A novela estilo “Dark” que a Globo apresentou em 1976
A Série alemã de drama e ficção
científica “Dark” virou queridinha do Brasil e não tem uma
roda de conversa que não surjam perguntas e teorias sobre a produção, mas o que
pouca gente sabe é que em 1976 a Globo
produziu sua própria Dark, ou
seja, a mais de 24 anos atrás, já éramos presenteados com a novela O Casarão,
do Lauro César Muniz, que assim como a série da Netflix, era contada em três tempos diferentes simultaneamente.
Claro que a nova narrativa, as épocas
que se intercalavam sem linearidade nas três fases, sem um código explicito
para um flashback, a troca de “o que acontecera” para o “como aconteceu”, confundiu o
público, que não conseguiu entender nem o primeiro capítulo, o que obrigou a Globo a reapresenta-lo no mesmo
dia às 23 horas, algo sem precedentes
até então.
O Ponto de partida de O Casarão foi o teleteatro “A Estátua”, do próprio Lauro,
produzido pela Tv Escelsior em 1961,
que por sua vez gerou a peça “A Morte do Imortal”, encenada em 1966.
As três épocas focadas na trama são: 1900 à 1910 – A Filha de Deodato
(Oswaldo Loureiro), que construíra O Casarão,
Maria do Carmo (Analu Prestes), apaixona-se pelo imigrante português Jacinto
(Tony Corrêa), mas é obrigada pelo pai a casar-se com Eugênio Galvão (Edson
França), o engenheiro responsável pela construção de um ramal ferroviário em suas terras. O ápice
desta fase é a morte de Deodato, em uma
emboscada armada pelo próprio genro, que , assim, assume o controle político da
região.
1926
à 1936 – A pequena cidade de Sapucaí, ao norte de São Paulo, está em pleno
progresso, já não depende como antes da Fazenda água Santa. Um problema
semelhante ao de Maria do Carmo é enfrentado por sua filha, Carolina (Sandra
Barsotti): ela ama o artista João Maciel (Gracindo Jr), mas por imposição do
pai, acaba casando com Atílio (Denis Carvalho), filho de Jacinto. É o início da
decadência da família, abalada com crise econômica mundial de 1929.
1976
– A época atual. As terras da Água Santa são apenas a terça parte da fazenda
original. Diversos fatores contribuem para a derrocada: a industrialização, o êxodo
rural e a própria decadência psicológica de seus proprietários. Diante deste
quadro, os filho de Atílio (Mário Lago) e Carolina (Yara Cortes) são levados a
transformar a fazenda em uma grande loteamento.
É essa realidade que João Maciel
encontra quando retorna a Água Santa para reaver uma escultura que ali
enterrara muitos anos antes e para reencontrar Carolina. Seu relacionamento com
a antiga paixão torna-se tenso, pois ambos revivem o amor do passado. Com a
morte de Atílio, Carolina decide reaproximar-se de João Maciel.
Ao final, O Casarão que acompanhara toda a história da
família servindo de epicentro para os dramas, é vítima de uma amarga
coincidência: a nova ferrovia passará exatamente pelo lugar onde ele está.
Nascido do progresso que a antiga estrada trouxera, desaparecerá nas mesmas circunstâncias.
O Casarão fechava o ciclo que Lauro César Muniz iniciou com Os Deuses Estão Mortos (1971),
na RecordTv e com Escalada (1975), já na Globo,
sobre a história de São Paulo.
Mas O Casarão sofreu
por todos os lados. Considerada uma
novela cult para os dias de hoje, a
trama foi totalmente cercada por essa falta de entendimento de alguns momentos
do público, porém o mais grave era a censura que não perdoava uma cena sequer
da história. A Censura Federal não permitiu que o autor manipulasse o triângulo
amoroso Jarbas-Estevão-Lina, que daria a mensagem final da posição da mulher na
sociedade e suas mutações. Lina, vivida pela Renata Sorrah, ao contrário das mulheres ancestrais de sua família,
rompia um casamento fracassado com Estevão (Armando Bógus), para se juntar ao
homem amado, Jarbas (Paulo José), contrastando dessa maneira com a avó Carolina
(Yara Cortes), que se casou com Atílio (Mário Lago), mesmo amando João Maciel
(Paulo Gracindo), e com sua bisavó Maria do Carmo (Analu Prestes), que se casou
com Eugênio (Edson França), mesmo amando Jacinto (Tony Carrea). A censura não
permitia o adultério feminino e recomendou que Lina pedisse o divórcio, pois “não poderia se apaixonar ainda estando
casada”. A Coisa era tão
inacreditável que o público não podia ver Lina tomando anticoncepcional, a
palavra ceroula teve que ser apagada de alguns
diálogos das cenas da narrativa de 1926, enfim a Censura!
