maria Rosa), Iara Jamra (Lurdinha)
entre outros.
A Cena que encerrou a novela foi entregue para Antônio
Fagundes e Raul Cortez, que na pele do Bruno e Jeremias brindavam, já
embriagados de vinho, a união de suas famílias, porém mesmo assim não selavam a
paz propriamente dita.
Sobe um letreiro com o dizeres:
“Deus, quando fez o
mundo, não deu terra pra ninguém, porque todos os que aqui nascem são seus
filhos. Mas só merece a terra aquele que a faz produzir, para si e para os seus
semelhantes. O melhor adubo da terra é o suor daqueles que trabalham nela.”
A Câmera volta para Bruno Mezenga e Jeremias Berdinazzi , em meio ao cafezal,
como se os dois estivessem discutindo novamente, deixando no ar a pergunta
: “Vai começar tudo de novo?”
O Rei do Gado foi um grande momento da teledramaturgia no
campo da audiência, produção, texto e elenco que estavam numa total
sintonia. Uma trama que mesclou o bucólico com problemas de uma dura realidade
e que fez o público se render aos encantos de mais uma trama rural do
mago desse tipo de novela, Benedito Ruy Barbosa.
A
Indomada (1997)
“Oxente, My God!” A Indomada completou
20 anos!
Um
dos grandes sucesso da década de 90, escrita por Aguinaldo
Silva, no mesmo estilo que foram Tieta (1989), Pedra sobre Pedra (1992)
e Fera Ferida (1993) mas com um diferencial. A trama
misturou à sua narrativa e história o regionalismo nordestino com
tradições e expressões inglesas, já que Grenville, a fictícia
cidade onde se passava a trama havia sido fundado por imigrantes que
vieram da Inglaterra. Isso acabou se transformando no grande charme
da trama.
Eva
Wilma foi a
grande estrela da trama. Em uma das suas mais brilhantes atuações, a atriz fez
da sua vilã cômica Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque
um momento único para a tv. Eram delas as expressões
que foram copiadas nos quatro cantos do Brasil: “O Xente, My
God!” que abriu o post, a personagem imortalizou o “Very
Well”, “Stop!”, “Uóti?, ‘thank you very much, viu bichinho!’,
triu-di-lou”, ‘weeeell’ .
Sua
dobradinha com Ary
Fontoura, que viveu o Deputado Pitágoras, fiel cumplice de
Altiva, rendeu momentos inesquecíveis a A
Indomada. A Dupla de atores foi eleita pelo Troféu Imprensa e APCA como
os melhores atores do ano.
Mas A
Indomada teve outros atrativos
além de Maria Altiva. Os protagonistas vividos por Adriana
Esteves e José
Mayer, Helena e Teobaldo, inicialmente me soaram sem química,
não sei se pelo fato de saber que a Claudia
Abreu faria a personagem, e a Adriana ter ganho
depois da desistência da mesma. Mas logo essa impressão se desfez. O perfil
indomável da protagonista e seu estilo seduziram o Brasil, e claro
passei a torcer pelo casal, que passou por todas as situações para serem
finalmente felizes.
O Realismo fantástico costurou a trama
de A Indomada através de personagens como o Emanuel,
numa inesquecível interpretação do Selton
Mello, que se apresentou por toda a trama como um menino
com traços de autismo e termina se transformando em um anjo depois de um
discussão com Altiva. A cena foi uma clara homenagem ao personagem João
Gibão de Saramandaia (1976),
já que ele cria asas nas costas e desaparece nos céus de Grenville.
Outra cena que deixou o realismo fantástico da trama bem explícito foi o fato
do Delegado Motinha, vivido pelo José
de Abreu, cair em um buraco no meio das ruas de
Grenville e para no Japão. A Cena foi muito discutida nas ruas.
Assim
como em Tieta (1989), Aguinaldo
Silva criou a Mulher de Branco que atacava os homens, em A Indomada o
personagem misterioso era o Cadeirudo, que atacava as mulheres de Grenville. No
final revelada sua identidade, ficamos sabendo que se tratava de Lourdes
Maria, da atriz Sônia de Paula, uma das beatas fervorosas da trama.
