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Enquete e10blog

Balanço da Década – Anos 2010 – Novela das 6



        O Horário das seis nesta última  década ganhou ainda mais força. Aquela sensação de que era um horário secundário e que a Globo não tinha muita preocupação em  ganhar audiência e público ficou no passado de vez. Os anos de 2010 ficaram  marcados  pela opinião do telespectador que cada vez  mais cobrava novelas   com conteúdo no horário, com histórias críveis, mensagens positivas e cunho social, isso tudo claro sem perder sua essência folhetinesca.
                Por outro lado a Globo investiu pesado em produções impecáveis, curiosamente o horário  foi o que mais apresentou tramas que se preocuparam  com requinte  e detalhes para apresentar para o telespectador  o que de melhor a emissora poderia fazer. Não há toa que duas produções da década foram agraciadas como o Emmy Internacional de Melhor novela – Lado a Lado (2012) e Joia Rara (2013).

        A década iniciou com Elizabeth Jhin na trama de Escrito nas Estrelas (2010)  com poucos tropeços e um saldo positivo, a trama espírita emocionou o público do horário e manteve uma audiência cativa e satisfatória para a emissora. A novela questionou os limites entre o plano físico e o espiritual, e apresentou os avanços da ciência genética em seus aspectos médicos e éticos, por meio de uma história de amor. O maior trunfo da autora foi contar uma boa história sem a pretensão de ser didática. O Espiritismo apareceu apenas como pano de fundo, gerando assim várias possibilidades dramatúrgicas. Mesclando drama e humor, o que se viu foi uma novela movimentada numa produção bem cuidada, com direção segura (equipe de Rogério Gomes) e elenco de primeira.

        Araguaia (2010), do WaltherNegrão veio em seguida.  Várias peculiaridades   do irmão menos conhecido do Amazonas e São Francisco foram exploradas na novela, como  o ecoturismo, a cultura indígena, a imponência dos cavalos e a magia do circo.  A história tinha fortes indícios de duas outras obras do autor: as novelas Cavalo de Aço (Globo, 1973) e Ovelha Negra (Tupi, 1975). Em Cavalo de Aço, tal qual o protagonista Solano (Murilo Rosa) de Araguaia, um forasteiro (Rodrigo, personagem de Tarcísio Meira) chega a uma pequena cidade e se envolve amorosamente com a filha do manda-chuva da região, o vilão – que por sua vez também se chamava Max (Ziembinski em Cavalo de Aço, Lima Duarte em Araguaia). Em Ovelha Negra, tal qual Solano novamente, um homem (Júlio, personagem de Rolando Boldrin) luta contra as injustiças sociais e levanta um povoado para dar melhores condições de vida ao povo.

        Cordel Encantado,  da Thema Guedes e Duca Rachid , entrou no horário em 2011 e o Brasil se apaixonou pela fábula com pitadas de lendas nordestina apresentada com maestria por um elenco ímpar e um direção cirúrgica.  Uma super-produção com estética cinematográfica. Foi a primeira novela gravada em 24 quadros, tecnologia na qual a câmera tira 24 fotos por segundo, como nas filmagens de cinema – em geral as novelas são gravadas a 30 quadros por segundo.  Cordel Encantado citou de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos a Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto e Ariano Suassuna. Nossos autores se encontraram com os contos de fadas (de Christian Andersen a Irmãos Grimm) e os “tesouros da juventude”, como Os Três Mosqueteiros e O Homem da Máscara de Ferro. A Novela foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo  no início do ano e curiosamente não despertou o grande interesse do público.

        Em 2011, A Vida da Gente  marcou a estreia da autora  que mostrou muita competência em sua primeira novela solo. Com texto realista e  dramacidade ao extremo, Lícia Manzo  mostrou um panorama psicológico de personagens que encantaram o grande público. A Autora deu ênfase às personagens femininas que  foram o grande destaque da sua  trama com atrizes como Marjorie Estiano, Fernanda Vasconcellos, Ana Beatriz Nogueira e Nicete Bruno  dando um show de interpretação do texto. A novela primava por  sequências longas de diálogos entre os personagens, algo que a teledramaturgia não usava mais, e isso engrandecia cada capítulo de A Vida da Gente. Uma das cenas mais marcantes é o acerto de contas entre Manu (Marjorie Estiano) e Ana (Fernanda Vasconcellos). Um descarrego de sentimentos entre as duas irmãs que tiveram suas vidas entrelaçadas pelo destino.

