Nessa minha trajetória de anos
acompanhando a teledramaturgia nacional tenho como minhas primeiras memórias
afetivas as tramas do horário das seis, aos cinco anos de idade lembro de lapsos de capítulos de tramas como de Pão Pão Beijo Beijo (1983), e eu lá quietinho acompanhando os capítulos,
embasbacado com a beleza da Maria
Cláudia e da Elizabeth Savalla e
rindo das tiradas do Arnaud Rodrigues
que vivia o hilário nordestino Soró.
Enfim foi o horário das seis que me iniciou nesse mundo mágico da teledramaturgia,
um horário que começou tímido e se firmou no decorrer dos
anos com grandes novelas.
O Horário das seis inicialmente era
reservado a adaptações literárias, e se tornou um horário tradicionalmente de novelas de enredo simples e tipicamente
romântico, muitas vezes de época ou
regional. Porém no decorrer dos
anos algumas tramas de temática mais
forte chegaram a chamar atenção no horário até mais do que suas concorrentes do
horário nobre da época.
A primeira trama a ser exibida no
horário foi Meu Pedacinho de Chão (1971), do Benedito Ruy Barbosa, que tinha uma pegada educativa , seguida por Bicho do Mato (1972)
e A Patota (1973). Depois do término desta última, o horário
deu uma parada ficando desativado entre 30 de março de 1973 à 05 de maio
de 1975, quando retornou com as clássicas adaptações literárias de títulos como Helena (1975) e O Noviço (1975) entre
outros. A Faixa ainda sofreu duas outras
interrupções - entre as novelas Cabocla (1979) e Olhais os Lírios do Campo (1980)
e três meses entre as novelas Sinhá Moça (1986) e Direito de Amar (1987) , quando o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Rio de
Janeiro reivindicava um limite
máximo de seis horas diárias de trabalho para seus afiliados. Durante esse
período sem novela inédita a Globo
exibiu um compacto de Locomotivas, novela do Cassiano Gabus Mendes, exibida originalmente no horário das sete em 1977.
Barriga de Aluguel (1990),
da Glória Perez, foi a novela mais
longa apresentada no horário, a trama
teve, inacreditáveis para a realidade de hoje, 243 capítulos e as mais curtas
foram Helena
e O Noviço, apresentadas em 1975, do
Gilberto Braga e Mário Lago, respectivamente, com 20
capítulos cada. Senhora (1975),
adaptação do romance homônimo de José de
Alencar, escrito por Gilberto Braga,
foi a segunda telenovela a ter produções em cores, depois das novelas das dez e
antes das novelas das oito. A alta definição começou com Araguaia (2010),
do Walther Negrão. A Gravação e
exibição em 24 fps começou em Cordel Encantado (2011),
das autoras Thelma Guedes e Duca Rachid,
porém já havia sido testado nos primeiros capítulos do remake de Sinhá Moça (2006). Em Boogie Oogie (2014)
a gravação e exibição em 60 fps voltou a ser utilizada.
Até 2016, duas novelas apresentadas no
horário das seis estavam entre as campeãs de vendas para outros países: A Vida da Gente (2010), da Lícia
Manzo, o terceiro melhor êxito da emissora vendidos para 113 países e Escrava Isaura (1976),
do Gilberto Braga, o maior sucesso, que permanece por mais de 40 anos como a quarta
novela mais vendida, já apresentada em 104 países.
O Horário das seis também é detentor de
dois Emmy´s Internacionais, o Oscar da televisão mundial: Lado a Lado (2012), dos autores João Ximenes Braga e Cláudia Lage e Joia Rara (2013),
da dupla Thelma Guedes e Duca Rachid.
Independente do sucesso de audiência ou
prêmios, tenho meus xodós do horário da seis e no post de hoje relaciono 10
delas que me fizeram sentar todos os dias mais cedo à frente da tv.
Confesso que só assisti Escrava Isaura em 1990, quando a Globo apresentou um compacto em comemoração aos 25 anos da
emissora, e só vim assisti-la por completa mesmo depois do lançamento em DVD´s em 2012, e olha não me decepcionei nenhum pouco, mesmo dada as
devidas proporções da narrativa da década de 70. É sem dúvidas um clássico
novelão.
Com
a novela do Gilberto Braga, uma adaptação do famoso romance de Bernardo
Guimarães, a teledramaturgia levou um “baque” no bom sentido da
palavra, devido ao tamanho sucesso e repercussão que a trama teve.
Lucélia Santos, a grande
estrela da novela foi catapultada ao sucesso junto com novela e entrou logo pro
casting das grandes estrelas da Globo
em seu primeiro papel. Apesar de não ter sido a primeira a ser cogitada
para viver a escrava, Lucelia Santos fez da Isaura a
personagem mais importante da sua carreira.
Escrava Isaura é até hoje, mais de 40 anos depois,
a quarta novela da Globo mais vendida para
outros países. Em alguns deles, LucéliaSantos e Rubens de Falco, que viajavam para divulgar a trama, eram recebidos como chefes de estado.
Escrava Isaura tem uma
trama tão cativante que em 2004 , exatos 28 anos depois, a Record produziu
um remake do romance, e novela acabou sendo a grande responsável pela
reativação do núcleo de teledramaturgia da emissora. O remake teve Bianca Rinaldi e Leopoldo Pacheco nos papéis de Isaura e Leôncio.
