Continuando a comemoração dos
60 anos da Globo
vamos relembrar mais 10 tramas que marcaram a emissora nesses anos.
Antes de ver o post 2,
se delicie com o POST 1, publicado anteriormente.
Pai
Herói (1979)
Óbvio que falar de Pai Herói e
não cantarolar a música – Pai, você foi meu herói, meu
bandido .. É impossível. A música do
cantor Fábio Jr virou marca registrada da trama. Na verdade a
música nem foi gravada para a novela , já havia sido apresentada em um
dos episódios no seriado Ciranda, Cirandinha (
1978) onde o Fábio interpretava um cantor que buscava o sucesso, mas foi
na abertura da novela que ela virou hit em todo o pais é até hoje é lembrada e
usada em homenagens aos pais.
A Novela trazia de volta o casal Tony Ramos e
Elizabeth Savalla que havia feito muito sucesso na
novela O Astro (1978 ) um ano antes, também da autora.
Pai Herói já estava pronta antes mesmo de virar uma
novela. Janete Clair havia preparado a história para ser o que
nunca acabou acontecendo , sua estreia no cinema. A Autora foi convidada
às pressas para ocupar o horário quando Lauro César Muniz não
pode escrever sua novela por problemas de saúde.
Pai Herói foi a primeira novela do saudoso Paulo Autran, que
já era consagrado no teatro. Depois de muitos convites o ator finalmente
se rendeou a teledramaturgia e deu vida ao grande vilão Bruno Baldaracci.
O Ator protagonizou no último capitulo uma das cenas mais lembradas da
trama. Baldaracci fugindo vestido de pierrô em um helicóptero.
Glória Menezes esteve
impecável na pela da Ana Preta. A personagem foi aclamada pelo público que se
apaixonou por sua brilhante interpretação. Mas em compensação foi
esse mesmo público que “exigiu” que André não terminasse com Preta e sim com
Carina , a personagem da Elizabeth Savalla. Janete Clair declarou
em entrevistas que foi a primeira vez que mudou o desfecho de uma trama
sua à pedido dos telespectadores. Aliás, a expectativa de saber com
quem André ficaria no final foi o grande gancho da trama.
O Quebra-Cabeça que
aparecia na abertura da trama foi transformado em brinquedo e virou o
sucesso no dia das crianças daquele ano.
Uma novela recheada de grandes personagens com atores
vivendo momentos inesquecíveis, é assim que Pai
Herói pode ser resumida.
Água
Viva (1980)
Água Viva foi a novela do Gilberto Braga logo depois do grande sucesso de Dancin´Days (1978)
, ou seja a novela tinha a responsabilidade de ser igual ou melhor , e
assim o foi.
A Novela
marcou o início da década de 80 , ditou moda e costumes
e imprimiu um novo jeito de fazer teledramaturgia, com
suas inúmeras cenas externas e os cenários ensolarados do verão carioca,
mostrando a alta classe rica e sua vida à beira mar.
Beatriz Segall e Tônia Carrero foram as donas da
novela. Beatriz vivendo a grande vilã Lurdes Mesquita já treinava para
viver a Odete Roitmann de Vale Tudo (1988). A aristocrática personagem desfilou seu
veneno por toda a trama e tinha como principal alvo os próprios filhos
Marcos (Fabio jr) e Márcia (Natália
do Vale). TôniaCarrero tinha
sido escalada para viver Lourdes Mesquita , na última hora trocou de papel e
ficou com a excêntrica milionária Stela Simpson e reinou absoluta com
toda a luxuria e sofisticação da personagem. A Stela foi sem
dúvidas a melhor personagem de Tônia na TV.
A novela teve três grandes momentos que até hoje são
citados dentro da teledramaturgia :
· Apresentou
o primeiro baseado na Tv brasileira , mesmo que implicitamente;
· Em
uma das gravações externas da trama Tônia Carrero , Glória Pires, Maria Padilha e Maria Zilda passaram por uma situação desagradável.
As atrizes foram hostilizadas por frequentadores da praia de Ipanema ,
quando encenavam um topless de suas personagens na novela.
· Em
outra gravação o ator Kadu Moliterno que vivia o personagem
Bruno , junto com um cinegrafista foi perseguido por um tubarão.