Paulo
Gracindo foi disputado por O Casarão e Saramandaia, tanto Lauro como Dias Gomes o queriam como protagonista de suas tramas. Daniel Filho deixou a escolha a cargo
do autor, que preferiu fazer O Casarão, o que causou uma grande chateação ao Dias Gomes, que já havia escrito tipos inesquecíveis para ator, entre
eles , o Odorico Paraguaçu, de O Bem Amado (1973) e o Tucão de Bandeira 2 (1971).
O Casarão nunca foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo, porém já foi
reprisada por duas vezes – em janeiro de 1980 numa apresentação especial de 1
hora apresentada por Yara Cortes, no
Festival em comemoração aos 15 anos da Globo;
e entre março e abril de 1983 substituindo Sol de Verão, do Manoel Carlos, que teve que ser encerrada às pressas por causa da
morte do protagonista Jardel Filho,
numa edição de 18 capítulos, enquanto não entrava a substituta Louco Amor (1983). Não
sei se a Globo tem a novela completa
em seus arquivos, mas seria uma ótima opção de reprise no Viva.
A novela deu a Lauro César Muniz o Grande Prêmio da Crítica da APCA (Associação Paulista de Críticos
de Arte) de 1976. Mário Lago, Yara
Côrtes e Renata Sorrah foram
eleitos os melhores atores daquele ano (Juntamente com Lima Duarte e Betty Faria,
por Pecado Capital e Laura Cardoso, por Os Apóstolos de Judas). Paulo Gracindo foi premiado com o Troféu Imprensa de melhor ator de 1976 (juntamente com Lima Duarte por Pecado Capital).
O Casarão foi a
primeira novela da atriz Analu Prestes
e do ator português Tony Corrêa.
A Cena final de O Casarão é
uma das mais marcantes da história da teledramaturgia. Após a morte de Atílio,Carolina, depois de 40 anos de espera, chega ao encontro marcado na Confeitaria
Colombo, no Rio de Janeiro, com João Maciel, e pergunta se está atrasada. Ele,
então, responde: “Só 40 anos!”, referindo-se ao passado, quando combinaram de
fugir juntos e ela não apareceu.
O Casarão é
considerada uma das telenovelas mais importantes da carreira do Lauro César Muniz, um marco em suas
obras. O Autor utilizou alguns elementos dela na novela que marcou seu retorno
a RecordTv nos anos 2000 - Cidadão Brasileiro (2006),
na qual o nome do protagonista Antônio Maciel, vivido pelo Gabriel Braga Nunes , é uma fusão entre Antônio Dias (Tarcísio
Meira), principal personagem de Escalada (1975) e o
João Maciel de O
Casarão, que tal o qual, demora
anos para concretizar seu amor com Carolina, a personagem da Carla Regina.
Com um roteiro e narrativa inovadores muito elogiados pelos estudiosos do gênero, fora cogitado
pela alta cúpula da Globo há alguns anos, um remake da trama, mas Daniel Filho abortou imediatamente a
ideia – O
Casarão não merecia ser alterado ou
reformulado, é uma trama cult única e intocável. Concordo plenamente, um remake
exatamente igual, inspirado na trama, tiraria toda a
magia e a essência singular da história que sobrevive a marca
dos anos.
Ficha
Técnica:
Novela
do Autor Lauro César Muniz
Direção
Geral: Daniel Filho
Elenco:
1º período: 1900 a 1910
OSWALDO LOUREIRO – Deodato Leme
MIRIAN PIRES – Olinda Leme
ANALU PRESTES – Maria do Carmo
EDSON FRANÇA – Eugênio Galvão
TONY CORRÊA – Jacinto de Souza
ANA MARIA GROVA – Francisca
CARLOS DUVAL – Eliseu
LUTERO LUIZ – Afonso Estradas
PAULO GONÇALVES – Cardosão (José Cardoso)
HÉLIO ARY – Vigário Felício
JUAN DANIEL – Ramón
MARIA TERESA BARROSO – Eulália
OSWALDO LOUREIRO – Deodato Leme
MIRIAN PIRES – Olinda Leme
ANALU PRESTES – Maria do Carmo
EDSON FRANÇA – Eugênio Galvão
TONY CORRÊA – Jacinto de Souza
ANA MARIA GROVA – Francisca
CARLOS DUVAL – Eliseu
LUTERO LUIZ – Afonso Estradas