Um sucesso no grau que foi o de Escrava Isaura acontece
uma vez em anos, podemos contar nos dedos, e isso mesmo levando em conta
a precariedade da produção que por muitas vezes deixou a desejar, como na
clássica cena final em que por um erro de continuidade podemos ver nitidamente
que Isaura toma realmente a taça envenada por Rosa, e não ao
contrário com diz a história. Mas no fim tudo deu certo, Rosa morre
enveneada e Isaura fica livre para viver ao lado de seu grande amor.
A Sucessora (1978)
A Sucessora, do autor Manoel Carlos, baseado no romance homônimo de Carolina Nabuco, foi outra trama das seis que só conheci depois de
lançada em DVD em 2014, mas já tinha
visto algumas cenas na internet e me encantava principalmente as personagens da
Susana Vieira e Nathalia Timberg, protagonista e antagonistas na trama, respectivamente.
Os recém-casados Roberto (Rubens de Falco
) e Marina Steen (Susana Vieira ) enfrentam dificuldades em sua
relação por conta da memória da ex-mulher de Roberto, Alice Steen. Cultuada num
retrato, mesmo depois de morta, Alice exerce um fascínio todo especial em todos
com quem conviveu, principalmente na governanta Juliana (Nathalia Timberg) ,
absolutamente fiel à antiga patroa e apaixonada pelo patrão. Vendo em Marina
uma intrusa, que está ocupando um lugar que não lhe pertence, Juliana
mantém na mansão um clima de mistério e cria intrigas para separar o casal,
chegando a levantar uma suspeita quanto a um relacionamento de Marina com Lopes
(Jorge Cherques), ex-capataz da fazenda onde a moça vivia.
Mas outras
pessoas também torcem pela desunião do casal, como Adélia (Liza Vieira ),
antiga rival de Marina, e Miguel ( Paulo Figueiredo) , que perdeu o amor da
prima. Ainda, Marina, jovem criada com toda a simplicidade do campo, é obrigada
a defrontar-se com um mundo repleto de etiquetas e francesismos, como mandava a
sociedade do Rio de Janeiro, capital do país na década de 1920.
Esse clima de mistério que se instaurou na trama cativou o grande
público que fez de A
Sucessora um estrondoso sucesso do horário das
seis. A Certa altura , o autor fazia acreditar que Alice pudesse está viva, e
até apareceu uma cena em que Juliana e alguns empregados da casa
carregavam pelos corredores um corpo de mulher e são flagrados por
Marina que encontra um sapato da mulher pela casa, Juliana explica
que o sapato foi presente de Alice. Mas no final o mistério é
esclarecido, Alice que realmente havia morrido, na verdade
havia tido uma filha com um romance da adolescencia e ficado grávida, estério
depois do nascimento do bebê, Alice faz com Roberto acredite que ele não
pode ter filhos, o que explica o contrangimento do mesmo quando Marina dar
indícios de que possa está grávida.
Os diálogos,
brigas e embates de Marina e Juliana , foram o maior destaque da trama.
As duas atrizes viveram grandes momentos na trama. Suzana Vieira que
ainda estava na época em que fazia bons papéis dosados em uma temática dentro
da trama, cita ainda até hoje a Marina Stein como um dos seus papéis
prediletos. Não assisti a trama , na época, mas acompanhando pela internet, dá
um orgulho vê-la na pele da personagem, que começa como uma camponesa simples e
passa por uma via cruzes na trama até se tornar no final da novela a atual
senhora Stein selando a união com um filho.
A abertura
delicadíssima mostrava mais de 20 cartões românticos originais da década de 20
,em que eram possíveis ver casais , pais e filhos e belas mulheres transpirando
amor.
Pão Pão Beijo Beijo (1983)
Memória afetiva é um negócio muito
estranho mesmo. Eu só tinha 5 anos, quando assistí Pão Pão
Beijo Beijo, na verdade tenho
alguns lapsos de lembranças da trama, só assisti mesmo na reprise de 1990, quando já tinha 12 anos,
porém guardo as melhores lembranças dessa trama do Walther Negrão.
A Trama já dava gosto de assistir (literalmente) pela bela abertura, recheada
de ingredientes e pães onde era preparado um apetitoso sanduiche em forma
de coração, fazendo alusão ao tema de abertura “Sandwich de Coração”
(Na época ainda se escrevia Sanduiche em inglês) da banda Rádio
Taxi. A Música foi tão marcante que um dos nomes provisórios da trama foi “Sanduiche
de Coração.
Lembro-me
como agora da Elizabeth Savalla no auge da sua beleza, fazendo pela primeira vez uma vilã; Regina
Maria Dourado, inesquecível na pele da caricata Lara Sereno, além da
Família da Mama Vitória e Soró, vivido magistralmente pelo saudoso Arnaud
Rodrigues. Enfim Pão Pão Beijo Beijo,
foi aquele tipo de novela que fica em nossa memória afetiva e sempre é acionada
quando nos deparamos com situações que a lembram.