Inesquecível também a cena em que Lygia
acerta as contas com a amiga falsa Selma (Tamara Taxmann). Lygia se tranca no
banheiro de uma boate e dá a surra que todos os brasileiros tinham
vontade de dar na personagem. A mesma
cena foi recriada em outra
trama do autor - Em Celebridade (2003),
quando Maria Clara (Malu Mader) dá uma
surra em Laura (Cláudia Abreu).
Miguel Fragonard o personagem de Raul Cortez é
assassinado faltando 21 capítulos
para o final da trama. No último
capítulo é revelado que o assassino fora
Kléber personagem do saudoso José Lewgoy. No passado Kléber havia
sido tutor dos irmãos Nelson (Reginaldo Faria) e Miguel e este
último descobriu que Kléber fora o responsável pela falência do irmão
Nelson.
Água Viva terminou
como um novelão daqueles, consagrando seu elenco e cravando o nome de Gilberto Braga como um dos grandes novelistas brasileiros.
BailaComigo (1981)
Um grande sucesso de Manoel Carlos que
tinha como tema principal a separação no nascimento de dois irmãos gêmeos.
Diferentemente do que estávamos acostumados a ver, o irmão bom
sofrendo nas mãos do irmão mal, Baila Comigo contou a
história por outro ângulo. Ambos os irmãos tinham suas qualidades e defeitos ,
e não competiam entre si, na verdade a trama se prendeu a trajetória de vida de
cada um, que até João Victor descobrir uma doença grave , e seu pai
resolver procurar o irmão que poderia salvar sua vida, sequer ainda se
conheciam.
Tony Ramos que deu vida aos gêmeos João
Victor e Quinzinho, foi vangloriado pela crítica. O Ator usou apenas de
recursos técnicos e o talento que lhe é peculiar para criar as
sutis diferenças entre os gêmeos, como mudança de respiração e postura
corporal.
Foi em Baila Comigo , que Manoel Carlos iniciou a
saga das “Helenas” em suas tramas. A partir de então em
todas as novelas do autor a personagem principal passou a se chamar
Helena. Assim a primeira Helena de Maneco foi vivida pela saudosa Lilian
Lemmertz. A atriz também ganhou da crítica todos os elogios
possíveis, graças a toda a sensibilidade impressa na personagem. Lilian e Fernando
Torres , que viveu seu marido na trama, nos proporcionaram cenas
memoráveis. Na verdade a atriz nem havia sido a primeira a ser cogitada
para viver a personagem, Fernanda Montenegro era quem iria
fazer o papel, mas Lilian acabou sendo agraciada com a Helena, e o autor criou
outra personagem para Fernanda , a Silvia Toledo.
Inesquecível a cena do encontro dos gêmeos, já quase no
final da novela, uma das mais emocionantes da trama. Na época sem os recursos
técnicos atuais, a produção praticamente teve que fazer mágica para levar ao ar
a cena com Tony Ramos duplicado no vídeo. Tony gravava toda a
cena de Quinzinho com metade da câmera coberta, em seguida eram gravadas as
seqüências do João Victor, depois as duas imagens eram “coladas” e levadas ao
ar. Tempos em que a criatividade era maior que os recursos tecnológicos.
Baila Comigo é
considerada até hoje um dos grandes sucessos do Manoel Carlos, que
estreou na trama o seu estilo de escrever sobre o cotidiano humano, as relações
pessoais com a maior naturalidade e simplicidade.
Elas por Elas (1982)
Em 1982, Cassiano
Gabus Mendes depois de alguns sucessos na Globo se
firmava de vez como autor de tramas leves e divertidas, que padronizaram o
horário das sete, como mais um sucesso no horário. Elas
por Elas foi o grande destaque da
teledramaturgia do ano e considerada uma das melhores novelas da década e do
autor até então.
Elas por Elas foi
uma trama divertida e bem amarrada, com um elenco em total sintonia
e o texto impecável do autor, que contou a história do reencontro de sete
amigas 20 anos depois, e esse reencontro acendia vários outros
acontecimentos relacionados e inter-relacionado entre elas.
