Eu
chamo carinhosamente Avenida Brasil (2012),
a próxima atração do Vale a Pena Ver deNovo, de “Novela Fenômeno”, sabe
aquele tipo de trama que literalmente parou o Brasil e virou assunto de
conversa em cada esquina de rua que a gente passe. E olha que conseguir isso em
pleno 2012, já com a tv por assinatura
bombando, é um marco ainda maior.
Em mais de 65 anos de teledramaturgia
nacional foram vários os momentos em que as novelas ultrapassaram
aquele linha do sucesso e marcaram de algum modo à época em que foram veiculadas e se transformaram em ícones do gêneros.
Vamos relembrar 10 títulos que são a
história das novelas brasileiras:
O Direito de Nascer (Tv SP/Tv Rio - 1964)
O primeiro grande êxito na
teledramaturgia veio no finalzinho do ano de 1964 – O Direito de Nascer, adaptação de Talma de Oliveira e Teixeira Filho do original cubano de Félix Gaignet, com Lima Duarte, José Parisi e Henrique Martins na direção e Nathalia Timberg e Amilton Fernandes
como Maria Helena e Albertinho Limonta. Um grande sucesso popular sempre
lembrado por ter os ingredientes necessários para chegar às emoções do ser
humano. Sua história, por incrível que pareça, não apresenta nenhum mistério
que o telespectador só saberá ao final. Ao contrário, o público é quem sabe de
tudo. Os personagens em cena se entrelaçam sem se conhecer suficientemente para
admitir seus laços familiares. A expectativa se restringe em ver a reação de
cada um ante novas revelações. Somada à boa história, veio a questão da
maternidade fora do casamento e do aborto, temas considerados tabu na época.
Com
ODireito de Nascer houve a primeira explosão de consumo
motivada por um personagem de novela. Os vestidos de chita usados por Mamãe
Dolores (Isaura Bruno) viraram uma febre entre as donas de casa, que procuravam
o tecido nas lojas para confeccionarem seus próprios modelos.
Beto Rockfeller (Tupi/1969)
No final dos anos 1960, o gênero já estava solidamente
implantado, graças às inúmeras produções dos últimos cinco anos. Houve então a
necessidade de uma mudança no estilo. O essencial era transformar a telenovela
em uma arte genuinamente brasileira. Foi na Tupi que novas fórmulas em linguagem foram introduzidas. Todavia, o
rompimento total deu-se em 1969, com Beto Rockfeller, idealizada por Cassiano Gabus Mendes e escrita por Bráulio Pedroso. As fantasias dos dramalhões foram substituídas
pela realidade, pelo cotidiano. Dirigida
por Lima Duarte e Wálter Avancini e
protagonizada pela trinca Luiz Gustavo,
Bete Mendes e Débora Duarte, a teledramaturgia acabou sendo dividida entre
antes e depois de Beto Rockfeller.
Beto Rockfeller abandonou a linha de atitudes
dramáticas e artificiais que acompanhavam as novelas desde que o gênero havia
chegado ao gosto nacional. Na verdade, uma primeira tentativa havia sido feita
por Lauro César Muniz na
novela Ninguém Crê em Mim, na TV Excelsior, em 1966, em que o tom
coloquial dos diálogos rompia com os padrões estabelecidos até então. Todavia,
só mesmo com o trabalho de criação e o posicionamento de modernizar a linha da
telenovela, foi possível adaptar o público às novas exigências. Não só os
diálogos mudaram. Tudo passou por uma renovação – a estrutura da história
principalmente.
Beto (Luiz Gustavo), o anti-herói, assumiu os postos até
então ocupados por personagens de caráter firme, sensatos, absolutamente
honestos e capazes de qualquer proeza para salvar a mocinha das adversidades. A
sua concepção procurava se aproximar das pessoas comuns, isto é, ter as
atitudes boas ou más conforme se apresenta a vida. Luiz
Gustavo foi alçado ao posto de grande astro da tv pela interpretação
impecável do personagem, sem dúvidas um dos melhores da sua carreira.
Beto
Rockfeller revolucionou o até então modelo de interpretação de atores, inserindo a linguagem coloquial e a
interpretação despojada, transformando a novela em uma escola para o improviso,
deixando tudo ainda mais real e próximo do telespectador.
A Trama também apresentou um novo estilo para trilha sonora, saindo os temas sinfônicos
tocados por orquestras e entrando as músicas
comerciais e populares em voga na época.