Outros personagens de destaques em A Indomada: Zenilda de Yolanda, a dona do Bordel,
vivida pela Renata
Sorrah; O Padre Moderno com estilo e sotaque alemão
vivido pelo Pedro Paulo Rangel; Artêmio, o injeitado
descoberto ser filho de Altiva, vivido pelo Marcos
Frota; a Juiza Mirandinha, vivida pela Betty
Faria e o casal Ypiranga Pitaguari e Scarlett,
vividos pelo Paulo
Betti e Luiza
Tomé, prefeito e primeira-dama de Grenville.
A
Indomada é um clássico
incontestável, com todos aqueles ingredientes de tramas regionais que
eram sucesso garantido no horário nobre da década de 90. E no caso da
trama, a caracterização dos personagens e expressões britânicas somadas
ao estilo nordestino e interiorano foram sem dúvidas o ponto forte da
novela que ainda é tão recente em nossa memória .
Anjo
Mau (1997)
Anjo Mau, um dos grandes sucessos do autor Cassiano
Gabus Mendes, apresentado em 1976 e reescrito em 1997 por Maria
Adelaide Amaral, foi outro remake de sucesso apresentado pela Globo.
O Remake de Anjo Mau marcou duas estreias : Maria Adelaide
Amaral com autora solo e Carlos Manga como
diretor.
Glória Pires num trabalho incrível na pele
da dúbia babá fez uma Nice única e inesquecível. Mesmo com a comparação e
eterna lembrança da Nice vivida pela Susana Vieira.
Na trama Nice (Glória Pires) é a moça pobre que
não mede esforços para atingir seus objetivos. Emprega-se como babá na mansão
dos Medeiros, onde já trabalha seu pai, Augusto (Cláudio Correa e Castro), e se
apaixona por Rodrigo (Kadu Maliterno), o filho mais velho da família, irmão de
sua patroa, Stela (Maria Padilha). A ambiciosa Nice usa de todas as armas para
conquistar o rapaz e planeja o dia em que deixará de ser pobre e se
transformará na dona daquele casarão.
No elenco, além de Glória Pires, vários outros
destaques como Alessandra Negrini na pele da vilã e ambiciosa
Paula; Regina Maria Dourado como a rancorosa mãe adotiva da
Nice; e o casal formado por Daniel Dantas e Maria
Padilha, que viveram Tadeu e Stela, que tal qual os da primeira
versão vividos pelos atores Osmar Prado e Pepita Rodrigues,
conquistaram a empatia do público.
Maria Adelaide Amaral adaptou e criou novas
tramas para o remake, e entre essas novas tramas vale destacar o tema
sobre o preconceito racial. Luiza Brunet vivia a fútil Tereza,
uma mulher que casou com o grande industrial Rui Novaes (Mauro Mendonça) e por
medo de ser rejeitada pelo Marido escondia a identidade da sua mãe Cida (Léa
Garcia), por ela ser negra.
Vale destacar também o tema abordado sobre a violência
sexual, quando o Ricardo num rompante de loucura estupra Vívian, a personagem
da Tais Araújo. A Autora aproveitou a abordagem para mostrar
didaticamente todos os procedimentos que a mulher deveria tomar para denunciar
esse crime hediondo.
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Outro
núcleo que também foi destaque em Anjo Mau foi o encabeçado por Lília Cabral,
Sérgio Viotti e a estreante Samara Felippo. Na trama,
Goretti, a personagem da Lilia abre mão de seu grande amor, para casar-se com o
Américo, personagem do Viotti, um senhor muito rico e com saúde debilitada,
tudo isso para dar uma vida melhor a filha que vivia revoltada por ser
pobre.