As amigas eram Márcia (Eva
Wilma), a dondoca entediada com a vida que leva. É
dela a ideia de reunir suas antigas companheiras de
colégio: Natália (Joana
Fomm), Marlene (MilaMoreira), Wanda (Sandra
Bréa), Carmem (Maria Helena Dias), Adriana (Esther Góes)
e Helena (AracyBalabanian).
Para isso, entra em contato com cada uma delas e promove uma brincadeira de
amigo secreto em sua casa. Todas comparecem exceto Natália (Joana Fomm), que
manda um presente estranho numa caixa: um pássaro morto.
Outra história interessante da trama de Elas por Elas é
o romance entre Míriam (Tássia Camargo) e Gil (Lauro
Corona), ela filha de Adriana e ele filho único de Helena.
Mas a aproximação entre Míriam e Gil esconde um problema bem maior
para Miguel Aranha (Mário Lago), o rico pai de Helena. Os destinos de
Helena e Adriana haviam se cruzado em outra ocasião, as duas amigas, já
separadas, engravidaram ao mesmo tempo e deram à luz no mesmo dia, na mesma
maternidade. Miguel pagou uma enfermeira, Eva (Nathalia Timberg),
para que, caso o filho de Helena fosse uma menina, a enfermeira fizesse a troca
por um menino, pois o velho queria um neto homem para ser herdeiro de suas
empresas. Sem que ninguém soubesse, Eva trocou a filha de Helena pelo filho de
Adriana. E, assim, uma criou o filho da outra sem nunca saberem da verdade.
Como se não bastasse o namoro dos jovens Míriam e Gil, e a consequente
aproximação das duas famílias, Eva está de volta para chantagear Miguel e
ameaçar revelar tudo às partes interessadas.
Em meio ao destaque do elenco feminino com belas e
competentes atrizes muito seguras em cada personagem escrito sob medida para
cada uma, o grande destaque de foi o detetive Mário Fofoca, vivido
pelo Luiz
Gustavo, que se transformou em um dos grandes
personagens da carreira do ator e do Cassiano Gabus Mendes. Depois do término de Elas por Elas, foi
produzido um filme As Aventuras de Mário
Fofoca, do Adriano Stuart e um seriado pela
Globo, Mário Fofoca, ambos em
1983.
A abertura é uma das mais elogiadas da história da Globo e
bem produzidas pela equipe de Hans Donner. Ao som da música
homônima da banda The Fevers, o vídeo mostrava um baile dos
anos 60, o ponto de partida da trama, e no meio da dança, as participantes
sofriam uma passagem de tempos, a imagem era congelada e as estrelas do
elenco como Eva Wilma, Aracy Balabanian, a saudosa Sandra Breá entre
outras, saltavam da foto coloridas e na atualidade desfilando
maravilhosas pela abertura.
A novela é mais uma daquelas que está no hall das grandes e
melhores produções da Globo que marcaram a teledramaturgia dos
anos 80.
Guerra
dos Sexos (1983)
Guerra dos Sexos foi o grande sucesso do ano de 1983, abocanhando
vários prêmios, como os da APCA – Melhor novela, melhor texto,
melhor direção (Jorge Fernando e Guell Arraes), melhores atores (Fernanda
Montenegro e Paulo Autran). A novela também foi premiada pelo Troféu Imprensa –
Melhor ator e atriz , novamente Fernanda Montenegro e Paulo Autran.
Com uma explícita harmonia entre texto, direção, elenco
e produção, Guerra dos Sexos, do Silvio de Abreu, foi
uma deliciosa comédia com direito ao humor pastelão, que perpetuou o
estilo do autor, inspirado em chanchadas nacionais e clássicos do cinema
americano, em especial da década de 30.
A
Narrativa da novela subvertia a linguagem
tradicional e trazia os personagens dialogando
diretamente com o telespectador, interagindo olhando para a câmera.
Algo que aproximava ainda mais o público da história.
A Dupla de protagonistas Charlô e Otávio, foi escolhida
à dedo, e como a abertura anunciava “pela primeira vez juntos”, Fernanda
Montenegro e Paulo Autran – ícones do teatro brasileiro que pela
primeira vez dividiam uma trama. A Escolha foi perfeita, o chamariz para a
trama, acabou se tornando um dos grandes destaques da novela. Era muito
engraçado ver dois monstros sagrado das artes levando tortas na cara, fugindo
de situações constrangedoras, ou seja em momentos que nunca haviam
vivido antes, o que só credenciou ainda mais Guerra dos Sexos para
o fadado sucesso.