Mesmo
sempre supervisionada pela Censura Militar e tendo sofrido um esticamento
devido o grande sucesso que alcançara, Beto Rockfeller foi um fenômeno que contribuiu de uma
forma jamais vista para a teledramaturgia brasileira.
Selva de Pedra (Globo/1972)
Selva de Pedra, o clássico da Janete Clair, com direção do
Daniel Filho e Regina Duarte e Francisco Cuoco como protagonistas, atingiu números de
audiência aparentemente impossíveis. Durante a exibição do capítulo 152, no dia
04/10/1972 – a noite em que Simone (Regina Duarte) era desmascarada -, o índice
de aparelhos sintonizados na novela na cidade do Rio de Janeiro chegou aos
100%. Não houve um único entrevistado do Ibope que revelasse estar assistindo a
outro canal.
Aliás
a década de 70 foi o grande momento de Janete
Clair que contribuiu muito para o atual estilo das nossas telenovelas. Antes
de Selva de Pedra a autora já havia
parado o Brasil com Irmãos Coragem (1970), a trama que
chamou o público masculino para assistir uma novela e, depois continuou apresentando clássicos como Pecado Capital (1975), O Astro (1978) e Pai Herói (1979).
Selva de Pedra foi um leque de grandes cenas com seus
intérprete em estado de graças, como:
- O acidente de carro de Simone (Regina Duarte),
perseguida por Miro (Carlos Vereza). O fusca cai na ribanceira, capota e
explode. Simone é dada como morta;
– Fernanda (Dina Sfat), abandonada no altar por
Cristiano (Francisco Cuoco), deixa a igreja transtornada;
– Cristiano reconhece
Simone , apresentada como Rosana Reis em uma festa na casa de Laura (ArleteSalles). Ela finge que não o conhece;
– Simone é
desmascarada por Cristiano na delegacia,
não tendo mais como sustentar a farsa de Rosana Reis, sua falsa identidade;
– A morte de Miro, atropelado;
– Fernanda, já demonstrando sinais de loucura, mantém Simone presa no cativeiro, amarrada a uma cama, na cabana;
– Fernanda, já demonstrando sinais de loucura, mantém Simone presa no cativeiro, amarrada a uma cama, na cabana;
– Simone, debilitada, em uma cadeira de rodas, aparece
no julgamento de Cristiano para inocentá-lo;
– Simone e Cristiano celebram a felicidade no último
capítulo, em um navio, ao som da música-tema do casal, “Rock
And Roll Lullaby”. Fim da novela.
Um grande
trabalho de Regina Duarte. E
destaque também para Carlos Vereza e
Dina Sfat, que viveram Miro e Fernanda.
O malandro Miro, um tipo de caráter duvidoso, mas extremamente carismático, lançou a gíria “amizadinha”, que ganhou popularidade fora das telas.
O malandro Miro, um tipo de caráter duvidoso, mas extremamente carismático, lançou a gíria “amizadinha”, que ganhou popularidade fora das telas.
Janete Clair se firmou como autora grande controladora de massas com uma trama
que falou da ambição pelo poder em uma grande metrópole.
O Bem Amado (Globo/1973)
Assim como
Janete Clair, Dias Gomes, seu marido, foi
outro nome que alicerçou a história da teledramaturgia na década de 70. Criou
um estilo próprio, brasileiro e
solidificou o realismo fantástico em tramas como Assim na Terra como no Céu (1970), Bandeira Dois (1972),
O Espigão (1974), Saramandaia (1976) e entre eles o fenômeno O Bem Amado (1974), primeira
novela da TV brasileira gravada em cores. E a consolidação do horário das 22
horas para novelas.
Transposição para a TV da peça “Odorico, O
Bem-Amado, e os Mistérios do Amor e da Morte”, que o autor, só conseguiu encenar em 1969, depois de sete anos
engavetada. A inspiração partiu de um fato ocorrido no Espírito Santo, onde um
candidato a prefeito se elegeu com a promessa de construir um cemitério.
O Bem Amado apresentou uma das primeiras narrativas a
buscar em seus entrechos coisas genuinamente brasileiras e assim foi,
perfeita em diálogos, criação de tipos e no seguimento de capítulos. Em nenhum
momento sua expectativa se esvaiu na falta de assunto.