Na
trama num cruzamento no subúrbio carioca de Madureira, um acidente une
três pessoas completamente diferentes entre si: Ciro (Cláudio Marzo), um
motorista de ônibus; Bruna (Elizabeth Savalla), moça rica e geniosa; e Soró
(Arnaud Rodrigues), um imigrante nordestino que trabalha carregando mercadorias
numa carroça de mão. Como compensação pelos prejuízos causados pela batida,
Ciro e Soró vão trabalhar com a família de Bruna, que possui uma rede de
cantinas italianas.
Os
mistérios de Ciro, ligado a um homem e a uma mulher, conduzem a história.
Enquanto tenta ocultar o seu passado, Ciro se envolve com o ingênuo e
brincalhão Soró. Humilhado por Bruna, Ciro resolve ascender socialmente para
conquistá-la. Luísa (Maria Cláudia), irmã de Bruna, apaixona-se por ele, que
acaba sendo disputado pelas duas irmãs.
Uma história com todos os ingredientes que o Walther
Negrão gosta de trabalhar. Lélia Abramo impecável
revivendo essa clássica mãezona italiana conquistou o Brasil. A história
do núcleo italiano foi tão forte que quando a trama foi vendida para fora em
alguns países foi batizada de Mamma Vitória.
Mesmo sendo considerada um dos grandes sucesso do Negrão, ao
lado de Direito de Amar (1987), Fera Radical (1988) e Top Model (1989) em parceria com o Antônio Calmon, Pão Pão Beijo Beijo teve problemas de estrutura em sua narrativa quando o Negrão
fundiu duas histórias que seriam centralizadas no eixo Rio-São Paulo. Antes do
início das gravações as locações de São Paulo não poderia mais ser feitas,
assim o autor teve que centralizar a trama toda no Rio de Janeiro, e as
cantinas da Mamma Vitória, que representava as típicas cantinas paulistas,
tiveram que ser transferida para o Rio também junto com o Condomínio da
Barra da Tijuca, a principal locação do Rio. Curiosamente o núcleo da Cantina
Italiana acabou centralizando a atenção do telespectador e todos acontecimentos
da novela, deixando passar em branco o condomínio da Barra. Ou seja,
quando um autor tem talento e criatividade, mesmo com os percalços que lhe
aparecem consegue fazer um trabalho digno e com maestria.
Impossível não sair A Gata Comeu cada
vez que alguém me pergunta quais são minhas novela preferidas. Uma trama da Ivani Ribeiro, que eu acompanhei as
quatro vezes que ela foi exibida. Ficou
fixado na memória as várias cenas de briga da Jô (Christiane Torloni) com Fábio
(Nuno Leal Maia), o casal principal da trama que prendeu a atenção dos leitores
por toda a novela, o casal que começou brigando, depois que se
descobriu apaixonado, o que poderia tirar um pouco do brilho das
cenas , acabou tornando-as ainda melhores, pois começou a mesclar o namoro com
mais brigas. . A Gata
Comeu foi a primeira
novela a ser reprisada por duas vezes no horário vespertino. Foi exibida
entre 27.02 à 28.07.1989 e 23.07 a 07.12.2001.
A trama é um
remake do sucesso da autora Ivani
Ribeiro na Tupi , A Barba Azul exibida em 1974, que tinha Eva Wilma e Carlos Zara nos papéis de Jô e Fábio.
A melhor fase da
novela foi sem dúvida as que aconteceram na ilha deserta , onde boa parte dos
personagens ficaram depois que a lancha que os transportavam
foi sabotada. Jô e seus convidados e Fábio, sua família e alunos tiveram
que conviver por dois meses nessa ilha , até serem resgatados. A fase fez
tanto sucesso que no final a autora providenciou uma outra viagem a ilha , o que agradou em cheio os
telespectadores.
Nuno
Leal Maia e Christiane Torloni tiveram uma química arrebatadora na
pele da independente milionária e o simplório e machista professor.
Vários
foram os destaques no elenco, como o saudoso Luis Carlos Arutin , que vivia o boa vida Oscar, que inventava ser
entrevado para ser sustentado pela inocente Conceição (Dirce Migliaccio)
enquanto paquerava as gatinhas na praia. Hilária a fase em que a
Conceição descobre a safadeza do marido e vai a forra em cima dele, tratando-o
pior que lixo.
Outro casal que
brilhou em cena foi Claudio
Correa e Castro e Marilu Bueno que viveram o Gugu e a Tetê pais da rebelde Babi
vivida pela Mayara Magri. No decorrer da trama Tetê engravida de
gêmeos e enlouquece Gugu com seu desejos.
Bia Seidl no auge da sua beleza foi
impecável vivendo a vilã Glaucia, sempre em parceria com sua mãe Ester ,
vivida pela inesquecível Anilza Leoni.
Mauro Mendonça viveu o Horácio
Penteado , pai da Jô. O Personagem foi criado em homenagem ao principal criador
da instituição AACD de São Paulo.
E o Inesquecível o elenco mirim da trama , que tinha
entre outros os atores Danton Mello,
Juliana Martins e Oberdan Jr em início de carreira.
Uma novela sem
nenhuma pretensão que acabou se tornando um marco para o horário das seis.
Assisti as três primeiras exibições em
fases diferentes da vida, aos 7 anos na primeira exibição em 1985, ao 11 em
1989 e aos 23 na terceira exibição em 2001. Em cada uma delas tive uma
nova visão da trama e voltei a me apaixonar pela eternas brigas de Jô e
Fábio e os personagens inesquecíveis criados por Ivani Ribeiro.