A Espinha dorsal da trama, a guerra dos sexos que discutia o
feminismo e o machismo com propriedade e muito humor, na época
ainda não tão difundido como o “empoderamento feminino”, nos dias de hoje
parece batido, principalmente tendo o lado feminino como o mais fraco, que em
meados do início dos anos 80 ainda era, tanto que o remake da novela produzido
em 2012 acabou passando despercebido, exatamente por
isso. Mas em 1983, o assunto com o humor de pano de fundo foi o grande trunfo
do autor, que conseguiu criar os mais diversos entrechos sempre tendo o homem
contra mulher e/ou vice versa, porém sempre propondo o
entendimento entre as partes da melhor forma possível.
Jorge Fernando e Guel Arraes dividiram a direção
da trama, e a revolução no humor feita pela trama acabou transformando Guerra dos Sexos numa
espécie de embrião para programas de sucesso lançados nos anos posteriores ,
como Armação Ilimitada (1985) e o Tv
Pirata (1988).
Além de Fernanda Montenegro e Paulo Autran,
outros atores fizeram de Guerra dos Sexos um palco para seus personagens que brilharam em
cena de forma espetacular. O caso de Tarcísio Meira e Glória Menezes (Felipe e
Roberta), contracenando como inimigos, e não como casal romântico, como
estávamos acostumados. Tarcísio Meira , inclusive vivia o tipo
bobalhão e infantil, marcando o primeiro personagem cômico vivido pelo ator.
Outros nomes de destaque no grandioso e espetacular
elenco: Maria Zilda (Vânia), Lucélia Santos (Carolina), Cristina Pereira (Frô), Marilu
Bueno (Olívia), Mário Gomes (Nando), Yara Amaral
(Nieta), Maitê Proença (Juliana)
entre outros.
Guerra dos Sexos apresentou uma das mais antológicas cenas da
teledramaturgia nacional, a guerra de comida no café da manhã protagonizada
por Fernanda Montenegro e Paulo Autran. A cena é
tão emblemática que no remake da trama em 2012, foi inspiração para
a abertura. Era pura ousadia do autor por dois
nomes importantíssimos do cenário nacional da teledramaturgia e do
teatro em uma cena tão nonsense e puro pastelão.
Guerra dos Sexos perpetuou o estilo das tramas do horário da
sete, assim como Silvio de Abreu, e Carlos Lombardi,
que colaborou com o autor, beberam muito dessa fórmula em seus trabalhos
seguintes. Uma trama que arrebatou o público de tal forma que até hoje é muito
lembrada e reverenciada.
A Gata Comeu (1985)
Impossível não sair AGata Comeu cada vez que
alguém me pergunta quais são minhas novela preferidas. Uma trama de IvaniRibeiro, que eu acompanhei as três vezes que ela foi exibida. Até
hoje me lembro das várias cenas de briga da Jô (Christiane Torloni)
com Fábio (Nuno Leal Maia), o casal principal da trama que prendeu a atenção
dos leitores por toda a novela, o casal que começou brigando,
depois que se descobriu apaixonado, o que poderia tirar um pouco do
brilho das cenas , acabou tornando-as ainda melhores, pois começou a
mesclar o namoro com mais brigas. A Gata Comeu foi
a primeira novela a ser reprisada por duas vezes no horário do Vale a Pena Ver de Novo. Foi exibida
entre 27.02 à 28.07.1989 e 23.07 a 07.12.2001.
A trama é um remake do sucesso da autora IvaniRibeiro na Tupi , A
Barba Azul exibida em 1974, que
tinha Eva Wilma e Carlos Zara nos papéis de Jô e Fábio.