A
magnífica criação de Paulo Gracindo,
como Odorico Paraguaçu, tornou-se antológica para a televisão brasileira. Assim
como o Zeca Diabo, de Lima Duarte, e
o Dirceu Borboleta, de Emiliano Queiróz.
Também
é impossível esquecer as irmãs Cajazeiras
- Dorotéia (Ida Gomes), Dulcinéia
(Dorinha Duval) e Judicéia (Dirce Migliaccio).
As
memoráveis expressões usadas por Odorico
foram repetidas nos quatro cantos do Brasil - “os
cachacistas juramentados”, “as donzelas praticantes”, ou “vamos botar de lado os
entretanto e partir pros finalmente”.
O Bem Amado foi a primeira produção nacional exportada por outros países. Antes o que se fazia era só
a comercialização do texto. Chegou ao México primeiro , pela Televisa, e aos poucos foi exibida em
todos os países da América Latina.
A
trilha sonora de O Bem-Amado foi encomendada à dupla Toquinho e Vinicius de Moraes, que
compuseram 11 canções especialmente para a novela.
Em
1980, o prefeito Odorico Paraguaçu ressuscitou (ele morria no último capítulo
da novela, inaugurando o cemitério de Sucupira) para o seriado que ficou cinco
anos no ar. Dias Gomes voltou à sua
criação maior em episódios semanais, exibidos entre 1980 e 1984.
Com
O Bem Amado, Dias
Gomes criticou a política e a sociedade
com muito humor em plena ditadura
militar.
Escrava Isaura (Globo/1976)
Com a novela Escrava Isaura do autor Gilberto Braga, que era uma
adaptação do famoso romance de Bernardo Guimarães, a
teledramaturgia levou um “baque” no bom sentido da palavra, devido ao
tamanho sucesso e repercussão que a trama teve. A novela, que fala
da liberdade, tornou-se um grande sucesso internacional da televisão
brasileira. E transformou Lucélia Santos
em estrela internacional, já em seu primeiro trabalho em televisão.
Um
grande destaque também para o ator Rubens de Falco, que ficou para sempre
marcado pela sua interpretação do vilão Leôncio Almeida.
Escrava Isaura foi a primeira novela brasileira a
furar o bloqueio da Cortina de Ferro, onde fez muito sucesso. Na Rússia, a
palavra “fazenda”, antes inexistente no país, entrou para o dicionário na
versão hispânica: “hacienda”. Em Cuba, o governo chegou a cancelar o
racionamento de energia elétrica durante o horário da novela. Na Croácia, a
novela parou a guerra quando foi exibida neste país. Na Bósnia, em pleno calor
da guerra contra a Sérvia (1997), os dois exércitos decretaram cessar-fogo
durante a exibição dos capítulos. Na Polônia, milhares de pessoas lotaram um
estádio para assistir a uma competição de sósias dos personagens Isaura e
Leôncio.
Na China, Lucélia Santos ganhou o Prêmio Águia de Ouro, com os votos de cerca de 300 milhões de pessoas – foi a primeira vez que uma atriz estrangeira recebeu um prêmio no país.
Na China, Lucélia Santos ganhou o Prêmio Águia de Ouro, com os votos de cerca de 300 milhões de pessoas – foi a primeira vez que uma atriz estrangeira recebeu um prêmio no país.
A novela é até hoje a quarta mais vendida,
empatada como Da Cor do Pecado (2004), do João Emanuel Carneiro,
tendo sido apresentada em 104 países.
Escrava Isaura é a novela campeã em reprises na Globo. A primeira, entre 29/08/1977 e
16/01/1978, às 13h30. Compactada em 30 capítulos, foi reapresentada às 18 horas
entre dezembro de 1979 e janeiro de 1980.
Dentro do programa feminino TV Mulher, pelas manhãs, a
partir de setembro de 1982. Em 1990, compactada, dentro do Festival 25
Anos da TV Globo. E ainda:
somente para o Distrito Federal, em 1985, reprisada em um compacto após o Jornal
Nacional, no horário em que no resto do país era exibido o Horário
Eleitoral Gratuito.
Exatos 28 anos
depois de sua estreia na Globo, a
história de Isaura ganhou uma nova adaptação para a TV, desta vez produzida
pela Record TV, com texto de Tiago Santiago e a mesma direção geral
da primeira versão, de Herval Rossano.