        Elizabeth Jhin voltou ao horário das seis em 2012, só que desta vez pesou na mão no tema espírita em detrimento ao folhetim em Amor Eterno Amor.  Com uma trama lenta e arrastada, a autora levou a metade da duração da novela para apresentar a antagonista no amor entre os mocinhos Rodrigo e Míriam (Gabriel Braga Nunes e Letícia Persiles). Entretanto, a chegada de Elisa/Amparo (Mayana Neiva) não significou que a novela tivesse ganhado agilidade. A autora só apressou sua história no último mês de exibição. Não apenas a trama principal, mas a novela como um todo: os meses que antecederam foram passando e as tramas paralelas patinaram junto com a história central.  CássiaKiss foi o maior destaque no elenco de Amor Eterno Amor, como a pérfida vilã Melissa. A caracterização da personagem chamou a atenção. A inspiração para o figurino veio das editoras de famosas revistas de moda internacionais, e iam do clássico às estampas de oncinha, com cintos, bolsas de grife, sapatos plataforma, perucas e óculos chamativos. Também maquiagem pesada, sombra marcando os olhos e batom e esmalte em cores fortes. Mas Melissa não caía no estereótipo da “perua”. Apesar de exagerada, a vilã era sofisticada e estilosa. A atriz trouxe de uma viagem à Londres a caneca ensanguentada com a qual aparecia quase diariamente em cena. Para complementar o visual, o celular chamativo que ela usava com um pop-phone – um telefone de gancho, daqueles antigos, acoplado ao celular.

       
        Lado a Lado (2012),   novela dos estreantes  João Ximenes Braga e Cláudia Lage  fechou  como a    menos assistida do horário  de todos os tempos, mas  isso com certeza não apagou o brilho da trama.         A Novela foi arrebatando um público  fiel no decorrer dos capítulos que se apaixonaram pela relação Laura (Marjorie Estiano) e Edgar (Thiago Fragaso), Isabel (Camila Pitanga) e Zé Maria (Lázaro Ramos) e Laura e Isabel. Isso sim,  a relação fraternal entre as protagonistas por muitas vezes foi o foco principal da trama, que mostrou através da luta dessas duas mulheres tão diferentes e iguais ao mesmo tempo  a história da conquista das mulheres por seus direitos.
        Muito elogiada pela critica , Lado a Lado soube mesclar como em poucas vezes acontece , o didatismo dos temas  históricos que adotou (Futebol, samba, escravidão, capoeira ,  direito das mulheres, revolta da vacina e chibata ) com o drama folhetinesco de seus personagens.
          No elenco Patrícia Pillar reinou absoluta , e conquistou o Brasil com a sua Baronesa , que   nos fez por muitas vezes odiá-la por  suas maldades. O Autor dedicou praticamente o último capítulo inteiro para o desfecho da história da personagem , que terminou literalmente dentro da lama, abandonada por todos reduzida a sua insignificância. A Constância pode não ter sido uma grande vilã , como a Flora que a atriz viveu em A Favorita (2008) do autor João Emanuel Carneiro, mas com certeza  foi uma grande personagem. 
        Lado a Lado mostrou a luta por amor e liberdade de duas jovens no início do século XX e  tomou o Emmy Internacional de Avenida Brasil.


          Flor do Caribe  começou  sem a pretensão de grandes índices de audiência, apesar de ser a sucessora de Lado a Lado , novela elogiadíssima, mas que não conseguiu fidelidade do grande público. Porém acho que foi exatamente esse falta de pretensão de ser  que transformou Flor do Caribe em uma novela boa de assistir e acompanhar.       Com uma lentidão em seus acontecimentos a novela primou pelas belas imagens, afinal Jaime Monjardim  estava  á frente da direção, e pelo cotidiano de pequenas cidades praianas sempre  tão bem retratadas em tramas  do  Walther Negrão (Vide Tropicaliente / 1994  e ComoUma Onda /2004).      Grazzi Massafera pode não ter vivido ainda uma grande personagem , mas a Ester com certeza foi sua melhor personagem até então. Mas experiente e madura profissionalmente,  a atriz seguro a protagonista com unhas e dentes.  Flor do Caribe foi uma novela   simples e cotidiana  que nos pegou exatamente  por isso.