O enredo da trama se resumia à história de Jô Penteado que apesar de já ter ficado noiva várias vezes, sempre acaba o noivado com seus
pretendentes, o que lhe rende a alcunha de Lucrécia Bórgia. Rafael (Eduardo Tornaghi) é seu oitavo noivo e todos
esperam que, enfim, aconteça o casamento. Só que Jô, mais uma vez, percebendo
que não ama o noivo, termina o noivado. Jô sofre por nunca ter se
apaixonado verdadeiramente e não conhecer o amor. Até que ela se apaixona
loucamente pelo professor Fábio, viúvo e pai de dois filhos. Os dois se
conhecem ao irem juntos para uma excursão. A lancha que os transportava quebra
e eles ficam numa ilha deserta por dois meses, sendo dados como mortos. O
romance de Jô e Fábio é atrapalhado por Gláucia (Bia Seidl ), a invejosa irmã
de Jô, e por Paula (Fátima Freire), a então noiva de Fábio.
Uma das melhores
fases da novela foi sem dúvida as que aconteceram na ilha deserta , onde boa
parte dos personagens ficaram depois que a lancha que os
transportavam foi sabotada. Jô e seus convidados e Fábio, sua
família e alunos tiveram que conviver por dois meses nessa ilha , até serem
resgatados. A fase fez tanto sucesso que no final a autora
providenciou uma outra viagem a essa ilha , o que agradou em cheio os
telespectadores.
Nuno Leal Maia e Christiane Torloni tiveram
uma química arrebatadora na pele da independente milionária e o simplório
e machista professor.
Vários foram os destaques no elenco, como o saudoso Luis
Carlos Arutin , que vivia o boa vida Oscar, que inventava ser
entrevado para ser sustentado pela inocente Conceição (Dirce Migliaccio)
enquanto paquerava as gatinhas na praia. Hilária a fase em que a
Conceição descobre a safadeza do marido e vai a forra em cima dele, tratando-o
pior que lixo.
Outro casal que brilhou em cena foi ClaudioCorrea e Castro e Marilu Bueno que viveram o Gugu e a Tetê pais
da rebelde Babi vivida pela Mayara Magri. No decorrer da trama Tetê
engravida de gêmeos e enlouquece Gugu com seu desejos.
Inesquecível o elenco mirim da trama , que tinha entre
outros os atores Danton Mello, Juliana Martins e Oberdan Jr em
início de carreira.
Bia Seidl no auge da sua beleza foi
impecável vivendo a vilã Glaucia, sempre em parceria com sua mãe Ester ,
vivida pela inesquecível Anilza Leoni.
Uma novela sem nenhuma pretensão que acabou se
tornando um marco para o horário das seis. Assisti as três exibições em fases
diferentes da vida, aos 7 anos na primeira exibição em 1985, ao 11 em 1989 e
aos 23 na terceira exibição em 2001. Em cada uma delas tive uma nova
visão da trama e voltei a me apaixonar pela eternas brigas de Jô e
Fábio e os personagens inesquecíveis criados por Ivani Ribeiro.
Roque
Santeiro (1985)
Um microcosmo em forma
de sátira do Brasil mostrando a força de um mito acima da verdade. Essa
era a mensagem principal da novela RoqueSanteiro, do autor Dias Gomes no ar pela Globo em
1985.
A Novela se transformou em um dos maiores sucessos da teledramaturgia nacional
e o Brasil foi tomado pelo vocabulário, trejeitos e bordões que os personagens
apresentaram. Roque Santeiro foi encomendada para ir ao ar em 1975 para
comemorar os 15 anos da Rede Globo, mas horas antes de estrear a
censura vetou a novela alegando que que ela tinha “Ofensa à moral e aos
bons costumes”. Cid Moreira leu o editorial
escrito por Armando Nogueira no Jornal Nacional minutos
antes da suposta estreia. A Globo teve que se virar para
preencher o horário. Lançou um compacto da novela Selva de Pedra de
1972 e em pouco mais de 90 dias Janete Clair apresentou no
horário a novela Pecado Capital com quase todo o elenco de Roque Santeiro. Coincidência ou não, Pecado Capital é
um dos maiores sucessos da autora, mesmo tendo sido feita às pressas.
Roque Santeiro foi baseada na peça de Dias
Gomes, O Berço do Héroi, de 1963 que também foi proibida
dois anos depois da sua primeira montagem pela censura.
Em 1985, finalmente a história do mito religioso que virou santo e a viúva que
foi sem nunca ter sido pode ser contada e apresentada tal qual Dias
Gomes queria para o Brasil inteiro. A Novela se transformou em
fenômeno nacional e mesmo hoje quase 40 anos depois de sua estreia é citada como
sinônimo de sucesso no gênero.