Bianca Rinaldi foi a nova Isaura, LeopoldoPacheco, Leôncio, e Théo Becker,
Álvaro. Esta versão da Record contou
ainda com as participações especiais de Rubens
de Falco e Norma Blum (da primeira versão), que voltavam a interpretar um
casal, dessa vez os pais de Leôncio. O Remake alavancou a teledramaturgia da
emissora que depois da trama produziu várias outras novelas durante a década.
Dancin´Days (Globo/1978)
Dancin´Days foi uma espécie
de Avenida Brasil nos anos 70. A mágico mundo das discotecas era o pano de fundo
para a rivalidade entre as irmãs Julia Mattos e Yolanda Pratini, vividas
magistralmente por Sônia Braga e Joanna Fomm.
O sucesso da trama elevou Gilberto Braga, Já credenciado por Escrava Isaura (1976) ao casting de
grandes autores da emissora logo em seu primeiro trabalho em horário nobre e
transformou Sônia Braga em estrela nacional e internacional.
A Novela foi matéria de reportagem da revista americana Newsweek
falando sobre o efeito que a trama causou na sociedade brasileira,
ditando regras e lançando moda. Foi a primeira novela brasileira que
o México, pais tradicional em exportação de novelas, apresentou. Até hoje
Dancin´Days já foi vista em mais de 40 países.
O título
da trama, Gilberto Braga pegou
emprestado da boate de Nelson
Motta, a Frenetic Dancing
Days Discothéque. A Discoteca foi mantida
pelo produtor musical durante quatro meses do ano de 1976, no
recém-inaugurado Shopping da Gávea no Rio de Janeiro.
Yolanda
Pratini foi entregue a Norma
Benguell, que inclusive já
havia gravado algumas cenas quando se desentendeu com Daniel Filho e
deixou a novela. Joana Fomm, que fazia a personagem Neide, empregada da casa de Celina
(Beatriz Segall), assumiu a personagem, iniciando com ela, o leque de
vilãs que viveria a partir de então.
A
Dobradinha Sônia Braga x Joana Fomm foi O ponto forte da trama. As irmãs
brigaram até o último segundo da novela se reconciliando no final em uma das
cenas mais marcantes da novela – a briga de Júlia e Yolanda na boate – uma das
clássicas da nossa teledramaturgia.
Outros nomes do
elenco também fizeram de Dancyn´Days um palco
de tão bem que estiveram em seus papéis - como os saudosos Mário Lago, na pele do sofisticado e sonhador Alberico; Yara Amaral, que com sua interpretação magistral salvou a problemática
Áurea do suicídio previsto na sinopse da trama, e junto como Joana Fomm,
ganhou o prêmio de melhor atriz do ano pela APCA e Lourdes Mayer como
a simplória Ester.
Assisti Dancyn´Days pela primeira vez na reprise do Canal Viva em
2014, e percebi que a trama teve seus percalços, e apresentada nos dias de hoje
talvez não surtisse o mesmo efeito de 1978. As cenas de grandes diálogos logo
seriam taxadas de lentas, isso sem falar em alguns entrechos que não condizem
com o estilo do Gilberto Braga. Um dos pontos mais graves sem dúvidas é o
romance da Júlia e Cacá (Antônio Fagundes). Os dois só se encontram na trama muitos capítulos depois
do início, e o romance nunca foi marcado por uma química, isso
devido muito ao fato do personagem do Fagundes ser tão chato que
não ornava com a Júlia em nenhuma de suas fases.
Dancin´Days é uma novela
que serve de referência até hoje , imortalizou interpretações, marcou estilo e
pontou em nossa memória a era disco.
Roque Santeiro (Globo/1985)
Um microcosmo em forma de sátira do Brasil mostrando a força de um mito
acima da verdade. Essa era a mensagem principal da novela Roque Santeiro, do autor Dias Gomes
no ar pela Globo em 1985.
A Novela se transformou em um dos maiores sucessos da teledramaturgia nacional
e o Brasil foi tomado pelo vocabulário, trejeitos e bordões que os personagens
apresentaram. Roque Santeiro foi encomendada para ir ao ar em
1975 para comemorar os 15 anos da Rede Globo, mas horas antes de
estrear a censura vetou a novela alegando que que ela tinha “Ofensa à
moral e aos bons costumes”. Cid Moreira leu o
editorial escrito por Armando Nogueira no Jornal
Nacional minutos antes da suposta estreia.