        Joia Rara , da dupla Thelma Guedes e Duca Rachid, foi mais uma vencedora do Emmy Internacional do horário das seis.   Na trama vale destacar a excelente produção, que caprichou em figurinos, caracterizações  e costumes da época. Como não se apaixonar pelos espetáculos no mais grau de amplitude da palavra espetáculo, que foram  os show do cabaré Pacheco Leão ? Show literalmente de estrelas como Mariana Ximenes , Letícia Spiller e cia. E as belas gravações no Nepal também deram o tom que a trama precisava  para ser contada.  

        Além da temática budista muito bem retratada na trama e  em meio aos muitos clichês,  Joia Rara abordou  assuntos como direito dos operários das mulheres  e política.
        No elenco destaque  para Bruno Gagliasso, Nathália Dill, Carolina Dieckmann, Domingos Montagner , Caio Blat, Ana Cecília Cost, Ana Lúcia Torre e  a perita Mel Maia que tal qual acontecera na primeira fase de Avenida Brasil (2012)  deu um show de interpretação.  A Especialíssima participação de Glória Menezes como a Pérola  no ano de 2014 passando uma linda mensagem de paz no final do último capítulo foi mais do que providencial para fechar a trama que tinha  essa bandeira  como pano de fundo.  Um biscoito fino no horário das seis.


        O delicioso remake de Meu Pedacinho de Chão,  baseado na novela educativa lançada em 1971 do autor Benedito Ruy Barbosa, veio em 2014. Nesta nova versão,  reescrita pelo próprio autor com colaboração de Edimara e Marcos Barbosa, foi dada uma nova linguagem e layout para a trama  que na primeira versão era considerada uma novela rural.  Foi exatamente essa nova estrutura  que fez  de Meu Pedacinho de Chão um sucesso de crítica.  A novela  não teve grandes índices de audiência, mas o charme e riqueza de detalhes na direção e  produção impecáveis  fizeram o sucesso da novela. Em  muitos momentos o público se comoveu com a delicada história e os  números musicais com todo o elenco cantando  músicas regionais.  No elenco vários destaques como Osmar Prado, Rodrigo Lombardi, Antônio Fagundes  e Juliana Paes vivendo personagens que jamais imaginaríamos vê-los fazendo; além de  Bruna Linzmeyer de cabelo rosa  e Jonny Massaro transformado em  galã. 
         Uma trama simples e sem pretensões. Um bom produto apresentado no horário. Não conseguiu alavancar a audiência, mas mostrou tal qual acontecera com Lado a Lado (2012), que a tv aberta ainda pode mostrar um bom produto sem se preocupar apenas com números.


        Boogie Oogie, trama do autor Ruy Vilhena foi recheada de clichês clássicos, e apesar da agilidade muito elogiada nos primeiros meses apresentou uma “barriga”  das grandes em sua reta final. Aquele casa não casa da Sandra (Isis Valverde) e Rafael (Marco Pigosi);  o casal de vilões (Vitória e Pedro) sempre armando planos falíveis contra a felicidade dos protagonistas e a  vilã sanguinária entre outras situações cansaram o público.  Boogie Oogie também soube dosar com maestria  a trama de suas protagonistas, a certa altura da novela  ficou impossível decidir entre Sandra e Vitória. Claro que torcemos pelo final “RAFAEL e SANDRA” , mas era impossível torcer contra  a dúbia Vitória, interpretada com excelência pela Bianca Bin.
 Falar de Boogie Oogie e não citar sua trilha sonora seria um pecado.  A Globo lançou dois CD´s da trilha  que são  duas relíquias e claro entraram para a minha seleta lista de trilhas.  A Novela apresentou clássicos do final dos anos 70 e início dos anos 80, a era disco,  que era o pano de fundo da novela.
        Um “novelão” sim senhor!  Seja pelos clichês, pela quantidade de capítulos ou  pela sensação que a trama nos dava de que estávamos na sala da casa da Sandra ou participando de alguns dos vários (milhares) de barracos da casa dos Fraga.  A Novela que teve como mote inicial a troca de bebês no nascimento, não se prendeu a esse fato e mostrou um novelo bem enrolado e desenrolado  a medida que era preciso.


       
        Sete Vidas foi  um grande panorama de dramas familiares que se entrelaçavam, assim como o logotipo da trama, e sobre esse assunto a autora fala com uma propriedade poucas vezes vista. Desde A Vida da Gente (2011), LiciaManzo é chamada de a nova “Maneco”, uma referencia ao autor Manoel Carlos, que também sempre primou em suas tramas  falar sobre o cotidiano e dramas familiares. Sete Vidas  chamou atenção pelo  texto impecável ,  direção  precisa e roteiro perfeito. Uma trinca de fatores que transformaram cada capítulo em uma obra prima.