A Novela marcou a estreia de Dias Gomes no
horário das oito e o gênero apresentado. Antes de Roque Santeiro as
novelas ditas regionais eram apresentadas quase sempre no horário das 22 horas.
A trama foi a primeira sem locações urbanas, tudo era ambientada na fictícia
cidade de Asa Branca.
Uma briga particular pela autoria da trama aconteceu nos
bastidores da Globo. Dias Gomes, cansado do ritmo
pesado da Tv solicitou ajuda na autoria, e a emissora deu à AguinaldoSilva esta incumbência. Dias escreveu até o capítulo 51 e os 48
finais, já Aguinaldo escreveu os 110 do meio. Vendo pelas
quantidades de capítulos a novela é mais do Aguinaldo do que do Dias
Gomes, não é? Ou seja, qual deles transformou Roque Santeiro em
fenômeno? Fato é que depois de Roque
Santeiro, Aguinaldo Silva escreveu duas novelas “urbanas”
, mas só explodiu com o sucesso da adaptação do romance de Jorge
Amado, Tieta em
1989, que seguiu o estilo de Roque Santeiro.
Regina Duarte brilhou absoluta na pele da
fogosa e extravagante Viúva Porcina. A personagem na versão de 1975 seria
vivida por Betty Faria, a atriz não aceitou fazer em 1985, e assim
a Regina pode mostrar um novo lado do seu trabalho e se consagrou como grande
estrela numa interpretação visceral da viúva que foi sem nunca ter sido.
O Figurino, maquiagem e extravagâncias da personagem foram copiados nos
quatro cantos do Brasil.
Outros atores também eternizaram seus personagens com
interpretações irretocáveis, como Lima Duarte e o inesquecível
Senhorzinho Malta; José Wilker que viveu o protagonista Roque;
Ary Fontoura na pele do Florindo Abelha; EloisaMafalda e sua Dona Pombinha; Lucinha Lins que deu
vida a Mocinha; Cássia Kiss Magro e a reprimida Lulu, ArmandoBógus e seu Zé das Medalhas; o Cego Jeremias vivido pelo Arnaud
Rodrigues; Paulo Gracindo na pele do Padre
Hipólito, Fábio Jr e o galanteador ator Roberto
Matias; Lídia Brondi e destemida Tânia entre
outros.
Na trama vale destacar também tramas paralelas que
ajudaram a segurar a atenção dos telespectadores nos 209 capítulos, como a
disputa interna dentro da igreja representada pelo Padre Hipólito (Paulo
Gracindo) e Padre Albano (Cláudio Cavalcanti); O amor que surge na metade
da novela entre Tânia, vivida pela Lídia Brondi, a filha do
Senhorzinho Malta e Padre Albano; a Boate Sexus, da Matilde (YonáMagalhães) que trazia para Asa Branca show com lindas mulheres sensualizando, o
que escandalizava as beatas da cidade; e a figura do Lobisomem, que assustava a
mulherada da cidade nas noites de lua cheia. No final é revelado que o místico
personagem era o Professor Astramor, vivido pelo ator Ruy Resende,
o principal suspeito desde o início da novela.
A Novela apresentou um final ao estilo do filme Casa Blanca. Porcina tinha que decidir se
abandonaria Asa Branca viajando com Roque, ou se continuaria na cidade com
Senhorzinho Malta, sendo eternamente a Viúva de Roque. O Capítulo que deu
95 pontos de IBOPE em São Paulo, acabou mostrando a Viúva ficando em Asa
Branca, provando que o Mito havia vencido a verdade e a cidade continuaria da
mesma forma.
Ti Ti
Ti (1985)
O Mundo da alta costura e a guerra de dois “amigos” de
infância pelo título de mais famoso costureiro do Brasil era o mote principal
da trama de Ti Ti Ti, novela do autor Cassiano Gabus Mendes.
O autor em Ti Ti Ti resolveu usar como pano de fundo o mundo da alta
costura, que ele já havia usado em Plumas ePaetês (1980), novela que também foi marcada pelo sucesso. O
Humor e os novos e leves entrechos usados na trama acabaram sendo os principais
ingredientes para o sucesso de Ti Ti Ti.