Anjo Mau teve um “Quem Matou?” que
acabou levando Nice para a cadeia. O morto foi Josias (Átila Iório), pai
biológico da Nice. O Vilão era assassinado a golpes de facas, e Nice
chega a cena do crime com o pai ainda vivo, com tempo de dizer
apenas “A Faca” , é quando Nice acaba pegando a arma do
crime e se transforma na principal suspeita. No último capítulo é
revelado que a assassina de Josias foi Tiana (Telma Reston) a cozinheira
dos Medeiros, que havia começado um romance com o Josias, mas teria ficado com medo
de suas ameaças. Na primeira versão a assassina foi Alzira (Wanda
Lacerda), a mãe da Nice, que matara pelo mesmo motivo, medo das ameaças de
Josias a sua filha e o marido.
O
Final do remake foi diferente da versão original. Em 1976, a censura não
aceitou Nice (Susana Vieira) ter um final feliz. A personagem morre no
parto do filho que esperava de Rodrigo (José Wilker). Na versão de 1997,
Rodrigo (Kadu Moliterno) e Nice puderam finalmente viver esse amor. Nice tem o
bebê, sofre algumas complicações, porém escapa e reencontra seu grande amor
dentro de um avião onde brindam a nova vida.
No
último capítulo a autora homenageou Susana Vieira. A Atriz é
apresentada como a nova babá do Téo, na casa da família Medeiros. Foi uma
participação mais do que especial. Na época, Susana Vieira fazia
a vilã Branca Letícia de Barros Motta, da trama de Por
Amor (1997) , do autor Manoel Carlos.
Terra
Nostra (1999)
Em 1999 Benedito Ruy Barbosa voltava
ao horário nobre global com uma das novelas de maior sucesso da emissora. Terra Nostra foi
aquele tipo de novela que acontece de tempos em tempos, a trama chegou a
dar 58 pontos de picos de audiência , índice alto levando em consideração os
dias atuais.
Com Terra Nostra , Benedito voltava a falar sobre um assunto o
qual ele domina muito bem, a imigração. O Autor já havia falado sobre o assunto
com maestria em Os Imigrantes (1981)
na Rede Bandeirantes e em Vida Nova (1988)
na Globo.
Mas em Terra Nostra Benedito pode mostrar essa imigração com toda a
exuberância e veracidade que o assunto pedia. A imigração italiana no
final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX e sua importância na
formação da sociedade brasileira. A novela conta essa história a partir do
romance entre os jovens italianos Matteo (Thiago Lacerda) e Giuliana (Ana Paula
Arósio), que resiste a todos os conflitos e provações para triunfar no
final.
Thiago Lacerda e Ana Paula Arósio que viveram os
inesquecíveis Matteo e Giuliana foram catapultados a astros de primeira
grandeza na Globo graças ao sucesso de seus personagens. Ana
Paula mesmo com uma personagem difícil e com alto grau de carga dramática ,
conseguiu segurar o papel e a Giuliana é ainda até hoje um dos mais conhecidos
papéis da atriz.
Os personagens de Terra Nostra são
inesquecíveis, marcados por interpretações impecáveis dos atores que lhe
deram vida.
Como esquecer o saudoso Raul Cortez e Maria Fernanda
Candido, outro grande destaque da novela. O Relacionamento dos dois a certa
altura da trama passou a ser tão interessante quanto ao dos protagonistas.
Inesquecível o banho de banheira do casal em uma das cenas mais sensuais da
novela.
Maria Fernanda Cândido virou grande estrela
do dia para a noite. A Atriz foi escolhida com a mulher mais bonita da século
20 em uma votação dentro do dominical Fantástico , vencendo
nomes como Vera Fischer, Martha Rocha, Luiza Brunet e a da
própria Ana Paula Arósio. O “macarroon” criado por Paola na
trama ganhou as mesas dos brasileiros. A empresa de massas Adria lançou
o “Macarrão Terra Nostra” , assim com a Arisco os
molhos e temperos tudo com a marca da trama.
Ângela Vieira fez da sua madame
Janete , a algoz de Giuliana , um dos seus melhores momentos na TV. A Atriz
estrelou a capa da edição da revista Playboy de outubro de
1999 com o slougan : A Bela vilã de Terra Nostra.