Fera Radical (1988)
Walther Negrão inspirou-se
na peça A Visita
da Velha Senhora , do suíço Friedrich Dúrremant para
compor a espinha dorsal de Fera Radical,
que também já havia inspirado a trama principal de Cavalo de Aço , que o autor apresentou em 1973 também na Globo.
Em Cavalo de Aço, Tarcísio Meira era quem chegava pequena cidade de Vila da
Prata, no Paraná para vingar o extermínio de seus parentes. Para Fera Radical o autor trocou o sexo do protagonista e trouxe Malu
Mader na pele da vingadora.
Chamas, fogo e a casa que queima em meio a gritos, correria e
desespero. Imagens gravadas para sempre por uma menina. Mesmo hoje, 15 anos
mais tarde, Cláudia (Malu Mader) ainda se assusta com as cenas presenciadas,
que voltam sempre em repetidos pesadelos. Mesmo longe, Rio Novo ficou esquecida
no passado - no conforto de Ipanema, Rio de Janeiro, a agora jovem Cláudia não perdoa seus algozes. O massacre
de sua família, pai, mãe e irmãos, precisa ser vingado, para cumprir a promessa
feita a si própria. Obstinada, prepara-se para voltar à pequena Rio Novo.
Ao articular a destruição de todos que a
fizeram sofrer, Cláudia se defronta com a amizade leal de Altino (Paulo
Goulart), que se vê preso a uma cadeira de rodas desde a noite da chacina, e o
ódio de Joana (Yara Amaral), mulher de Altino. Tal ódio aumenta quando ela
descobre quem é Cláudia e que ela vive com Marta (Laura Cardoso), antigo amor
de Altino, cujo romance no passado gerou Olívia (Denise Del Vecchio), criada
por ela. Mas os planos de Cláudia podem vir por terra quando ela se envolve com
os filhos de Altino, Fernando (José Mayer) e Heitor (Thales Pan Chacon),
e se sente arrebatada pelo amor de Fernando.
A Novela tinha um clima rural, mas
é considerada uma novela urbana. Alguns personagens foram caracterizados
neste estilo, principalmente os protagonistas vividos por JoséMayer e Carla Camurati. Os dois mesclavam os dois estilos. A Jaqueta usada
por Marília, personagem da Carla virou moda. Contrastando com o
clima “rural” da pequena cidade de Rio Novo, a protagonista Cláudia era
analista de sistemas, uma profissão que era novidade na época.
Malu Mader viveu sua primeira
protagonista em novelas na trama de Fera
Radical. A Atriz que já apresentado grande destaque e sucesso na
minissérie Anos Dourados (1986) e a
novela O Outro um ano antes , foi uma grata surpresa segurando o
papel da vingadora com unhas e dentes.
Entre as muitas
e belas cenas que FeraRadical rendeu, tenho duas que estão vivas em minha
memória como agora. A briga entre Joana Flores e Cláudia que acabou terminando
na morte da vilã; e Fernando entrando no tribunal de cavalo depois que Cláudia
é absolvida.
É por causa de
tramas como FeraRadical que considero os anos 80 os anos de ouro
para teledramaturgia. Fera
Radical poderia muito bem ter sido um novelão do
horário nobre, tamanho o sucesso e interesse popular que a novela causou
na época de sua exibição. Recheada de personagens ricos dramaturgicamente e uma
história que hoje provavelmente seria podada para poder passar no horário
das seis, a trama é atemporal. A história principal da novela está
sempre entre os entrechos de um ou outra novela atual. Afinal , que não
lembrou da Cláudia quando a Nina (Débora Falabella) invadiu a casa do Tufão
(Murilo Benício) para vingar seu pai em Avenida Brasil (2012) ? Em Joia Rara, a personagem da Nathalia Dill também se
infiltrou na família Hauser para vingar seu pai. Ou seja, a vingança e as
lembranças do passado sempre rendem uma boa história.
Barriga de Aluguel (1990)
Barriga
de Aluguel, a novela
das seis com cara de novelão das oito da autora Glória Perez conseguiu
segurar o telespectador a frente da tv com toda a dramaticidade da
história mesmo depois da ordem de esticamento da trama , que
finalizou com 243 capítulos.
A autora
em 1990 resolve falar sobre a inseminação artificial com destaque para as
barrigas de aluguel, praticamente ficção científica para época e
levou a discussão de quem teria o direito de ficar com o filho, a mãe que
cedeu os óvulos ou a que o gerou em sua barriga, para os quatro cantos do
país.
Mas
diferentemente do que se imaginava quando a trama foi concebida, isso 5 anos
antes, pois na verdade em 1985 a autora apresentou Barriga de Aluguel para a Globo,
mas o tema foi considerado muito fantasioso, a autora não criou uma polêmica e
uma sofrida disputa por uma criança. Barriga de Aluguel teve seu
tema principal mesclado a um folhetim dos bons, com destaque para a vida
amorosa da Clara, personagem da Claudia Abreu, que sem dúvidas foi
a mais sofredora da trama.