             Elizabeth Jhin  arriscou em Além do Tempo. Com o sucesso da novela já consolidado no século XIX, a autora deu um salto de mais de 100 anos e transportou  a trama para os dias atuais ,  invertendo  os papéis de  Vitória/ Emília  - vilã e algoz.  Isso poderia ter sido uma catástrofe, mas felizmente não foi.  A autora teve confiança em seu texto e provou que ele poderia ser bem contado em qualquer século e em qualquer época.  O Fato  é que o  público comprou  a novela novamente, a crítica aplaudiu de pé e o Brasil foi presenteado  com duas novelas de sucesso. 


Depois de passar por todos os horários da emissora, Walcyr Carrasco voltou ao horário das seis, que lhe consagrara com O Cravo e a Rosa (2000), Chocolate comPimenta (2003) e Alma Gêmea (2005), viu  Êta Mundo Bom se transformar em uma das tramas de maior audiência da década. 


Sol Nascente (2016), trama dos autores Walther Negrão Júlio Fischer e Suzana Pires,  passou quase 6 meses no ar,  praticamente  se arrastando e segurando-se apenas em suas tramas paralelas, só ganhando   fôlego no último mês.   E Marcada por um casal de protagonista que mostrou total falta de química desde o início, não deu para engolir o romantismo entre Alice e Mário, os personagens da Giovanna Antonelli e BrunoGagliassoSol Nascente acabou chamando a atenção  para  seus vilões , e que vilões.m     Laura e Rafael Cardoso tomaram as rédeas da trama na pele da vovozinha do mal Dona Sinhá e o  vilão   desiquilibrado César.
Coroada como um dos melhores trabalhos apresentados  pela Globo naquele ano. Em   Novo Mundo (2017), os autores Alexandre Marson e Thereza Falcão,  conseguiram fazer  uma novela atraente, consistente e que prendeu o telespectador do início ao fim com sobressaltos a cada novo capítulo que tiraram  o fôlego. Isso tudo tendo como base uma história datada, já que a vinda da família real portuguesa ao país e  a independência do Brasil está em nossa memória desde os livros de história  das escolas e em outras produções que exploraram o tema como O Quintos Infernos (2002) na Globo e Marquesa de Santos (1984)  na extinta Rede Manchete.um
Em 2017, a trama de Tempo de Amar, do Alcides Nogueira se diferenciou de outras tramas também consideradas impecáveis apresentadas no horário (Lado a Lado/2012 e Joia Rara/2013),   mas que amargaram uma baixa audiência por toda sua exibição, o que deixou o estigma de que o grande público não comprava esse tipo de trama. Tempo de Amar provou que  o público gosta sim de uma novela com bom texto, roteiro  e direção, uma obra de arte.  O grande trunfo de Tempo de Amar, sem dúvidas, foi  seu texto impecável  com  a bela história de amor como pano de fundo.  Quando falo do texto da trama refiro-me a todos os detalhes que isso engloba, que vão desde a criação propriamente dita, quanto o texto falado pelos personagens com precisão e segurança,  um português “bem falado” dando credibilidade e charme  à história.  
Aliado ao   texto impecável, um elenco escolhido a dedo, fez de Tempo de Amar esse sucesso. Vitória Strada e Bruno Cabrerizo, ela estreante em novelas e ele com experiência apenas fora do Brasil, tiveram suas escalações criticadas no início. Não seria um risco escalar dos rostos praticamente desconhecidos para estrelar uma trama? Ledo engano! Logo nos primeiros capítulos ficou nítido a escolha certa – Strada deu um ar solar e leve à Maria Vitória, que embora tenha passado por tristeza praticamente a novela inteira, nunca se apegou ao estigma da “mocinha chorosa”. Bruno Cabrerizo me preocupou inicialmente, faltava vida ao Inácio do início da trama, principalmente na fase em que ficou cego e sob o domínio da vilã Lucinda (Andreia Horta).  O Ator mostrava uma interpretação apática que não condizia com o perfil do personagem.  Porém o tempo mostrou que o Inácio precisava daquela fase apática e fraca, para que ao “libertasse” da Lucinda (Andreia Horta), o personagem  se apresentasse com um perfil mais agradável, e o Bruno terminou Tempo de Amar também como um grande acerto de escalação e um dos destaques.  Tempo de Amar  foi um melodrama sim, mas ficou muito longe dos mexicanos.  A Qualidade e leveza ao escrever,  que marcou a  perícia do autor, distanciou   a trama dos  velhos clichês e da  perda  do poder de encanto ao grande público.
Um folhetim açucarado por temas fortes e pertinentes, assim foi Orgulho e Paixão (2018), do Marcos Bernstein, baseado na obra de Jane Austen, que conseguiu   com maestria transpor o universo da escritora para o clima brasileiro e a aura dos anos 20. Mesclou  empoderamento feminino, greve, violência doméstica, homossexualidade, romance, humor  e muito  amor, mostrando sem didatismos e principalmente sem personagens chatos, que levantaram bandeiras contrastando com o contexto da história. Comprada pelo público e aplaudida pela crítica a novela terminou como uma trama reta, de elenco entrosado e   com uma narrativa que não cansou e uma mensagem espetacular. 