Outros destaques absolutos no elenco : Antônio
Fagundes, Paloma Duarte, Marcelo Antony, Carolina Kasting e Débora Duarte.
Débora inclusive graças ao seu bom trabalho a frente da personagem,
acabou salvando Maria do Socorro da morte. Na sinopse a esposa de
Gumercindo morreria de parto.
Benedito idealizou Terra Nostra como um trilogia , que teria sua terceira fase
terminando nos dias atuais (2000), mais apesar do grande sucesso da trama o
autor preferiu encerrar a saga no início da segunda guerra mundial, mas com um
enigmática frase : “Essa história não acaba aqui!”
Assim ficou nítido que o autor escreveria uma “Terra Nostra 2” ,
contando a vida dos descendentes de Giuliana e Matteo, mais depois mudou de
ideia e em 2002 lançou Esperança . A Novela falava também sobre imigração, mas
desta vez de vários outras nacionalidades , não só sobre os italianos.
Terra Nostra roubou
de Escrava Isaura (1976) o trono de novela brasileira mais vendida
para fora. Em 2004 a trama de Benedito Ruy Barbosa já havia sido
vista em 83 países contra 79 da novela de Gilberto Braga.
A Trilha sonora de Terra
Nostra foi
impecável com grandes nomes da música brasileira interpretando canções em
italiano. “Tormento D´Amore” interpretado por Aguinaldo Rayol e
a menina Charlotte Church foi o carro chefe do CD e o tema de
abertura da novela. A Música ganhou as rádios do Brasil e se transformou em um
grande sucesso. Assim como “Malia” cantado por Sandy e Jr; “O
Solo Mio” do José Augusto; “Luna Rosa” Caetano
Veloso; “Lacreme Napulitane/Vunria” na voz da Zizi Possi.
Na trilha 2 da novela , Raul Cortez e Maria Fernanda
Candido interpretaram a canção “Noi Ci Amiamo” para o
tema de seus personagens, inclusive os dois estamparam a capa desse volume.
Laços
de Família (2000)
Laços de Família foi aquele tipo de trama onde tudo deu certo –
da escalação do elenco ao texto , da direção ao roteiro, dos figurinos aos
temas abordados, é uma novela que entrou para o hall dos fenômenos
do gênero e pontuou essa virada do século.
A
novela era centrada no amor incondicional de uma mãe pela filha, e
que acaba abrindo mão por 2 vezes, de um grande amor, em favor dessa
filha.
Em Laços de Família ,
Maneco mostrou todo o seu potencial para escrever sobre o cotidiano, suas
alegrias e dramas desta vida real. Suas novelas podem ser divididas
e analisadas como antes e depois de Laços
de Família. A trama sem dúvidas foi seu ápice.
A única exigência feita por ele para escrever a novela
foi ter como protagonistas Vera Fischer e Tony Ramos. O
autor disse que precisava de uma mulher que, no auge dos seus 50
anos, fosse tão irresistível como uma menina de 20, e isso a Vera era. A cena
do primeiro encontro dela com Edu (Reynaldo Gianechinni), depois da batida de
carro, com a Vera só de biquini em pleno o bairro Leblon é
inesquecível. Aliás a Vera fez uma Helena espetacular, solar e com uma força
que a personagem precisou durante toda a trama. Era a personagem certa para a
atriz perfeita. A Helena dela é minha preferida entre
todas as Helena´s do autor.
Tony Ramos também fez do Miguel o divisor de
águas em sua carreira. O Ator que já havia feito outros trabalhos de
destaque com o autor , como os gêmeos Quinzinho e João Victor de Baila Comigo (1981)
e o Álvaro de Felicidade (1991),
mostrou um Miguel crível, sereno e dono da situação. Maneco disse que precisa
de uma ator do perfil do Tony, para que mesmo depois do perdão dado a Helena,
quando esta o deixa para viver novamente um romance com Pedro, o
personagem do JoséMayer, para engravidar e
salvar a Camila, ele fosse compreendido e continuasse
tendo seu perfil respeitado.