A
novela contava a história de Ana (Cássia Kiss Magro) e Zeca (Victor Fasano),
uma casal feliz e realizado profissionalmente, principalmente Ana, uma
conceituada jogadora de vôlei. Mas para completar essa felicidade faltava uma
criança, e foi exatamente nesse momento que Clara (Cláudia Abreu) entra na vida
do casal, quando Ana resolve pagar uma fortuna para uma barriga de aluguel que
pudesse gerar seu filho.
A briga pela guarda do bebê se transforma no maior
interesse do telespectador dentro da trama, e a autora Glória
Perez encomendou a três juízes sentenças diferentes com brechas
para recurso. Assim em primeira instância Clara ganha o bebê. Ana,
recorre ao Tribunal Superior de Justiça que a reconhece
como mãe, e Clara perde o bebê no segundo julgamento. É marcado então um
terceiro, mas a novela termina antes da última decisão.
É pura emoção
cada cena em que as mães tiveram que se separar do filho. Cássia Kiss deu um show (como sempre), quando foi obrigada a entregar
Carlinhos para Clara, e Cláudia Abreu, também brilhou absoluta com
mais um sofrimento da sua personagem quando teve o bebê arrancado dos seus
braços.
A Cena
final de Barriga de Aluguel é uma das mais bonitas e emocionantes da
história da teledramaturgia nacional. À Espera do terceiro julgamento, Clara e
Ana andam na praia de mãos dadas com o filho, dando a entender uma a
outra que independente da decisão judicial, terão que viver para sempre como
mãe de um mesmo filho.
No elenco vale destacar ainda grandes interpretações de Leonardo
Villar (Ezequiel), Vera Holtz (Dona Dos Anjos), Humberto
Martins (João), Sura Berditchewski (Raquel), Lady
Francisco (Yara), Nicole Puzzi (Luiza) e Denise
Fraga (Ritinha) entre outros.
No núcleo cômico Lucia Alves e Wolf Maia, que viveram o casal Moema
e Paulo César foram destaque absoluto roubando a cena.
E a grande
revelação da novela sem dúvidas foi Eri Johnson na pele do
afetadíssimo coreografo da boate, Lulu. O Ator já havia feito alguns
personagens pequenos, mas sem dúvidas o Lulu foi o divisor de águas em sua
carreira.
Uma trama
paralela de Barriga de Aluguel que também chamou atenção foi o envolvimento de
Aida, personagem da Renée de Vielmond, que depois de dar uma
basta nas traições de Barone (Adryano Reys), se envolve com Tadeu (Jairo
Mattos), então marido de sua filha Laura (Teresa Sseiblitz). Tadeu depois de
maltratar emocionalmente tantas mulheres, entre elas Clara e Laura, se apaixona
perdidamente pela sogra e pela primeira vez sofre e se entrega verdadeiramente
ao amor. Mas como obra do destino, Aída não aceita viver a relação por amor à
filha. O tema internacional do casal, “Begin The Beguine”,
da Dione Warvick, é uma das músicas mais bonitas do LP.
Glória Perez se arriscou com a trama de Barriga de Aluguel, mas foi uma aposta certeira. A
Autora criou uma grande história com um filão dramático poucas vezes visto e
que não cansou em nenhum momento o telespectador. Foi um voo da autora, mas um
voo com destino certo.
Mulheres de Areia (1993)
E por
falar em novelão . . . com vocês Mulheres de Areia .
. .
O Remake feito em colaboração com Solange Castro Neves foi
um dos maiores sucesso do horário das seis da década de 90, chegando até
superar a audiência da novela das sete exibida na época (O Mapa da Mina , do autor Cassiano Gabus Mendes).
Inclusive a imprensa divulgou na época que a Globo cogitava
a possibilidade de fazer a troca de uma pela outra, pura especulação.
Verdade ou não, o fato é que Mulheres de Areia poderia
sem dúvidas ter sido apresentada no horário nobre, a trama tinha fôlego
suficiente para se tornar um fenômeno, basta ver o seu alvoroço no tímido
horário das seis.
Além de se
basear no remake da novela original exibida na Tv Tupi em
1973, a autora usou o espinha dorsal de outra trama de sucesso sua, O Espantalho, que escreveu na Tv Record em 1977.
Glória Pires
foi impecável vivendo as iguais mais tão diferentes gêmeas. Ruth e Raquel
foi um divisor de águas na carreira da atriz. A Direção e autora da
novela queriam Glória no papel, tanto que adiaram a estreia da trama em um ano
devido à gravidez da atriz. Mulheres de Areia iria substituir Felicidade (1991), porém
a Globo produziu Despedida de Solteiro (1992), para no ano seguinte poder estrear Mulheres de Areia com Glória Pires como a grande
estrela. O Trabalho da atriz foi tão difícil principalmente na parte da trama
em que as gêmeas trocam de lugar. Glória além de fazer a diferença entre as
irmãs, ainda teve que encontrar o ponto certo para Ruth fingindo ser Raquel e
Raquel fingindo ser a Ruth.
No elenco também
vale destacar Tonho da Lua vivido pelo ator Marcos Frota.
Impossível imaginar outro ator vivendo o personagem numa entrega jamais vista
na tv.