PAULO GONÇALVES – Cardosão (José Cardoso)
HÉLIO ARY – Vigário Felício
JUAN DANIEL – Ramón
MARIA TERESA BARROSO – Eulália
2º período: 1926 a 1936
GRACINDO JÚNIOR – João Maciel
SANDRA BARSOTTI – Carolina Galvão
DENIS CARVALHO – Atílio de Souza
LAURA SOVERAL – Francisca
IVAN CÂNDIDO – Valentim
RUY REZENDE – Abelardo
FLÁVIO MIGLIACCIO – Coringa
NESTOR DE MONTEMAR – Gervásio
FÁBIO SABAG – Dom Gaspar
THELMA RESTON – Margarida
AUGUSTO XAVIER – Felipe
GRACINDO JÚNIOR – João Maciel
SANDRA BARSOTTI – Carolina Galvão
DENIS CARVALHO – Atílio de Souza
LAURA SOVERAL – Francisca
IVAN CÂNDIDO – Valentim
RUY REZENDE – Abelardo
FLÁVIO MIGLIACCIO – Coringa
NESTOR DE MONTEMAR – Gervásio
FÁBIO SABAG – Dom Gaspar
THELMA RESTON – Margarida
AUGUSTO XAVIER – Felipe
3º período: 1976
PAULO GRACINDO – João Maciel
YARA CÔRTES – Carolina Galvão de Souza
MÁRIO LAGO – Atílio de Souza
ARACY BALABANIAN – Violeta
PAULO JOSÉ – Jarbas Martins
RENATA SORRAH – Lina (Carolina Bastos)
ARMANDO BÓGUS – Estêvão Bastos
MARCOS PAULO – Eduardo
BETE MENDES – Vânia
DAYSE LÚCIDI – Alice Lins
FERNANDO VILLAR – Francisco Lins
MARCELO PICCHI – Aldo
MARIA CRISTINA NUNES – Tereza
IDA GOMES – Berta
MOACYR DERIQUÉM – Sérgio
NILSON CONDÉ – Padre Milton
ARTHUR COSTA FILHO – Arturo
WALDIR MAIA – Jaime Cabral / Zenóbio
FERNANDO JOSÉ – José Rezende
ROSE CAMPOS – Ivete Mendes
PAULO GRACINDO – João Maciel
YARA CÔRTES – Carolina Galvão de Souza
MÁRIO LAGO – Atílio de Souza
ARACY BALABANIAN – Violeta
PAULO JOSÉ – Jarbas Martins
RENATA SORRAH – Lina (Carolina Bastos)
ARMANDO BÓGUS – Estêvão Bastos
MARCOS PAULO – Eduardo
BETE MENDES – Vânia
DAYSE LÚCIDI – Alice Lins
FERNANDO VILLAR – Francisco Lins
MARCELO PICCHI – Aldo
MARIA CRISTINA NUNES – Tereza
IDA GOMES – Berta
MOACYR DERIQUÉM – Sérgio
NILSON CONDÉ – Padre Milton
ARTHUR COSTA FILHO – Arturo
WALDIR MAIA – Jaime Cabral / Zenóbio
FERNANDO JOSÉ – José Rezende
ROSE CAMPOS – Ivete Mendes
e
ARLETE SALLES – Maria Helena (quarta mulher de João Maciel)
AURIMAR ROCHA – Dr. Saraiva (médico)
ELIZÂNGELA – Mônica (quinta mulher de João Maciel)
ELZA GOMES – Irmã Lurdes (enfermeira)
ÊNIO SANTOS – Saul
FRANCISCO MILANI – amigo de João Maciel
HELOÍSA HELENA – Mirtes (segunda mulher de João Maciel)
JACYRA SILVA
LÉA GARCIA – vendedora ambulante
LUIZ MAGNELLI – amigo de João Maciel
MARCELO BECKER – jornalista
NEILA TAVARES – Célia
NEUZA AMARAL – Marisa (terceira mulher de João Maciel)
PIETRO MÁRIO – amigo de João Maciel
REGINA CHAVES – empregada de Lina
RUTH DE SOUZA – marchand da galeria de arte
SANDRA PÊRA – Angélica
TAMARA TAXMAN – Lídia (jornalista)
THELMA ELITA – Conceição
ZILKA SALABERRY – Mercedes (primeira mulher de João Maciel)
ARLETE SALLES – Maria Helena (quarta mulher de João Maciel)
AURIMAR ROCHA – Dr. Saraiva (médico)
ELIZÂNGELA – Mônica (quinta mulher de João Maciel)
ELZA GOMES – Irmã Lurdes (enfermeira)
ÊNIO SANTOS – Saul
FRANCISCO MILANI – amigo de João Maciel
HELOÍSA HELENA – Mirtes (segunda mulher de João Maciel)
JACYRA SILVA
LÉA GARCIA – vendedora ambulante
LUIZ MAGNELLI – amigo de João Maciel
MARCELO BECKER – jornalista
NEILA TAVARES – Célia
NEUZA AMARAL – Marisa (terceira mulher de João Maciel)
PIETRO MÁRIO – amigo de João Maciel
REGINA CHAVES – empregada de Lina
RUTH DE SOUZA – marchand da galeria de arte
SANDRA PÊRA – Angélica
TAMARA TAXMAN – Lídia (jornalista)
THELMA ELITA – Conceição
ZILKA SALABERRY – Mercedes (primeira mulher de João Maciel)
Exibição: 07 de Junho à 11 de Dezembro de 1976
Capítulos: 168
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Fonte:
Texto: Evaldiano de Sousa
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