       Taxada de lenta inicialmente, Espelho da Vida (2018), que marcou a volta de Elizabeth Jhin ao horário das seis, terminou marcada pela riqueza de seu texto, roteiro e atuações.  Assim como em Além do Tempo (2015),   Espelho da Vida foi contada em dois tempos, e mesmo falando de espiritismo e vidas passadas, a autora não foi didática e poupou o público de doutrinação exagerada, o que descaracterizaria o bom folhetim, e apresentou uma trama que precisou dessa lentidão inicial para apresentar um final eletrizante, com direito a torcidas nas redes sociais e bolsas de apostas.
        Sem dúvidas o grande trunfo de Espelho da Vida foram as viagens entre as dimensões que a autora soube dosar de forma perfeita,   deixando o público curioso  para saber  quem seria  no passado o personagem da vida atual de  Cris (Vitória Strada), e passando a torcer por esses reencontros e  pelo bom desfecho da história.
Foi nessa duplicidade de personagens  que o elenco de Espelho da Vida fez da trama um palco e nós fomos  brindados com grandes atuações em cenas memoráveis de atores veteranos e iniciantes que só enriqueceram a produção. Vitória Strada (Cris / Julia ) e Alinne Moraes, excelentes como protagonista e antagonista, respectivamente; Rafael Cardoso  (Danilo / Daniel ), que logo que apareceu em cena ganhou o posto isolado de mocinho da trama jogando para escanteio o Alain , do João Vicente de Castro, até então muito engessado. Porém vale citar   que Alain cresceu muito em cena e o João Vicente  conseguiu fazê-lo com maior credibilidade da metade da trama em diante. O Elenco veterano foi  um show à parte – Irene Ravache, Ana Lúcia Torre, Patrycia Travassos, Suzana Faini, Julia Lemmertz, Felipe CamargoÂngelo AntônioEmiliano Queiroz  entre outros,  fizeram  valer a pena cada cena nas duas vidas de seus personagens.
        Espelho da Vida em termos de audiência ficou  muito longe das suas antecessoras Orgulho e Paixão (2018) e Tempo de Amar (2017), mas também  é de longe uma trama bem mais interessante e complexa, que pediu  para o telespectador pensar   para entender a história que se entrelaçou  entre  os dois tempos. Nessa contramão, o telespectador mais preguiçoso desistiu  ,   porém aquele mais paciente  conseguiu se apegar aos entrechos e torcer por eles.


         Órfãos da Terra, trama das autoras Thelma Guedes e Duca Rachid, de uma novela muito elogiada em sua primeira fase  se transformou  em uma história que andou   em círculos e perdeu todo o fôlego no decorrer dos capítulos.

        Na verdade Órfãos da Terra foi um “novelão” digno do horários das  nove até o momento em que dois pilares da trama tiveram que ser limados da história  -Aziz (Herson Capri) e Soraya (Letícia Sabatella). O Vilão e uma de suas vítimas. Já estava na sinopse que a história sofreria essa baixa, até mesmo para dar vasão ao ódio da Dalila (Alice Weigmann) por Laila (Júlia Dalavia),   a mola mestra dos entrechos desta segunda fase,  dando a personagem ao posto prometido de grande vilã. Porém sem Aziz,  Laila (Júlia Dalávia) e Jamil (Renato Góes)  ficaram livres para  curtirem seu amor selado  com um filho.   O casal curiosamente perdeu toda química que explodiu na primeira fase  e o interesse do público foi instantâneo. A esperança foi aguardar a chegada de Dalila (Alice Weigmann) ao Brasil para vingar a morte do pai. Mas ao chegar,  num perfil quase patológico com maldades e planos falíveis, com várias idas e vindas  à prisão   e o ódio desmedido e quase sem fundamentos contra Laila, também deixou a personagem que prometia tanto ,   dentro de uma história vazia,  que nem  mesmo  todo o brilho e talento da Alice Weigmann foi capaz de salvar.
         Assim de um novelão das nove com uma abordagem crível de um tema pertinente, os refugiados,   Órfãos da Terra se  mostrou em  mais uma novela água com açúcar com pontuais entrechos interessantes.  Embora a audiência da trama não tenha sofrido muito com essa discrepância entre as fases, a novela fez o caminho inverso de sua antecessora Espelho da Vida, que começou fraca e só pegou força da sua metade em diante.