Outros atores
também marcaram seus personagens com interpretações inesquecíveis : Os
saudosos Raul Cortez, que deu vida o Virgilio Assunção e Paulo
Goulart na pele do vilão Donato; O Casal formado por Laura
Cardoso e Sebastião Vasconcellos, que faziam os pais das gêmeas; Andreia
Beltrão como a Tônia, Viviane Pasmanter como a ovelha
negra Malu e Guilherme Fontes que conseguiu fazer do
seu personagem Marcos, considerado um homem fraco diante do pai e de Raquel, em
um bom momento na tv.
A Abertura
de Mulheres de Areia é uma das mais bonitas e bem produzidas por Hans
Donner. Monica Carvalho seminua sensualizava ao som de “Sexy
Iemanjá” na voz do Pepeu Gomes com água e areia. Na
reprise de 2011, a Globo teve que adequar a trama a
classificação etária e a primeira mudança foi esconder a nudez da Monica
Carvalho na abertura.
Mulheres de Areia foi uma
daquelas novelas onde tudo deu certo. Produção, direção e elenco impecáveis ,
somados a uma boa história foram os ingredientes desse
sucesso. A novela teve 209 capítulos e em nenhum deles, mesmo com uma certa
barriga, conseguiu segurar os telespectadores na frente da tv. Lembro-me como
agora como era bom jantar com as paisagens , histórias e personagens
criados impecavelmente pela IvaniRibeiro.
Em 1999, a Globo resolveu apresentar no horário das
seis uma trama de época com o intuito de alavancar a audiência do canal
derrubada pelo remake de Pecado
Capital (1998), da GlóriaPerez, Salomé de 1991, havia sido a última.
Assim Gilberto Braga desenvolveu uma sinopse do Alcides Nogueira e apresentou o literal novelão Força de Um Desejo.
A novela teve
inacreditáveis 226 capítulos, numa época em que as novelas já começavam a ser
mais condensadas, e apesar de não ter sido um grande sucesso, mesmo
merecendo, Força de Um Desejo não foi o
fracasso que muitos fazem questão de dizer. A trama foi muito esticada,
mas nem por isso perdeu seu dinamismo e manteve o interesse a cada
novo gancho e capítulo. Fico imaginando o tamanho do sucesso que seria se Força de Um Desejo tivesse sido apresentada no horário nobre. Com
certeza teria sido um “novelão” em todos os sentidos.
No elenco vários
destaques como a trinca de sucessos do autor Malu Mader / Fábio Assumpção / Claudia Abreu. Que voltariam a se juntar em 2003 na trama
de Celebridade, também do autor. Malu Mader ganhou
e foi indicada a vários prêmios de melhor atriz graças a impecável atuação como
a Cortesã Ester Delamare.
Paulo Betti na pele do
vilão Higino Ventura apresentou um trabalho impecável. Sua relação
senhor-escrava com Olívia, a personagem da Cláudia Abreu, chamava
atenção pelos vários entrechos que deu vasão a relação entre eles. Apesar de
ser uma escrava fugida, e passar por vários maus tratos, Olívia não se prendeu
ao estigma da escrava protagonista sofredora. Ambos os personagens eram
dúbios, Olívia era trapaceira e de caráter duvidoso, enquanto Higino
mostrava momentos de sensibilidade e amor por ela.
Nathália
Timberg deu um show na pele da grande vilã da trama Idalina. A
atriz roubou a cena e finalmente brilhava em uma personagem escrita sob medida
por Gilberto Braga especialmente
para a atriz.
Isabel Fillardis, que viveu a
inesquecível Luzia na trama, viu seu papel de Clarice em Suave
Veneno (1999) ser dado à Patrícia França.
Sorte da atriz. A Clarice morreu no meio da trama do Aguinaldo
Silva, enquanto a Luzia de Força de Um Desejo é
até então uma das suas personagens de maior destaque.
Outros
destaques do elenco: Lavínia Vlasak (Alice), Louise
Cardoso (Guiomar), Daniel
Dantas (Bartolomeu), Selton
Mello (Aberlardo), Júlia
Feldens (Juliana), Otávio
Augusto (Dr. Enrico Navarro), DiraPaes (Palmira), Marcelo
Serrado (Dr. Mariano Xavier)
entre outros.
A trama trouxe
de volta ao Brasil Sônia Braga, que fez os primeiros capítulos de Força de Um Desejo, na
pele da Baronesa Sobral. A última novela do atriz no Brasil havia sido à 19
anos, a trama de Chega Mais (1980), quando resolveu ir embora para tentar a
carreira nos Estados Unidos.
Como uma trama
do Gilberto Braga, sem um “Quem
Matou?” não
é do Gilberto, Força de Um Desejo também
teve o seu. O Barão Sobral , personagem do Reginaldo Faria é assassinado durante uma festa em sua casa no mesmo
dia em que Inácio e Ester resolvem fugir para viverem juntos, se tornando assim
os principais suspeitos pelo assassinato. Os entrechos e a revelação do
assassino do Barão foi um dos mais criativos da história da teledramaturgia na
minha singela opinião. O Autor buscou explicações de acontecimentos desde
o primeiro capítulo, como a morte/assassinado da Baronesa Sobral (Sônia Braga)
até chegar a identidade desde no último capítulo. A Assassina era a
Bárbara Ventura, a baronesa casada com Higino, vivida pela DeniseDel Vecchio.