Com 63 pontos de média, a novela é uma das mais bem sucedidas novelas da Globo e
está em segundo lugar no horário, perdendo em audiência apenas para Top Model (1989) do Antônio Calmon,
trama que também era centrada no mundo da moda.
Os protagonistas vividos por Reginaldo Faria e Luiz Gustavo foram um show à parte, e assim como praticamente todo o
elenco, a escalação foi perfeita. Os trejeitos afeminados de Jacques L´Clair e
o estilo sedutor do Victor Valentim renderam cenas hilárias e inimagináveis, e
sem dúvidas os personagens foram divisores de águas em suas carreiras.
O
autor homenageou o amigo Lima Duarte, batizando o personagem
de Luiz Gustavo de Ariclenes, nome verdadeiro do ator.
Cassiano
Gabus Mendes experimentou na trama
destereotipar alguns atores e a ideia deu certo. Assim Reginaldo Faria,
acostumado a viver galãs másculos, deu vida ao afeminado costureiro, Luiz
Gustavo na pele do Victor Valentim era mostrado com grande
sedutor. Tânia Alves, acostumada a ser vista sempre em personagens
regionais, aparecia como a sedutora cosmopolita Clotilde.
A Saudosa Sandra Bréa, que
deu vida a chiquérrima Jaqueline, foi outro grande destaque da trama;
assim como Nathália Timberg na pele da Tia Cecília, numa
interpretação sensível da doente mental que desenhava vestidos de luxos para
bonecas.
Betty
Gofmann e Myrian Rios foram a revelação da novela. Betty
deu vida a aloprada Eduarda, da turma da Lazinha e Miriam a aspirante a vilã
Gabriela. Na época, Myriam Rios estava casada com o
cantor Roberto Carlos, e ele fez a música “A Atriz” em
homenagem a esposa. A Música não faz parte da trilha de Ti Ti Ti.
Várias
modelos da época apareciam na novela desfilando as criações de Jacques L´Clair
e Victor Valentim. Ísis de Oliveira, Monique Evans e Marcela Polo,
que inclusive estampou a capa da trilha internacional da novela, foram uma das
que apareceram.
Em
2010, Maria Adelaide Amaral foi a responsável em escrever o
remake de Ti Ti Ti. Juntou ao remake
a história central de Plumas e Paetês (1980), e a novela foi um dos grandes sucessos
do horário das sete dos anos 2000. Murilo Benício e AlexandreBorges, viveram os personagens Victor Valentin e Jacques L´Clair
e Cláudia Raia imortalizou a inesquecível Jaqueline, vivida
pela Sandra Bréa na primeira versão. Malu Mader,
que havia se destacado como a Val na versão de 1985, voltou em 2010 no papel de
Susana, a ex-mulher de Ariclenes. Luiz Gustavo foi homenageado
pela autora, que o chamou para o remake para viver o detetive Mário Fofoca,
personagem que o ator imortalizou na novela Elas
por Elas (1982), outra trama de
sucesso do Cassiano Gabus Mendes.
SinháMoça (1986)
Sinhá Moça foi idealizada exatamente 10
anos depois do grande sucesso de Escrava Isaura (1976), do Gilberto Braga, e antes
mesmo da sua estreia mais de 50 países estavam interessados em comprar a
trama. O Grande chamariz de Sinhá Moça era o fato de Rubens de Falco e Lucélia
Santos como os protagonistas, novamente como vilão e mocinha de uma
trama com cunho abolicionista.
Lucélia Santos novamente brilhou vivendo uma
protagonista, e em Sinhá Moça ele pode mostrar toda a força que faltava
a Escrava Isaura, que devido sua condição teve que suportar muito
na trama. Sinhá Moça foi sua primeira heroína forte, romântica e
determinada.
Dois personagens de Sinhá
Moça deram um clima poético à
trama. Os personagens Justo e Nhã Balbina , vividos pelos atores Grande
Otelo e Ruth de Sousa. Os dois eram escravos que de tão velhos já
estavam gagás e mostravam todo o sofrimento do fim da vida , que
mesmo com idade avançada ainda eram obrigados a trabalhar. O Autor contou em
entrevista para o site Memória Globo que foi um prazer ter todo o talento
do Grande Otelo na trama, mas que era difícil
controlá-lo nos estúdios. O artista vinha do teatro de revista, onde tudo era
muito improvisado e ele ainda não tinha se acostumado com o ritmo da Tv.