          O tão aguardado remake de Éramos Seis, foi a última trama do horário a entrar no ar,  vai virar a década, uma pena que marcada por uma fraca audiência e com o público  que não comprou o clima denso e sombrio
 dessa nova versão da história de Dona Lola.  A novela  estreou  com uma grande carga de nostalgia, principalmente pelos telespectadores que conviveram com os personagens da última adaptação, de 1994, apresentada pelo SBT,  com a Irene Ravache espetacular como a protagonista , e considerada a melhor das 4 até então. E em minha singela opinião a melhor novela apresentada pelo Canal em toda sua história.   GlóriaPires  mostrou  que tomou a Dona Lola para si, e como a Irene fez na versão de 1994 e a Nicete Bruno em 1977, vem  carregando a trama nas costas, no melhor sentido dessa expressão. Contida e com interpretação cirúrgica da dona de casa dos anos 20,  Glória  mostra todo o seu potencial dentro de uma personagem.   Emocionante,  com o texto impecável da Ângela Chaves,  produção  caprichada, elenco muito bem escalado e dirigido com maestria (Carlos Araújo e equipe)  com a pretensão de conquistar o difícil público das seis, a novela tem todos os ingredientes para dar a volta por cima e marcar novamente na história da teledramaturgia nacional  o nome de Dona Lola.

Veja Também: 
Novelas 2019 - Balanço - As tramas que  ainda estão no ar 

Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa

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          Celebrar o Ano Novo é um momento especial de renovação e esperança. É uma ocasião em que refletimos sobre as conquistas do ano que passou e traçamos metas para o que está por vir. As palavras que compartilhamos nesse período carregam o poder de inspirar e fortalecer os laços com aqueles que amamos.         O e10blog teve um ano muito   produtivo, foi mais um ano   recebendo novos   leitores, aprendendo sempre e   passando um pouco do   que aprendi   nesses mais de 10 anos -   é sempre uma troca   incalculável.           Para fechar o   ano deixo vocês com esse trecho da novela A Vida daGente , com a   inesquecível NicetteBruno   brindando o   tempo!   Veja Também: Nicette Bruno Fonte: Texto:   Evaldiano de   Sousa Vídeos: You Tube

Globo 60 anos - 60 Novelas que marcaram a teledramaturgia (post 1)

            A Maior   emissora do país está completando 60 anos no ar (fundada  em 26 de abril de 1965) e não tem como tentar   pensar em televisão no Brasil e não citar a Globo , que   marcou a história de   muita gente com seu jornalismo, entretenimento, reality´s e   principalmente com   a teledramaturgia, as novelas   que sempre foram sua alma.         Com mais de 300 títulos   apresentados nesse     60 anos, a emissora marcou e ajudou a escrever e mudar a história   nessas 6 décadas. Ditou regras, desfez algumas,    mudou comportamentos,    abriu discussões , quebrou tabus, conscientizou, polemizou, construiu . . . enfim   fez   histórias para   mudar   vidas.         A   moda   no Brasil sempre   foi guiada   pelas novelas   - Qual mu...

“Renascer” – Remake

        O Remake de Renascer ,   próxima trama das nove da Globo ,   baseada na obra prima original do Benedito Ruy Barbosa , exibida em 1993, já está   a todo vapor com as chamadas pipocando na   tela.         Já é a novela mais aguardada, principalmente por ser    uma espécie de repeteco de Pantanal –   que tal qual a trama é,     escrita por Bruno Luperi em cima de um texto do seu avô.         Pelas primeiras chamadas, parece que o autor e direção vão seguir a mesma   linha de Pantanal ,   apesar das atualizações devidas   nessa diferença de mais de 30 anos, vai seguir com   o mesmo roteiro   da original,   para mexer ainda mais   com   nossa memória afetiva.         Vejam alguns dos   teasers já lançados pela Globo :   Veja Também: Renas...