Quando foi escolhida
para ser reapresentada no horário do Vale
a Pena Ver de Novo, foi uma
surpresa, visto que a trama não foi considerada um grande sucesso de público.
Porém sua reprise foi muito satisfatória dando mais pontos de audiência que
tramas de sucesso, como Terra Nostra (1999), e em alguns capítulos deu mais audiência
que a trama inédita do horário das sete apresentada na época, Bang Bang (2006). A trama foi a primeira a ser apresentada
na sessão vespertina com o recurso de closed caption – Sistema de legendas que
permite aos deficientes auditivos acompanharem o que está sendo dito no
programa.
Como não tinha
uma grande expectativa, por ser uma produção das seis, Gilberto Braga pode
imprimir mais detalhes que deram o charme da novela. Com um elenco em total
sintonia e querendo fazer dar certo, uma irrepreensível reconstituição de
época, uma história recheada de entrechos e ótimos
ganchos, e a direção primorosa do núcleo do saudoso Marcos Paulo, a trama foi um bom e memorável momento do horário das
seis.
O Cravo e a Rosa (2001)
O Cravo e a
Rosa, o primeiro grande sucesso do Walcyr Carrasco, É Uma
comédia romântica leve e divertida que alavancou a audiência no horário das
seis e um amuleto para a Globo. A trama já foi reprisada duas
vezes, em 2003 e 2013, ambas as reprises marcadas pelo sucesso de
audiência. Atualmente no ar pelo Canal
Viva a novela, de novo, conquistou o público e vem fazendo o maior sucesso.
O Cravo e a Rosa é inspirada no clássico “A Megera Domada”, do Shakespeare, com referências
nas novelas A Indomável (1965), da Tv
Excelsior e O Machão (1974) da Tv Tupi.
Os personagens atualizados
por Walcyr cativaram o grande público e transformaram a
novela em uma das melhores já produzidas para o horário
das seis até então.
A novela foi
idealizada inicialmente para ser uma novela curta, assim como sua
antecessora Esplendor (2000), mas o sucesso logo
nas primeiras semanas esticaram a história que fechou com 221 capítulos.
A Química entre Eduardo Moscovis e Adriana
Esteves foi fator determinante para o sucesso da trama.
Petruchio e Catarina impecavelmente bem
construídos por seus interpretes. Sem a química entre eles
teria muito prejudicada a empatia junto
ao público que se entregou ao casal mais improvável da história da
teledramaturgia. Ambos os atores vinham de personagens totalmente diferentes
dos perfis do Petrucchio e Catarina. Eduardo vinha do Carlão de Pecado Capital (1998), o remake da Glória Perez e
a Adriana tinha acabado de nos brindar com a Sandrinha de Torre de Babel (1998), do Silvio de Abreu, e
se entregaram de tal forma aos protagonistas de O Cravo e a Rosa que deram um novo status aos seus trabalhos, mostrando que
sabiam fazer um humor inteligente e brincar com um bom texto em mãos.
Outra
trama que chamou atenção é a história da doce Bianca, a irmã de Catarina,
vivida pela atriz Leandra Leal. Com Catarina casada, Bianca que ao
contrário da irmã sonhava em se casar, Dinorá (Maria Padilha) dá o prosseguimento ao seu plano de casar o
irmão Heitor com a mais nova herdeira do banqueiro Batista (Luis
Mello). O pilantra conquista o coração de Bianca através de poemas
românticos escritos na verdade pelo professor Edmundo, um
intelectual, o inverso do fortão Heitor. Ao longo da história Bianca descobre
que ele é o seu verdadeiro amor, e que Heitor apenas se interessava
por seu dinheiro. Porém enquanto isso Bianca vive um grande dilema – gosta da
inteligência de Edmundo e do corpo de Heitor.
Além
de Eduardo Moscovis e Adriana Esteves, que
brilharam fazendo humor na pele dos protagonistas da novela, outros
atores fizeram da trama um palco e se destacaram também
no humor: Ney Latorraca (Cornélio)
e Maria Padilha (Dinorá), LuisMello (Batista)
e Drica Moraes (Marcela); Pedro Paulo Rangel (Calixto)
e Suely Franco (Dona Mimosa); Eva Todor (Josefa)
e Carlos Vereza (Joaquim); Taumaturgo Ferreira (Januário)
e Vanessa Gerbelli (Lindinha) entre outros.
O Cravo e a Rosa consagrou Walcyr logo em seu primeiro trabalho na Globo, que depois foi
responsável por outros grandes sucessos da emissora como Chocolate com Pimenta (2003), Alma Gêmea (2005), Caras e Bocas (2009), Verdades Secretas (2015) , Êta Mundo Bom (2016) entre outras.
Lado a Lado mostrou a luta por amor
e liberdade de duas jovens no início do século XX e tomou o Emmy
Internacional de “Avenida Brasil”.
Estreia dos autores João Ximenes Braga e Cláudia
Laje como titulares, Lado a Lado teve
um minucioso trabalho de reconstituição do Rio de Janeiro do início do século
XX e traçou para o telespectador um fiel panorama das transformações políticas,
sociais e econômicas da época.
A
novela enchia os olhos de tanta perfeição, com a soma de um ótimo texto e
entrechos, direção sensível do Vinícius Coimbra e Denis Carvalho,
um elenco com nomes novos que fizeram de seus personagens um divisor de
águas em suas carreiras e uma trilha sonora, que mesmo contemporânea,
casou perfeitamente com a história.