A
trama se desenrolou por um período de 2 anos e terminou exatamente no dia da
abolição da escravatura no Brasil, em 13 de maio de 1988.
Ana
do Véu, a personagem vivida pela Patrícia Pillar, também cativou o
público com sua história. Quando criança para livrara da morte a mãe fez uma
promessa que a menina só mostraria o rosto para o marido quando casada. O
Prometido de Ana era Rodolfo (Marcos Paulo), mas este quando volta à Araruna já
chega apaixonado por Sinhá Moça, e
seu irmão Ricardo (Daniel Dantas) acaba se apaixonando por Ana sem nunca ter
visto seu rosto.
Com uma excelente produção e
reconstituição de época impecável, o grande trunfo de Sinhá Moça foi
seu texto mostrado com maestria pelo Benedito. O autor contou uma linda
história de amor e liberdade que cativou o público e se transformou em um dos
novelões do horário das seis de todos os tempos. E que hoje mesmo quase 40 anos
depois ainda emociona quem a revisita.
Brega
e Chique (1987)
O Horário das sete foi presenteado com mais um grande sucesso
de Cassiano Gabus Mendes, a novela Brega e Chique. Chamar o sucesso de Brega
e Chique de grande
não chega a ser nenhum exagero não, a trama tem um dos melhores índices de audiência
do horário, e a certa altura chegou a bater os números da novela das oito na
época, O Outro do Aguinaldo
Silva. É Considerada junto com Que Rei Sou
Eu (1989) a melhor novela do autor.
Brega e
Chique marcou a
volta de Marília Pêra à TV, afastada desde o término de Supermanoela (1974
) 13 anos antes. Volta essa que foi comemorada em grande estilo, a Rafaela
Alvaray foi o destaque e sucesso absoluto da novela. O Brasil inteiro
acompanhou todos os problemas que ela passou para se adaptar a nova vida
de pobre, mas sem perder a “finess” que era a marca registrada da
personagem. Inesquecível a cena em que Rafaela vai ao mercado pela primeira vez
fazer compras, vestida com suas roupas de grife e casacos de pele; ou no
dia em que ela descobre que sua grande amiga Zilda ( Nívea Maria ) também era a
amante de seu marido, a fim de tomar explicações Rafaela experimenta à
frente do espelho a melhor maneira de cobrar isso da amiga, mas ao dar de cara
com Zilda ela simplesmente lhe remete um soco daqueles deixando a traíra
no chão. O Sucesso de Rafaela foi tamanho que a Rosemere a outra esposa do
Herbert acabou ficando em segundo plano, o que não agradou muito a Glória
Menezes na época , interprete da personagem.
Marília Pêra ao lado de Marco Nanini,
que fazia Montenegro, o sócio de Herbert e eterno apaixonado por
Rafaela, nos proporcionaram cenas hilárias e inesquecíveis, os dois juntos em
cena já faziam valer a pena um capítulo inteiro.
A Trama com um ritmo ágil e dinâmico com a comédia como
essência principal, proporcionou a vários outros atores personagens que
também se destacaram, como Denis Carvalho que viveu o
grosseirão Baltazar; O saudoso Raul Cortez como o
galante Herbert Alvaray e Cássio Gabus Mendes como o
analfabeto Bruno. As cenas de Cássio com Patrícia Travassos que
fazia sua professora na trama eram impagáveis.
A Novela causou polêmica logo no primeiro capítulo. Na
abertura o modelo Vinícius Lanne aparecia de bumbum de fora, e
os mais conservadores exigiram que fosse posto uma folha de parreira cobrindo
as “vergonhas” do rapaz, e assim no capitulo seguinte o glúteo do modelo
foi coberto, isso gerou ainda mais polêmica, e foi considerado censura a
livre expressão entre outras coisas, e no final a folha de parreira sumiu e a
mulherada pôde acompanhar durante toda a exibição da novela o tão falado bumbum
de Vinícuis Lanne. A Folha de parreira voltou quando a novela foi
reprisada no VALE A PENA VER DE NOVO em 1989.
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
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