Nessa contramão, Carolina Dieckmann viu
acontecer com a Camila o mesmo que houve com a Eduarda, personagem da Gabriela Duarte,
em Por Amor (1997), trama
anterior do autor. Foi criado o site “Eu Odeio a Camila”, exclusivo para
os que simplesmente não aguentavam a personagem. Com uma lista de
vários motivos para odiá-la: Traiu a confiança da mãe, era
dissimulada , mimada, estava sempre com cara de tédio entre outros.
Enfim
a Camila só ganhou a empatia do público quando entrou na fase em que apresentou
a leucemia. Todos que jogaram tantas pedras na personagem se juntaram em uma
corrente de torcida pela sua pronta recuperação, mostrando a força da
personagem e sua intérprete, que talvez precisasse dessa rejeição inicial, para
que o impacto da sua doença fosse ainda mais forte.
A cena em que Camila raspa a cabeça entrou para o hall dos
momentos que marcaram a teledramaturgia de todos os tempos, e proporcionou
à Globo seu maior pico de audiência do ano de 2000. Exibido em
11.12.2000, ao som de “Love By Gracy” da Lara Fabian ,
o IBOPE apurou que 79% dos televisores do país
estavam sintonizados na novela.
As
imagens com a Carolina Dieckmann raspando a cabeça em
consequência do tratamento da foram usadas posteriormente numa campanha da
emissora sobre a doação de medula. As discussões sobre a doação de
medula tomaram conta dos quatro cantos do país, e neste entrecho o
autor teve como assessor o Dr. Jorge da Mata, então médico do INCRA- Instituto
Nacional do Câncer. De novembro de 2000, quando o tema foi ao ar, a janeiro
de 2001, a média de cadastrados no Registro Brasileiros de Doadores
Voluntários de Medula Óssea (REDOME), saltou de vinte para
novecentos por cento – um crescimento de 4.400%.
Além de seus protagonistas outros atores
fizeram de Laços de Família um palco para seus personagens – Giovanna Antonelli foi
a grande revelação do ano – A Capitu, garota de programa de luxo, que se
prostituia para sustentar os pais e o filho, marcou a carreira
da atriz, que saiu da novela já credenciada para viver
uma protagonista do horário nobre - A Jade de O Clone (2001).
Marieta Severo e sua
personalistica Alma, foi outro destaque no currículo da atriz. A
personagem lhe deu o troféu de melhor atriz do ano pela APCA.
Depois de Laços de Família, Marieta
assumiu a Dona Nenê da nova versão de A Grande
Família (2001 – 2014), onde
ficou por 13 anos, voltando a novela em 2015 na trama de Verdades Secretas (2015).
Outros destaques do elenco – Déborah Secco como
irritante Íris; José Mayer e o machão Pedro; Lília Cabral como
a Ingrid – a cena em que a personagem é assassinada em um
assalto, logo ao chegar ao Rio de Janeiro, também é uma
das marcantes da novela.
Reynaldo Gianechinni ganhou
o protagonista Edu, logo em sua estreia na tv. Apesar de ter sido bombardeado
de críticas, o ator tirou de letra o personagem. Teve alguns percalços, mas
nada que não pudesse ter sido contornado. Não a toa que depois da trama ele foi
alçado ao posto de astro de primeira grandeza e protagonizou varias
outras novelas. Uma das cenas que mais chamou minha atenção do
Gianechinni é a que o Edu descobre a doença da Camila, quando o médico lhe dá o
diagnóstico. Ele se tranca em uma sala, sozinho, antes de contar qualquer coisa
para outro familiar, e chora, chora ... muito emocionante.
Laços de Família foi a primeira
novela da Juliana Paes, que se
destacou como a empregada Ritinha; Daniel Boaventura, Zé Victor Castiel e Inez
Viana. Foi também a primeira novela da Globo da
atriz Regiane Alves.
Laços de Família é um novelão no melhor sentido desta palavra,
recheada de cenas memoráveis e grandes interpretações no auge da criatividade
do Manoel Carlos.
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
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