O
elenco de Lado a Lado foi uma
das peças principais para esse impecável trabalho apresentado na trama.
Os protagonistas vividos pelo quarteto Lázaro
Ramos, Camila Pitanga, Marjorie Estiano e Thiago Fragoso tiveram uma química perfeita por toda
a história e enriqueciam a cada nova cena.
Marjorie Estiano foi impecável na pele da contestadora
Laura, uma mulher à frente do seu tempo. Em uma das muitas passagem da trama,
Laura chegou a assinar com o nome de homem para um jornal denunciando os
desmando do governo na época. A atriz mostrou um trabalho sensível de
caracterização e mesmo vivendo uma mocinha do século XX em nenhum momento esqueceu
o romantismo e nem o deixou ser o único atrativo da personagem. O Êxito
da personagem inspirou a publicação do livro Laura, uma história alternativa da jovem feminista, pela Biblioteca
24 horas. A empatia do
casal Laura e Edgar (Thiago Fragoso), criada e cultivada no decorrer da novela,
visto que inicialmente Laura se casa obrigada pela família, acabou se tornando
uma das mais belas história de pares românticos da teledramaturgia. O Casal foi
eleito o melhor par romântico do ano de 2012 pelo Prêmio Noveleiros.
Camila Pitanga seduziu o público com a força e beleza da descendente de
ex-escravos Isabel. Seu perfil também à frente do tempo e sua luta por
amor e liberdade foi o mote principal da sua história.
Já o Zé Maria do Lázaro Ramos foi
uma espécie de Forrest Gump dentro
de Lado a Lado, acompanhando ou protagonizando os
fatos históricos narrados na novela. Ele foi testemunha do episódio
em que um negro, seu amigo, aceita passar pó-de-arroz para jogar futebol num
clube da elite carioca. Fato que ocorreu na vida real.
Mas
ninguém brilhou tanto como Patrícia Pillar. Era difícil imaginar uma outra vilã, depois da
Flora de A Favorita (2008), que marcasse a carreira da atriz. Mas a
Constância Eugênia conseguiu esse feito, e a atriz foi aclamada como a
grande vilã de Lado a Lado.
Outros
atores também marcaram a trama – Milton Gonçalves (Afonso); Caio Blat (Fernando), Cristiana
Guinle (Carlota), Isabela Garcia (Celinha), Débora Duarte (Eulália) e o estreante
em novelas Álamo Facó (O Quequé).
Ambientada no Rio de Janeiro em um período pouco explorado pela
teledramaturgia, o público foi apresentado ao início do século 20, o mais rico
em acontecimentos, como o advento do futebol e do samba, o fim dos cortiços e o
processo da favelização no Rio – Conhecido como o Bota Abaixo, no governo do
prefeito Pereira Passos (1902-1906), a influência francesa; as
revoltas da vacina (1904) e da Chibata (1910), o nascimento da mulher moderna
na sociedade brasileira e sua luta por emancipação, o preconceito contra o
negro, as mulheres descasadas, os capoeiras e as religiões africanas.
Outras
tramas paralelas também se destacaram em Lado a Lado como a história do Senador Bonifácio, personagem do Cássio Gabus
Mendes, que com o fim da
Monarquia e a chegada da Republica, o empresário de sucesso tenta tirar
proveito das grandes transformações pela qual o Rio de Janeiro passaria.
Berenice
e Caniço, personagens da Sheron Menezes e Marcelo Mello Jr, os antagonistas vilões da Isabel e Zé Maria,
também tiveram um grande destaque em Lado a Lado, representado o
caminho oposto seguido pelos protagonistas. Ela uma invejosa e ele se tornando
bandido no decorrer da novela.
Mesmo
com uma audiência fraca, alguns momentos de Lado a Lado causaram grande alarde nas redes sociais - como o
emprego do termo “Divórcio” na separação de Edgar e Laura; a cena em que Laura
sofre um tentativa de estupro por parte de seu chefe. Coincidentemente na trama
de Salve Jorge, que passava no horário nobre da Globo na época, a personagem da Carolina
Dieckmann também era
estuprada, e a crítica especializada acabou comparando as duas cenas e
elogiando a perícia e sensibilidade da apresentada por Lado a Lado.
Lado a Lado mesmo sendo uma novela de época pode ser vista como uma trama
mais do que a frente do seu tempo e sim atemporal. O machismo, emancipação feminina, o
preconceito contra as mulheres divorciadas, dramas da ilegitimidade das
mulheres que tinham filhos fora do casamento, obstáculos para a inserção dos
negros e as camadas mais populares e a liberdade religiosa, todos temas
retratadas dentro da trama, fizeram da novela um espetáculo exibido no
horário das seis e que injustiçada por uma inexplicável baixa audiência,
teve o merecido reconhecimento pelo Emmy
Internacional.
Veja Também:
Novelas Inesquecíveis - Lado a Lado (2012) |
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Novelas Inesquecíveis - Força de Um Desejo (1999) |
Novelas Inesquecíveis - Fera Radical (1988) |
NOVELAS Inesquecíveis - A GATA COMEU (1985) |
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Fonte:
Texto : Evaldiano de Sousa
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