Em 1985,
finalmente a história do mito religioso que virou santo e a viúva que foi sem
nunca ter sido pode ser contada e apresentada tal qual Dias
Gomes queria para o Brasil inteiro. A
Novela se transformou em fenômeno nacional e mesmo hoje mais de
30 anos depois de sua estreia é citada como sinônimo de
sucesso no gênero.
A
Novela marcou a estreia de Dias Gomes no horário das oito e o gênero apresentado. Antes
de Roque Santeiro as
novelas ditas regionais eram apresentadas quase sempre no horário das 22 horas.
A trama foi a primeira sem locações urbanas, tudo era ambientada na fictícia
cidade de Asa Branca.
Uma
briga particular pela autoria da trama aconteceu nos bastidores da Globo. Dias Gomes, cansado do ritmo pesado da Tv solicitou ajuda na autoria, e
a emissora deu à Aguinaldo Silva esssa
incumbência. Dias escreveu até o capítulo 51 e os 48 finais, já Aguinaldo
escreveu os 110 do meio. Vendo pelas quantidades de capítulos a novela é
mais do Aguinaldo do que do Dias Gomes, não é? Ou seja, qual deles transformou Roque
Santeiro em fenômeno? Fato é que depois de Roque
Santeiro, Aguinaldo Silva escreveu duas novelas “urbanas” , mas só explodiu
com o sucesso da adaptação do romance de Jorge Amado, Tieta em 1989, que seguia o estilo de Roque
Santeiro.
O
elenco da trama sem dúvidas foi um dos maiores acertos da produção. Regina
Duarte brilhou absoluta na pele da fogosa e
extravagante Viúva Porcina. Outros atores também eternizaram seus personagens
com interpretações irretocáveis, como Lima Duarte e o inesquecível Senhorzinho Malta; JoséWilker que viveu o protagonista Roque;
Ary Fontoura na pele
do Florindo Abelha; Eloisa Mafalda e sua Dona Pombinha; Lucinha
Lins que deu vida a Mocinha; CássiaKiss Magro e a reprimida Lulu, Armando
Bógus e seu Zé das Medalhas; o Cego Jeremias
vivido pelo Arnaud Rodrigues; Paulo
Gracindo na pele do Padre Hipólito, FábioJr e o galanteador ator Roberto
Matias; Lídia Brondi e destemida
Tânia entre outros.
Foi
a partir do sucesso da trilha de Roque Santeiro Nacional que a Som Livre passou a lançar trilha sonora volume 2 ao invés da
internacional das novelas regionais. A Trilha internacional de Roque
Santeiro já estava prontinha para ser lançada quando a
emissora resolveu cancela-la e lançou o Volume 2 com mais músicas nacionais que
novamente fizeram sucesso. Entre alguns dos sucessos da trilha da novela
vale destacar “De Volta Pro Aconchego”
da Elba Ramalho; “Dona” do Roupa Nova; “Sem Pecado e Sem Juízo”
da Baby do Brasil; “Mistérios
da Meia-Noite” do Zé Ramalho; “Roque Santeiro” do Sá e Guarabira;
“Vitoriosa” do Ivan
Lins entre outras sucessos.
A
Novela apresentou um final bem ao estilo
do filme Casa Blanca. Porcina tinha que
decidir se abandonaria Asa Branca viajando com Roque, ou se continuaria na
cidade com Senhorzinho Malta, sendo eternamente a Viúva de Roque. O Capítulo
que deu 95 pontos de IBOPE em São Paulo, acabou mostrando a Viúva ficando
em Asa Branca, provando que o Mito havia vencido a verdade e a cidade continuou
da mesma forma.
Vale Tudo (Globo/1988)
“Vale a pena ser honesto no Brasil
de hoje?”.
Com essa pergunta Gilberto
Braga dava o pontapé inicial à trama e o “hoje” da pergunta nos
remete há 30 anos atrás em 1988, ano em que se refletiam os principais
problemas políticos do país, mas a pergunta infelizmente parece mais
atual do que nunca.
Vale Tudo juntou o mais fiel dos folhetins com uma
crítica social aguçada, que fez os brasileiros pararem para pensar. Gilberto usou
como os dois pontos dessa história as figuras de Raquel Acciolly ( Regina
Duarte ) e Ivan ( Antônio Fagundes ) representando o lado honesto e
integro, e Odete Roitmann ( Beatriz Segall ), Maria De Fátima ( Glória Pires) e
César ( Carlos Alberto Ricelli ), que
retratavam o que havia de podre no país.
Vale Tudo nos
apresentou um leque de personagens inesquecíveis, a começar pela “trinca de
ouro” da novela. Raquel Aciolly , Maria de Fátima e Odete Rotmann. Regina
Duarte na pele da honestíssima Raquel brilhou e espalhou seu bordão “Sangue
de Jesus tem poder” Brasil à fora, dito a cada batalha
vencida pela personagem. A Raquel chegou a ser criticada devido ao
exagero de honestidade da personagem , mas que no decorrer da trama foi dosado
, principalmente quando ela finalmente entende que Maria de Fátima não presta e
dá o troco à filha.
Glória Pires e Beatriz Segall na pele das vilãs Maria de
Fátima e Odete Roitmann foram a alma da novela . A Odete da Beatriz, é de longe
sua melhor personagem na TV e a mais marcante. E Glória Pires se
entregou de corpo e alma para viver a interesseira Maria de Fátima, que fez
todas as possíveis e impensáveis maldades e falcatruas na trama.
A
Heleninha Roitmann vivida pela Renata Sorrah , também deixou
sua marca em Vale Tudo. Alcoólatra e culpada por pensar ter sido
ela a responsável pela morte do irmão, Heleninha vivia entre altos e baixos na
trama, e tornou inesquecíveis seus barracos cada vez que tomava um porre. A
cena em que depois que descobre que o amante de sua mãe é o
cafajeste César Ribeiro, completamente bêbada, pede um “Mambo Caliente”
na boate, virou ícone do gênero.
Vale Tudo é marcada por várias cenas antológicas, como a do primeiro capítulo, em que
Raquel descobre que a filha vendeu a casa e sumiu com o
dinheiro; no capítulo 14, no ar em 31 de maio de 1988 em que Fátima encontra Raquel, vendendo sanduíche
na praia; Raquel rasgando o vestido de noiva de Fátima, quando esta se
casa com Afonso; Fátima rolando as escadarias do Teatro Municipal; o
acerto de contas entre Fátima e Solange, quando esta descobre a
traição do marido Afonso. Bem como o acerto de contas entre Fátima e Afonso
(Cássio Gabus Mendes), quando este descobre a traição de Fátima com o bon
vivant César, e as cenas finais do último capítulo, quando
Leila, personagem de Cássia Kiss , revela ser a assassina de Odete Roitman,
e Marco Aurélio, personagem de Reginaldo Faria, deixando o país, dando uma banana para
o Brasil, ou seja um coletivo de “cenas” que entraram para hall da
teledramaturgia.
Para comemorar os 30 anos de estreia de Vale Tudo, o Canal Viva
apresentou uma re-reprise da trama em
2018. A
Novela já
havia sido reprisada pelo canal em seu ano de estreia em 2010 e causou um alvoroço de audiência , repetindo o sucesso da
exibição original e da reprise no Vale a Pena Ver de Novo da Globo,
só que desta vez com o “auxílio” das redes sociais. O #ValeTudoTeam diariamente
liderava os “topic Trends” do twitter no horário de
exibição, e fez mais uma vez o Brasil se emocionar com os personagens
inesquecíveis de Gilberto Braga.
Pantanal (Manchete/1990)
Pantanal com certeza será lembrada para
sempre como a novela que conseguiu mexer com os até então inatingíveis, alicerces globais.
A Trama do Benedito Ruy Barbosa que teve direção geral
de Jayme Monjardim foi o maior sucesso da extinta Rede
Manchete na teledramaturgia. Curiosamente a sinopse da novela
foi apresentada a Rede Globo primeiramente, Benedito que só
escrevia novela das seis até então ( entre outras) - Paraíso/1982, Voltei Pra Você/1983, De quina pra Lua/1985, Sinhá Moça/1986
e Vida Nova/1988
), apresentou o projeto a cúpula da emissora, depois de alguns anos
engavetados, ele conseguiu autorização para ir ao Pantanal para colher imagens
de locação, da fauna e vegetação. Mas a época era de chuvas, e Herval
Hossano e Atílio Ricco só trouxeram imagens de um
lugar inundado, bem diferente do que o autor contava na sinopse. Diante
da suposta inviabilidade, a emissora sugeriu que a trama fosse
transferida para uma fazenda, Benedito fincou o pé e disse que só
escreveria Pantanal se
fosse para ser rodado no próprio. Assim ele recebeu um convite do Jayme
Monjardim, na época diretor artístico da Manchete, que comprou
sua ideia. Rodaria a novela em pleno o Pantanal e a apresentaria em horário
nobre. Proposta feita, proposta aceita.
Pantanal revelou vários atores que
entraram para o casting da Globo: Marcos Palmeira, MarcosWinter, Paulo Gorgulho, Angêlo Antônio, Caroliana Ferraz.
Mas a trama
deu destaque absoluto para três atrizes. Jussara Freire impecável
como a empregada Filo; Lucieni Adami na pele da Guta; e a musa
da novela, Cristiana Oliveira, que deu vida a emblemátia Juma
Marruá. A Personagem foi um sucesso e, logo depois do término de Pantanal a
atriz foi contratada com ares de grande estrela e protagonizou em 1992 a
novela De Corpo e Alma da
autora Glória Perez na Rede Globo.
Um texto
impecável, direção perfeita, um elenco estrelar, fotografia jamais vista na TV até então, por
várias vezes durante os capítulos era possível acompanhar sequencias inteiras
com voôs razantes de araras, banhos de jacarés, toda a beleza do Pantanal
exposta na casa de todos os brasileiros diariamente.
Depois
do sucesso de Pantanal consagrado
dentro da Manchete, a Globo recontratou o autor Benedito
Ruy Barbosa que foi logo elevado ao posto dos grandes
autores escrevendo sucessos como Renascer (1993), O Rei doGado (1996) e Terra Nostra (1999).
Na época da exibição de Pantanal ,
a Globo exibia em seu horário nobre a novela Rainha da Sucata do Silvio de Abreu que foi um dos grandes sucessos do horário. A trama da
sucateira nunca disputou audiência com Pantanal, mas mesmo assim não foi capaz de evitar que o público
trocasse de canal logo que terminava um capítulo da trama.
Avenida Brasil (Globo/2012)
Avenida Brasil
é a primeira novela fenômeno apresentada nessa era digital em que passamos à
acompanhar às novelas junto às redes sociais, e nesse campo a trama foi
invencível. A chuva de #OiOiOi ´s que se aglomeravam nas redes
nos primeiros acordes da abertura mostravam a hipnose que a trama causava.
Outras hastag´s também marcaram os 7 meses de exibição da trama como o #HiHiHi do
personagem Nilo (José de Abreu), #MeServeVadia, que a Nina
(DeboraFalabella) proferiu quando foi à forra na vingança
contra Carminha (AdrianaEsteves) e o #ÉtudoCulpadaRrrrita
que a vilã Carminha amargou incessantemente cada vez que um dos seus
planos não dava certo.
O sucesso
de Avenida Brasil em pleno ano de 2012 com a proliferação da internet e da tv
por assinatura é ainda mais surpreendente, e torna seu autor ainda mais
inteligente por conseguir manter a trama sempre interessante em toda sua
trajetória. Nem alguns percalços (como o pen-drive da Nina) ou clichês (O
“Quem Matou?” o Max na reta final) tiraram o brilho da trama.
Avenida Brasil pode ser chamada de aquela novela apresentada
na época exata. Focada na classe C (que emergiu após o Governo Lula), o
autor fez um bom uso disso mostrando um panorama socioeconômico do país através
dos pitorescos personagens da trama. Assim como Asa Branca foi em Roque Santeiro (1985),
o bairro do Divino, principal locação da trama, era um microcosmo do Brasil.
Com excelente
direção cinematográfica da Amora Mautner e José Luiz
Vilamarim que nos apresentou tomadas e fotografias ainda não
exploradas em novelas até então; o elenco escolhido à dedo e em estado de
graças aliados ao bom texto do João Emanuel, Avenida Brasil foi
em seu conjunto da obra uma produto ímpar apresentado em forma de novela.
Veja Também :
Aberturas Inesquecíveis - Avenida Brasil (2012) |
Novelas Inesquecíveis - O Direito de Nascer (1964) |
Novelas Inesquecíveis - BETO ROCKFELLER (1968) |
Novelas Inesquecíveis - O BEM AMADO (1973) |
Novelas Inesquecíveis - Escrava Isaura (1976) |
Trilha Sonora Eterna - Roque Santeiro Volume 2 (1985) |
Novelas Inesquecíveis - Pantanal (1990) |
Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
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